Os saduceus não são propriamente um grupo religioso, mas uma
espécie de aristocracia ligada ao Templo de Jerusalém. Eles não acreditam na
ressurreição dos mortos (cf. v. 27; At 23,8), ao contrário dos fariseus.
Considerando o modo como eles apresentam o caso, a ressurreição na concepção
deles é uma espécie de prolongamento ou repetição da vida presente. O caso
apresentado por eles é absurdo e, provavelmente, tem o intuito de ridicularizar
a fé na ressurreição (vv. 19-23). Para isso, recorrem à lei do levirato (=
cunhado): “Se dois irmãos viverem juntos e um deles morrer sem filhos, a viúva
não sairá de casa para casar-se com um estrangeiro; seu cunhado se casará com
ela e cumprirá com ela os deveres legais de cunhado; o primogênito que nascer
continuará o nome do irmão morto, e assim não se apagará o nome dele em Israel”
(Dt 25,5-6). Na resposta Jesus revela a ignorância deles: interpretam mal a
Escritura e desconhecem o poder de Deus, supondo que a morte anulasse o poder
de Deus. Eles pensavam, como dissemos, que a ressurreição fosse continuidade da
vida terrena. É preciso se abrir à novidade de Deus e nele esperar: “os que
forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos
mortos não se casam; e já não poderão morrer” (vv. 35-36). Ora, sem a relação
ao Deus dos vivos, a própria Escritura é letra morta. Jesus faz remontar a
crença na ressurreição a Moisés: “Que os mortos ressuscitam, também foi
mostrado por Moisés, na passagem da sarça ardente, quando chama o Senhor de
“Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó’” (v. 37).
A ressurreição não pode ser pensada como pura e simples
continuidade de nossa vida terrestre. Há uma ruptura com nossa vida neste
mundo: “Neste mundo, homens e mulheres se casam”, mas no mundo futuro e na
ressurreição não se casam (v. 34.35). Os ressuscitados têm um ponto em comum
com os anjos: eles não podem mais morrer; logo, não necessitam mais de
descendência. Deus é o Deus dos vivos (cf. v. 38): “Ninguém de nós vive e
ninguém de nós morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que
vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos” (Rm 14,7-8).
Carlos Alberto Contieri,sj
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