quarta-feira, 30 de abril de 2014

A vida dada pela fé em Jesus Cristo – 07.05.2014

O longo discurso sobre o pão da vida é uma catequese sobre a Eucaristia na qual o povo de Deus é sustentado com o alimento espiritual. A vida do ser humano não se reduz ao seu bem-estar material. No ser humano criado por Deus há uma sede, um anseio de vida plena e de Deus. Se pão e água são essenciais para a existência do ser humano, eles não podem dar à vida do homem sentido nem fazer com que experimente a vida em plenitude. No agradecimento depois da Eucaristia, a Didaqué sugere a seguinte oração: “Tu, Senhor Todo-poderoso, criaste todas as coisas por causa do teu Nome e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu Servo” (Didaqué, X, 3). Para chegar à fé em Jesus é preciso não se deixar deter pelas aparências; é preciso o olhar do coração purificado pela ação do Espírito Santo. Noutras palavras, é indispensável “nascer do alto”. Somente nessa vida nova é que se pode reconhecer que a missão de Jesus é fazer a vontade do Pai que o enviou (v. 38). A vontade do Pai é que todos possam aceitar participar da vida divina, a vida eterna. Essa vida é dada pela fé em Jesus Cristo.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

O pão descido do céu. – 06.05.2014

A multidão saciada e que insistentemente procura Jesus e é por ele flagrada no seu interesse e equívoco, interroga-o acerca do sinal ou da obra que ele realiza. Lembremos que na boca dos opositores de Jesus e da multidão a palavra “sinal” tem um sentido muito diferente do que o empregado pelo evangelista no livro dos sinais. Para eles, “sinal” é uma obra espetacular, quase cinematográfica, sobrenatural, em benefício de quem a realiza. O sinal seria para eles uma prova inequívoca da verdadeira identidade de Jesus. É o que satanás sugere a Jesus ao provocá-lo para saltar do pináculo do Templo (Mt 4,5-7; Lc 4,9-11). Uma vez mais parece que os que interrogam Jesus estão mergulhados no equívoco: não foi Moisés quem, na travessia do deserto, havia dado ao povo o maná, mas Deus mesmo (cf. Ex 16,4). Mais ainda, o maná era somente figura do verdadeiro pão que Deus haveria de dar e que, agora, efetivamente dá ao seu povo. Jesus Cristo é esse pão descido do céu, isto é, dado por Deus, que sustenta quem nele crê e nele põe a sua confiança.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

O pão que dá a vida – 05.05.2014

Depois do episódio dos pães, em que a multidão comeu à saciedade, e ante a tentativa de proclamá-lo rei, Jesus se retira, sozinho, ao monte (Jo 6,15). Jesus rejeita terminantemente qualquer tentativa de compreender ou reduzir a sua missão a uma dimensão estritamente político-social (cf. Mt 4,3-4; Lc 4,3-4). Por isso, se recolhe ao monte para rezar. À multidão que o procura insistentemente, Jesus declara o equívoco dela: não o procura porque o que ele faz remete ao mistério de Deus; procuram-no somente para satisfazer suas necessidades corporais (v. 26). No entanto, a vida do ser humano não se reduz ao bem material. O alimento que o Senhor oferece é de outra natureza, não perecível e que introduz na vida eterna. Mais adiante, Jesus afirmará que o pão que dá a vida é ele mesmo (Jo 6,48). Mas, para receber esse alimento, é preciso crer em Jesus, enviado do Pai. É pela fé em Jesus que se recebe esse alimento de vida eterna. A “obra de Deus”, o fazer exigido, é crer em Jesus, “imagem do Deus invisível”. Ademais, é preciso procurar o Senhor pelo Senhor, e não por aquilo que nos possa dar. Essa gratuidade se impõe a quem queira ser sustentado pelo “pão descido do céu".


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 29 de abril de 2014

Do ver ao reconhecer – 04.05.2014

A riqueza do evangelho é tal que ele precisa ser saboreado internamente. Todo o capítulo 24 de Lucas pode ser considerado como um resumo de todo o seu evangelho. Cada um dos evangelhos é fruto da experiência pascal dos discípulos. Nesse sentido, trata-se de um testemunho de fé. Cada trecho do evangelho é uma verdadeira Páscoa: da cegueira à visão, da enfermidade à cura, da morte à vida, da tristeza à alegria, da falta da esperança à esperança, do ódio e rancor ao amor. O relato dos discípulos de Emaús é, do início ao fim, uma Páscoa. O caminho que separa Jerusalém de Emaús é metáfora de um caminho muito mais longo, o caminho através das Escrituras, em que a lição de exegese dada por Jesus aos dois discípulos oferece condições de eles reconhecerem o Senhor no partir o pão.
A morte de Jesus representou uma forte frustração para aqueles que punham nele as esperanças messiânicas (cf. v. 21) e fez com que, por um instante, a comunidade dos discípulos entrasse em crise. O nosso texto visa transmitir o fato que permitiu a passagem do abatimento à alegria, do ver ao reconhecer. O espaço teológico-espiritual entre o ver e o reconhecer permitiu a Jesus a lição de exegese. No tempo do reconhecimento os discípulos confessarão que foi ela que os transformou (cf. v. 32). A explicação e compreensão da Escritura, à luz da ressurreição do Senhor, abriram os olhos para o reconhecimento. A primeira ressurreição, para os discípulos é, então, a da memória. Eles compreenderam, então, que o Senhor que se apresenta vivo no meio deles, de alguma forma, estava presente em toda a Escritura que, por sua vez, encontra nele sua plenitude e sentido. Quando do reconhecimento o Senhor desapareceu da vista deles. É que a visão física não é mais necessária para “ver” o Senhor. Mesmo invisível aos olhos, o Senhor está e permanecerá presente. A invisibilidade não significa, no que diz respeito à fé, ausência. Fato, aliás, que eles nem sequer mencionam, como se a visibilidade não tivesse a menor importância. O que retém a atenção deles, e torna-se objeto da mensagem transmitida aos demais discípulos, é o acontecido no caminho para Emaús, no tempo que precedeu o reconhecimento (cf. v. 35), tempo de escuta, em que o Mestre ressuscitado continua a instruir os seus discípulos. Se a morte dispersou os discípulos, a experiência do Ressuscitado os congrega (cf. v. 33).


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

Jesus imagem do Deus invisível. – 03.05.2014

A nossa fé é apostólica, ela depende do testemunho dos apóstolos que foram testemunhas oculares de tudo o que Jesus fez e ensinou. Por isso, a festa dos apóstolos Filipe e Tiago é a ocasião de agradecermos a Deus por aqueles que nos precederam e pela fé que nos transmitiram. O evangelho deste dia é parte do discurso de despedida de Jesus (13,31–14,31). O discurso é interrompido algumas vezes pela intervenção de um dos discípulos. Do ponto de vista retórico, essas intervenções fazem o discurso avançar e permitem a Jesus esclarecer questões importantes acerca do seu destino e da vida dos seus discípulos. O pedido de Filipe, repetido por Jesus (v. 9), revela a incompreensão e a incredulidade dos discípulos (v. 10), a dificuldade de poder entrar no mistério de Deus revelado em Jesus. A comunhão de Jesus com o Pai é tal (v. 10) que estar diante de Jesus é estar diante de Deus. O que é dito a Nicodemos vale para os discípulos: “É preciso nascer do alto” (Jo 3,7). A verdade é essa: Jesus “é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15). Os discípulos terão de passar pela dura prova da paixão e morte de Jesus para que, à luz da ressurreição, possam compreender que na vida de Jesus a graça de Deus habitava em plenitude.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

Qual é o verdadeiro alimento do povo que o Cristo atrai e reúne? – 02.05.2014

O relato dos pães precede o longo discurso do “pão da vida” (Jo 6,35-58). Encontramos esse relato também na tradição sinótica (Mt 14,13-21; Mc 6,30-44; Lc 9,10-17). A multidão é atraída a Jesus pelos sinais que ele fazia em favor dos doentes. Para o evangelista, o que Jesus fazia em favor dos enfermos é “sinal”, mas não é o caso para a multidão. Basta nos remetermos à crítica que Jesus faz aos que o procuravam, depois do acontecimento dos pães (cf. Jo 6,26). Por sua própria natureza, o sinal é ambíguo; precisa ser compreendido e discernido para que remeta a pessoa à realidade para a qual ele aponta. A evocação da Páscoa dos judeus (v. 4) é importante, uma vez que ela nos faz ler e compreender o relato à luz da Páscoa de Jesus Cristo, em que Deus selou uma Aliança definitiva com o seu povo. A pergunta posta por Jesus a Filipe é para testá-lo (vv. 5-6). Lido à luz da Páscoa do Senhor, o relato põe implicitamente para o leitor outra questão: Qual é o verdadeiro alimento do povo que o Cristo atrai e reúne? A resposta será exaustivamente explicitada no discurso do pão da vida.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

Um sopro que dá alento à vida. – 01.05.2014

O evangelho de hoje pertence, com variações próprias a cada evangelista, à tríplice tradição (Mc 6,1-6; Lc 4,16-24). Depois de um longo discurso em parábolas, junto ao mar da Galileia (13,1-52), Jesus vai para Nazaré onde, na sinagoga, ensina os que lá estavam (v. 54). Se o evangelista se limita a dizer que Jesus ensina na sinagoga de Nazaré sem explicitar o conteúdo do ensinamento, ele põe ênfase na admiração que tal ensinamento causa nos que estavam presentes na sinagoga. A admiração é causada pela sabedoria e pela força do ensinamento de Jesus. A palavra “milagre”, que é da tradução latina, não aparece no texto grego, mas sim dynamis (poder, força). O ensinamento de Jesus, certamente um comentário livre sobre uma passagem da Escritura, faz sentido para os que estão presentes e, ao mesmo tempo, tem força de persuasão; tal ensinamento, nós o experimentamos ainda hoje, comunica ânimo, um sopro que dá alento à vida. Mas a reação do público é paradoxal, pois a resistência ofusca a sua inteligência (vv. 55-57a). Se não fosse a incredulidade, eles mesmos seriam capazes de responder à questão que se põem (v. 54b). Uma consideração puramente humana e o fechamento numa ideia equivocada do Messias lhes impedem de dar o salto da fé e se abrirem à novidade de Deus revelada em Jesus Cristo.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj  - Paulinas

O mundo é o lugar da manifestação do amor de Deus por toda a humanidade – 30.04.2014

O evangelho deste dia é o último trecho do diálogo catequético-batismal de Jesus com Nicodemos. Trata-se de uma apresentação genial da razão da encarnação e da redenção: o amor de Deus é a causa preexistente da encarnação do Verbo eterno; a morte gloriosa de Jesus para a salvação do mundo é o gesto do amor de Deus por toda a humanidade, revelado no seu Filho unigênito. Nosso mundo não é, na visão cristã, um vale de lágrimas, nem estamos num desterro. O mundo é o lugar da manifestação do amor de Deus por toda a humanidade, o lugar em que o Verbo “armou a sua tenda” (Jo 1,14). Pela fé no Filho de Deus é dada aos que creem a vida eterna, a participação na vida divina. A vida eterna é comunhão de vida com o Pai e o Filho (cf. Jo 17,3). A vida eterna precisa ser recebida como dom do amor incomensurável de Deus por toda a humanidade. É Deus que, por seu Filho, nos introduz e nos faz participar da sua vida divina. A fé, contudo, está subordinada à liberdade do ser humano. Ao invés da Luz, os homens podem preferir as trevas (cf. Jo 1,4-5.9-11).


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Jesus e Nicodemos – 29.04.2014

O evangelho de hoje é a sequência do diálogo catequético-batismal entre Jesus e Nicodemos que começamos a ver no dia de ontem. Para compreender o mistério de Deus e desfrutar do seu reinado é preciso “nascer do alto”; é preciso, movido pelo Espírito que como o vento sopra onde quer, superar o que é estritamente carnal e não permitir que a relação do homem com Deus se reduza ao puramente terrestre ou seja definitivamente condicionada por ele. É preciso deixar-se mover e conduzir por Deus. Sem isso, é impossível compreender o mistério de Jesus Cristo e reconhecer que ele é o enviado do Pai. As considerações de Jesus fazem Nicodemos titubear e declarar a própria ignorância (v. 9). Sua dificuldade de compreensão pode ser atribuída ao raciocínio estreito em que o homem prisioneiro do seu próprio modo de pensar se fecha para a novidade de Deus. Somente o novo nascimento, uma vida segundo o Espírito, pode permitir ao ser humano sair do hermetismo do racionalismo e de uma prática vaidosa e rigorosa da Lei e conhecer, por uma relação pessoal e íntima com o Senhor, o mistério de Deus e receber dele a luz que faz sair da escuridão e caminhar sem tropeçar.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 27 de abril de 2014

Diálogo catequético-batismal – 28.04.2014

O texto do evangelho de hoje é o início de um longo diálogo de Jesus com Nicodemos, diálogo que poderíamos caracterizar como catequético-batismal. Nicodemos é fariseu e vê Jesus simplesmente como Mestre, como um homem de Deus. Ele partilha com os do seu grupo a dependência dos sinais para chegar à fé. Para os fariseus “sinal” é uma obra extraordinária, sobrenatural, espetacular, a exemplo do que satanás sugeria a Jesus ao propor que ele saltasse do pináculo do Templo (Mt 4,5-7; Lc 4,9-12). Nicodemos, que gozava de prestígio entre os fariseus (v. 1), vai procurar Jesus à noite por medo do juízo dos seus pares ou, então, porque o seu modo de viver a religião não realiza as obras de Deus (cf. Jo 9,4). Jesus propõe a Nicodemos uma mudança radical: nascer de novo (v. 3.7), isto é, “nascer da água e do Espírito” (v. 5). Nicodemos não compreende, pois está ligado ao que é puramente terrestre, e discorre no plano da razão humana. É ao Batismo que Jesus se refere. Pelo Batismo se nasce para a luz, para o alto, para o que é propriamente de Deus. O Batismo gera a fé em Cristo, enviado do Pai para dar vida ao mundo.


Fonte Carlos Albero Contieri, sj - Paulinas

sábado, 26 de abril de 2014

O dinamismo da fé – 27.04.2014

Para bem compreender o texto do evangelho nessa oitava da Páscoa, pode nos ajudar responder a uma dupla questão: Como se chega à fé na ressurreição do Cristo nosso Senhor? Como se chega à fé de que Cristo ressuscitou dos mortos e está vivo no meio de sua Comunidade? Nosso texto apresenta duas etapas com um intervalo de oito dias. Na primeira etapa, Tomé não estava, na segunda ele estava reunido com os outros discípulos. É no primeiro dia da semana que os discípulos se encontram reunidos. É como se fosse o primeiro dia da criação em que a luz foi feita (Gn 1,3). Efetivamente, a ressurreição do Senhor é luz que anuncia uma nova criação em Cristo. No lugar em que os discípulos estavam reunidos, as portas estavam aferrolhadas por medo dos judeus. Essa observação seguida da notícia de que Jesus se colocou no meio deles é importante para compreender que a presença do Senhor não exige mais ser reconhecida como um corpo carnal. O seu corpo é glorioso e sua presença prescinde da visibilidade. O que ele comunica é a paz, sinal e dom de sua presença. É nesse primeiro dia da semana que o Espírito é dado como sopro do Senhor para a missão e a reconciliação. A ausência de Tomé (v. 24) é importante para o propósito do texto. Ele se recusa a crer no que os outros discípulos anunciavam: “Vimos o Senhor”. Passados oito dias, estando Tomé com os demais discípulos, no mesmo lugar da reunião, Jesus se faz presente e é sentido e reconhecido com o sinal de sua presença: a paz. O diálogo de Jesus com Tomé permite ao leitor compreender que se chega à fé no Cristo Ressuscitado e na sua gloriosa ressurreição através do testemunho da Comunidade. Não há acesso imediato à ressurreição de Jesus Cristo, mas somente mediato, isto é, através do testemunho. É a recepção desse testemunho que permite experimentar na própria vida os efeitos da Ressurreição do Senhor. Mas Tomé não é no relato o homem da dúvida somente e que busca crer por si mesmo, ou que julga que só é digno de fé o que pode ser tocado ou demonstrado. Ele é o homem de fé, transformado pelo Senhor, capaz de reconhecer o dinamismo próprio pelo qual se chega à fé.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Resistência que se opõe à fé. – 26.04.2014

É comum, hoje, entre os comentaristas de Marcos, que 16,9-20 é um acréscimo posterior. Originalmente, o evangelho de Marcos terminava no v. 8 do mesmo capítulo 16. O trecho que nos ocupa e a sua sequência (vv. 16-20) foi composto a partir de outros textos do Novo Testamento. Como o evangelho de Marcos não possui relatos das aparições do Ressuscitado, o autor anônimo da inserção quis, apoiando-se em textos dos outros evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, fazer um resumo das aparições do Senhor, com a missão dada aos Onze e a ascensão. O tema dominante é a falta de fé (vv. 11.13.14). A mediação da fé é o testemunho. Não creram no testemunho de Maria Madalena, nem no testemunho dos dois discípulos anônimos, uma possível menção ao relato dos discípulos de Emaús de Lucas (24,13-35). Assim como criticava os seus discípulos durante a sua vida terrestre (cf. 5,40), o Ressuscitado critica os Onze por causa de sua falta de fé. A dureza do coração, aqui, é a resistência que se opõe à fé e que impede de aceitar o testemunho como mediação da própria fé.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A presença do Ressuscitado só é percebida pela fé – 25.04.2014

Trata-se da terceira aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos (Jo 20,19-25.26-29). O mar de Tiberíades está repleto de recordações de Jesus: o chamado dos primeiros discípulos, tantos ensinamentos, a tempestade acalmada, a casa de Simão e de André, onde Jesus costumava ficar. Nesse lugar de tantos encontros, é que os discípulos, retomando a vida depois da morte de Jesus, encontram-se com o Senhor, agora, ressuscitado. A presença do Senhor ressuscitado é de outra natureza, bem diferente da que os discípulos estavam acostumados, quando do tempo da vida terrestre de Jesus. Trata-se de um modo de presença que se faz sentir sem deixar marcas na areia. Com e como a luz do dia aparece o Senhor. Os discípulos, no entanto, diz o nosso texto, não sabiam que era Jesus. Essa observação nos sugere que a presença do Cristo ressuscitado é bem outra que a física; ela só é percebida pela fé. Ante a palavra eficaz do Senhor (v. 6), o discípulo amado, símbolo do homem de fé, capaz de ler os acontecimentos à luz da fé, poderá proclamar: “É o Senhor!”.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Crucificado é o Ressuscitado – 24.04.2014

O evangelho de hoje é a seqüência do relato dos discípulos de Emaús. A comunicação espiritual da experiência do Ressuscitado é ocasião em que o próprio Senhor se faz presente (cf. v. 36). Mas sua presença não é evidente a todos e nas mesmas circunstâncias (cf. v. 37). A presença do Ressuscitado não é desvario ou ilusão; ela é real. A experiência que faz sentir uma alegria que perdura para além de um momento aprazível é o modo de conhecer que o Senhor está presente. Nosso texto de hoje afirma uma identidade diferenciada: o Crucificado é o Ressuscitado. Essa é a mensagem contida no convite a olhar as mãos e os pés que trazem a marca da crucifixão. Embora o seu corpo traga as marcas de sua paixão, trata-se de um corpo glorioso para o qual não há lugar onde não possa estar. É um modo de presença que ultrapassa os limites do visível e do imediatamente perceptível. Exige fé. A vida, paixão morte e ressurreição de Jesus Cristo são indissociáveis. A presença do Ressuscitado aguça a memória, convida a reler a história e oferece a hermenêutica que possibilita compreender, na sua finalidade, as Escrituras.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 22 de abril de 2014

O caminho através das Escrituras – 23.04.2014

Não há situação humana em que o Senhor não se faça presente. Talvez as situações de frustração sejam as mais difíceis, as que impeçam de reconhecer que o Senhor está presente. Parece ser bem o caso no relato dos discípulos de Emaús. A tristeza e a frustração aparecem nos olhos. O olhar, segundo o ditado popular, diz mais do que mil palavras. De uma profunda tristeza e frustração eles passam à alegria e ao anúncio do Ressuscitado. Mas o que permitiu essa transformação na vida daqueles dois discípulos, um dos quais anônimo? A presença do Senhor ressuscitado que se põe a caminho com eles e os faz percorrerem um caminho muito mais longo do aquele que separa Jerusalém de Emaús: o caminho através das Escrituras. É desse fato que – depois que o Senhor partiu o pão e deu a eles – vão se recordar. O caminho através das Escrituras preparou os discípulos para abrirem os olhos do reconhecimento no partir do pão. O mesmo acontece na celebração da Eucaristia: sem reconhecer o Senhor presente na sua palavra, não é possível reconhecê-lo nas espécies do pão e do vinho. Desvincular a palavra da fração do pão é correr o risco de cair no puro devocionismo.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O Senhor vive – 22.04.2014

A Maria de que aqui se fala é Maria Madalena. A tristeza que a abate e a prende à realidade da morte não é de Deus. As lágrimas da desolação impedem o olhar de ir além das aparências e dar o salto da fé. Somente o leitor sabe que os dois que falavam com Maria Madalena eram mensageiros de Deus buscando tirar Maria do círculo da morte e ajudá-la a ver a realidade com novo olhar. Nesse primeiro estágio do relato, para Maria importava o corpo sem vida de Jesus que ela, em prantos, lamentava não estar no túmulo. O que ela ainda não sabia é que o Senhor, de fato, não estava onde ela pensava que estivesse. Não nos esqueçamos, há uma tristeza que distorce a realidade, ofusca o olhar, confunde a visão. A presença do Ressuscitado rompe a barreira da tristeza e interpela Maria a não procurar um morto, nem procurar Jesus entre os mortos. Na segunda etapa do relato, a irrupção do Ressuscitado na vida de Maria Madalena enxuga as lágrimas, liberta da região dos mortos e faz exclamar a admiração pela presença transfigurada daquele que venceu a morte e que ninguém mais pode reter. Fruto desse encontro luminoso e transformador é a missão de anunciar que o Senhor vive, isto é, de comunicar a experiência através da qual, pela fé, o Senhor se ofereceu ao reconhecimento.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sábado, 19 de abril de 2014

Convite a vencer o medo – 21.04.2014

Nosso relato do evangelho de Mateus é a sequência do relato em que o Anjo do Senhor anuncia a Maria Madalena e à outra Maria que Jesus havia ressuscitado dos mortos (Mt 28,1-7). Alegria e temor reverencial são dons do Ressuscitado. O Cristo não só convida à alegria, mas a oferece como dom de sua presença. Esse dom da alegria é, ao mesmo tempo, um dos critérios pelos quais se pode reconhecer a presença do Senhor que venceu o mal e a morte e vive no meio do seu povo. O medo é paralisante, impede o salto da fé que reconhece a presença do Ressuscitado. O medo impede de ouvir a voz do Senhor. Por isso, o convite a vencer o medo (cf. v. 10). Portadoras desse anúncio jubiloso, as duas mulheres são enviadas pelo Senhor a fazer os discípulos partirem para a Galileia, palco de grande atividade pública de Jesus. É como se eles fossem convidados a refazerem a história para encontrarem nela o próprio Ressuscitado. A alegria e o envio das mulheres contrastam com a atitude dos sumo sacerdotes e anciãos, que pagaram pela mentira dos soldados.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

Experiência dos discípulos – 20.04.2014

Certamente, com este relato dos discípulos de Emaús, próprio a Lucas, estamos diante de uma das páginas mais belas do Novo Testamento. Há uma profunda transformação vivida por aqueles dois discípulos que, depois da morte de Jesus, voltavam para a sua pátria: da frustração e do abatimento à alegria e o encontro com a Comunidade iluminada e revigorada pela experiência de que o Senhor vive. É bom que se esclareça, agora, duas coisas: os relatos das “aparições do Senhor” não visam dizer como Jesus ressuscitou dos mortos, mas como os discípulos fizeram a experiência de que ele havia sido ressuscitado e estava presente no meio deles. A presença do Ressuscitado não é evidente; é preciso um “caminho” para chegar a reconhecê-lo.
A morte de Jesus representou uma forte frustração para aqueles que punham nele as esperanças do Messias. Há no relato um espaço de tempo que separa o “ver” do “reconhecer”. O nosso texto visa transmitir o fato que permitiu a passagem do ver ao reconhecer. O espaço teológico-espiritual entre o ver e o reconhecer permitiu a Jesus a lição de exegese. No tempo do reconhecimento os discípulos confessarão que foi ela que os transformou: “não ardia o nosso coração quando, pelo caminho, ele nos explicava as Escrituras?”. A explicação e a compreensão da Escritura, à luz da ressurreição do Senhor, abriram os olhos para o reconhecimento. A primeira ressurreição, para os discípulos, é a da memória. Eles compreenderam, então, que o Senhor que se apresenta vivo no meio deles, de alguma forma, estava presente em toda a Escritura, que, por sua vez, encontra nele sua plenitude e sentido. Quando do reconhecimento, o Senhor desapareceu da vista deles. É que a visão física não é mais necessária para “ver” o Senhor. Mesmo invisível aos olhos, o Senhor está e permanecerá presente. A invisibilidade não significa, no que diz respeito à fé, ausência. Fato, aliás, que eles nem sequer mencionam, como se a visibilidade não tivesse a menor importância. O que retém a atenção, e é objeto da mensagem deles aos demais discípulos, é o acontecido no caminho para Emaús, no tempo que precedeu o reconhecimento, tempo de escuta, em que o Mestre ressuscitado continua a instruir os seus discípulos. Se a morte dispersou os discípulos, a experiência do Ressuscitado os congrega.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Noite Santa – 19.04.2014

Essa noite santa é a mãe de todas as vigílias; nela toda a história humana, onde se encontra e se faz a experiência da salvação de Deus, é recapitulada e recebe seu sentido, pois foi para esse dia que tudo foi criado; tudo foi feito nele, por meio de Cristo e para ele (cf. Cl 1,16). Solidário com a nossa humanidade, o Senhor desceu aos infernos. Mas ele foi ressuscitado! A pedra que fechava o túmulo de Jesus era símbolo da irreversibilidade da morte. No entanto, na ressurreição de Jesus Cristo, deixou de sê-lo. A vida venceu a morte! Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos venceu o mal e todas as suas manifestações. Em Cristo, Deus quis que todos nós fôssemos herdeiros dessa vitória. A vida do ser humano não se limita aos parâmetros da vida terrestre, mas destina-se, transfigurada, à vida eterna. Deus não nos deixou órfãos. Ele quebrou os grilhões da morte ressuscitando o seu Filho único. O Senhor abriu para nós as portas da eternidade. Em Cristo ressuscitado somos novas criaturas, libertas do mal e da morte. Que nesta noite santa possamos deixar ressoar em nós o imperativo do Ressuscitado e viver a realidade pedida: “Alegrai-vos!”. Que todos, a exemplo daquelas mulheres que foram bem cedo ao túmulo, sejamos testemunhas dessa verdade: “o Senhor vive!”.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Nosso olhar diante do sofrimento do Homem que passou fazendo o bem. – 18.04.2014

Nesse dia as palavras devem ceder lugar ao silêncio e à contemplação. Trata-se, ao fazer memória da paixão e morte do Senhor, de estar com ele. É a oportunidade de permitir que o nosso olhar, encontrando Jesus no seu sofrimento, nos transforme profundamente segundo a graça de Deus. Ao apresentar Jesus à multidão, depois de ser duramente açoitado e humilhado, Pilatos o faz com essas palavras: “Eis o homem!”. De fato, Jesus é o homem que realiza o projeto de Deus para o ser humano feito à sua imagem e semelhança. Mas esse homem é, também, o homem desfigurado pelo mal presente na humanidade, desfigurado a ponto de não parecer humano pela maldade do coração do ser humano. O que desfigura o servo de Deus é o mal que seduz e destrói. Aquele que “passou pela vida fazendo o bem” é acusado, segundo nosso relato, de ser um malfeitor. Aquele que só falou o bem e fez a muitos viverem pelo sopro de sua palavra, aquele que é a Palavra encarnada do Pai, é condenado como blasfemo. A iniquidade humana ceifa dramática e violentamente a vida, apoiando-se na mentira, na confusão e na dissimulação. Mesmo no que a história humana tem de mais perverso, Deus revela o seu plano de amor. Para nós que celebramos a paixão do Senhor é ocasião de, olhando para o Crucificado, nos perguntarmos: “Que poderei retribuir ao Senhor por tudo aquilo que ele me fez?”.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Serviço fruto do amor – 17.04.2014

Com a celebração da Ceia do Senhor iniciamos o tríduo pascal. É na última ceia de Jesus com os seus discípulos que, segundo o evangelho de João, se dá o gesto simbólico do lava-pés que repetimos na celebração eucarística. Para a literatura joanina, o tema do amor ocupa um lugar central. Especificamente, para o quarto evangelho, a paixão de Jesus é expressão do amor de Jesus pelos seus. A salvação é dom desse amor, e como tal ela precisa ser compreendida e recebida. O mal que domina o coração de Judas é uma força de sedução que distorce a realidade e atenta contra a vida (v. 2; cf. Gn 3,1ss). A resistência a permitir que Pedro lavasse os pés de Jesus é por não reconhecer no servo a figura do Messias. Mais ainda, é pela dificuldade em aceitar um Messias que tenha de passar pelo sofrimento e pela morte. A resposta de Jesus a Pedro afirma que a salvação é dom gratuito e, como tal, precisa ser recebida, e o gesto simbólico deve se traduzir como atitude permanente na vida do discípulo. Ser discípulo é ser servidor ao modo de Jesus. O gesto do lava-pés condensa toda a vida de Jesus, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20,28).


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 15 de abril de 2014

A ceia lugar da misericórdia de Deus – 16.04.2014

Mais uma vez o tema da traição de Judas ocupa o espaço do evangelho. O plano diabólico de alguns judeus, notadamente, do Sinédrio, de matar Jesus, conta com a colaboração de um dos seus discípulos, Judas Iscariotes. O real motivo pelo qual Judas entrega Jesus, os evangelhos não nos dizem explicitamente. O trecho do evangelho de hoje, assim como João (12,1-11), parece nos fazer entender se tratar de dinheiro. A ceia pascal é a ceia de despedida de Jesus (cf. v. 18). A ceia pascal, lugar da memória da misericórdia de Deus que fez seu povo sair da “casa da servidão” (Ex 12,1ss), é palco da revelação dramática da traição de Jesus por um dos Doze. A memória da escravidão e da libertação, parte integrante da ceia pascal, desvela o mal que ainda aprisiona o ser humano. Paradoxalmente à fidelidade de Jesus ao Pai, revela-se a infidelidade de Judas. À pergunta de Judas, a resposta de Jesus é intencionalmente ambígua: “Tu o dizes” (v. 25). A cada um é deixada a possibilidade de julgar-se na sua relação pessoal com Jesus Cristo.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Traição fruto do mal – 15.04.2014

O contexto é o da última ceia, no meio da qual Jesus lava os pés dos seus discípulos. A observação sobre o estado interior de Jesus faz referência às suas palavras que denunciam a incompreensão dos discípulos e a predição da traição por parte de um deles. Todos os discípulos são postos sob suspeita, ou melhor, a traição é uma tentação que diz respeito a todos, em princípio. A traição de Judas é obra de satanás. Não se deve entender, aqui, satanás como um ente pessoal, mas como uma realidade que existe na pessoa humana. Toda traição é fruto do mal que, enigmaticamente, habita o coração do ser humano; pode ser movida pela frustração, pela ambição, pelo medo, por um desvio de caráter, entre outros motivos. Não é diferente para Simão Pedro, pois negação é traição; sua reação primária não se confirmará durante a paixão. Há para ele, como para todos os discípulos, um longo caminho a ser percorrido para o amadurecimento da fé e para uma adesão incondicional à pessoa de Jesus. Será preciso uma verdadeira “metanoia” para que, de fato, eles possam dar a sua vida por Jesus.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 13 de abril de 2014

Gratuidade fruto do amor – 14.04.2014

Com esse trecho entramos na segunda parte do evangelho segundo João, denominada “livro da glória”. A ambientação é os dias que antecedem a Páscoa dos judeus, e o contexto é o da paixão de Jesus. Estamos, segundo o relato, nos últimos seis dias da vida terrestre de Jesus. Lázaro, Marta e Maria são amigos de Jesus; é na casa deles que Jesus para antes de entrar para a sua paixão e morte em Jerusalém. A acolhida, o serviço e o amor dispensados a Jesus naquela casa são traços característicos e indissociáveis da comunidade cristã (cf. Ct 1,12; 7,6). A refeição na casa dos amigos é sinal de comunhão, e a evocação do episódio de Lázaro indica que se trata, também, da alegria da vida recebida como dom. A unção, Jesus mesmo a interpreta como uma antecipação de sua sepultura. Judas é o personagem que entra na história como contraste de todo o acima dito. É tratado negativa e duramente pelo narrador como sendo traidor e ladrão. Mas há um outro traço de Judas: ele é incapaz de reconhecer e acolher um gesto de pura gratuidade. Quem não é capaz de gestos de gratuidade não é, igualmente, capaz de amar; quem não é capaz de verdadeiro amor não busca senão o seu próprio interesse, abrindo, assim, a possibilidade de trair, inclusive, o Senhor da vida.

Fonte Paulinas

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jesus é o servo obediente de Deus. – 13.04.2014

Com o domingo de Ramos e da paixão do Senhor tem início a Semana Santa. Com a primeira e a segunda leituras, a ideia inicial a se ter presente é que Jesus é o servo obediente de Deus; obediência que o Senhor aprendeu pelo sofrimento. Toda a vida de Jesus é movida pela escuta de Deus, escuta que o sustentou ao longo de toda a sua vida; escuta que fez com que ele não esmorecesse diante da traição, do sofrimento e da morte. A segunda consideração nos vem do relato da paixão: Jesus é traído por um dos seus, que partilhou com ele a vida e a fé. Mas não somente um o traiu; todos os seus discípulos também o fizeram, pois negar e abandonar é também trair. Não tiveram a coragem de permanecer com o Senhor que eles diziam amar. Noutro evangelho, Pedro, porta-voz do grupo dos discípulos, dirá que a palavras de Jesus continham a vida eterna, lhes fazia experimentar a força da vida de Deus (cf. Jo 6,67-68). Mas naquele momento de dor não conseguiram permanecer fiéis àquele que era a Palavra encarnada do Pai. É do interior do próprio grupo dos discípulos que se dá a traição. Que dor pode ser maior que a traição e o abandono? A espada mais cortante do que a que feriu a orelha do servo do centurião é a traição, pois essa atinge a confiança, o coração. Uma terceira consideração é que Jesus é o inocente condenado injustamente à morte. A inveja é o motivo da condenação e morte de Jesus. A inveja não é racional; como toda paixão que afeta o coração do ser humano, ela é irracional. Dominado pela inveja, o ser humano age perversamente buscando eliminar quem quer que seja. Pilatos, diz o evangelho, sabia da inocência de Jesus e do motivo sórdido pelo qual ele foi entregue, mas por razões políticas a sua decisão partilhou da injustiça dos que acusavam e entregaram Jesus à morte. Na paixão, Jesus permanece praticamente calado. O silêncio do Senhor denuncia a maldade daqueles que o condenam à morte. O silêncio de Jesus revela também a sua compreensão de que no desfecho dramático da sua existência terrena se realiza o desígnio de Deus. O silêncio é sinal de sua entrega nas mãos do Pai. Jesus sofre, se angustia, mas nem uma coisa nem outra o faz desistir de realizar a vontade de Deus. Ao contrário, do alto da cruz, ele faz a sua entrega definitiva: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito”.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mentira, dissimulação e falsidade levam Jesus à morte. – 12.04.2014

O trecho do evangelho de hoje é a sequência do episódio de Lázaro que podemos caracterizar como sendo uma catequese sobre a ressurreição. A morte de Jesus, os quatro evangelhos coincidem em dizê-lo, foi premeditada. Se o nosso texto não o diz explicitamente, como o faz Marcos e Mateus (10,15; Mt 27,18), ele deixa transparecer que o motivo da condenação de Jesus foi a inveja por parte dos representantes da religião de Israel. A posição de Caifás é eminentemente política e implicitamente contra o império romano. O processo que condenou Jesus à morte está envolto na mentira, na dissimulação e na falsidade. Nas vicissitudes da história humana, entre sombras e luzes, na luta entre o bem e o mal, que disputam o coração do homem, Deus revela seu desígnio e leva a termo o seu plano salvífico. A decisão do Sinédrio, ao que tudo indica, era pública. Por isso, uma vez mais, o evangelho observa que Jesus com os seus discípulos permanecem longe de Jerusalém. A indicação da proximidade da Páscoa já prepara o leitor para a paixão e morte de Jesus.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

Crer no Enviado de Deus. - 11.04.2014

Repetidas vezes no evangelho de João, Jesus denuncia a intenção dos judeus de matá-lo (8,28.40; 10,32) e, efetivamente, os judeus fizeram várias tentativas de eliminar Jesus (8,59; 10,31). Já no capítulo 6, à pergunta da multidão sobre o que fazer para trabalhar nas obras de Deus, Jesus responde que há uma questão fundamental que precede todo agir: crer no Enviado de Deus. Para os judeus do nosso texto não são as boas obras o objeto da perseguição e das suas tentativas homicidas, mas a blasfêmia. Ora, para Jesus agir e falar estão intimamente unidos, e as obras e, definitivamente, o Pai dão testemunho dele. Ainda no capítulo 6, é apontada a dificuldade de os judeus discernirem as obras de Jesus, de reconhecerem nelas sinais que remetem ao mistério de Deus revelado em Jesus. A causa da rejeição é a falta de fé, apontada no capítulo 9 como “cegueira”. Jesus, é bom notar, não se entrega facilmente às mãos dos judeus; busca sem covardia nem medo preservar a própria vida (cf. 10,39). A divisão entre os que rejeitam Jesus e os que creem nele mostra a ambiguidade própria do sinal que, por isso mesmo, precisa ser discernido.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Jesus ensina buscar a glória do Pai. - 10.04.2014

O trecho do evangelho de hoje é a conclusão da controvérsia entre Jesus e os judeus, no Templo de Jerusalém, antes da Páscoa. Guardar a palavra significa pô-la em prática. A palavra do Senhor é um sopro que faz viver. Permitir que essa palavra viva em nós e pôr em prática essa palavra é experimentar a vitória da vida sobre toda realidade de morte. Somente Deus pode fazer viver, não obstante as circunstâncias que nos cercam. Por isso, para o leitor que ouve a crítica dos judeus, a conclusão não pode ser outra senão a de que eles blasfemam, encerrados na dificuldade de ouvir atenta e detidamente as palavras de Jesus. Em razão dessa verdadeira surdez espiritual, eles fazem um juízo precipitado acerca daquilo que move e orienta toda a vida de Jesus. O nó de toda a controvérsia está no fato de que o filho não busca a própria glória, ao passo que certas pessoas, cristãos e judeus, no interior de sua própria fé e usando-a como justificativa buscam a sua própria glória. Essa busca de si é ainda muito mais destrutiva do qualquer outra, porque é religiosa. É o Filho que ensina a buscar a glória do Pai.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 8 de abril de 2014

A verdade de Deus revelada em Jesus. - 09.04.2014

Diante da pessoa de Jesus, os judeus se dividiam. Se há os que lhe faziam forte oposição e lhe condenariam à morte, há também os que passaram a crer nele. São estes os destinatários dessa parte do discurso de Jesus. No entanto, esses judeus que passaram a acreditar em Jesus continuam com dificuldade de se abrir ao seu ensinamento e compreender em profundidade a sua mensagem e de viver dessa verdade. A fé de Israel deveria abri-lo à novidade de Deus revelada em Jesus Cristo. Pois a verdade que liberta é a verdade de Deus revelada em Jesus. Essa verdade liberta de uma imagem equivocada e severa de Deus que arranca do coração do ser humano a alegria de viver em Deus. Verdade, aqui, não é movimento do intelecto que busca o acordo entre conceito e realidade, mas algo recebido na fé e que vem da escuta atenta da Palavra encarnada de Deus. É Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, que liberta da escravidão causada pelo pecado. É essa verdade recebida como dom que permite ao ser humano não se tornar prisioneiro de sua própria mentalidade, inclusive. Como verdade, ela ilumina e orienta a vida em Deus e para Deus.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Na glória da cruz a comunhão entre o Pai e o Filho. - 08.04.2014

O prólogo do quarto evangelho já antecipou o tema da rejeição do Verbo feito carne (1,5.10.11). O pecado dos judeus denunciado por Jesus é a rejeição de sua própria pessoa e de sua missão, assim como de sua origem divina. O pecado está em não acreditar em Jesus, em se fechar à verdade de Deus. Mais ainda, a afirmação de Jesus sobre o pecado de seus opositores declara, de certa forma, inútil todo o sistema religioso judaico. Sem a aceitação da salvação em Jesus Cristo, não pode haver profunda e verdadeiramente a purificação e o perdão como se pretendia com a festa anual de yom kippur e todos os demais ritos e festas da religião de Israel. O apego às coisas terrenas e às tradições humanas impede de compreender o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo. Jesus não fala em se matar, como suspeitavam os seus opositores, mas serão eles que matarão o Filho de Deus. É na cruz, no entanto, que a divindade de Jesus paradoxalmente se manifestará. Na glória da cruz a comunhão entre o Pai e o Filho aparecerá sem sombra. Apesar de toda rejeição e abandono, inclusive dos próprios discípulos, o Pai estará sempre com seu Filho, permanecerá com ele na paixão e na morte.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 6 de abril de 2014

O rosto misericordioso de Deus - 07.04.2014

O Templo é para Jesus o lugar de ensinamento, cujo conteúdo, ao menos no texto de hoje, desconhecemos em parte. Em parte porque a reação de Jesus ante os fariseus que lhe trouxeram uma mulher apanhada em adultério é um verdadeiro ensinamento e revelação do rosto misericordioso de Deus, ao mesmo tempo que exige que o discípulo seja imitador da misericórdia do Senhor. Para a mulher levada diante de Jesus, a cena é dramática, pois ela tem a certeza do apedrejamento até a morte em razão do seu delito (Lv 20,10; Dt 22,22-24). Surpreende que o homem envolvido no mal não fosse igualmente levado pelos acusadores. São escribas e fariseus que levam a mulher diante de Jesus. O tom é de provocação e desafio. A primeira resposta de Jesus é o silêncio e um gesto simbólico que mostra sua irritação e indignação diante da falta de misericórdia. Mas não compreenderam nem se contentaram com o gesto. Diante da insistência deles, Jesus o traduz em palavras que revela a verdade sombria de cada um. Por isso, vão se retirando um a um. A mulher, agora, tem diante de si a vida. A misericórdia venceu a dureza do coração. A palavra do Senhor liberta e revela o rosto misericordioso de Deus, oferecendo a possibilidade de uma vida resgatada e transformada pelo amor.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Catequese sobre a ressurreição. - 06.04.2014

Estamos praticamente às portas da Semana Santa; no próximo domingo, o domingo de Ramos e da paixão do Senhor, entraremos na Semana Santa. O Evangelho desse quinto domingo da Quaresma é uma catequese sobre a ressurreição. Situado no livro dos sinais, nosso relato é o sétimo e último sinal que Jesus realiza. Não nos esqueçamos de que a finalidade dos sinais é conduzir os discípulos, o leitor do evangelho, nós todos à fé em Jesus Cristo. Dizer que se trata do sétimo sinal significa que ele é o maior de todos os sinais, a plenitude dos sinais. Com esse relato, o autor do evangelho prepara o leitor para entrar com esperança nos relatos da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Estar longe de Jerusalém, lugar da habitação de Deus, era como estar morto, como perder o sopro de Deus. Por essa razão, Ezequiel utiliza a metáfora da abertura das sepulturas. A distância de Deus fazia o povo experimentar a falta da vida. Por isso, o texto termina com a promessa do sopro de Deus que faz viver.
O sopro de Deus faz viver para além da morte. No centro do texto do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida […]”. É pela fé que se participa dessa vida nova, transfigurada. A pergunta que provoca e desafia a fé de Marta e a nossa fé é a seguinte: “Crês nisto?” Marta responde afirmativamente, pois ela é no relato símbolo do discípulo perfeito que põe a sua confiança no Senhor. Diante da morte há duas atitudes possíveis, representadas por Marta e sua irmã Maria: ficar prisioneiro do círculo da morte e do luto (Maria) ou romper com esse círculo pela adesão ao Senhor da vida. Quando Marta ouviu dizer que Jesus estava próximo, saiu correndo ao seu encontro; Maria, no entanto, permaneceu em casa, sentada, mergulhada no luto e na tristeza. A presença do Senhor faz surgir a esperança. Marta que crê na ressurreição de Cristo, na vida que ele dá, será para sua irmã Maria mensageira de um chamado do Senhor que a faz sair do mundo da morte para estar diante daquele que é o Senhor da vida. Para a nossa reflexão, a pergunta que se nos impõe a partir do relato é a seguinte: com qual das duas irmãs você, neste momento, se identifica? Você é portador de que mensagem? Você se identifica com Marta, que rompe o círculo da morte e deposita sua confiança no Senhor, que dele recebe a luz, a vida verdadeira, ou você se identifica com Maria, prisioneira do luto, da morte e da falta de fé?


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Espírito sopra onde e quando quer. – 05.04.2014

A repercussão do ensinamento de Jesus nas pessoas divide-as no que diz respeito à verdadeira identidade de Jesus. Os que creem nele são objetos de críticas e desrespeito. Admirados pelo ensinamento de Jesus, os soldados experimentaram, sem saber dizê-lo, a graça do próprio Verbo encarnado; por isso não puderam levar Jesus preso. O leitor sabe, não obstante a instigação dos fariseus, que o que os soldados experimentaram ao ouvir Jesus não era ilusão, mas a verdade. Nicodemos, fariseu e membro do Sinédrio, é um dos personagens mais importantes do quarto evangelho. Nele vemos refletido todos os que empreendem o itinerário de amadurecimento da fé (Jo 3,1-21). Tendo ido procurar Jesus, à noite, é ele quem, agora, sai em sua defesa. Ouvir de verdade Jesus é oferecer a Deus a possibilidade de ser transformado por ele. Por isso, Nicodemos que ouviu longamente o Senhor convida em vão os chefes do povo a fazerem o mesmo. Se da Galileia não havia surgido profeta, não é o caso agora, pois é de lá quem vem o verdadeiro profeta, e mais do que um profeta, o próprio Verbo de Deus que escolheu a nossa humanidade como lugar de sua habitação. Os que examinam a Escritura parecem prisioneiros da letra em detrimento do Espírito que sopra onde e quando quer.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Deus é surpreendente - 04.04.2014

Os evangelhos sinóticos e João coincidem ao afirmar que Jesus foi, se não em todo o período de sua vida pública, em boa parte dela, perseguido e sua vida, ameaçada, e que era pública a intenção de matá-lo; e, ao menos em determinadas circunstâncias, como o relato de hoje nos permite concluir, Jesus não andava com os seus discípulos. O relato é, ainda, ocasião de o leitor compreender a mentalidade equivocada acerca do Messias: para um bom número de judeus o Messias não teria origem humana. Pensando conhecer a origem de Jesus, esses anônimos do versículo 25 se equivocam, ignoram os desígnios de Deus e se esquecem de que Deus é surpreendente. O ensinamento de Jesus no Templo revela com uma fina ironia a ignorância deles. A verdadeira origem de Jesus é divina. O hermetismo no qual estão enredados lhes impediu, inclusive, de conhecer verdadeiramente Deus e o seu desígnio. Essa crítica revela a verdadeira razão da ignorância deles: não chegaram, de fato, a conhecer Deus. A oposição passional, diga-se irracional, leva os adversários de Jesus a querer prendê-lo. Descoberto, o mal mostra toda a sua armadilha maléfica. Mas a história relida à luz do mistério de Cristo mostra que o desígnio de Deus tem o seu dinamismo e tempo próprios.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 1 de abril de 2014

As obras dão testemunho de Jesus - 03.04.2014

Como é habitual no evangelho segundo João, os temas desenvolvidos nesse trecho do discurso de Jesus já se encontram no prólogo e serão desenvolvidos ao longo de todo o evangelho. As obras de Jesus têm um caráter de sinal; se compreendidas como tal, elas conduzem a Deus. Por isso, as obras dão testemunho de Jesus, pois nelas se revela o desígnio salvífico de Deus. Mas não somente isso, pois a força do testemunho em favor de Jesus vem do Pai. A vontade do Pai está na origem e sustenta a missão de Jesus. Sendo assim, não basta simplesmente escutar Jesus, é preciso deixar-se iluminar e habitar por sua Palavra. A razão, de fato, da resistência dos judeus com relação a Jesus é a falta de fé em Deus (cf. vv. 37-38), e a falta de compreensão do verdadeiro sentido da Escritura (cf. v. 39). Toda a Escritura se destina e encontra seu sentido em Jesus Cristo (cf. v. 45-47). O fechamento nos próprios interesses e o desejo de honras mundanas (cf. v. 44) impedem os opositores de Jesus de reconhecerem que a vida de Deus “in-habita” em Jesus.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

O agir misericordioso do Pai – 02.04.2014

O nosso texto é a sequência do episódio anterior; é a ampliação da resposta de Jesus à objeção dos judeus. Jesus fundamenta seu agir misericordioso, em dia de sábado, no trabalho incessante e ininterrupto do Pai. O Pai trabalha sempre em favor de toda a humanidade. A missão de Jesus é expressão de sua profunda união com o Pai. A Comunhão com o Pai faz com que o Filho faça a obra de quem o enviou. A afirmação do v. 17 encontra apoio em Dt 5,12-15, em que não se diz que Deus descansa, mas que o homem deve repousar para poder fazer memória de como Deus libertou o seu povo da “casa da servidão”. Essa memória exige tornar presente, sobretudo no dia de sábado, a mesma ação de Deus que libertou o seu povo da escravidão. O texto nos oferece, ainda, o motivo da condenação à morte de Jesus: violação do sábado e blasfêmia, fazer-se igual a Deus. A “posse” da vida eterna se dá por uma dupla atitude: escuta da palavra de Jesus e fé no Pai que o enviou. Daí que a vida eterna não é algo prometido para além da morte, mas uma realidade a ser vivida enquanto se é peregrino neste mundo.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj – Paulinas