terça-feira, 30 de junho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XIII Semana - Quarta-feira - 01.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Génesis 21, 5.8-20

Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho. 8O filho cresceu até à idade em que deixou de mamar, e nesse dia Abraão ofereceu um grande banquete. 9Sara viu que o filho que a egípcia Agar dera a Abraão estava a brincar. 10E ela disse a Abraão: «Expulsa esta escrava e o filho, porque o filho desta escrava não herdará com o meu filho Isaac.» 11Esta frase desgostou profundamente Abraão, por causa de Ismael, seu filho. 12Mas Deus disse-lhe: «Não te preocupes com a criança e com a tua escrava. Faz tudo quanto Sara te pedir, pois de Isaac há-de nascer a descendência que usará o teu nome. 13Contudo, farei sair também uma nação do filho da escrava, porque também ele é teu filho.» 14No dia seguinte de manhã, Abraão tomou pão e um odre de água, deu-o a Agar e pô-lo sobre os ombros dela; depois, mandou-a embora com o seu filho. Ela partiu e, embrenhando-se no deserto de Bercheba, por lá andou ao acaso. 15Tendo-se acabado a água do odre, deixou o filho debaixo de um arbusto 16e foi sentar-se do lado oposto, à distância de um tiro de arco, porque dizia: «Não quero ver o meu filho morrer.» Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar. 17Deus escutou a voz do menino, e o mensageiro de Deus chamou do céu Agar e disse-lhe: «Que tens tu, Agar? Nada temas, porque Deus ouviu a voz do menino, do lugar em que está. 18Ergue-te, vai buscar outra vez o teu filho, toma-o pela mão, pois farei nascer dele um grande povo.» 19Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço onde foi encher o odre e deu de beber ao filho. 20Deus protegeu o menino. Ele cresceu, residiu no deserto e tornou-se um hábil arqueiro.

A narrativa do nosso texto deve ser lida em paralelo com o capítulo 16, pois provavelmente se trata de uma variante da mesma tradição. O objectivo desta narrativa é o mesmo. Quer mostrar que o projecto de Deus avança, apesar da mesquinhez humana. Além disso, mais uma vez se dá uma explicação popular dos nomes de Isaac (v. 9) e de Ismael (v. 17).
O banquete que assinala o desmame do filho da promessa oferece a ocasião para confrontar os dois filhos de Abraão. Esta narrativa, ao contrário da de Gn 16, apresenta Ismael quase da mesma idade que Isaac que brinca com ele. É o suficiente para suscitar os ciúmes de Sara, que pressiona Abraão para que afaste o filho de Sara (. 10). A reacção de Deus, que apoia a posição de Sara, não seria de esperar (cf. v. 12). Mas, mais uma vez, vemos como os caminhos de Deus são diferentes dos nossos. O Senhor convida Abraão a não afastar o filho Ismael, porque também ele será pai de numerosa descendência. É um momento carregado de emoções, bem apresentado pelo autor sagrado. Deus é sempre aquele que escuta o grito do pobre e do oprimido que, neste caso, são Agar e o filho destinado a morrer. O «mensageiro de Deus» abriu os olhos a Agar que viu um poço perto dela e deu de beber ao filho. A intervenção divina deu coragem a Agar e perspectivou um futuro feliz para Ismael. Assim se vão delineando os destinos de dois povos irmãos, os ismaelitas e os israelitas, ainda hoje unidos por um destino de hostilidades e de partilhas.


Evangelho: Mateus 8, 28-34

Naquele tempo, 28quando Jesus chegou à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» 30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas. 33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.

Mais uma vez, Mateus retoma uma história do Evangelho de Marcos (Mc 5, 1-20), contando-a de modo mais sintético. Por exemplo, ao falar dos porcos, refere uma grande vara, e não de cerca de dois mil porcos, como diz Marcos (5, 2ss.). Mas também amplia pormenores. Por exemplo, em vez de um possesso, como faz Marcos, fala de dois.
Fundamentalmente, a cena pretende descrever um encontro de Jesus com os pagãos, dominados pelas forças do mal, como já aconteceu no episódio do centurião (Mt 8, 1-17). Mas, enquanto o centurião acreditou e aceitou Jesus, os habitantes de Gádara não crêem e rejeitam-no.
A imagem dos «sepulcros», a força de Jesus diante dos demónios e a sua «fraqueza» diante dos homens faz desta cena o claro reflexo de uma meditação sobre a paixão, incluindo a rejeição pelos homens, bem expressa no pedido dos gadarenos para que Jesus se retire da sua cidade. A expressão «antes do tempo» (v. 29) também indica a relação desta cena com a paixão, quando Jesus, ainda que expulso da cidade santa, irá vencer sobre a força negativa da morte, da dispersão da Igreja, abrindo passagem para que fosse possível «passar por aquele caminho» (v. 28). O poder de Jesus só se revela no mistério insondável da cruz.


Meditatio

Comove-nos ler a história de Agar, perdida no deserto com o seu menino, e profundamente desesperada porque o vê condenado a morrer de sede. «Não quero ver o meu filho morrer!», exclamou (v. 16). Agar nem se lembra de rezar. Mas Deus escuta o choro da criança, «e o mensageiro de Deus chamou do céu Agar e disse-lhe: «Que tens tu, Agar? Nada temas, porque Deus ouviu a voz do menino… Ergue-te, vai buscar outra vez o teu filho, toma-o pela mão» (vv. 17-18). A escrava encontrava-se, com o seu filho, numa situação desesperada. Mas Deus é fiel e intervém. E escutamos as palavras que havemos de acolher com muita atenção: «Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço onde foi encher o odre e deu de beber ao filho» (v. 19). O poço já lá estava. Mas Agar estava como que cega, por causa do seu desespero, e não o via. A intervenção de Deus faz-lhe ver a salvação. Quando Deus nos ilumina, conseguimos ver a realidade das coisas e encontrar soluções para a nossa perplexidade e incerteza. Há que pedir a Deus a sua luz, a luz do seu Espírito, na oração. Há que pedi-la também para os que governam este mundo. Ser-lhes-á mais fácil encontrar soluções justas para tantos conflitos, que cobrem de sangue a terra, para tantas injustiças, que causam imensos sofrimentos a tantos dos nossos contemporâneos. Iluminados pelo Senhor, saberão encontrar leis justas e respeitosas da dignidade das pessoas. Tantas vezes estamos próximos do Salvador, e não O vemos. Tantas vezes fazemos como os habitantes de Gádara que, depois do milagre, pediram a Jesus que se afastasse: «Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região» (v. 34). Estava a prejudicar os seus negócios mesquinhos? O seu egoísmo cegava-os. Por isso, não conseguiram ver n´Ele o libertador poderoso contra o demónio!
Não é fácil entrarmos no cumprimento de onda do Senhor, sintonizar com o seu pensamento. Há momentos em que isso se torna particularmente difícil, porque Deus vai mais longe que o nosso humano bom senso. É o que nos ensinam as leituras de hoje. Deus pede a Abraão que apoie a repúdio de Sara. Abraão consente, obedece à palavra, e o Senhor abençoará o bebé, aparentemente condenado a morrer. Para libertar os endemoninhados de Gádara, prejudica a economia dos criadores de porcos… Deus, por vezes, propõe-nos caminhos que não são os nossos, que são exigentes. Mas não exerce violência sobre a nossa liberdade. Deixa-nos sempre livres para optar num sentido ou noutro. Uma coisa é certa: quando a sua palavra nos incomoda, nunca é em vista da morte, mas da vida.


Oratio

Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna! A quem iremos pedir ajuda e salvação? Quero agradecer-Te porque, cada dia, a tua palavra ecoa no meu coração, sempre viva, sempre nova, sempre exigente, sempre provocante. Que jamais me esconda atrás dos meus cálculos mesquinhos. Que eu Te siga pelos caminhos da liberdade e do amor, porque sempre lanças os meus pecados para o fundo do mar, e me dás possibilidade de ressuscitar como nova criatura, amada por Deus Pai. Amen.


Contemplatio

Jesus viera para operar a grande obra da reconciliação. Tudo estava preparado e, no entanto, leva uma longa vida de trinta anos, desconhecida, escondida, em aparência inactiva e inútil. O Redentor tinha sido prometido ao género humano e anunciado pelos profetas. Os sinais da sua vinda estavam marcados. Era esperado pelos justos com um ardente desejo. Prodígios foram realizados na altura do seu nascimento. A própria natureza manifestou a sua alegria pela vinda do Criador. Uma estrela maravilhosa surpreendeu os sábios do Oriente e conduziu-os ao presépio. Mas logo a seguir, que silêncio! Tudo retorna à obscuridade e à calma. Os que acreditavam verdadeiramente, os que seguiam a atracção da graça, a voz dos anjos e as inspirações do Espírito Santo, conservavam no seu coração a recordação dos mistérios que tinham tido um brilho tão curto. Adoravam no silêncio, na esperança e no abandono, os decretos da sabedoria, do amor e da misericórdia de Deus. E esta vida obscura, vida de submissão, de trabalho e da misericórdia de Deus vai durar trinta anos! Quem é que está em condição de aprofundar as vias da sabedoria, do amor e da bondade de Deus? Quem pode conceber e contar os actos de virtude destes anos de obscuridade? E então porquê tudo isto? Porquê esta viagem penosa e longa ao país pagão e idólatra? Porque Jesus era vítima, porque era libertador e redentor; porque isto correspondia aos desígnios de misericórdia que os homens não podiam compreender perfeitamente. (Leão Dehon, OSP 3, p. 41s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46).


Fonte http://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XIII Semana - Terça-feira - 30.06.2015


Lectio

Primeira leitura: Génesis 19, 15-29

Naqueles dias, ao amanhecer, os mensageiros insistiram com Lot, dizendo-lhe: «Ergue-te, foge com a tua mulher e as tuas duas filhas que estão aqui, a fim de não morreres também tu no castigo da cidade.» 16E como ele se demorava, os homens agarraram-no pela mão, a ele, à mulher e às duas filhas, porque o Senhor queria poupá-los, e conduziram-nos para fora da cidade. 17Depois de os terem conduzido para fora, um dos mensageiros disse-lhe: «Escapa-te, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás.» 18Lot disse-lhe: «Não, Senhor, peço-te 19Este teu servo mereceu a tua benevolência, pois demonstraste a tua imensa generosidade para comigo, conservando-me a vida, mas não poderei fugir até ao monte, pois a destruição atingir-me-ia antes e eu morreria. 20Há aqui perto uma cidade, na qual obterei refúgio. É muito pequena; permiti que eu vá para lá. É tão pequena! E salvarei a minha vida.» 21Ele disse-lhe: «Concedo-te ainda o favor de não destruir a cidade a que te referes. 22Apressa-te, porém, a refugiar-te nela, pois nada posso fazer antes de lá chegares.» Por isso, deram àquela cidade o nome de Soar. 23Erguia-se o sol sobre a terra, quando Lot entrou em Soar. 24Então, o Senhor fez cair do céu, sobre Sodoma e Gomorra, uma chuva de enxofre e de fogo, enviada pelo Senhor. 25Destruiu estas cidades, todo o vale e todos os habitantes das cidades e até a vegetação da terra. 26A mulher de Lot olhou para trás e ficou transformada numa estátua de sal. 27Abraão levantou-se de manhã cedo e foi ao lugar onde tinha estado na presença do Senhor. 28Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e para a extensão do vale, viu elevar-se da terra um fumo semelhante ao fumo de uma fornalha. 29Ao destruir as cidades do vale, porém, Deus recordou-se de Abraão e salvou Lot do cataclismo com que arrasou as cidades onde habitava Lot.

A imaginação, apoiada em vagas orientações bíblicas, situa Sodoma na zona sul da margem ocidental do rio Jordão. Ainda hoje aí se podem ver blocos salinos de formas caprichosas, que causam forte impressão a quem os observa. Mas não há vestígios materiais que permitam identificar a cidade. Os seus eternos vestígios consistem em ser símbolo de um mundo corrompido e paradigma da justiça e do juízo de Deus. É essa a perspectiva do autor sagrado. Sodoma, e a sua terrível destruição, realçam o contraste entre a hospitalidade de Abraão e a falta de hospitalidade dos seus habitantes. Lot, que escolheu a melhor parte, perde tudo: terra, bens, mulher. A sua posteridade nascerá de incesto com as filhas. Abraão, pelo contrário, tendo confiado na promessa de Deus, terá uma descendência numerosa e possuirá a terra. O nosso texto começa com uma dramática tensão entre a solicitude dos mensageiros e a demora de Lot. Só o parentesco com Abraão o salva. Graças a esse parentesco, Deus usa de «uma grande misericórdia» para com ele, permitindo-lhe refugiar-se em Soar.
A narrativa termina com Abraão a olhar, do alto de um monte, a desgraça das cidades pecadoras. Não se trata do olhar curioso de Sara, que ficou petrificada, mas do olhar de quem se sente objecto da “memória” de Deus que salva.


Evangelho: Mateus 8, 23-27

Naquele tempo, 23Jesus subiu para o barco e os discípulos seguiram-no. 24Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia. 25Aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» 26Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma. 27Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

De modo muito estilizado, Mateus refere o episódio da tempestade acalmada. O propósito de Mateus não é tratar o acontecimento em si, mas indicar o seu significado. A Igreja é uma barca em tormenta, onde está Jesus e os discípulos. «Os discípulos seguiram-no», diz-nos o texto (v. 23). Esta palavra traduz, para Mateus, o aspecto essencial do discipulado: «seguir» Jesus. De facto, o verbo «seguir» é utilizado unicamente quando se trata de Jesus. Indica a união do discípulo com o Jesus da história, a participação na sua vida, a entrada no Reino através da pertença a Cristo pela obediência e pela confiança. Dizer a Jesus: «Desperta, Senhor, porque dormes?» (Sl 44, 24) e «Senhor, salva-nos, que perecemos!», significa reencontrar-se como crentes, como fiéis, como discípulos, e encontrar Jesus como Senhor e Cristo. Na sua presença não há tempestade, não há paixão, não há morte que resistam. A sua autoridade e o seu poder restauram a ordem da graça. Os discípulos nem sempre correspondem com fé e confiança ao senhorio de Jesus. O sono de Jesus representa o drama da morte do Filho do homem, que desafia a Igreja à fé e à serena confiança no Pai como Aquele que «se fez obediente até à morte e morte de cruz» (Fl 2, 8).


Meditatio

A leitura do livro do Génesis apresenta-nos o cuidado de Deus em salvar Lot da catástrofe das cidades pecadoras. Impressiona-nos tal cuidado. O texto insiste em sublinhá-lo: «Ao amanhecer, os mensageiros insistiram com Lot, dizendo-lhe: «Ergue-te, foge com a tua mulher e as tuas duas filhas que estão aqui, a fim de não morreres também tu no castigo da cidade» (v. 15). Lot não revelava pressa, adiava a decisão de partir, queria permanecer na sua casa, no seu ambiente. Talvez esperasse para ver e, se o perigo se tornasse iminente, então, partir. Mas os mensageiros tomam-no pela mão e conduzem-no para fora da cidade. Depois insistem, mais uma vez: «Escapa-te, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás» (v. 17). Mas Lot continua a protelar a partida, e atreve-se a pedir para não ir para muito longe: «Há aqui perto uma cidade, na qual obterei refúgio. É muito pequena; permiti que eu vá para lá» (v. 20).
O Senhor faz tudo para nos salvar. Mas nós, muitas vezes, somos reticentes, desinteressados. Não nos damos conta dos perigos que corremos. Teimamos em permanecer nos nossos hábitos e rotinas. Estamos apegados aos nossos bens, às circunstâncias comuns da nossa vida. Deus convida-nos a tomar caminhos seguros, honestos, e nós preferimos atalhos obscuros, ambíguos. Não queremos renunciar decididamente às situações perigosas. Mas Deus é perseverante e insiste. Temos sorte com um Pai tão cuidadoso, que conhece os perigos muito melhor do que nós e nos convida a escutá-l´O, a avançar, para atingirmos a vida em plenitude.
O evangelho apresenta-nos uma situação diferente. Os Apóstolos estão em alto mar, na barca com Jesus. «Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta» (v. 24). Quando se está numa barca e se levanta uma tempestade, não há alternativas. Há que enfrentar decididamente o perigo, pois não é possível fugir. Os Apóstolos não encontraram outra solução senão rezar. Jesus dormia. Por isso, «aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» (v. 25). Jesus, «levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma» (v. 26). A oração dos Apóstolos, mais do que fé, manifestava medo. Por isso, Jesus repreende-os: «Porque temeis, homens de pouca fé?» (v. 26).
Quem embarcou com Jesus não deve ter medo. O mais importante é mesmo ter embarcado com Ele. Ainda que o Senhor pareça dormir, não nos abandona. Isso não significa que tenhamos sempre uma vida tranquila, sem problemas, sem dificuldades. Mas estamos certos da sua ajuda e da sua vitória final.
Tanto a primeira leitura, como o evangelho, nos garantem que o mais importante é estarmos unidos a Deus no amor. Essa união pressupõe o desapego de muitas coisas secundárias. Só os que são capazes de se desapegar do que é secundário podem salvar-se, podem chegar à vitória: «Em tudo isso – escreve Paulo - saímos mais do que vencedores,graças àquele que nos amou» ( Rm 8, 37). E continua o Apóstolo: «Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (vv. 38-39).


Oratio

Senhor, meu Deus, como és grande, como és benevolente! Os céus não podem conter-Te. Mas, ao vires à terra, fizeste-Te pobre e completamente disponível. Fizeste-Te nosso pão de cada dia. Queres saciar-nos de vida e de amor. Dá-nos um coração agradecido, um coração generoso e alegre. Dá-nos um coração que nos permita testemunhar a tua benevolência, a tua amizade por todos os homens. Torna-nos intercessores audazes, para que a nenhum dos homens e mulheres deste mundo falte a alegria de saber-se pensado, escolhido e amado por Ti, desde toda a eternidade. Amen.


Contemplatio

Se a alma for fiel a estas primeiras sugestões da graça, Nosso Senhor reduplica a solicitude, porque o bom acolhimento feito a uma graça leva-o a conceder outra. Se o pecador for surdo a estas sugestões sem ser desprovido de generosidade, Nosso Senhor far-lhe-á a graça de lhe enviar uma provação que provoque o regresso a si mesmo. Durante esta prova, fala mais amigavelmente ao seu coração; faz-lhe sentir vivamente toda a torpeza do seu estado, todo o perigo da sua situação. Procura promover nele um sentimento de humildade. Se o pecador for fiel às sugestões da graça, se não recuar diante do esforço a fazer para tomar consciência da miséria na qual caiu, para ver a porcaria de que se sujou, a lepra de que se cobriu, Nosso Senhor recompensa este primeiro sentimento tornando-o mais vivo. O coração penetrado de um desprezo profundo por si mesmo abre-se à acção divina. Um toque poderoso parte então este coração humilhado e ele confessa a sua falta. Geme pela sua miséria, que lhe aparece então em toda a sua torpeza. Compara o seu estado ao dos servos fiéis que vivem numa doce paz de alma sob os olhares benevolentes de Nosso Senhor. O sentimento da sua indignidade é então tão vivo, que ele exclama como o filho da parábola: «Meu Deus, não sou digno de ser vosso filho, mas tende piedade de um pobre coração contrito e humilhado». Levanta-se então resolutamente para entrar de novo em graça com Deus. O Coração de Jesus, emocionado de compaixão, facilita a esta querida alma a penosa caminhada à qual finalmente se resolveu. Nosso Senhor acolhe de braços abertos o infeliz que desde este instante se torna de novo seu filho bem-amado. (Leão Dehon, OSP 4, p. 123s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Senhor, salva-nos, que perecemos!» (Mt 8, 25).


Fonte http://www.dehonianos.org/

domingo, 28 de junho de 2015

Solenidade de S. Pedro e S. Paulo - 29.06.2015


SOLENIDADE DE S. PEDRO E S. PAULO


Tema da Solenidade de S. Pedro e S. Paulo

Na Solenidade dos apóstolos S. Pedro e S. Paulo, a liturgia convida-nos a reflectir sobre estas duas figuras e a considerar o seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e de testemunho do projecto libertador de Deus.
O Evangelho convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.
A primeira leitura mostra como Deus cauciona o testemunho dos discípulos e como cuida deles quando o mundo os rejeita. Na acção de Deus em favor de Pedro – o apóstolo que é protagonista, na história que este texto dos Actos hoje nos apresenta – Lucas mostra a solicitude de Deus pela sua Igreja e pelos discípulos que testemunham no mundo a Boa Nova da salvação.
A segunda leitura apresenta-se como o “testamento” de Paulo. Numa espécie de “balanço final” da vida do apóstolo, o autor deste texto recorda a resposta generosa de Paulo ao chamamento que Jesus lhe fez e o seu compromisso total com o Evangelho. É um texto comovente e questionante, que convida os crentes de todas as épocas e lugares a percorrer o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo.


LEITURA I – Act 12,1-11

Leitura do Livro dos Actos dos Apóstolos

Naqueles, dias,
o rei Herodes começou a maltratar alguns membros da Igreja.
Mandou matar à espada Tiago, irmão de João,
e, ao ver que assim agradava aos Judeus,
mandou, além disto, prender também a Pedro.
Era nos dias da Páscoa.
Depois de preso, mandou-o meter na cadeia
e entregou-o à guarda de quatro piquetes de quatro soldados cada um,
na intenção de, após a Páscoa, o fazer comparecer perante o povo.
Pedro era, pois, guardado na prisão,
mas a Igreja orava instantemente a Deus por ele.
Herodes estava para o fazer comparecer.
Nessa noite, dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas correntes,
enquanto as sentinelas, postadas à porta, guardavam a prisão.
Nisto, apareceu o Anjo do Senhor,
e uma luz brilhou na cela da cadeia.
O Anjo acordou Pedro, tocando-lhe no lado, e disse-lhe:
«Levanta-te depressa».
E as correntes caíram-lhe das mãos.
Então, o Anjo disse-lhe:
«Põe o cinto e calça as sandálias».
Ele assim fez. Depois, acrescentou:
«Envolve-te na capa e segue-me».
Pedro saiu e foi-o seguindo,
sem perceber que era verdade
o que estava a acontecer pela acção do Anjo;
pensava que tinha uma visão.
Atravessaram o primeiro posto da guarda, depois o segundo,
chegaram à porta de ferro, que dá para a cidade,
e a porta abriu-se por si mesma diante deles.
Saíram e avançaram por uma rua,
e logo o Anjo se afastou de Pedro.
Então, Pedro, voltando a si, exclamou:
«Agora sei realmente que o Senhor mandou o Seu Anjo
e me libertou da mão de Herodes
e de tudo o que esperava o povo judeu».

AMBIENTE

O texto que nos é hoje proposto encerra praticamente a primeira parte do Livro dos Actos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. Act 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.
Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40), confiou-lhe ainda os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judeia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimónia pública.
Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helénica). Foi, provavelmente, com o mesmo objectivo que ele tentou suprimir a “seita cristã”, mandando executar Tiago e prendendo Pedro.
Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador activo do Evangelho de Jesus e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago “bebeu do mesmo cálice”, conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc 10,38). Estamos no ano 42.
Esta perseguição atingiu também outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.

MENSAGEM

No Livro dos Actos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projecto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.
Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projecto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.
1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vers. 1-4), mostram como o testemunho do projecto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.
2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (vers. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários, apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o facto de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja “orava instantemente a Deus por ele” mostra como Deus escuta a oração da comunidade.
3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vers. 6-11) mostra a presença efectiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projecto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de carácter histórico (o aparecimento do “anjo do Senhor”, a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão); mas pretendem sublinhar a presença de Deus e apor no testemunho dos apóstolos o “selo de garantia” de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.

ACTUALIZAÇÃO

• Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o facto de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projecto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.

• O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho... Tal facto não deve preocupar-nos demasiado: é a reacção lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos.

• A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.

• A nossa história sugere também a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)

Refrão: O Senhor libertou-me de todos os meus temores.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o Seu louvor está sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor;
ouçam e alegrem-se os humildes.

Enaltecei comigo ao Senhor,
e exaltemos juntos o Seu nome.
Procurei o Senhor, e Ele atendeu-me;
libertou-me de todos os meus temores.

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes:
vossos rostos não se hão-de cobrir de vergonha.
Este pobre clamou, o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.

O anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Provai e vede como o Senhor é bom;
feliz o homem que n’Ele se refugia.


LEITURA II – 2 Timóteo 4,6-8.17-18

Leitura da Segunda Epístola de São Paulo a Timóteo

Caríssimo:
Eu já estou a ser oferecido em sacrifício,
e o momento da minha morte está iminente.
Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.
Daqui em diante, está-me reservada a coroa da justiça,
que o Senhor, o justo Juiz, me dará no dia do juízo;
e não só a mim, mas também a todos aqueles
que tiverem esperado com amor a Sua manifestação.
Apressa-te a vir ter comigo sem demora.
O Senhor esteve a meu lado e deu-me força,
para que, por meu intermédio,
a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada
e todos os pagãos a ouvissem.
E eu fui libertado da boca do leão.
O Senhor me há-de livrar de toda a acção perversa
e me levará são e salvo ao Seu Reino celeste.
Glória a Ele por todo o sempre. Ámen.

AMBIENTE

O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe judeo-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.
É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.

MENSAGEM

O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra. No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do “Reino”).
Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta “em libação” faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a Ele por todo o sempre. Ámen”. É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.

ACTUALIZAÇÃO

• Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.

• O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena. Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer?

• Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?


ALELUIA – Mt 16,18

Aleluia. Aleluia.

Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja
a as portas do inferno não prevalecerão contra ela.


EVANGELHO – Mateus 16,13-19

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo,
Jesus foi para os lados de Cesareia de Filipe
e fez aos discípulos esta pergunta:
«Quem dizem as pessoas que é o Filho do Homem?»
Eles responderam:
«Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias,
outros que é Jeremias ou um dos profetas».
Jesus replicou-lhes:
«E quem dizeis vós que Eu sou?»
Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse-Lhe:
«Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!».
Jesus respondeu-lhe:
«És feliz, Simão, filho de Jonas,
porque não foram a carne e o sangue que to revelaram,
mas sim Meu Pai que está nos Céus.
E Eu também te digo a ti:
Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja,
e as forças do Inferno não levarão a melhor contra ela.
Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que ligares na Terra ficará ligado nos Céus,
e tudo o que desligares na Terra ficará desligado nos Céus».

AMBIENTE

O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da actual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.
O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus. Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.
É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio. Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.
O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.

MENSAGEM

O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de carácter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de carácter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vers. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d’Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vers. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (vers. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt 32,8; Sal 29,1; 89,7; Job 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex 4,22; Os 11,1; Jer 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt 14,1-2; Is 1,2; 30,1.9; Jer 3,14), ao rei (cf. 2 Sm 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projectos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Na segunda parte (vers. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus” – vers. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).
O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio”… Ora o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).
Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt 18,18). Provavelmente, o mais correcto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”. É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

ACTUALIZAÇÃO

• Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “statu quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

• Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

• “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?

• É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

• A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contactamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?

• A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org

quinta-feira, 25 de junho de 2015

13º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 28.06.2015


ANO B
13º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Nota inicial:
Por não ser possível preparar atempadamente os habituais comentários para este domingo (há três anos havia coincidido com a Solenidade de S. Pedro e S. Paulo), colocamos apenas alguns comentários e interpelações, adaptados da revista “Signes d’aujourd’hui”.

Tema do 13º Domingo do Tempo Comum

Deus ama a vida! Ele quer apenas a vida! “Deus criou o homem para ser incorruptível” (primeira leitura). Pelo seu Filho, salva-nos da morte: eis porque Lhe damos graças em cada Eucaristia. Na sua vida terrena, Jesus sempre defendeu a vida. O Evangelho de hoje relata-nos dois episódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura, Ele levanta. Ele torna livres todas as pessoas, dá-lhes toda a dignidade e capacidade para viver plenamente. Sabemos dizer-Lhe que Ele é a nossa alegria de viver?
Estamos em tempo de verão, início de férias… É uma ocasião propícia para celebrar a festa da vida! O 13º domingo celebra a vida mais forte que a morte, celebra Deus apaixonado pela vida. Convém, pois, que na celebração deste dia a vida expluda em todas as suas formas: na beleza das flores, nos gestos e atitudes, na proclamação da Palavra, nos cânticos e aclamações, na luz. No cântico do salmo e na profissão de fé, será bom recordar que é o Deus da vida que nós confessamos, as suas maravilhas que nós proclamamos. Durante toda a missa, rezando, mantenhamos a convicção expressa pelo Livro da Sabedoria: “Deus não Se alegra com a perdição dos vivos”.


LEITURA I – Sab 1, 13-15; 2,23-24

Leitura do Livro da Sabedoria

Não foi Deus quem fez a morte,
nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos.
Pela criação deu o ser a todas as coisas,
e o que nasce no mundo destina-se ao bem.
Em nada existe o veneno que mata,
nem o poder da morte reina sobre a terra,
porque a justiça é imortal.
Deus criou o homem para ser incorruptível
e fê-lo à imagem da sua própria natureza.
Foi pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo,
e experimentam-na aqueles que lhe pertencem.

Breve comentário

O Livro da Sabedoria foi composto um pouco antes da vinda de Jesus. A sua doutrina é mais serena que a dos livros mais antigos, em particular quando apresenta o rosto de Deus.
Este anúncio deve ser proclamado com força, porque vem contradizer ideias ainda muito espalhadas, segundo as quais agradaria a Deus fazer morrer o homem. A morte vem de outro, pois “não foi Deus quem fez a morte”. Pelo contrário, Ele cria a vida e dá-la à humanidade, modelada à sua imagem. Ele restaura a vida, quando esta está em perigo de se apagar. Dá a vida quando está perdida, como testemunha o Evangelho deste domingo.
“Vivificaste-me”, diz o salmista. No seguimento da primeira leitura, o salmo exprime a experiência de um Deus que quer a vida dos seus fiéis. Em Jesus ressuscitado, e para todos os que n’Ele acreditam, a oração do salmo encontra toda a sua verdade.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)

Refrão: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.

Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.

Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.

Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.


LEITURA II – 2 Cor 8, 7.9.13-15

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Já que sobressaís em tudo
– na fé, na eloquência, na ciência,
em toda a espécie de atenções
e na caridade que vos ensinámos –
deveis também sobressair nesta obra de generosidade.
Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa,
para vos enriquecer pela sua pobreza.
Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros,
mas sim de procurar a igualdade.
Nas circunstâncias presentes,
aliviai com a vossa abundância a sua indigência
para que um dia
eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância.
E assim haverá igualdade, como está escrito:
«A quem tinha colhido muito não sobrou
e a quem tinha colhido pouco não faltou».

Breve comentário

As primeiras comunidades cristãs praticaram a entreajuda e a partilha, não apenas entre os seus membros, mas também entre comunidades. O apóstolo Paulo solicitou-as nesse sentido.
O apóstolo Paulo tinha organizado um peditório junto das comunidades que tinha fundado na Ásia Menor, na Macedónia e na Grécia, em favor dos irmãos de Jerusalém que estavam em dificuldades. Esta iniciativa correspondia às orientações da jovem Igreja, segundo Act 4,32-35. Paulo justifica esta acção de partilha pela generosidade de Cristo: esta é modelo para os cristãos e eles próprios já beneficiaram dela.


ALELUIA – cf. 2 Tim 1, 10

Aleluia. Aleluia.

Jesus Cristo, nosso Salvador, destruiu a morte
e fez brilhar a vida por meio do Evangelho.


EVANGELHO – Mc 5, 21-43

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
depois de Jesus ter atravessado de barco
para a outra margem do lago,
reuniu-se grande multidão à sua volta,
e Ele deteve-Se à beira-mar.
Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo.
Ao ver Jesus, caiu a seus pés
e suplicou-Lhe com insistência:
«A minha filha está a morrer.
Vem impor-lhe as mãos,
para que se salve e viva».
Jesus foi com ele,
seguido por grande multidão,
que O apertava de todos os lados.
Ora, certa mulher
que tinha um fluxo de sangue havia doze anos,
que sofrera muito nas mãos de vários médicos
e gastara todos os seus bens,
sem ter obtido qualquer resultado,
antes piorava cada vez mais,
tendo ouvido falar de Jesus,
veio por entre a multidão
e tocou-Lhe por detrás no manto,
dizendo consigo:
«Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada».
No mesmo instante estancou o fluxo de sangue
e sentiu no seu corpo que estava curada da doença.
Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo.
Voltou-Se para a multidão e perguntou:
«Quem tocou nas minhas vestes?»
Os discípulos responderam-Lhe:
«Vês a multidão que Te aperta
e perguntas: ‘Quem Me tocou?’»
Mas Jesus olhou em volta,
para ver quem O tinha tocado.
A mulher, assustada e a tremer,
por saber o que lhe tinha acontecido,
veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade.
Jesus respondeu-lhe:
«Minha filha, a tua fé te salvou».
Ainda Ele falava,
quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga:
«A tua filha morreu.
Porque estás ainda a importunar o Mestre?»
Mas Jesus, ouvindo estas palavras,
disse ao chefe da sinagoga:
«Não temas; basta que tenhas fé».
E não deixou que ninguém O acompanhasse,
a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga,
Jesus encontrou grande alvoroço,
com gente que chorava e gritava.
Ao entrar, perguntou-lhes:
«Porquê todo este alarido e tantas lamentações?
A menina não morreu; está a dormir».
Riram-se d’Ele.
Jesus, depois de os ter mandado sair a todos,
levando consigo apenas o pai da menina
e os que vinham com Ele,
entrou no local onde jazia a menina,
pegou-lhe na mão e disse:
«Talitha Kum»,
que significa: «Menina, Eu te ordeno: levanta-te».
Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar,
pois já tinha doze anos.
Ficaram todos muito maravilhados.
Jesus recomendou-lhes insistentemente
que ninguém soubesse do caso
e mandou dar de comer à menina.

Breves comentários

1. O Reino de Deus é a vida. Jesus percorre o país para o anunciar e o estabelecer. Ele fala e age. A sua fama espalha-se, porque uma força brota d’Ele, é a força da ressurreição, o Espírito de vida.
“Sê curada”. O imperativo de Jesus tem algo de afectuoso para com esta mulher, restaurada na sua dignidade, restabelecida na sociedade que excluía o seu mal. Este “sê curada” aparece também como uma constatação: é a sua fé que a salvou, e Jesus alegra-Se por isso. A cura é consequência da fé, que é sempre fonte de vida e de felicidade.
“Levanta-te”. Este segundo imperativo do Evangelho deste dia é dinâmico e traduz perfeitamente este louco desejo de Deus em ver o homem vivo, o seu amor incondicional pela vida. “Adormecida”, no “sono da morte”… um estado do qual Deus nos quer fazer sair, um estado do qual Jesus nos salva. “Eu te ordeno: levanta-te”. A palavra evoca a ressurreição, o novo surgir da vida, o amor divino que nos coloca de pé. Jesus pede ao pai da jovem apenas uma coisa: “basta que tenhas fé”. E quanto a nós, cremos verdadeiramente?

2. As duas beneficiárias das acções de Jesus neste Evangelho têm isto em comum: a primeira estava doente desde os 12 anos e a jovem filha morreu aos 12 anos, a idade em que se devia tornar mulher. No povo de Israel, o percurso destas duas mulheres era sinal de um fracasso. Uma estava atingida, como Sara, a mulher de Abraão, na sua fecundidade: ela perdia o seu sangue, princípio de vida na mentalidade semítica. A outra perdia a vida, precisamente na idade em que se preparava para a transmitir (era tradição casar-se muito cedo). Cristo cura as duas mulheres e permite-lhes assim assumir a sua vocação maternal.
Estas duas mulheres representam a Igreja, na sua vocação maternal de dar e de alimentar a vida em Cristo. As alusões aos santos mistérios da Igreja orientam a compreensão do relato: Jairo pede a Jesus para impor as mãos, para salvar e dar a vida à sua filha. Ora, toda a preparação para o Baptismo está sinalizada pela imposição das mãos. Jesus levanta a jovem, tomando-a pela mão, como o diácono fazia sair da água o baptizado, tomando-o pela mão, para que fosse desperto para a vida em Deus. Jesus pede, de seguida, que se dê de comer a esta jovem ressuscitada da morte: é uma alusão à Eucaristia que se segue ao Baptismo.

3. Bilhete de Evangelho: a transformação pela fé. Um chefe de sinagoga cai de joelhos e suplica a Jesus para curar a sua filha… Uma mulher atingida por hemorragias não diz nada, mas contenta-se em tocar as vestes de Jesus, sem dúvida porque se considera impura. Isto basta Àquele que veio para levantar, curar, salvar a humanidade ferida. As reacções dos que acompanham Jesus são diversas. Riem-se d’Ele. Só a fé solicita um sinal de Jesus, a fé de Jairo, a fé da mulher, a fé de Pedro, Tiago e João… E esta fé faz Jesus agir e transforma os beneficiários: a mulher é curada, a jovem levanta-se, as testemunhas ficam abaladas. Decididamente, Jesus não é um taumaturgo: é reconhecido por aqueles que acreditam, recomenda insistentemente que ninguém saiba, com receio, sem dúvida, que se valorize os seus sinais sem os ver com os olhos da fé.

4. Na escuta da Palavra… Eis Jesus mergulhado no barulho e nos apertos da multidão. Para mais, circula o rumor: Jesus vai fazer um milagre, curar a jovem filha de Jairo! A multidão esmaga Jesus. E eis que uma mulher quer aproximar-se de Jesus, a todo o custo, para tocar ao menos as suas vestes. Ela quer ser também beneficiária do poder do homem de Deus, ser, enfim, curada da sua doença que dura há doze anos. Ela chega por detrás, toca as suas vestes. Conhecemos o diálogo que se segue… O mesmo acontece com Jairo que se aproxima… No meio da multidão, Jesus está atento a estas pessoas concretas, manifesta uma disponibilidade extraordinária, está extremamente atento à sua presença. No meio da multidão, Jesus está atento a cada um. Ninguém fica anónimo aos olhos de Jesus. Está habitado pelo amor de Deus para com os seus filhos. No Coração do Pai, Jesus é capaz de uma atenção extrema a cada angústia do ser humano. Não interessa quem possa vir junto d’Ele, não interessa qual é a situação: ele será sempre acolhido, Jesus dará sempre a sua atenção como se cada um estivesse sozinho no mundo com Ele. Isto continua a ser verdadeiro, agora que Jesus está na plenitude da glória do seu Pai. Se eu também começasse a fazer silêncio em mim para melhor escutar Jesus, através da sua Palavra, se eu tivesse tempo para a oração interior, para aprofundar o meu silêncio interior… certamente ficaria mais disponível, mais atento aos outros. Senhor Jesus, dá-me a graça do silêncio interior que escuta e que ama.

5. Breve meditação: Jesus, Fonte de Vida.
Jesus passou à outra margem,
uma grande multidão reuniu-se à sua volta.
Chega um chefe de sinagoga…
Para Ti, Senhor, a multidão não é uma massa anónima
a quem se dirige uma mensagem impessoal…
Para Ti, Senhor, trata-se de pessoas concretas, com rostos particulares.
Chamas cada um pelo seu nome.
Tu sabes escutar, estar atento, permanecer disponível.
Vens dizer a todos e a cada um:
Eu vim para que todos os homens tenham vida… em abundância.
As multidões reúnem-se à tua volta porque,
talvez inconscientemente,
encontraram em Ti a verdadeira fonte de vida.
É o caso de Jairo: Vem impor-lhe as mãos para que ela viva!
É o caso da mulher: Se chegar a tocar-Lhe, serei salva!
Tu vais ajudá-los a crescer na fé…
A mulher, humanamente incurável:
ousou violar a lei que a proibia de tocar alguém.
Ela quer ser curada a todo o custo.
Ao tocar as tuas vestes, é a fonte da vida que ela atinge.
Desde então, está curada.
Mas Tu não és um mágico que faz prodígios sem o saber.
Viras-Te para ela: queres fazê-la progredir na sua fé.
Ela, que esperava uma cura corporal,
encontra em Ti a Salvação, a Vida em plenitude.
Jairo acaba de saber da morte da sua filha.
Tu apoia-lo na sua caminhada: Não temas, crê somente!
Segue-lo até à sua casa…
Aproximas-Te do seu filho inerte, toma-la pela mão:
Levanta-te!
É a palavra da ressurreição… e a fonte de vida corre de novo nela:
a jovem começou a andar.
Ele disse-lhes para lhe darem de comer.
Manténs os pés bem assentes na terra, Senhor!
Os pais, abalados, não pensavam que a sua filha tinha fome!
É a nós que Tu Te diriges também
convidando-nos para a tua Eucaristia:
Tomai, todos, e comei: isto é o meu corpo entregue por vós!
Quem me come viverá!


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 13º DOMINGO DO TEMPO COMUM

1. A LITURGIA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 13º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Viva a vida! A palavra de ordem deste domingo é uma espécie de grito do coração: Deus ama a vida, viva a vida! Aí estamos de acordo… É certo que não há vida sem morte e esta faz sofrer quando acontece perto de nós. Mas hoje somos convidados a nos alegrarmos na vida e a acreditar que Deus nos destina à verdadeira Vida! A estação do ano presta-se a isso: alegria do sol e das férias, encontro com a natureza, reencontros familiares… Não faltarão ocasiões para admirar a vida… Não nos esqueçamos de dar graças… No início destas férias, as crianças podem fazer um pequeno caderno, com uma capa bonita e um título do género: “Festa para Deus” ou “Obrigado, Senhor”. Ao longo dos passeios de verão, podem colar fotos, postais, flores secas… Podem desenhar o que vão vendo como sinais de vida. Os adultos pensarão noutros sinais de vida que podem dar ao longo do verão: visita a uma pessoa que vive sozinha, envio de um postal, um telefonema… Ou ajudar as pessoas isoladas a sair, acompanhá-las num dia de excursão, ajudar algumas crianças de famílias desfavorecidas a passar um dia de férias, etc. Será uma maneira de lhes oferecer um pouco de vida… E nunca esquecer que a oração, particularmente o Pai Nosso, deve ser a expressão constante para dar graças a Deus Pai e Criador, para Lhe expressarmos o obrigado pela vida, a felicidade de viver e de O louvar!


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org

Tempo Comum - Anos Ímpares - XII Semana - Sábado - 27.06.2015


Lectio

Primeira leitura: Génesis 18, 1-15

Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto dos carvalhos de Mambré, quando ele estava sentado à porta da sua tenda, durante as horas quentes do dia. 2Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra 3e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante, sem parar em casa do teu servo. 4Permite que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore. 5Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo.» Eles responderam: «Faz como disseste.» 6Abraão foi, sem perda de tempo, à tenda onde se encontrava Sara e disse-lhe: «Depressa, amassa já três medidas de flor de farinha e coze uns pães no borralho.» 7Correu ao rebanho, escolheu um vitelo dos mais tenros e gordos e entregou-o ao servo, que imediatamente o preparou. 8Tomou manteiga, leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles. E ficou de pé junto dos estranhos, debaixo da árvore, enquanto eles comiam. 9Então, disseram-lhe: «Onde está Sara, tua mulher?» Ele respondeu: «Está aqui na tenda.» 10Um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época; e Sara, tua mulher, terá já um filho.» Ora, Sara estava a escutar à entrada da tenda, mesmo por trás dele. 11Abraão e Sara eram já velhos, de idade muito avançada, e Sara já não estava em idade de ter filhos. 12Sara riu-se consigo mesma e pensou: «Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?» 13O Senhor disse a Abraão: «Porque está Sara a rir e a dizer: ‘Será verdade que eu hei-de ter um filho, velha como estou?’ 14Haverá alguma coisa que seja impossível para o Senhor? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» 15Cheia de medo, Sara negou, dizendo: «Não me ri.» Mas Ele disse-lhe: «Não! Tu riste-te mesmo.»

No nosso texto fundem-se dois temas caros às literaturas extra-bíblicas: a visita de uma divindade e a promessa de um filho a um casal estéril (cf. Jz 13, 8ss.). O nascimento anunciado aparece como um dom pela hospitalidade gratuitamente oferecida aos três homens misteriosos que Abraão viu fora da sua tenda (v. 2). O mais difícil é definir a relação entre estas três figuras e Deus. Os intérpretes, judeus e cristãos, procuram compreender a razão pela qual o texto fala de «três homens» com os verbos, ora no plural, ora no singular, como se se tratasse de um só, isto é, de Deus. Para o narrador, os três homens são manifestação de Deus, que, lida em chave cristã, é uma velada antecipação do mistério trinitário.
Os versículos 1 a 8 apresentam Abraão como modelo de hospitalidade, preparando o tema dos versículos seguintes (9 a 16), centrado no riso de Sara por causa da promessa dum filho. A mulher revela a sua incredulidade perante uma promessa humanamente irrealizável, e torna-se figura de todo o crente, quando se vê confrontado com misterioso modo de agir de Deus: «Haverá alguma coisa que seja impossível para o Senhor?», perguntam os estranhos. O “sim” de Deus choca com a mentira da criatura, que tantas vezes não só não acredita, mas teme assumir a responsabilidade dos seus actos diante de Deus e, como criança, mente.
A narrativa começa com uma visita de Deus ao homem, procede com a mentira do mesmo homem, e termina com o riso argentino do pequeno Isaac, um ano depois. Deus mantém a sua fidelidade e sorri com a incredulidade do homem.


Evangelho: Mateus 8, 5-17

Naquele tempo, 5entrando Jesus em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: 6«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» 7Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» 8Respondeu-lhe o centurião:«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. 9Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» 10Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! 11Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, 12ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.» 13Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado. 14Entrando em casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele jazia no leito com febre. 15Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a. E ela, levantando-se, pôs-se a servi-lo. 16Ao entardecer, apresentaram-lhe muitos possessos; e Ele, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam doentes, 17para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores.

Este milagre, narrado por Mateus, também se encontra em Lucas e em João, com algumas diferenças. Enquanto Mateus fala da cura de um filho-servo (pais), Lucas da cura de um servo (dûlos) e João da cura de um filho (hyiós). Na realidade trata-se de um prodígio onde confluem o poder taumatúrgico de Cristo, que actua de modo imediato («naquela mesma hora»), mesmo à distância, e a fé do centurião elogiada pelo Mestre. Esta situação oferece a Cristo ocasião para estigmatizar a falta de fé dos seus conterrâneos e descrever as tristes consequências da mesma. As expressões «choro e ranger de dentes» são idiomáticas, indicando a enorme desespero daqueles que, no castigo, reconhecem as suas culpas. A cena do centurião é como que um prelúdio da missão ou anúncio do Evangelho aos pagãos.
Jesus detém-se em Cafarnaúm, na casa de Pedro, cuja sogra estava doente com febre. E Jesus toma a iniciativa de a curar, - caso único em Mateus -, tocando-lhe, como fizera com o leproso. Uma vez curada, a mulher põe-se a servir, tornando-se a primeira «diaconisa» da história cristã.
Os últimos versículos sintetizam a obra de Cristo em favor dos endemoninhados e dos doentes. Mateus aproveita para fazer uma releitura de Is 53, 4: enquanto o profeta fala de sofrimentos e dores, o evangelista fala de enfermidades e doenças. Trata-se de uma expiação libertadora, fruto da solidariedade de Cristo com os homens.


Meditatio

A primeira leitura mostra-nos como Deus tem em conta a hospitalidade. Abraão dá-nos uma boa lição da disponibilidade e generosidade com que deve ser praticada. «Durante as horas quentes do dia», repousava tranquilo à porta da tenda. Mas não se importou de ser incomodado pelos três misteriosos hóspedes que se aproximam: «Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra» (v. 2), pedindo-lhes que se detivessem em sua casa e comessem «um bocado de pão» (v. 5). Mais tarde, será o próprio Deus a oferecer aos homens o Pão descido do céu. Depois de lhes ter lavado os pés, tal como Jesus fará um dia aos Apóstolos, Abraão ordena a Sara, sua esposa, que prepare uma generosa refeição com o vitelo que, ele mesmo, vai buscar à manada. Assim fará o pai misericordioso ao ver regressar o filho pródigo. Abraão convida os seus hóspedes a repousar à sombra da árvore. Deus far-nos-á repousar à sombra da Cruz. A hospitalidade do Patriarca é solícita, modesta e generosa. A narrativa acaba por nos dizer que Abraão hospeda e alimenta o próprio Deus, que, antes de partir, lhe recompensa a generosidade com a promessa de um filho. Sara ri-se de tal promessa: tanto ela como o marido eram de avançada idade. Mas, um ano depois, ouvir-se o riso estridente do pequeno Isaac, filho do riso. Isaac, por sua vez, é figura de Jesus, nascido da Virgem Maria. Sobre Ele pesarão os pecados da humanidade. Maltratado, sofrerá sozinho o escárnio. Morto e ressuscitado, a todos salva: «Haverá alguma coisa que seja impossível para o Senhor» (v. 14).
O autor da Carta aos Hebreus exorta os cristãos a não esquecerem a hospitalidade: «pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos» (13, 2). São Bento, com grande concisão, escreve na sua Regra: «Vem um hóspede, vem Cristo». Acolher os outros dá-nos a certeza de receber ao próprio Cristo: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). O melhor modo de acolher a Cristo é acolhê-lo como Ele quer ser acolhido. Marta afadigou-se para receber bem a Jesus. Mas a sua irmã, Maria, acolheu-O como Ele queria ser acolhido: «Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada», diz Jesus (Lc 10, 42). Mas há um modo ainda mais profundo de acolher a Cristo, que consiste em acolher na nossa própria carne os seus sofrimentos, em favor da Igreja, para completar a sua obra redentora: «alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja», escreve Paulo (Cl 1, 24). Não se trata, de evidentemente, de completar os sofrimentos expiatórios de Cristo, que já estão completos. Mas o Apóstolo vive as suas tribulações apostólicas, como Cristo, por primeiro, as experimentou. Em Cristo, Paulo, e todo o que quer ser apóstolo, particularmente o que é chamado a ser Oblato-Sacerdote do Coração de Jesus, tem o seu lugar na cruz, ao lado do seu Senhor e Salvador, em favor do Corpo místico de Cristo.


Oratio

Pai santo, acolhe o nosso hino de bênção e de louvor no começo deste dia. Escondeste-nos o dia e a hora, em que Jesus Cristo, teu Filho, Senhor e Juiz da história, aparecerá nas nuvens do céu revestido de poder e majestade. Mas sabemos que Ele vem ao nosso encontro em cada homem e em cada tempo, para que O recebamos na fé e na caridade e demos testemunho da gloriosa esperança do seu Reino. Por isso, novamente nos disponibilizamos para nos unirmos à sua oblação no serviço generoso para com todos, especialmente para com os pequenos e os que sofrem. Amen.


Contemplatio

Santa Gertrudes, ao meditar sobre a hospitalidade oferecida a Jesus por Marta e por Maria em Betânia, estava toda inflamada por também receber Jesus. Beijava a chaga do lado de Jesus sobre o seu crucifixo e suplicava ao Sagrado Coração, pelo desejo que tinha de ir ter com os seus amigos de Betânia, de se dignar descer à pobre hospedaria do seu indigníssimo coração. O Senhor, cheio de bondade, que gosta de escutar aqueles que o invocam, favoreceu-a com a sua presença e disse-lhe esta palavra doce e atractiva: «Aqui estou, que é que me vais dar?» - Pobre de mim, Senhor, disse ela, não preparei nada que seja digno da vossa magnificência, e peço-vos que sejais vós mesmo a preparar em mim o que possa agradar à vossa divina bondade». - «Neste caso, diz o Senhor, dá-me a chave da tua alma para me permitir tomar e substituir tudo o que me convier, tanto para estar a meu gosto como para me repousar». - «E qual é esta chave?», disse ela. - «A tua vontade própria», diz Jesus Cristo. Ela compreendeu que se alguém tiver que dar hospitalidade a Nosso Senhor, é preciso que lhe entregue a chave da própria vontade, que se abandone plenamente ao seu beneplácito, e que espere com plena confiança na sua bondade que em todas as coisas ele operará a nossa salvação. (Leão Dehon, OSP4, p. 446).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não vos esqueçais da hospitalidade» (Heb 13, 2).



Fonte http://www.dehonianos.org/

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XII Semana - Sexta-feira - 26.06.2015


Lectio

Primeira leitura: Génesis 17, 1.9-10.15-22

1Abrão tinha noventa e nove anos, quando o Senhor lhe apareceu e lhe disse: «Eu sou o Deus supremo. Anda na minha presença e sê perfeito. 9Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações. 10Eis a aliança estabelecida entre mim e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será circuncidado. 15Deus disse a Abraão: «Não chamarás mais à tua mulher, Sarai, mas o seu nome será Sara. 16Abençoá-la-ei e dar-te-ei um filho, por meio dela. Será por mim abençoada, e será mãe de nações, e dela sairão reis.» 17Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» 18Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!» 19Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. 20Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. 21Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» 22E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão.

Escutamos uma narrativa estruturada com o objectivo de dar um sentido próprio à circuncisão praticada em muitos povos. Deus apresenta-se a Abraão e pede-lhe para caminhar diante dele e a pertencer-Lhe totalmente. A aliança com Deus não obriga apenas ao cumprimento de certas leis. Obriga, sobretudo, a pertencer-Lhe, a ser povo de Deus. Abraão, prostrado diante de Deus, recebe a renovação da promessa de uma numerosa descendência. Deus muda-lhe também o nome, de Abrão para Abraão, o que significa que o Patriarca está completamente submetido a Deus. Dar nome a uma coisa ou a uma pessoa é tomar posse delas. O Senhor também muda o nome de Sarai para Sara: a partir de agora, ela é destinatária de uma bênção em referência à sua fecundidade.
A reacção de Abraão, a partir do v. 17, é estranha, tendo em conta a solene prostração mencionada no v. 3. Mas testemunha o realismo da fé e da incredulidade que tantas vezes se alternam na caminhada do homem sobre a terra. O bom senso humano diz que Ismael pode ser o destinatário da bênção, dada a esterilidade de Sara e idade avançada tanto dela como do marido. Mas os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. A aliança está reservada ao «filho do riso», Isaac, uma eloquente figura de Jesus, o verdadeiro filho da promessa de quem Abraão se alegrou (cf. Jo 8, 56), na esperança de o poder ver um dia. Mas a figura de Ismael, filho de Agar, é uma afirmação da acção salvadora universal. Também para ele Deus tem uma promessa de bênção, de fecundidade e de domínio real.


Evangelho: Mateus 8, 1-4

1Ao descer do monte, seguia-o uma enorme multidão. 2Foi, então, abordado por um leproso que se prostrou diante dele, dizendo-lhe: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» 3Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» No mesmo instante, ficou purificado da lepra. 4Jesus, porém, disse-lhe: «Vê, não o digas a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés preceituou, para que lhes sirva de testemunho.»

Depois de apresentar Jesus como Messias da palavra, no Sermão da Montanha, Mateus dá início a uma nova secção, onde nos apresenta o Messias das obras, o taumaturgo que vai ao encontro daqueles que sofrem. Os milagres de Jesus são prova da verdade das suas palavras.
O evangelho de hoje apresenta-nos três milagres, que aconteceram em Cafarnaúm, onde Cristo teve a sua primeira casa, durante a missão pelas povoações das margens do mar de Tiberíades. Jesus actua em favor de pessoas atingidas pela desgraça, sem se importar com as normas de precaução e defesa previstas na Lei: toca o leproso, entra em casa de um pagão, aperta a mão de uma mulher doente, pessoas marginalizadas pela sociedade hebraica do tempo.
O leproso pede para ser «purificado», pois sabia que a sua doença era considerada fruto do pecado e expressão de impureza legal. É por isso que Jesus manda o leproso ao sacerdote, que tem de verificar a cura. O gesto do leproso, que chama a Jesus «Senhor» e se prostra diante dele, significa simultaneamente reconhecimento da divindade e beijo da sua imagem. Não esqueçamos que este texto foi escrito depois da ressurreição, e à luz do mistério pascal. Encontramo-lo noutras páginas de Mateus (2, 2.8; 9, 18; 15, 25; 20, 20; 28, 9.17).


Meditatio

«Toda a Sagrada Escritura nos fala do Coração de Jesus», escreveu o Pe. Dehon. Mas, já antes dele, Santo Agostinho dizia que toda a Escritura está cheia de Cristo. A Constituição Conciliar Dei Verbum garante: «Deus dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo e que o Antigo se tornasse claro no novo… Os livros do Antigo Testamento, integralmente assumidos na pregação evangélica, adquirem e manifestam o seu significado pleno no Novo, que iluminam e explicam». Sendo assim, a primeira leitura de hoje fala da ressurreição do Senhor. Paulo, na Carta aos Romanos, explica que Abraão, ao acreditar no anúncio do nascimento de Isaac, acreditou sem saber na ressurreição de Cristo, porque, tanto ele como Sara, eram velhos, «quase mortos». Acreditou firmemente que Deus, de dois seres tão avançados na idade, podia suscitar um filho, Isaac, que é promessa e profecia da ressurreição.
Também o milagre referido no evangelho é anúncio da ressurreição de Cristo: «Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» (v. 3). O «toque» de Jesus no leproso, considerado pecador, impuro, capaz de tornar impuro quem com ele contactasse, ainda que inadvertidamente, é símbolo da paixão de Cristo. Jesus, ao fazer-se homem, tocou a nossa lepra. Apresentou-se à paixão como um «leproso», como pecador; em troca, pela sua morte e ressurreição, fonte de vida, curou-nos, purificou-nos ontológica e radicalmente. De facto, Ele é o santo de Deus, que assumiu o nosso pecado e que, apenas pela sua força, realizou em nosso favor o que nos era impossível realizar.
Se Jesus não interviesse em nosso favor, com a sua vontade de bem e de salvação, para nos tornar santos, participantes da sua filial pureza e beleza, ser-nos-ia absolutamente impossível caminhar em integridade diante de Deus. Mas foi para isso que Ele veio ao mundo e morreu por nós. Resta-nos querer ser realmente purificados. Só na liberdade podemos ser curados dos nossos males, escolher o que é bom e fazer o bem. Só na liberdade, podemos acolher os dons do Espírito, viver as bem-aventuranças, irradiar os frutos e os carismas do mesmo Espírito.


Oratio

Pai de benevolência, em Quem encontrou plena aceitação o teu amado Filho, levantado na cruz para redenção do mundo; concede que sejamos purificados pela Água e pelo Sangue que brotaram do seu lado aberto e do seu Coração trespassado. Sepultados com Cristo e com Ele ressuscitados, queremos caminhar em novidade de vida, numa fé inabalável e numa esperança feliz. Ajuda-nos a dar morte ao mal que ainda está em nós, ao egoísmo e ao medo de nos abandonarmos generosamente a Ti. Livra-nos de nós mesmos, para que possamos servir-Te, em liberdade de espírito, quais hóstias vivas. Ámen.


Contemplatio

A humildade é o remédio para o orgulho. Mas para isso, não basta reconhecer o próprio nada nem aceitar humilhações merecidas. Ao aceitá-las, mais não fazemos que o nosso dever, não reparamos nada e podemos dizer: «Não passamos de servos inúteis». Nosso Senhor não aceitou senão humilhações merecidas? Foi ao contrário pelas suas humilhações imerecidas que nos testemunhou o seu amor reparando o nosso orgulho. Foi por isso que Ele amou os desprezos e que foi verdadeiramente humilde de coração. Queremos verdadeiramente curar o nosso orgulho, reparar as nossas faltas e ajudar à necessidade do nosso próximo pelas nossas reparações? Amemos a humildade, amemos os desprezos e as humilhações, como o orgulho afasta a graça, a humildade atrai-a. O Coração de Jesus ama os humildes. Procurarei a humildade de espírito e de coração. Não presumirei ser mais do que sou e isto será justiça. Aceitarei os desprezos e as humilhações. Desejo mesmo amá-los para me tornar semelhante a Nosso Senhor e unir o meu sacrifício ao seu. (Leão Dehon, OSP4, p. 557).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Senhor, se quiseres, podes purificar-me» (Mt 8, 2).


Fonte http://www.dehonianos.org/

terça-feira, 23 de junho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XII Semana - Quinta-feira - 25.06.2015


Lectio

Primeira leitura: Génesis 16, 1-12.15-16

1Sarai, mulher de Abrão, que não lhe dera filhos, tinha uma escrava egípcia, chamada Agar. 2Sarai disse a Abrão: «Visto que o Senhor me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava. Talvez, por ela, eu consiga ter filhos.» Abrão aceitou a proposta de Sarai. 3Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. 4Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. E, reconhecendo-se grávida, começou a olhar desdenhosamente para a sua senhora. 5Sarai disse a Abrão: «Recaia sobre ti a vergonha que sofro por tua causa. Fui eu que entreguei a minha escrava nos teus braços e, agora que sabe ter concebido, despreza-me. Que o Senhor julgue aos dois, a ti e a mim!» 6Abrão respondeu-lhe: «A tua escrava está sob o teu domínio; faz dela o que te aprouver.» Então, Sarai tratou-a mal e humilhou-a, e Agar fugiu da sua presença. 7O mensageiro do Senhor encontrou-a junto de uma fonte no deserto, a caminho de Chur. 8Ele disse-lhe: «Agar, escrava de Sarai, de onde vens tu? E para onde vais?» Ela respondeu-lhe: «Fujo de Sarai, a minha senhora.» 9O mensageiro do Senhor disse-lhe: «Volta para a casa dela e humilha-te diante da tua senhora.» 10O mensageiro do Senhor acrescentou: «Multiplicarei a tua descendência, e será tão numerosa que ninguém a poderá contar.» 11O mensageiro do Senhor disse-lhe ainda: «Estás grávida e vais ter um filho, e dar-lhe-ás o nome de Ismael, porque o Senhor escutou a voz da tua angústia. 12Ele será como um cavalo selvagem entre os homens; a sua mão erguer-se-á contra todos, a mão de todos erguer-se-á contra ele, e colocará a sua tenda em frente de todos os seus irmãos.» 15Agar teve um filho de Abrão; este pôs o nome de Ismael ao seu filho dado à luz por Agar. 16Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.

Inquieta com a demora na realização da promessa de uma numerosa descendência, Sara, mulher estéril de Abraão, convence o marido a ter um filho da escrava egípcia Agar. O código de Hammurabi previa esse caso. Humanamente nada havia a opor a tal procedimento. Mas o autor sagrado não está de acordo, e denuncia o excessivo zelo de Sara em ver realizada a promessa de Deus ao seu marido. Deus vai, de facto, realizá-la, sem recorrer a estratégias ou a aldrabices humanas.
Agar, na sua nova situação, manifesta orgulho e despreza Sara. Mas esta maltrata-a até a fazer fugir da sua casa. O Anjo do Senhor encontra-a no deserto e convida-a a regressar e a humilhar-se diante de Sara. Entretanto dá nome ao que está para nascer. Chamar-se-á Ismael, porque será um indómito habitante do deserto. Deus, embora protegendo Ismael, não o considerará filho da promessa.
Deus pede ao homem uma fé absoluta na sua palavra, que há-de realizar-se no tempo fixado (cf. 21, 2). É preciso, não só acreditar em Deus, mas também aceitar as modalidades que Ele mesmo fixa para a realização das suas promessas.


Evangelho: Mateus 7, 21-29

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 21«Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. 22Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ 23E, então, dir-lhes-ei: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’» 24«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.» 28Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, 29porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei.

Ao concluir o Sermão da Montanha, Jesus previne contra a presunção de se salvar apenas pela invocação do nome divino, ou em virtude de acções carismáticas, sem as acompanhar com uma vida coerente, com a prática da caridade, ainda que sejam expressão da própria fé. Não se pode ficar pelo «dizer»; há que «fazer». Notemos também que a referência, no juízo final, será sempre Cristo: «me dirão», «minhas palavras» (cf. Mt 25). Também é significativa a acentuação de «muitos»: «muitos me dirão…». «Então, dir-lhes-ei»: no texto original, lê-se: «Então declararei», numa clara alusão ao «dia do Senhor», ao dia do juízo. Quando Cristo declara que não conhece (como na parábola das virgens insensatas: Mt 25, 12) tais «tais praticantes da iniquidade» (cf. Mt 13, 14; 24, 12), onde encontramos o mesmo termo), utiliza a fórmula judaica de excomunhão do mestre, que implicava uma suspensão temporária do discípulo.
O Sermão da Montanha repõe o esquema de bênçãos e maldições diante das quais era colocado o povo da Aliança (Lv 26, Dt 28) e termina com a expressão «e grande foi a sua ruína» (Mt 7, 27), que contrasta com as palavras de abertura: «Felizes…» (Mt 5, 2ss.). Notemos também o paralelismo escondido nas palavras «rocha» (Cristo) e «casa» (Igreja).
Finalmente, Cristo fala de duas maneiras de escutar a Palavra: de modo superficial e descomprometido, ou de modo atento e eficaz. Fala também das consequências de escutar de um ou de outro modo.


Meditatio

Acreditar em Deus, confiar pacientemente na realização das suas promessas, como e quando quiser, e cumprir a sua vontade, são atitudes básicas exigidas pelo Senhor ao verdadeiro crente. Jesus, no evangelho de hoje, revela idênticas exigências: «Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu» (v. 21). Todo o Sermão da Montanha é um forte convite ao cumprimento da vontade de Deus, com pureza, generosidade e perfeição. Mas nada disto é possível à nossa fragilidade humana. Por isso, o próprio Jesus nos dá o meio e a força necessários. O meio é a sua palavra: «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente» (v. 24). A palavra de Jesus faz-nos conhecer a vontade do Pai. Se escutarmos as palavras de Jesus, estaremos mergulhados na vontade do Pai e, «nesse dia», Ele irá reconhecer-nos como benditos do seu Pai. A força também nos é oferecida por Jesus, que nos dá um coração novo, o seu próprio coração, o seu coração obediente para realizarmos a vontade do Pai, ainda sobre nós se abatam a chuva, o vento, as ondas das provações e das adversidades, porque estaremos fundados na rocha. Com Deus em nós, temos a sua força, a sua alegria, já estamos no paraíso.
Não devemos, pois, querer forçar os tempos, nem perder-nos em belas palavras que nos iludam ou possam iludir os outros. Jesus crucificado põe-se silenciosamente diante de nós para nos lembrar que não podemos fazer batota. Não podemos sequer recorrer a astúcias ou procurar atalhos. O projecto é dele, o tempo é dele, as modalidades são dele. Compete-nos apenas reconhecer com humildade a sua santidade e o seu amor com que «nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor» (Ef 1, 4).
Como amigos de Deus conhecemos a lei da amizade: os amigos têm o mesmo querer e o mesmo não querer. Aceitar amorosamente a vontade de Deus na nossa vida, através das mediações que põe no nosso caminho, é cultivar a amizade com Deus, é praticar a obediência como virtude do abandono de amor filial nos Seus braços. Tal como a castidade e a pobreza, a obediência dehoniana «estimula-nos a viver na confiança e na gratuidade do amor» (Cst 46; cf. nn. 24.68), num «um amor sem reservas» (Cst 41). Na obediência, realizamos o nosso carisma que nos leva a viver «como o único necessário, uma vida de união à oblação de Cristo» (Cst 26). Em cada acto de obediência, vivemos aquele «Ecce venio» (Heb 10, 7) que «define a atitude fundamental da nossa vida. Faz da nossa obediência um acto de oblação; configura a nossa existência com a de Cristo, pela redenção do mundo e para Glória do Pai» (Cst 58).


Oratio

Pai santo, glorifica o teu Filho elevado na cruz, para que Te glorifique também a Ti. Ele tudo realizou em amorosa obediência; agora, que foi erguido da terra, torna-O coração do mundo e glória da criação. Baptiza a nossa humanidade na água e no sangue que brotam do seu Lado aberto; fere de amor o nosso coração para que, também em nós, se cumpra o mistério da transfixão. Aceita a nossa oferta e consuma o nosso sacrifício no serviço do teu reino e dos irmãos; Que jamais se esgote a torrente de amor que jorra do Coração do teu Filho, e todos os povos possam beber com alegria das fontes da salvação. Amen.


Contemplatio

O dedo de Deus está bem marcado no estabelecimento da Religião cristã em Roma e na sua conservação há dezanove séculos. No seu estabelecimento, porque Deus se serviu de um pobre pescador galileu estranho às ciências profanas, sem recursos e sem apoios temporais para impor o jugo do Evangelho aos espíritos mais orgulhosos que jamais existiram, aos patrícios da velha Roma todos cheios de si mesmos, orgulhosos das suas riquezas e dados à sensualidade e ao prazer. Na sua conservação, porque nem as torrentes de sangue que os tiranos fizeram correr no circo e no coliseu, nem os assaltos da heresia tão frequentemente repetidos, nem o furor nem a corrupção dos homens nem as potências dos infernos conseguiram abalar esta pedra, centro e fundamento da Religião católica. Renovemos a nossa devoção e a nossa confiança para com a Igreja romana. Sejamos dóceis a todos os seus ensinamentos, a todas as suas direcções. Amemo-la, veneremo-la tanto mais quanto mais ela for atacada e combatida. Rezemos pelo Soberano Pontífice e pela Igreja. (Leão Dehon, OSP3, p. 69s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O homem sábio constrói a sua casa sobre a rocha» (Mt 7, 24).


Fonte http://www.dehonianos.org/