terça-feira, 2 de setembro de 2014

XXII Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 04.09.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXII Semana - Quinta-feira
Lectio

Primeira leitura: 1 Coríntios 3, 18-23

Irmãos: 18Ninguém se engane a si mesmo: se algum de entre vós se julga sábio à maneira deste mundo, torne-se louco para ser sábio. 19Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Com efeito, está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. 20E ainda: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e sabe que são fúteis. 21Portanto, ninguém se glorie nos homens, pois tudo é vosso: 22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro. Tudo é vosso. 23Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.

Paulo retoma a reflexão sobre o binómio «sabedoria-loucura» e adorna-o com referências ao Antigo Testamento. A sua atenção concentrara-se na loucura da pregação, na loucura da cruz, na loucura da fé. Agora o discurso alarga-se e aplica-se a toda a existência cristã: «viver em Cristo» comporta assumir a novidade de vida que Cristo pregou e que a sua cruz anuncia, ainda que isso pareça paradoxal e escandaloso ao mundo em que vivemos. Depois Paulo aperfeiçoa a escala dos valores, apresentando-a de modo eloquente: Tudo é vosso - Paulo refere-se a todos os crentes e a toda a comunidade dos crentes; mas vós sois de Cristo - todos, nós e vós, diz o Apóstolo, pertencemos a Cristo por meio da fé; ser de Cristo significa ter uma relação especial com Ele, por um chamamento recebido, pela Palavra escutada, pelo dom da graça acolhido; e Cristo é de Deus - é novamente reafirmado o primado de Deus Pai, origem e fim de tudo e de todos. Paulo esboça diante de nós um itinerário teológico persuasivo e englobante.


Evangelho: Lucas 5, 1-11

Naquele tempo, 1encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, 2Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. 3Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» 5Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» 6Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, 7e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. 8Ao ver isto, Simão caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» 9Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera 10a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão.Jesus disse a Simão: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» 11E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus

Lucas realça o modo como a multidão escutava «a palavra de Deus». Deste modo, remete-nos para a comunidade eclesial que vive a sua fé colocando no centro de si mesma «a palavra de Deus» e, ao mesmo tempo, Jesus como Palavra da revelação e a pregação apostólica. Lucas também realça que Jesus, «sentando se, dali se pôs a ensinar a multidão». Também este pormenor nos leva a considerar a narração evangélica como intimamente ligada à vida da primitiva comunidade cristã, em que a passagem da evangelização à catequese era normal e permanente.
«Porque Tu o dizes, lançarei as redes»: Lucas sublinha a autoridade da palavra de Jesus. Sabemos que toda a palavra que saía da boca de Jesus, para os Apóstolos ou para a multidão, estava carregada de especial autoridade: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» (4, 36).
«Depois de terem reconduzido as barcas para terra, dei¬xaram tudo e seguiram no». Esta expressão alerta para o radicalismo evangélico. Lucas quer indicar que o seguimento de Jesus implica, não só uma opção pessoal, mas também a decisão de se desapegar de tudo aquilo que, de algum modo, possa enfraquecer a adesão a Jesus.


Meditatio

As leituras de hoje convidam-nos a ultrapassar os nossos estreitos limites humanos, para nos abrirmos à imensidade do amor de Deus.
Paulo exorta os Coríntios a irem além da sabedoria humana, que, muitas vezes, se deixar guiar por simpatias e preferências, e acaba por erguer barreiras que nos separam de Deus e uns dos outros. O Apóstolo indica-lhes horizontes bem mais amplos: «Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (vv. 22b-23).
O mesmo acontece no evangelho. Jesus quis que Pedro compreendesse que o apostolado não é coisa humana. A pesca milagrosa leva Pedro a ultrapassar o senso comum, a curtas vistas humanas: ao ver a pesca inesperada, o apóstolo diz: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador» (v. 8). Há pormenores que marcam este encontro entre Jesus e Simão Pedro. Facilmente reconhecemos neles aspectos importantes da nossa experiência de vida cristã. Por exemplo: a passagem da desilusão à confiança: um pescador experimentado como Pedro sabe que, depois de certas noites de faina, não tem muito a esperar; a experiência é sempre uma referência em que nos apoiamos para fazer opções ou tomar decisões. Geralmente, não estamos muito inclinados a arriscar em coisas em que já experimentamos o fracasso. Mas Pedro acredita na palavra de Jesus e confia na sua eficácia. Do espanto ao reconhecimento da sua condição de pecador: a consciência de Pedro ilumina-se no contacto com Jesus, e não só diante do milagre. É verdade que o milagre sacode as consciências e as interpela drasticamente, mas a referência principal e última é a pessoa de Jesus. Diante dele, Pedro reconhece a sua condição de pobre pecador, idêntica à dos outros. De pecador a pescador de homens: Pedro dá-se conta de que Jesus entrou na sua vida, não para o atrair, mas também para ganhar, por meio dele, outras pessoas para a novidade cristã. Dá-se uma transformação da sua qualidade de pescador. Do abandono de todo ao seguimento de Jesus: a vocação qualifica-se, não tanto pelo que deixa, mas por Aquele a Quem se adere. Também Pedro de deu conta da necessidade de deixar tudo para seguir a Cristo. E não hesitou!
Para responder à vocação, é preciso conhecer o rosto d'Aquele que chama. Toda a resposta vocacional implica um reconhecimento de Deus na pessoa de Jesus Cristo. Aí, no amor dado e recebido, na identidade salvadora acolhida, pode-se dar um salto de confiança para os braços d'Aquele que chama porque se reconhece n'Ele a misericórdia e a salvação, a vida e a paz, a verdade e a beleza.
A motivação consistente para vida consagrada só pode ser Cristo e o Evangelho (cf. Mc 10, 29). Só o amor a Cristo justifica uma vida de castidade, de pobreza, de obediência, vivida em fraternidade e ao serviço da missão.
«Na Igreja, fomos iniciados na Boa Nova de Jesus Cristo: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem" (1 Jo 4,16). Recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança; uma fé que orienta a nossa vida e nos inspira a deixar tudo para seguir a Cristo; no meio dos desafios do mundo, devemos consolidá-la, vivendo-a na caridade. Com todos os nossos irmãos cristãos confessamos, por meio do Espírito, que Cristo é o Senhor, no qual o Pai nos manifestou o seu amor e que continua presente no mundo para o salvar. "Ninguém pode dizer - Jesus é o Senhor - senão sob a acção do Espírito Santo" (1 Cor 12,3) (Cst 9).


Oratio

Seduziste-me, Senhor, e eu deixei-me seduzir. Procurava algo de significativo numa vida fácil e sem brio, no tédio mortal de muitos dias sempre iguais. O teu amor arcano e misterioso atemorizava-me e, por isso, resisti muito tempo. Agora, sinto-me rendido à tua irresistível sedução. Puseste-me numa nova forma de existência, mostrando-me uma missão que, a partir de agora, dá consistência à minha vida, mesmo no meio das dificuldades, e das contradições. Seguir-Te tornou-se uma maravilhosa oportunidade para Pedro e para mim, como para todos os que são chamados. Que a saiba aproveitar, para glória do teu Nome. Amen.


Contemplatio

A vocação sacerdotal é muitas vezes preparada por piedosos antepassados. Há muitas vezes entre as causas determinantes da nossa vocação os exemplos, as orações, os méritos de uma mãe, de uma avó ou de outros familiares. Não vemos também aqui, como prelúdio ao Ecce venio de Jesus, o Ecce Ancilla de Maria, e a vida santa e pura da Virgem imaculada, a humildade de José, pai adoptivo do Salvador, a dignidade de Santa. Ana e de S. Joaquim? Jesus quer que nós guardemos a recordação destas santas preparações. S. Paulo diz a Timóteo: «Recorda-te da fé da tua avó e da tua mãe» (2Tim 1). Muitas vezes também, houve nas gerações precedentes da família do sacerdote, outras vocações de sacerdotes, de religiosos, de religiosas. Jesus, por Maria, descendia simultaneamente da família de Judá e da tribo de Levi. Muito frequentemente os piedosos antepassados do sacerdote passaram por provações. As graças compram-se. Sta. Ana e S. Joaquim foram desprezados, Maria e José viveram na pobreza.
Se nós reconhecemos o toque divino na origem da nossa vocação, exprimamos a nossa gratidão ao divino Coração de Jesus… Regressemos em pensamento à nossa infância. Agradeçamos a Deus as graças recebidas e peçamos-Lhe perdão pelas falhas que nos escaparam.
Quais eram as disposições do Coração de Jesus durante a sua infância e a sua juventude? … Oferecia sem cessar um sacrifício perfeito ao seu Pai… Crescia em graça, crescia em sabedoria…
Perdão por todos os abusos que cometi dos vossos dons! Obrigado por todos os proveitos espirituais que deles pude colher! (Leão Dehon, OSP 2, pp. 544ss.)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor 3, 23).

Fonte | Fernando Fonseca, scj |

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