quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - I Semana - Sexta-feira - 16.01.2015


Lectio

Primeira leitura: Hebreus 4, 1-5.11

Irmãos, 1embora permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, temamos que algum de vós seja considerado excluído. 2Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. 3Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso.No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, 4pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras; 5e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso. 11Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência.

O nosso texto continua a tratar o tema da fidelidade. Enquanto dura o «hoje», há que não deixar endurecer o coração, afastando-se de Deus pela incredulidade. Este afastamento era uma tentação permanente, não só para os cristãos que tinham vindo do judaísmo, mas para todos os que tinham recebido a revelação final e a luz em Cristo e através de Cristo. Voltar à incredulidade equivalia a quebrar relações com Deus, a pecar contra a luz (cf. 6, 4-6), a recusar percorrer o único caminho que pode levar à luz e à vida, ao «repouso» de Deus (v. 5). A promessa feita a Israel continua válida para os crentes em Cristo, mas a «boa nova» anunciada por Deus deve ser acolhida na fé. Este acolhimento é uma opção dinâmica que exige compromisso perseverante, a nível pessoal, uma vez que a fé na Palavra é sempre inovada e traduzida na vivência pessoal (v. 3), mas também a nível eclesial, porque é na comunidade dos crentes que a Palavra é transmitida. Se assim for, o povo de Deus pode caminhar na unidade rumo à meta indicada pelo Senhor.


Evangelho: Marcos 2, 1-12

Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. 2Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. 3Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. 5Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» 6Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: 7«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» 8Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? 9Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’? 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, 11Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» 12Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

A «palavra», em Jesus, consiste em «falar» e em «fazer». As curas que realiza são «palavra». Marcos, depois de nos dizer que Jesus «anunciava a palavra» (v. 2), oferece-nos um exemplo concreto da sua «palavra actuante».
Quatro homens conduzem a Jesus um paralítico. Esta iniciativa contrasta com o imobilismo dos escribas «sentados», a tentarem surpreender Jesus em alguma palavra ou gesto contra a Lei. O foco da narrativa que ouvimos está nas palavras: «para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados…». O milagre confirma a palavra de Jesus, o seu poder de reconciliação dos homens com Deus. A atenção é deslocada de um mal físico para um mal mais profundo, o pecado, que paralisa o homem, impedindo-o de avançar segundo o projecto de Deus. Os escribas compreendem o alcance das palavras de Jesus. Mas não estão dispostos a aceitar uma tal «blasfémia», porque só Deus pode perdoar os pecados. Jesus reage reforçando a sua afirmação: «Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno: levanta-te» (vv. 10-11). O milagre é sinal do poder de Jesus.
A cura do paralítico é uma síntese da palavra pregada por Jesus. O reino de Deus está próximo, porque Deus decidiu oferecer o seu perdão aos homens, em Jesus. Esse perdão introduz o homem todo, corpo e espírito, na salvação. Mas, como pode aproximar-se de Jesus quem está amarrado por «laços de morte» (Sl 114, 3)? Só com a ajuda de outros que, salvos pela misericórdia de Deus, se dispõem a ajudar os irmãos.


Meditatio

A fé é um caminho para o repouso de Deus. É talvez um caminho difícil. Percorremo-lo no deserto. Mas a Terra Prometida está diante de nós. Há que enfrentar o cansaço e o sofrimento, sem desanimar. Espera-nos o Coração de Deus, onde encontrará repouso o nosso próprio coração.
Mas tudo isto não é só futuro. Os que acreditamos, podemos entrar, desde já, no repouso de Deus (cf. v. 3): «Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu», diz ainda o autor da Carta aos Hebreus (6, 19). A «âncora segura» é a fé. Temos a esperança de que havemos de ser recompensados pelos nossos esforços de fidelidade, mas, na fé, vemos, já agora, os dons de Deus. O cristão sabe que, no meio das dificuldades, das preocupações, dos sofrimentos da vida, Deus nos convida a «entrar no seu repouso», a estar com Ele em paz, tranquilos e alegres.
O evangelho mostra-nos a eficácia imediata da fé: «Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (v. 5). O Senhor não disse: «serão perdoados», mas «estão perdoados», por causa da fé daqueles homens. A fé alcança o dom de Deus, mesmo que as circunstâncias pareçam contrárias. A fé é posse antecipada das coisas que se esperam.
Também nós, tantas vezes, paralíticos do espírito, inertes aos estímulos da graça ou amarrados por compromissos stressantes, talvez assumidos para encher, pelo activismo, o nosso vazio interior, nos sentimos incapazes de dar um passo em frente. Mas a Palavra de Deus encoraja-nos a permanecer unidos às testemunhas da fé, e a deixar-nos conduzir na obediência. A confiança na comunhão eclesial é já um passo, muito importante, no caminho da fé. Ainda que nos sintamos impotentes, amarrados pelos laços do pecado, a Palavra de Deus mostra-nos como é decisivo deixar-nos conduzir a Cristo pela fé dos irmãos. A experiência do perdão vai repor-nos em marcha.
Quando celebramos a Eucaristia, escutamos as palavras: «Felizes os convidados para a ceia do Senhor». A ceia do Senhor, em certo sentido, está no futuro, é o banquete celeste. Mas noutro sentido, em cada eucaristia, já participamos na fé nesse banquete celeste, no amor de Deus, na paz de Deus. Em cada momento e em cada situação do nosso dia, podemos escutar o convite do Senhor: «Entra no meu repouso». E é sempre possível entrar nesse repouso. No episódio dos três jovens lançados à fornalha ardente (Dn 3, 1ss), diz-se que, por entre as chamas, soprava «uma brisa matinal» (Dn 3, 50) e que, no martírio, estavam como que no céu. Por isso, cantavam: «Bendito e louvado sejas, Senhor, Deus dos nossos pais! Que o teu nome seja glorificado pelos séculos!» (Dn 3, 28).


Oratio

Senhor Jesus, obrigado por teres sido solidário com a minha miséria. Obrigado pelo olhar misericordioso que lançaste sobre mim, paralisado no meu pecado. Obrigado pela palavra que eu não procurava, mas me quiseste dirigir para me reconduzires à vida: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (v. 5). Obrigado pela liberdade nova, que desfez as cadeias que mantinham inerte o meu coração e me deu um impulso antes desconhecido. Obrigado pela alegria da fé que suscitaste em mim. Obrigado pela solidariedade dos irmãos que me conduziram até junto de Ti. Ensina-me a ser também solidário com todos os pecadores, para que Te cheguem a Ti e encontrem a misericórdia, o amor, a vida em abundância e em paz. Amen.


Contemplatio

«Se alguém me ama e guarda a minha palavra, diz ainda Nosso Senhor, meu Pai amá-lo-á e faremos nele a nossa morada… Aquele que me ama e que o prova observando os meus mandamentos, será amado por meu Pai, e eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele… E então compreendereis que estou em meu Pai, e sentireis que estou em vós e vós em mim». Ó admirável união! «Estareis unidos a mim, diz Nosso Senhor, pela vida da graça, pelos sentimentos do coração e pelo acordo das vontades… Estarei unido a vós pela influência das minhas luzes e das minhas direcções, pela consolação da minha presença sensível e do meu amor». Posso, portanto, viver no Coração de Jesus e Jesus quer viver no meu coração: «Vós em mim e eu em vós», diz-nos. Ó divino Coração de Jesus, sede daqui em diante a minha morada. Em vós rezarei eficazmente, em vós pedirei conselho sem medo de me enganar, em vós contemplarei o modelo de todas as virtudes. Sei o meio de habitar em vós, é conformar-me à minha regra e a todas as vossas vontades. Agora, posso dizer com David: «Como são amáveis os vossos tabernáculos, ó meu Deus!... Um dia de repouso e de vida sobrenatural na vossa casa, isto é, no vosso Coração, vale mais que mil anos passados entre os pecadores». (Leão Dehon, OSP 3, p. 452).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Os que acreditámos, entraremos no descanso» (Heb 4, 3).



Fonte http://www.dehonianos.org/

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