terça-feira, 18 de novembro de 2014

XXXIII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 20.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIII Semana - Quinta-feira
Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 5, 1-10

1Depois, vi na mão direita do que estava sentado no trono um livro escrito nas duas faces e selado com sete selos. 2Vi também um anjo forte que clamava com voz potente: «Quem é digno de abrir o livro e de quebrar os selos?» 3Mas ninguém, nem no céu nem na terra, nem debaixo da terra era capaz de abrir o livro nem de olhar para ele. 4E eu chorava copiosamente porque não fora encontrado ninguém digno de abrir o livro nem de olhar para ele. 5Então, um dos anciãos disse-me: «Não chores. Porque venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David; Ele abrirá o livro e os seus sete selos.» 6Depois olhei e vi no meio do trono e dos quatro seres viventes e no meio dos anciãos, um Cordeiro. Estava de pé, mas parecia ter sido imolado. Tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. 7Depois, o Cordeiro aproximou-se e recebeu o livro da mão direita do que estava sentado no trono. 8E, quando Ele recebeu o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. 9E cantavam um cântico novo, dizendo:«Tu és digno de receber o livro e de abrir os selos; porque foste morto e, com teu sangue, resgataste para Deus, homens de todas as tribos, línguas, povos e nações; 10e fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus; e reinarão sobre a terra.»

O capítulo V do Apocalipse apresenta-nos, numa visão grandiosa, uma mensagem clara: a história humana é um mistério, porque Deus está presente nela; mas podemos ter alguma compreensão desse mistério, porque o próprio Deus nos oferece uma chave de leitura dessa história.
O símbolo do livro «selado com sete selos» (v. 1) significa que tudo permanecerá envolto no mistério, se não houver alguém capaz de «quebrar os selos» (v. 2). Felizmente temos Jesus, o Cordeiro imolado «digno de receber o livro e de abrir os selos; porque foste morto e, com teu sangue, resgataste para Deus, homens de todas as tribos, línguas, povos e nações» (v. 9). O choro copioso do vidente também é símbolo da tristeza em estamos condenados a viver até que venha Jesus quebrar os selos do livro. Assim se alude ao drama daqueles que mantêm os olhos fechados ao grande evento de salvação colocado no centro da história humana para a iluminar.
Em contraste com o choro daqueles que não conseguem ler por dentro o livro, eleva-se o «cântico novo» (v. 9) dos que seguem o Cordeiro e por ele são introduzidos na compreensão do mistério. Esses são o «reino de sacerdotes» (v. 10) que Jesus constituiu para Deus, salvando-os do pecado. Trata-se do sacerdócio universal de que participam todos os baptizados, aqueles que foram lavados no sangue do Cordeiro e revestidos de vestes brancas.


Evangelho: Lucas 19, 41-44

Naquele tempo, 41quando Jesus se aproximou de Jerusalém, ao ver a cidade chorou sobre ela e disse: 42«Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. 43Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; 44hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada.»

Ao contrário de Marcos, que insiste na incredulidade do povo diante da pessoa e da mensagem de Jesus, Lucas, nesta página, acentua a sua lamentação e o seu choro sobre Jerusalém, estabelecendo um claro contraste com as aclamações e louvores que, pouco antes, lhe tinham sido dirigidos (cf. Lc 19, 38). O choro de Jesus revela-nos a sua humanidade autêntica e, ao mesmo tempo, a sua total participação no drama de uma humanidade que resiste a entrar no projecto salvífico de Deus. Jesus salva-nos com o seu poder divino; mas também com a sua fragilidade humana.
A lamentação de Jesus encerra um juízo e oferece uma motivação. O juízo está nas palavras: «Mas agora isto está oculto (por Deus) aos teus olhos» (v. 42). Estas palavras atribuem a Deus o que na realidade depende da livre opção humana. A motivação encontra-se nas palavras: «Se neste dia também tu tivesses conhe¬cido» (v. 42). Estas palavras correspondem a uma afirmação: Tu não conheceste nem queres conhecer. Mas o mais urgente é revelar dois elementos positivos que caracterizam a lamentação de Jesus: a paz e o tempo da visita.
A paz é o dom messiânico por excelência. Jesus veio proclamá-la e oferecê-la a todos. Mas é preciso acolhê-la para caminhar com Jesus até ao termo do seu itinerário. O tempo de que fala Jesus é o “tempo providencial” (kairós) em que Deus visita o seu o povo para o libertar e introduzir no Reino. São dois acenos que iluminam o seu martírio que está próximo.


Meditatio

Ambas as leituras de hoje nos falam de choro: do choro de quem teme não poder ler a mensagem do livro, do choro de Jesus sobre Jerusalém. Espontaneamente nos lembramos das lamentações que, já no Antigo Testamento, manifestam o sofrimento de Deus pela infidelidade do seu povo. Que significa um tal pranto e uma tal lamentação?
Atentemos, em primeiro lugar, na comparação entre «este dia», caracterizado pela falta de correspondência dos contemporâneos de Jesus à sua mensagem de paz, e «daqueles dias», que verão o castigo de Deus para todos aqueles que deliberadamente tiverem ignorado o seu convite à salvação. É no coração da história que Deus, por meio de Jesus, quer entrar e ser acolhido. É esse o significado da “visita” que quer fazer hoje a cada criatura. O tempo é sagrado para Deus e para nós. É um dom que jamais apreciaremos convenientemente. Demos atenção aos verbos no futuro que caracterizam a lamentação de Jesus. Não se trata só de uma ameaça e, menos ainda, de um castigo que atinja o homem a partir de fora. Trata-se, sobretudo, de um sofrimento profundo para Deus e para nós, um sofrimento que não tem significado apenas negativo, mas algum significado positivo. É o sofrimento que, ao longo da história, se transforma em graça, logo que nos convertamos ao Senhor.
A página do Apocalipse mostra-nos hoje Cristo rei de todo o mundo, depois de ontem nos ter mostrado Deus na glória celeste. O que estava sentado no trono, Cristo ressuscitado e glorioso, «tinha na mão direita… um livro escrito nas duas faces e selado com sete selos» É o livro que contém a história do mundo, como Deus a quer. Ninguém é digno de abrir o livro e de lê-lo, quer dizer, ninguém é digno de actuar o plano de Deus sobre a história humana, porque tudo é obscuro, selado. Mas há uma revelação: existe um vencedor capaz de guiar a história humana de acordo com o desígnio de Deus, o «leão da tribo de Judá», Jesus Cristo. A vitória será alcançada pela sua imolação. E o seu reino, onde somos chamados a entrar, não terá fim. A expansão deste reino depende dos “santos”, isto é, dos cristãos. Depende de nós. Vivamos no desejo de que o reino venha, sejamos dóceis ao Espírito de Cristo, para que o reino se concretize cada vez mais.
A grandiosa liturgia do capítulo quinto do Apocalipse celebra o triunfo do Cordeiro vencedor “de pé” (v. 6) e imolado “degolado” (v. 6), que resgatou... «com o Seu sangue homens de todas as tribos, línguas, povos e nações» (v. 9). Na adoração eucarística juntamo-nos à igreja celeste para adorar, louvar e agradecer ao Cordeiro imolado que nos salvou, comprometendo-nos a trabalhar para que o seu reino se estenda a toda a terra e dê glória e alegria ao nosso Deus (cf. Cst 25).


Oratio

Senhor, Tu és Aquele que pode trazer a paz. Cada dia nos visitas para no-la oferecer. A tua cidade recusou-Te e recusou a paz. Que eu saiba acolher-Te e acolher o teu dom e que, dia a dia, caiam por terra os muros da violência e, por acções concretas, se modifiquem os meus pensamentos e me torne construtor da paz.
A paz não é um paraíso destinado a poucos, mas um bem para todos. Que eu tenham força para desafiar a desaprovação dos poderosos e as críticas dos pusilânimes, lutando eficazmente contra a injustiça, a miséria, a ignorância, a prepotência e a discriminação. Que os meus gestos de paz possam contribuir para um futuro melhor de todos e de cada um dos homens. Amen.


Contemplatio

Jesus estava na vigília da sua paixão, e as demonstrações dos judeus não O enganavam. O seu Coração estava ferido. Ao aproximar-se da cidade, parou um instante e pôs-se a chorar: «Jerusalém, disse, se compreendesses todo o bem que te quero! Se consentisses na paz que te trago! Mas não, vás obrigar-me a dentro em breve te atingir e punir a tua ingratidão!»
Estas palavras emocionam-me profundamente. Nosso Senhor não pensava apenas em Jerusalém, mas em todas as almas ingratas, também na minha. «Se tu compreendesses todo o bem que te quero! - dizia-me; se tu consentisses na paz que te trago!»
Mas, infelizmente, não compreendo sempre, não compreendo muitas vezes. Nosso Senhor traz-me a paz, mas eu permaneço perturbado, porque não tenho a coragem de me vencer nem de romper inteiramente com as minhas más inclinações.
Nosso Senhor repete-me as suas advertências de muitas maneiras, pelas impressões da sua graça, pelas minhas orações, os meus retiros, por muitas leituras e reflexões, por provações também e por castigos. Vou finalmente compreender o seu amor?
As suas lágrimas vão-me tocar? Se tivesse a fé de Margarida Maria, veria as lágrimas do Bom Mestre! Posso imaginá-las. Sei que Ele é impassível no céu, mas choraria ainda por minha causa, se pudesse chorar! (Leão Dehon, OSP 3, p. 353).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Tu, Senhor, és digno de receber o livro e de abrir os selos» (Ap 5, 2).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

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