sábado, 11 de outubro de 2014

XXVIII Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 13.10.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXVIII Semana - Segunda-feira

Lectio

Primeira leitura: Gálatas 4, 22-24.26-27.31-5,1

Irmãos: 22Como está escrito, Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da mulher livre. 23Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. 24Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. 26Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, 27pois está escrito:Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto; pois são muitos os filhos da abandonada, mais do que os daquela que tem marido! 31Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre. 1Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão.

Depois de se ter apresentado, para defender o evangelho que prega, Paulo repreende aqueles que se deixam seduzir pela doutrina dos judaizantes, defensores da circuncisão e da lei moisaica. A justificação não vem da Lei, mas da graça de Cristo. O Apóstolo antecipa um tema que desenvolverá na carta aos Romanos. Na alegoria das duas mulheres que geram filhos a Abraão, são confrontadas a economia da Lei e a economia da Fé. Agar, que é escrava, gera o seu filho na escravidão da carne; a antiga Aliança, representada por Agar, é um jugo de escravidão. Sara, a mulher livre, gera Isaac, o filho da promessa: em Cristo, tornámo-nos filhos de Deus, tornámo-nos livres porque nele a promessa foi plenamente realizada. Tendo por horizonte as duas mulheres, estão duas montanhas, também elas simbólicas: por detrás de Agar, divisa-se o Sinai, onde, no meio de relâmpagos e trovões, Moisés recebeu as tábuas da Lei. Sobre essa Lei é que se fundou a antiga Aliança entre Deus e o seu povo. Deus foi fiel ao seu amor, comparado ao do esposo pela esposa; mas o povo, em breve se esqueceu da promessa de cumprir a Lei, tornando-se semelhante a uma esposa infiel. Por detrás de Sara, brilha o monte de Sião, a cidade de Jerusalém que «qual noiva adornada para o seu esposo» (Ap 21, 2) para conduzir a Deus os filhos da Nova Aliança. A «Jerusalém do alto» (Gl 4, 26) pode alegrar-se porque regenerou muitos filhos para a vida nova em Cristo.


Evangelho: Lucas 11, 29-32

Naquele tempo, 29Como as multidões afluíssem em massa à volta de Jesus, Ele começou a dizer:«Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas.
30Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. 31A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! 32Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.»

Jesus prossegue a viagem para Jerusalém, onde vai consumar o seu mistério pascal. Lucas põe-lhe na boca uma série de ensinamentos, exortações, respostas e repreensões. No texto de hoje, Jesus repreende uma multidão desse povo de cabeça dura, que tem dificuldade em acolher a Palavra de Deus. O povo pede sinais que garantam a autenticidade daquele Messias. Que sinal? Esta multidão é muito semelhante aos ninivitas que não eram capazes de distinguir a mão direita da mão esquerda; é muito semelhante aos pagãos, que há pouco chegaram à fé, e aos quais Lucas se dirige; é muito semelhante a nós, que andamos sempre à busca de coisas extraordinárias e imediatas.
Jesus responde falando de juízo e de condenação. Mas, ao lembrar a salvação de Jonas, símbolo da sua morte e ressurreição, Jesus acentua a misericórdia salvífica de Deus. Essa misericórdia foi oferecida aos ninivitas em troca da sua conversão, e à rainha do Sul pela busca generosa da sabedoria. Aos Judeus e Gregos é pedido um espírito aberto: «Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28). Esta bem-aventurança contrasta ainda mais com as palavras de juízo e de condenação. Só é julgado e condenado quem recebeu o tesouro da palavra revelada e, permanecendo escravo de uma falsa fidelidade à Lei, não sabe reconhecer os sinais da presença do Salvador. São também para quem não sabe aceitar a dura linguagem da cruz e não ousa esperar a ressurreição.


Meditatio

Aparentando tratar de problemas do passado, as leituras de hoje oferecem-nos uma mensagem actual. De facto, é sempre actual a tentação de nos agarrarmos a ideias fixas sobre as propostas de Deus e sobre as condições para nos justificarmos diante d´Ele. Mas Deus quer respostas livres e atitudes de confiança filial. Se, quase sempre, nos é necessário exercitar a fé e acreditar para além das evidências, somente a certeza de que Deus nos ama, acima de todas as nossas expectativas, é capaz de rasgar os horizontes reduzidos do legalismo e do lucro. É triste que, passados dois mil anos, desde que Jesus Cristo nos ofereceu um sinal bem mais eloquente e eficaz que o de Jonas, ainda se corra à busca de sinais e de provas em astrólogos, cartomantes, bruxas ou nas fantasias de seitas pseudo-religiosas. Parece bem mais simples acreditar no amor e abandonar-se como filhos nos braços do Pai.
No evangelho de S. João, o sinal, mais do que uma prova, é uma luz lançada sobre o mistério da Pessoa e da Missão de Jesus, por meio de realidades simbólicas naturais (água, pão, videira, vinho, luz, etc.) e de realidades bíblicas (serpente de bronze, maná, rocha, etc.), e por meio de acontecimentos, factos e gestos de Jesus (caminhar sobre as águas, unção em Betânia, lava-pés, coroação de espinhos, divisão das vestes, transfixão do Lado...).
«O testemunho de João, por meio destes sinais, visa a natureza íntima de Jesus, que estes sinais fazem conhecer. Por meio deles, o Evangelista refere-se directamente ao segredo do ser de Jesus, ao mistério da Sua Pessoa» (De la Potterie, La Verité en S. Jean, Rome 1977, I, 80).
No universo dos sinais, para além do sinal eminente da Ressurreição, e das aparições do Ressuscitado, temos, em S. João, o sinal da Transfixão do Lado, que é o último sinal da vida de Jesus. Não foi Jesus que o realizou, porque já tinha exalado o último suspiro (Jo 19, 30), mas foi um soldado; misteriosamente, foi o Pai que abriu no Seu Corpo, o «lugar da presença e da manifestação de Deus no meio dos homens», especialmente no brotar do sangue e da água.
Lemos nas Constituições: «Sequiosos de intimidade com o Senhor, procuramos os sinais da sua presença na vida dos homens, onde actua o seu amor salvador» (n. 28). Queremos e devemos descobrir «os sinais da sua presença» (Cst. 28) também em homens que não são “dos nossos”: «Mestre, vimos alguém a expulsar demónios em Teu nome, sem que nos siga, e proibimos-lho». Assim fala João a Jesus (Mc 9, 38), e Jesus responde: «Não lho proibais... Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 39-40). Pode até acontecer que os mais afastados sejam os mais próximos do Senhor. Assim aconteceu na vida de Jesus: Nicodemos e os judeus de Jerusalém são entusiastas dos sinais que Jesus realiza, acreditam n´Ele e reconhecem-n´O como enviado de Deus, e todavia não chegam à fé perfeita e Jesus não Se fia neles, porque sabe o que há no coração do homem (cf. Jo 2, 23-25; 3, 1-10). Chegam, pelo contrário, à fé os desprezados, os cismáticos samaritanos: «Este é, na verdade, o salvador do mundo» (Jo 4, 42) e mais ainda o pagão funcionário real, que acredita à palavra de Jesus: «Vai, o teu filho está salvo. Aquele homem acreditou na palavra de Jesus e pôs-se a caminho» (Jo 4, 50). O seu filho estava verdadeiramente curado: «Acreditou ele e toda a sua família» (Jo 4, 53).
Pois bem, onde actua o “amor que salva” de Jesus, também nós queremos estar presentes, unidos «no seu amor pelo Pai e pelos homens» (Cst. 17), especialmente pelos pequenos e pelos pobres (Cst. 28), porque «Cristo se identificou» com eles (Cst. 28; cf. Mt 25, 40


Oratio

Senhor Jesus Cristo, Tu és o verdadeiro Filho da promessa, o Filho livre que nos tornas livres. Quero pedir-Te, hoje, a tua graça, para que possa crescer na liberdade, seguir-Te e acreditar em Ti, que és o Sinal enviado pelo Pai, para nos manifestar o seu amor. Que eu saiba dispensar todos os outros sinais, fixando-me só n´Aquele que o Pai nos quis dar: Tu mesmo, Crucificado de Lado aberto e ressuscitado para nossa justificação. Que na união contigo eu saiba também descobrir os sinais da tua presença na vida dos homens e do mundo. Amen.


Contemplatio

Como Nosso Senhor é bom e condescendente! Vendo-os ainda hesitantes, pede-lhes de comer, para bem os certificar acerca da sua presença material e real. Oferecem-lhe peixe grelhado e mel. Come com eles. Então deixam-se convencer, e a alegria sucede à perturbação. Dirige-lhes apenas uma censura paterna: «Depois de tantos testemunhos, porque é que não acreditaram! Porque estais na dúvida e no medo? Como sois lentos para acreditar!».
Entregam-se então à efusão da alegria e da piedade filial! Começam a compreender as profecias.
Alegremo-nos com eles. Bendigamos a Providência que permitiu as suas dúvidas e a sua lentidão em acreditar. Quiseram provas, sinais peremptórios da ressurreição do Salvador, tocaram nas suas chagas, comeram com ele. As suas dúvidas aproveitam para a nossa fé.
Se tivessem sido mais fáceis em acreditar, teríamos podido pôr em dúvida a sua prudência. Teríamos podido suspeitar que se tivessem deixado seduzir pela sua imaginação e de tomarem os seus desejos por realidades. Ah! Mas não foi isto que aconteceu. Não tinham sequer imaginação. Mostraram-se cépticos e positivistas. Foram obrigados a renderem-se, apesar disso, à evidência do milagre. Eles permanecem para nós as testemunhas irrecusáveis do grande facto sobre o qual repousa a credibilidade do Evangelho.(Leão Dehon, OSP 3, p. 385s.)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.» (Gal 5, 1)


Fonte | Fernando Fonseca, scj |

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