quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - III Semana - Sábado - 31.01.2015


 Lectio

Primeira leitura: Hebreus 11, 1-2.8-19

1Irmãos: a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. 2Foi por ela que os antigos foram aprovados. 8Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como herança e partiu sem saber para onde ia. 9Pela fé, estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, tal como Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa, 10pois esperava a cidade bem alicerçada, cujo arquitecto e construtor é o próprio Deus. 11Pela fé, também Sara, apesar da sua avançada idade, recebeu a possibilidade de conceber, porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido. 12Por isso, de um só homem, e já marcado pela morte, nasceu uma multidão tão numerosa como as estrelas do céu e incontável como a areia da beira-mar. 13Foi na fé que todos eles morreram, sem terem obtido os bens prometidos, mas tendo-os somente visto e saudado de longe, confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. 14Ora, os que assim falam mostram que procuram uma pátria. 15Se eles tivessem pensado naquela que tinham deixado, teriam tido oportunidade de lá voltar; 16mas agora eles aspiram a uma pátria melhor, isto é, à pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado o «seu Deus», porque preparou para eles uma cidade. 17Pela fé, Abraão, quando foi posto à prova, ofereceu Isaac, e estava preparado para oferecer o seu único filho, ele que tinha recebido as promessas e 18a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. 19De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.

Exposta a doutrina, o autor da Carta aos Hebreus, começa um capítulo todo dedicado à fé. À maneira sapiencial, apresenta uma galeria dos campeões da fé que viveram no Antigo Testamento, apresentando-os aos seus leitores cristãos como incentivo para que sigam os seus passos e perseverem na vivência da fé. Antes de fazer desfilar a série de homens e mulheres exemplares pela sua fé, o autor sintetiza todo o seu ensinamento e dá-nos uma chave de leitura logo no primeiro versículo: «a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem».
Abraão é o crente por excelência. No começo da sua caminhada, a fé foi-lhe necessária para obedecer à chamada de Deus e deixar a sua terra rumo a outra longínqua e desconhecida. A fé e a esperança acompanharam-no ao longo da vida errante e precária pelo deserto. Animado pela esperança, Abraão enfrentava decididamente o cansaço de uma vida nômada, esperando com absoluta certeza a Jerusalém celeste. A sua fé revelou-se maximamente no sacrifício de Isaac, o filho da promessa. Deus parecia contradizer-se e retirar ao patriarca aquele que era seu dom e garantia dos bens futuros prometidos. A fé de Abraão leva-o a oferecer a Deus o sacrifício de uma obediência heroica, que a «noite escura» da fé não enfraquece. Por isso Deus o recompensa, restituindo-lhe o filho, que estava disposto a sacrificar, e fazendo dele profecia da futura economia da salvação.


Evangelho: Mc 4, 35-41

Naquele dia, 35ao entardecer, disse Jesus aos discípulos: «Passemos para a outra margem.» 36Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. 37Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. 38Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. 39Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. 40Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» 41E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

À proclamação do Reino de Deus, em parábolas, segue a apresentação dos benefícios dessa proclamação. É o que faz Marcos na nova secção do seu evangelho, onde apresenta quatro milagres, a começar pela tempestade acalmada (vv. 37ss.). A Boa Nova da Salvação atinge o homem todo, toda a sua existência: Jesus salva e cura os homens das mais diversas ameaças que estão a ponto de «alienar» a sua vida. É interessante notar o contraste entre a serenidade de Jesus, que dorme, e a ansiedade dos discípulos, que lutam bravamente contra as ondas e o vento. Parecem inverter-se os papéis: Jesus confia nos marinheiros e estes, angustiados, não revelam confiança em Jesus: «não te importas que pereçamos?» (v. 38). Quando Jesus finalmente intervém, calam-se o vento e o mar, e calam-se os aterrorizados marinheiros. Nem respondem às perguntas de Jesus: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?». O medo dos discípulos indica falta de fé. A intervenção de Jesus transforma-lhes o medo em temor de Deus. O poder manifestado por Jesus fê-los intuir a presença de Deus junto deles. E começam a dar-se conta da verdadeira identidade do seu Mestre.


Meditatio

O autor da Carta aos Hebreus leva-nos, hoje, a refletir sobre o grande dom da fé: «Pela fé, Abraão… obedeceu e partiu… estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida… Pela fé, também Sara recebeu a possibilidade de conceber…». E o refrão «pela fé» vai sendo repetido para falar de Abel, de Enoc, de Isaac… O nosso texto limita-se a referir Abraão que, pela fé, partiu sem saber para onde ia, permaneceu como estrangeiro na Terra Prometida e que, posto à prova, se dispôs a oferecer o seu filho único, mas o recuperou «numa espécie de prefiguração» (v. 19). Refere também o exemplo de Sara, que se tornou mãe quando a idade já não o permitia, «porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido» (v. 11).
Saber confiar em Alguém é o caminho para a liberdade. Em muitos casos, não se trata de deixar geograficamente a pátria, a família; trata-se de uma outra «saída» muito mais radical, que está no fundamento de todas as outras: a saída de si mesmo. Esta saída pode significar simplesmente retomar cada manhã os mesmos trabalhos domésticos, de percorrer o habitual caminho que leva ao serviço, ou de permanecer imóvel no leito de dor, oferecendo cada momento ao Senhor para que dele disponha como julgar melhor.
Abraão partiu comprometendo toda a sua vida e tornou-se «pai dos crentes». Todo o «sim» generoso dito a Deus é fonte de bem para muitos. Toda a resistência ou recusa a Deus atrasa o caminho de todos para a realização da história. Abraão é louvado pela sua fé, ainda que apenas visse à distância. No evangelho, os apóstolos são repreendidos pela sua falta de fé, apesar de Jesus estar próximo deles. Um incrível paradoxo que nos há-de levar a refletir. A fé não precisa de especiais condições. Quem sabe olhar as profundidades do coração acaba por descobrir que a Terra Prometida está aí e que se pode alcançá-la pela ato de obediência e de entrega que o Espírito vai sugerindo a cada instante.
«Feliz de ti que acreditaste» (Lc 1, 45), dizia Isabel a Maria. Maria acreditou numa situação de profunda obscuridade, no momento da anunciação; mas acreditou também noutro momento de maior obscuridade ainda: a morte do seu Filho, no Calvário. Na sua noite escura da fé, sentimos a Virgem muito próxima de nós, em comunhão com as nossas dolorosas experiências espirituais, como uma mãe que participa, em tudo, da vida dos filhos.


Oratio

Salve, Senhor, nosso Rei, humilde e obediente ao Pai. Como manso cordeiro, foste levado à morte na cruz. Hoje, queremos unir-nos a Ti e contigo abandonar-nos à vontade do Pai, pronunciando com decisão e alegria o nosso «Eis-me aqui!». Concede-nos a graça de sermos dóceis e obedientes à tua palavra, de partirmos com generosidade e entusiasmo para as aventuras em que nos queres envolver, de suportarmos os nossos sofrimentos com paciência e abandono, mesmo na noite escura e na solidão, a exemplo da tua e nossa Mãe, como eminente e misteriosa comunhão com os teus sofrimentos e a tua morte para redenção do mundo. Amen.


Contemplatio

Enquanto permanecestes com o vosso divino Filho, ó Rainha dos Anjos, o vosso Coração sagrado esteve à espera das dores que vos tinham sido anunciadas pelo velho Simeão: dores sem igual, porque a grandeza do vosso amor era a sua medida. A hora da Paixão chega: Jesus despede-se de vós para ir sofrer, e faz-vos compreender que, para cumprir a vontade de seu Pai, deveis acompanhá-lo ao pé da cruz, e que o vosso coração tão terno lá será trespassado pela espada da dor. S. João vem advertir-vos que o Cordeiro divino vai ser conduzido à imolação. Saís imediatamente da vossa morada, banhando com as vossas lágrimas as ruas de Jerusalém; encontrais o vosso Filho no meio de uma tropa furiosa de carrascos e de tigres, que rugem e blasfemam, pedindo a grandes gritos que o crucifiquem… Ele caminha carregado com o madeiro da cruz; vós o seguis, toda banhada com as vossas lágrimas e com o coração mergulhado numa dor imensa. Ele chega finalmente ao Gólgota. Com golpes de martelo enterram nos seus pés e nas suas mãos cravos que perfuram o vosso coração materno. Logo o elevam da terra no meio de blasfêmias. Ó meu Deus! Todo o vosso sangue gela nas vossas veias. Durante três horas permaneceis ao pé da cruz de Jesus, cravada pelo amor e pela dor a esta árvore sagrada, até /262 que enfim Ele expira no meio dos mais horríveis tormentos… Depositam-no sem vida nos vossos braços. A terra nunca viu semelhante dor. (Leão Dehon, OSP 3, 676s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«A fé é garantia das coisas que se esperam» (Heb 11, 1).


Fonte http://www.dehonianos.org/

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