Toda a liturgia da palavra deste quinto domingo da Páscoa
repousa sobre a preocupação com a unidade da comunidade, depois da morte e
ressurreição do Senhor. A unidade e a comunhão dos discípulos são sinais e, ao
mesmo tempo, frutos da presença de Jesus Cristo ressuscitado dos mortos. No
caso do início do capítulo 6 dos Atos dos Apóstolos, a unidade da comunidade é
ameaçada pelo aumento do número dos que aderiam à fé em Jesus Cristo. Com esse
aumento, começou a haver uma contenda entre dois grupos: os cristãos
convertidos do judaísmo e os cristãos convertidos do paganismo. Quando cresce o
número de pessoas, quando aumenta a diversidade, inclusive cultural, a comunidade
pode apresentar seu ponto de fragilidade e necessita de atenção. O problema é
que as viúvas dos gregos não eram assistidas em suas carências. Os Doze não dão
mais conta de todo trabalho a ser feito e de socorrer todas as necessidades. É
preciso que eles permaneçam fiéis ao seu ministério específico (v. 4),
suscitando e verificando os diferentes carismas de serviço presentes na
comunidade, e colocando-os a serviço do bem de todos. A proposta e a escolha
dos “sete” (vv. 3.5) foram a solução para aquele problema específico da
comunidade.
Há outras ameaças à unidade da comunidade: a tristeza, a
desilusão, a frustração. O capítulo 14 de João é a continuação do discurso de
despedida de Jesus no contexto da última ceia. O anúncio da paixão e morte
desconcerta os discípulos, na linguagem do próprio evangelho, “perturba”,
agita. A preocupação de Jesus nesse discurso é com essa situação dos
discípulos. A preocupação é com o que a falta de fé pode fazer na vida do
discípulo decepcionado, frustrado, perturbado. A falta de fé fez e faz os
discípulos abandonarem o Senhor e a própria comunidade. Por isso, o início do
trecho de hoje do evangelho é um convite à fé (v. 1). O apoio da vida em Deus é
o que sustenta o discípulo ante o desfecho dramático da existência terrena de
Jesus. É a fé que permite ver um sentido em todas as coisas, até mesmo nas mais
trágicas situações da nossa história, da história de Jesus que “passou por este
mundo fazendo o bem”. A fé é que permitirá, mais tarde, sentir a morte de Jesus
como lugar a partir do qual brilha a Glória de Deus.
Fonte Carlos Alberto Contieri,
sj - Paulinas
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