Ocasião para darmos
testemunho. - 17.11.2013
O atraso da parúsia provocou muitas especulações acerca da
“segunda vinda de Cristo”. Especulações estas que deram origem a um discurso
milenarista. A expectativa da segunda volta de Cristo gerou, ainda, uma
tradição de que alguns fenômenos atmosféricos anunciavam o fim do mundo e,
mais, de que Deus seria o responsável, por causa de sua decepção ante a maldade
do ser humano que ele criou. São Lucas, no entanto, vai se utilizar destes
elementos para anunciar um tempo aberto na história para o testemunho: “Será
uma ocasião para dardes testemunho” (v. 13).
A menção da destruição do Templo (vv. 5-6), que pode ser
considerada uma profecia ex eventu, não é uma previsão do futuro, mas um modo
de ajudar os discípulos e o leitor do evangelho a superarem as provações do
tempo presente. Em outros termos, o que Jesus quer dizer é o seguinte: não
importa o que aconteça, não se deve esmorecer, nem temer, nem ser envolvido
pela perplexidade. É preciso apoiar a vida em valores verdadeiros e sólidos.
Até o Templo, ornado com tantas pedras preciosas (cf. v. 6), desaparecerá, pois
ele figura entre as coisas que passam. A vida do ser humano deve estar apoiada
no que não passa nem decepciona: Deus. As palavras de Jesus, inspiradas numa
linguagem apocalíptica, não predeterminam nenhuma data, mas fazem um apelo ao
discernimento permanente. Jesus evita responder à pergunta: “... quando será, e
qual o sinal de que isso está para acontecer?” (v. 7). Mas alerta: “Cuidado
para não serdes enganados…” (v. 8). Ele não responde à questão posta, pois a
preocupação do discípulo não deve ser com o quando, mas com que atitude ter em
meio às adversidades da vida e aos dramas da humanidade. Do discípulo é exigida
uma atitude de confiança que nada pode abalar, nem mesmo as catástrofes
naturais, nem as perseguições por causa do evangelho. A propósito das
perseguições e da morte, é preciso pôr a vida nas mãos de Deus: em primeiro
lugar, como dissemos, será uma ocasião de dar testemunho (cf. v. 13) e, em
segundo lugar, de confiar que é Deus quem inspira, dá força e protege a causa
de seus eleitos. Nos Atos dos Apóstolos, o próprio Lucas relata a atitude de
Pedro e João, perseguidos pelas autoridades judaicas: “Quanto a eles, deixaram
o Sinédrio muito alegres por terem sido julgados dignos de sofrer humilhações
pelo Nome” (At 5,41). É na vitória de Jesus Cristo que deve estar apoiada a
esperança dos cristãos: “No mundo tereis tribulações, mas coragem! Eu venci o
mundo” (Jo 16,33). Com São Paulo podemos, então, nos perguntar: “Quem nos
separará do amor de Cristo?”. E com ele respondermos: nada nem ninguém (Rm
8,31-39).
Carlos Alberto Contieri, sj
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