quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXI Semana - Sexta-feira - 06.11.2015


SEXTA-FEIRA


31ª Semana do Tempo comum

Lectio

Primeira leitura: Romanos 15, 14-21

Irmãos: no que vos toca, estou pessoalmente convencido de que vós próprios estais cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento e com capacidade para vos aconselhardes uns aos outros. 15Apesar disso, escrevi-vos, em parte, com um certo atrevimento, como alguém que vos reaviva a memória. Faço-o em virtude da graça que me foi dada: 16ser para os gentios um ministro de Cristo Jesus, que administra o Evangelho de Deus como um sacerdote, a fim de que a oferenda dos gentios, santificada pelo Espírito Santo, lhe seja agradável. 17É, pois, em Cristo Jesus que me posso gloriar de coisas que a Deus dizem respeito. 18Eu não me atreveria a falar de coisas que Cristo não tivesse realizado por meu intermédio, em palavras e acções, a fim de levar os gentios à obediência, 19pela força de sinais e prodígios, pela força do Espírito de Deus.Foi assim que, desde Jerusalém e, irradiando até à Ilíria, dei plenamente a conhecer o Evangelho de Cristo. 20Mas, ao fazê-lo, tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio. 21Pelo contrário, fiz conforme está escrito: Aqueles a quem ele não fora anunciado é que hão-de ver e aqueles que dele não ouviram falar é que hão-de compreender.


Paulo justifica delicadamente o «certo atrevimento» com que se dirigiu aos Romanos (v. 15). Reconhece que estão «cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento», que têm capacidade para se aconselharem uns aos outros, segundo o pensamento do Senhor (v. 14). O Apóstolo limita-se a reavivar-lhes a memória sobre o que já sabem (cf. v. 15). Fala da sua missão de pregador como de um serviço litúrgico (v. 16). Paulo é o liturgo de Cristo, encarregado de um «ofício sagrado» que consiste na «oblação» a Deus daqueles a quem pregou o Evangelho. É assim que presta culto a Deus, tal como tinha lhes tinha recomendado (Rm 12, 1). Este culto é paga da «dívida» (cf. 1, 14) a Cristo, de que Paulo tem plena consciência, pela graça d´Ele recebida. Assim, com a «fraqueza» que lhe é própria, o Apóstolo corresponde à força do Evangelho. O seu apostolado, por «palavras e acções», é confirmado com a «força de sinais e prodígios, com a força do Espírito de Deus» (v. 19).


Evangelho: Lucas 16, 1-8

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens. 2Mandou-o chamar e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.’ 3O administrador disse, então, para consigo: ‘Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. 4Já sei o que hei-de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.’ 5E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ Ele respondeu: 6‘Cem talhas de azeite.’ Retorquiu-lhe: ‘Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.’ 7Perguntou, depois, ao outro: ‘E tu quanto deves?’ Este respondeu: ‘Cem medidas de trigo.’ Retorquiu-lhe também: ‘Toma o teu recibo e escreve oitenta.’ 8O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.»


Só tendo presente o contexto de todo o capítulo, que tem o seu centro no v. 14, «Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas pala¬vras e troçavam dele», podemos compreender o pensamento de Jesus nesta parábola. A primeira parábola (vv. 1-8) ensina o modo correcto de usar os bens; a segunda parábola (vv. 19-31) ensina como não devem ser usados. Em ambas, a lição recai sobre o amor ao dinheiro.
Na primeira parábola, o louvor do administrador infiel pode causar espanto ou mesmo escândalo; mais adiante Lucas compara Deus a um juiz injusto (Lc 18, 1-8); em Mt 10, 16, os discípulos são convidados a ser espertos como as serpentes. Mas não havemos de nos escandalizar: Jesus não nos dá por modelo um qualquer vigarista ou fulano astuto. Pelo contrário, lembra-nos que somos responsáveis pelos bens que não são exclusivamente nossos, mas que devemos considerar dons de Deus e, portanto, tratar com prudência e com audácia dignas de filhos de Deus.
Ao fim e ao cabo, Jesus quer que os filhos da luz, na sua caminhada terrena, sejam mais sagazes do que os filhos deste mundo (v. 8b). A sagacidade de que fala Jesus é directamente funcional ao desejo e à consecução do verdadeiro bem.


Meditatio

Esta parábola de Jesus pode deixar-nos bastante desorientados. Parece insinuar que o fim justifica os meios, que saber desenrascar-se é preferível à honestidade. São palavras provocantes que havemos de escutar em profundidade. Para isso, será bom darmos atenção às palavras com que o Senhor conclui a parábola: «os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes» (v. 8). Há o modo engenhoso de quem, para praticar desonestidades, recorre a análises, a iniciativas, à entrega pessoal. Talvez os discípulos do Senhor nem sempre recorram aos mesmos meios para obter fins honestos, cedendo facilmente diante dos imprevistos, das dificuldades. Jesus não louva a desonestidade do administrador, mas a esperteza com que soube encontrar, numa situação difícil, uma solução que lhe permitiu continuar uma vida cómoda, egoísta.
Deixemo-nos interpelar e verifiquemos a qualidade do nosso discipulado. Quantas vezes baixamos os braços dizendo: «Não é possível… com este povo! Não há nada a fazer nesta sociedade em que vivemos!». Os santos não reagem assim. As dificuldades levam-nos a procurar soluções e a encontrá-las, porque só estão preocupados com o projecto de Deus, e o seu amor é desinteressado, generoso, criativo: «Águas caudalosas não podem apagar o amor, nem os rios o podem submergir» (Cant 8, 7).
É o que verificamos em Paulo, com a sua apaixonada e extenuante corrida evangelizadora. Ser discípulos de Cristo significa ser homens e mulheres criativos, generosos, corajosos. Essa criatividade, generosidade e coragem vêm-lhes da relação íntima com o Senhor, renovada cada dia. É preciso que Ele viva em nós. É preciso que estejamos activamente com Ele e com os irmãos n´Ele. Então, todas as peças do puzzl da nossa existência se integram harmoniosamente, de modo que a nossa vida se torne louvor do Senhor.
A actividade missionária constitui, para o Pe. Dehon e para nós, uma forma privilegiada de serviço apostólico. Nela, como nas outras actividades apostólicas, a sua preocupação constante, tal como para Paulo, é que a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rm 15,16).



Oratio

Vem Espírito Santo, força criadora de Deus! Ensina-me a fantasia e a criatividade do amor no seguimento de Jesus, na generosidade para com Ele e para com os irmãos. Ilumina-me, Espírito divino, para que saiba discernir o bem e realizá-lo com criatividade, generosidade, coragem. Que a minha vida seja uma oblação, que Te dê glória e alegria. Que a humanidade e a criação inteira, também com a minha humilde cooperação, se torne para Ti oblação viva, santa e agradável. Amen.


Contemplatio

O zelo não é mais do que o florescer da caridade. Amando ardentemente a Nosso Senhor, cultivamos o zelo pela sua casa, pelo seu culto e serviço, o zelo pelas almas. O zelo assume formas diversas consoante o espírito e a finalidade de cada Instituto. O objecto do nosso zelo é o reino do Coração de Jesus. Este reino é muito vasto; é universal. Mas tem naturalmente exigências especiais e mais urgentes. Nosso Senhor quer santuários dedicados à reparação, Betânias onde possa repousar e encontrar amor e consolação, no meio da indiferença geral e da tibieza até de uma parte do povo eleito. Devemos desejar tais santuários, como David desejava o templo do Senhor: Não deixarei dormir os meus olhos..., enquanto não encontrar um lugar para o Senhor, um santuário para o Deus de Jacob (Si 132, 4-5). A mínima esperança de ter estes santuários deve encher-nos de alegria: ouvimos dizer que (a arca) estava em Éfrata (Si 132, 6). Nas obras de apostolado, devemos preferir as que podem ser mais queridas ao Coração de Jesus: o serviço dos sacerdotes, a sua formação e santificação, a educação das crianças e a dedicação aos operários e aos pobres. Servimos mais directamente o Senhor, sempre que nos dedicamos àqueles a respeito dos quais Jesus afirmou: Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes estas coisas a um só destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes (Mt 25, 40). (Leão Dehon, DIRECTÓRIO ESPIRITUAL, edição portuguesa, n. 199)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Águas caudalosas não podem apagar o amor» (Cant 8, 7).


http://www.dehonianos.org/

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