domingo, 30 de outubro de 2016

XXXI Semana – Segunda-feira – Tempo Comum – Anos Pares 31 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXXI Semana – Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Filipenses 2, 1-4
Irmãos: 1Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afectuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afecto e compaixão, 2então fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento; 3nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, 4não tendo cada um em mira os próprios interesses, mas todos e cada um exactamente os interesses dos outros.
Depois de exortar os Filipenses a comportar-se de modo digno do Evangelho, e de se oferecer a si mesmo como exemplo de luta contra os adversários da Boa Nova, Paulo continua o discurso de modo mais claro: primeiro aponta o fundamento que é Cristo (v. 1), depois, ao terminar, uma consequência de carácter antropológico (v. 4). Pelo meio (v. 2) o Apóstolo afirma o seu direito a receber uma gratificação pessoal pelo seu ministério: «fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento» (v. 2).
O “se” com que começa o versículo 1 não exprime uma hipótese, mas uma certeza. Este recurso literário é importante para compreendermos o pensamento de Paulo porque, na sua concepção, tudo o que existe de bom, de belo e de santo, deriva de Cristo e do seu mistério pascal, que se dilata na mente, no coração e nas relações entre os crentes. A segunda parte da leitura (v. 3s.) contém uma formulação negativa em vista da positiva. Paulo exorta a extirpar da comunidade todo o espírito de rivalidade, de vaidade ou de vanglória, recomendando a humildade, a estima uns pelos outros, o desinteresse pessoal e a generosidade a toda a prova (cf. v. 3s.).
Evangelho: Lucas 14, 12-14
Naquele tempo, 12Disse Jesus a um dos principais fariseus, que O tinha convidado para uma refeição: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. 13Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.»
Mais uma vez, no ambiente de uma refeição, depois de ter curado um hidrópico em dia de sábado, e depois de ter proposto uma parábola, Jesus adverte o chefe dos fariseus que O tinha convidado. As palavras de Jesus brotam da sua experiência, da observação atenta das realidades e comportamentos dos que O rodeiam. O Mestre interpreta tudo de modo simbólico e transfere-o para o domínio religioso. As duas partes deste pequeno texto correspondem-se perfeitamente: o paralelismo antitético facilita a sua compreensão: «Quando deres um almoço ou um jantar… pelo contrário, quando deres um banquete…». O ensinamento claro de Jesus vai direito à sensibilidade dos seus destinatários. Jesus alerta para um comportamento de aparente generosidade, que, na realidade, é egoísta. Este tipo de comportamento, não só é mesquinho, mas também compromete as relações interpessoais. A situação oposta, sugerida por Jesus, traduz, pelo contrário, um convite genuinamente evangélico, que leva ao centro da doutrina de Jesus: privilegiar os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, que são aqueles que o Senhor ama. É a mensagem das bem-aventuranças (Lc 6, 20-26). A bem-aventurança, e a promessa do v. 14, completam admiravelmente o ensinamento de Jesus.
Meditatio
Por vezes, atrás de um gesto aparentemente magnânimo, como convidar alguém para uma refeição, pode esconder-se um sentimento egoísta. É o que sucede quando o convite é feito apenas por obrigação, por conveniência social, por mera simpatia ou porque se espera retribuição. Obviamente, o tema do evangelho, que tem ressonância já no final da primeira leitura, é o da gratuidade, acompanhado e valorizado pela «opção preferencial pelos pobres», que não é uma descoberta dos cristãos de hoje, mas a quinta-essência do Evangelho. Todavia, este termo precisa de ser libertado do significado simplesmente material, que hoje somos tentados a dar-lhe, uma vez que valorizamos excessivamente o aspecto económico das nossas acções e gestos: tudo o que fazemos, tudo o que produzimos, há-de ter um valor económico. Jesus, pelo contrário, quer educar-nos a uma avaliação também espiritual, isto é, integral e mais completa das nossas acções e opções.
Gratuidade significa e implica, por conseguinte: mais atenção aos outros do que a nós mesmos, reconhecer nos outros um valor objectivo, porque todos levam em si a imagem e a semelhança de Deus, sendo, por isso mesmo, dignos de atenção, de estima e de amor.
Compreendemos, então, o sentido da bem-aventurança proclamada por Jesus no v. 14 desta página do evangelho e, sobretudo, a promessa de uma recompensa que, segundo a lógica de Deus, temos assegurada quando da «ressurreição dos justos».
Lemos nas Constituições: a «pobreza segundo o Evangelho convida-nos a libertar-nos da sede de posse e de prazer que sufoca o coração do homem. Estimula-nos a viver na confiança e na gratuidade do amor» (n. 46). Por outras palavras, a pobreza evangélica torna-se exercício de verdadeira caridade, a exemplo dos primeiros cristãos de Jerusalém: «Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, conforme a necessidade que tivesse» (Act 4, 34-35).
Quem partilha desinteressadamente os bens, convida as realidades humanas a serem sacramento da presença amorosa de Deus entre os homens e instrumentos de comunhão entre os irmãos. O verdadeiro pobre, segundo o Evangelho é aquele que, trabalhando, multiplica os bens (os talentos) e contribui para melhorar a vida de todos (cf. parábola dos talentos, Mt 25, 14-30).
Na multiplicação dos bens, e na relação com os outros, há um perigo: é-se tentados a possuir, a assegurar bens e a entrar em concorrência, em luta com os outros e, se formos mais fortes, mais hábeis, podemos chegar a instrumentalizá-los a explorá-los. Desse modo, em vez de sermos bons companheiros de viagem e irmãos que se ajudam mutuamente, podemos tornar-nos senhores dos outros, possui-los como coisas. É assim que o homem, com violência, satisfaz a sua ânsia de domínio, priva os outros da sua liberdade, e os instrumentaliza para se auto-afirmar. Assim, isola-se no seu egoísmo e, não reconhecendo a dignidade humana dos outros, despedaça todo a verdadeira relaç&atilde
;o pessoal, e nega a si mesmo realizar-se como pessoa. Torna-se um tirano, um explorador, um bruto, e não uma pessoa. A gratuidade realiza o homem, torna-o feliz.
Oratio
Senhor, dá-me uma vontade sincera de partilhar, generosa e gratuitamente, o que sou e o que tenho, com todos os meus irmãos, para que me torne sacramento do teu amor e instrumento de comunhão na Igreja e no mundo. Ajuda-me a ser pobre, segundo o teu Evangelho, não só contentando-me com o que recebi, mas sentindo-me responsável pela multiplicação e distribuição dos bens, contribuindo assim para melhorar a vida de todos. Então, a minha pobreza será caridade.
Que eu jamais me deixe prender pela ânsia em possuir e pelo desejo do prazer. Animado pelo teu Espírito, ajuda-me a viver na confiança em Ti e na gratuidade do amor pelos meus irmãos. Amen.
Contemplatio
S. Paulo prega-nos a caridade, a sua necessidade, os seus deveres, a sua perpetuidade, a sua excelência (1 Cor 13).
«Ainda que tivesse o dom das línguas, diz S. Paulo, com o dom da ciência e da profecia e uma fé capaz de transportar as montanhas, se não tenho caridade não sou nada. Ainda que desse todos os meus bens aos pobres e passasse no fogo pelo meu próximo, se faço isso por vaidade e não por caridade, não é nada».
Ó Deus de caridade, dai-me a caridade, a participação na vossa bondade, sem a qual nada vos pode agradar. Que eu me torne vosso filho verdadeiramente bom e amante, amante por vós sobretudo que mereceis tanto amor, amante também para com o meu próximo, para com os vossos filhos que são meus irmãos. A caridade é paciente, é benevolente. Não é invejosa, agitada, orgulhosa. Não é egoísta, mas dedicada. Não é irascível. Não suspeita facilmente o mal. Não se alegra com as fraquezas do próximo.
Suporta todas as contradições. Sinto que ela me falta muito, humilho-me por isso e Peço-vos perdão, ó meu Deus. Quero caminhar na caridade, crescer na caridade, praticar as suas obras e começar hoje com algum acto prático.
A caridade é o dom mais precioso. Não acaba com a vida. Ela continua e aperfeiçoa-se no céu. Os outros dons cessarão, os dons das línguas e da profecia, e a ciência incompleta da terra. Mesmo a fé cessará, porque nós veremos a Deus, e a esperança também, porque nos encontraremos no termo. A caridade é eterna. Aqui em baixo, a fé, a esperança e a caridade são necessárias. No céu, só a caridade permanecerá.
Devo, portanto, amar a caridade acima de tudo. Devo desejá-la, pedi-la a Deus e nela me exercitar sem cessar. (Leão Dehon, OSP 3, p. 183s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não tenhais em mira os vossos interesses, mas os dos outros» (Fl 2, 4).
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

sábado, 29 de outubro de 2016

31º Domingo do Tempo Comum – Ano C 30 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
ANO C
31º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 31º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo convida-nos a contemplar o quadro do amor de Deus. Apresenta-nos um Deus que ama todos os seus filhos sem excluir ninguém, nem sequer os pecadores, os maus, os marginais, os “impuros”; e mostra como só o amor é transformador e revivificador.
Na primeira leitura um “sábio” de Israel explica a “moderação” com que Deus tratou os opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse Deus omnipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus filhos.
O Evangelho apresenta a história de um homem pecador, marginalizado e desprezado pelos seus concidadãos, que se encontrou com Jesus e descobriu n’Ele o rosto do Deus que ama… Convidado a sentar-se à mesa do “Reino”, esse homem egoísta e mau deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem generoso, capaz de partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres.
A segunda leitura faz referência ao amor de Deus, pondo em relevo o seu papel na salvação do homem (é d’Ele que parte o chamamento inicial à salvação; Ele acompanha com amor a caminhada diária do homem; Ele dá-lhe, no final da caminhada, a vida plena)… Além disso, avisa os crentes para que não se deixem manipular por fantasias de fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.
LEITURA I – Sab 11,22-12,2
Leitura do Livro da Sabedoria
Diante de Vós, Senhor, o mundo inteiro
é como um grão de areia na balança,
como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra.
De todos Vós compadeceis, porque sois omnipotente,
e não olhais para os seus pecados,
para que se arrependam.
Vós amais tudo o que existe
e não odiais nada do que fizestes;
porque, se odiásseis alguma coisa,
não a teríeis criado.
e como poderia subsistir,
se Vós não a quisésseis?
Como poderia durar,
se não a tivésseis chamado à existência?
Mas a todos perdoais,
porque tudo é vosso, Senhor, que amais a vida.
O vosso espírito incorruptível está em todas as coisas.
Por isso castigais brandamente aqueles que caem
e advertis os que pecam, recordando-lhes os seus pecados,
para que se afastem do mal
e acreditem em Vós, Senhor.
AMBIENTE
O “Livro da Sabedoria” é o mais recente de todos os livros do Antigo Testamento (aparece durante a primeira metade do séc. I a.C.). O seu autor – um judeu de língua grega, provavelmente nascido e educado na Diáspora (Alexandria?) – exprimindo-se em termos e concepções do mundo helénico, faz o elogio da “sabedoria” israelita, traça o quadro da sorte que espera o justo e o ímpio no mais-além e descreve (com exemplos tirados da história do Êxodo) as sortes diversas que tiveram os egípcios (idólatras) e o hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu objectivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no paganismo, na idolatria, na imoralidade), convida-os a redescobrirem a fé dos pais e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o absurdo da idolatria e a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus… Para uns e para outros, só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria”, a verdadeira felicidade.
O texto que nos é proposto pertence à terceira parte do livro (cf. Sab 10,1-19,22). Nessa parte, recorrendo, sobretudo, à técnica do midrash, o autor faz a comparação entre os castigos que Deus lançou contra aos “ímpios” (os pagãos) e a salvação reservada aos “justos” (o Povo de Deus).
Depois de descrever como a “sabedoria” de Deus que se manifestou na história de Israel (cf. Sab 10,1-11,14), o autor faz referência ao pecado dos egípcios, que rendiam culto “a répteis irracionais e a bichos miseráveis” (Sab 11,15); e manifesta o seu espanto de que o castigo de Deus sobre os egípcios tenha sido tão moderado e benevolente (cf. Sab 11,17-20). Porque é que Deus foi tão moderado e não exterminou totalmente os egípcios? É a essa questão que o nosso texto responde.
MENSAGEM
Fundamentalmente, o autor encontra três razões para justificar a moderação e a benevolência de Deus.
A primeira tem a ver com a grandeza e a omnipotência de Deus (cf. Sab 11,22). Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado e posto em causa pelos actos daqueles que são pequenos e finitos… Ele vê as coisas com suficiente distância, percebe as razões do agir do homem, não perde o “fair play”; daí resulta a tolerância e a misericórdia.
A segunda vem dessa lógica que caracteriza sempre a atitude de Deus em relação ao homem: a lógica do perdão (cf. Sab 11,23). Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado do homem, a fim de o convidar ao arrependimento… Repare-se, no entanto, que esta lógica não se exerce aqui sobre o Povo de Deus, mas sobre um império pagão e opressor: é a universalidade da salvação que aqui é sugerida.
A terceira tem a ver com o amor de Deus (cf. Sab 11,24-26), que se derrama sobre todas as criaturas. A criação foi a obra de amor de um pai; e esse pai ama todos os seus filhos. Ele é o Senhor que “ama a vida”.
É porque todos os homens levam dentro de si esse “sopro de vida” que Deus infundiu sobre a criação, que Ele se preocupa, corrige, admoesta, perdoa as faltas, faz que se afastem do mal e estabeleçam comunhão com Ele (cf. Sab 12,1-2).
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• O Deus que este texto apresenta é uma figura benevolente e tolerante, cheia de bondade e misericórdia, que não quer a destruição do pecador, mas a sua conversão e que ama todos os homens que criou, mesmo aqueles que praticam acções erradas. Ora, todos nós conhecemos bem este quadro de Deus, pois ele aparece-nos a par e passo… Mas já o interiorizámos suficientemente?
• Interiorizar esta “fotografia” de Deus significa “empapar-nos” da lógica do amor e da misericórdia e deixar que ela transpareça em gestos para com os nossos irmãos. Isso acontece, realmente? Qual é a nossa atitude para com aqueles que nos fizeram mal, ou cujos comportamentos nos desafiam e incomodam?
• Muitas vezes, percebemos certos males que nos incomodam como “castigos” de Deus pelo nosso mau proceder. No entanto, este texto deixa claro que Deus não está interessado em castigar os pecadores… Quando muito, procura fazer-nos perceber – com a pedagogia de um pai cheio de amor – o sem sentido de certas opções e o mal que nos
fazem certos caminhos que escolhemos.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144(145)
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome,
Senhor meu Deus e meu Rei.
Quero exaltar-Vos meu Deus e meu Rei
e bendizer o vosso nome para sempre.
Quero bendizer-vos, dia após dia,
e louvar o vosso nome para sempre.
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso Reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.
O Senhor é fiel à sua palavra
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor ampara os que vacilam
e levanta todos os oprimidos.
LEITURA II – 2 Tes 1,11-2,2
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Oramos continuamente por vós,
para que Deus vos considere dignos do seu chamamento
e, pelo seu poder,
se realizem todos os vosso bons propósitos
e se confirme o trabalho da vossa fé.
Assim o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo
será glorificado em vós, e vós n’Ele,
segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Nós vos pedimos, irmãos,
a propósito da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo
e do nosso encontro com Ele:
Não vos deixeis abalar facilmente nem alarmar
por qualquer manifestação profética,
por palavras ou por cartas,
que se digam vir de nós,
pretendendo que o dia do Senhor está iminente.
AMBIENTE
Forçado a deixar Filipos, Paulo chegou a Tessalónica pelo ano 50. Segundo o seu costume, pregou primeiro aos judeus na sinagoga, obtendo algum sucesso; mas os judeus – incomodados pelo testemunho de Paulo – sublevaram a multidão e o apóstolo teve de abandonar, à pressa, a cidade. De lá, dirigiu-se para Bereia, Atenas e, depois, Corinto.
Em Tessalónica ficou uma comunidade entusiasta e fervorosa, constituída na sua maioria por pagãos convertidos… Mas Paulo estava inquieto, pois chegaram-lhe notícias da hostilidade dos judeus para com os cristãos de Tessalónica; e essa comunidade, ainda insuficientemente catequizada, com uma fé muito “verde”, corria riscos. Paulo enviou Timóteo a Tessalónica, para saber notícias e encorajar os cristãos… Quando Timóteo voltou, Paulo estava em Corinto. As notícias eram boas: os tessalonicenses continuavam a viver com entusiasmo a fé e a dar testemunho de Jesus. Havia, apenas, algumas questões de doutrina que os preocupavam – nomeadamente a questão da segunda vinda do Senhor. Paulo decidiu-se, então, a escrever aos cristãos de Tessalónica, animando-os a viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os quanto à doutrina sobre o “dia do Senhor”. Estamos no ano 51.
Embora não haja qualquer dúvida de que a Primeira Carta aos Tessalonicenses provém de Paulo, há quem ponha em causa a autoria paulina da Segunda Carta aos Tessalonicenses. De qualquer forma, a Segunda Carta aos Tessalonicenses é considerada pela Igreja um texto inspirado que deve, portanto, ser visto como Palavra de Deus.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto apresenta dois temas. O primeiro (cf. 2 Tess 1,11-12) expõe uma súplica de Paulo, para que os tessalonicenses sejam cada vez mais dignos do chamamento que Deus lhes fez; o segundo (cf. 2 Tess 2,1-2) refere-se à vinda do Senhor.
A primeira parte põe em relevo o papel de protagonista que Deus desempenha na salvação do homem. Não basta a boa vontade e os bons propósitos do homem; é preciso que Deus acompanhe os esforços do crente e lhe dê a força de percorrer até ao fim o caminho do Evangelho. De resto, tudo é dom de Deus que chama, que anima e que leva o homem para a meta.
A segunda parte é o início da doutrina sobre o “dia do Senhor”. A intenção fundamental de Paulo é denunciar e desautorizar alguns fanáticos e fantasistas que, invocando visões ou mesmo cartas pretensamente escritas por Paulo, anunciavam a iminência do fim do mundo… Isto estava a provocar perturbações na comunidade, porque alguns – alvoroçados pela proximidade da segunda vinda de Jesus – demitiam-se das suas responsabilidades e esperavam ociosamente o acontecimento.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar, para a reflexão pessoal e comunitária, as seguintes linhas:
• No nosso caminho pessoal ou comunitário, rumo à salvação, Deus está sempre no princípio, no meio e no fim. É preciso reconhecer que é Ele quem está por detrás do chamamento que nos foi feito, que é Ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada, que é Ele quem nos espera no final do caminho, para nos dar a vida plena. Tenho consciência desta centralidade de Deus? Tenho consciência de que a salvação não é uma conquista minha, mas um dom de Deus?
• Ao longo do caminho, é preciso estar atento para saber discernir o certo do errado, o verdadeiro do falso, o que é um desafio de Deus e o que é o fanatismo ou a fantasia de algum irmão perturbado ou em busca de protagonismo. O caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de comunhão e de intimidade com Deus.
ALELUIA – Jo 3,16
Aleluia. Aleluia.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito;
quem acredita nele tem a vida eterna.
EVANGELHO – Lc 19,1-10
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade.
Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu,
que era chefe de publicanos.
Procurava ver quem era Jesus,
mas, devido à multidão, não podia vê-l’O,
porque era de pequena estatura.
Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro,
para ver Jesus,
que havia de passar por ali.
Quando Jesus chegou ao local,
olhou para cima e disse-lhe:
«Zaqueu, desce depressa,
que Eu hoje devo ficar em tua casa».
Ele desceu rapidamente
e recebeu Jesus com alegria.
Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo:
«Foi hospedar-Se em cada dum pecador».
Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo:
«Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens
e, se causei qualquer prejuízo a alguém,
restituirei quatro vezes mais».
Disse-lhe Jesus:
«Hoje entrou a salvação nesta casa,
porque Zaqueu também é filho de Abraão.
Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar
o que estava perdido».
AMBIENTE
O episódio de hoje coloca-nos em Jericó, o oásis situado nas margens do mar Morto, a cerca de 34 quilómetros de Jerusalém. Era a última etapa dos peregrinos que, da Pereia e da Galileia, se dirigiam a Jerusalém para celebrar as grandes festividades do culto judaico (o que indica que o “caminho de Jerusalém”, que temos vindo a percorrer sob
a condução de Lucas, está a chegar ao fim).
No tempo de Jesus, é uma cidade próspera (sobretudo devido à produção de bálsamo), dotada de grandes e belos jardins e palácios (por acção de Herodes, o Grande, que fez de Jericó a sua residência de inverno). Situada num lugar privilegiado de uma importante rota comercial, era um lugar de oportunidades, que devia proporcionar negócios chorudos (e também várias possibilidades de negócios “duvidosos”).
O personagem que se defronta com Jesus é, mais uma vez, um publicano (neste caso, um “chefe dos publicanos”). O nosso herói é, portanto, um homem que o judaísmo oficial considerava um pecador público, um explorador dos pobres, um colaboracionista ao serviço dos opressores romanos e, portanto, um excluído da comunidade da salvação.
MENSAGEM
Voltamos aqui a um dos temas predilectos de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens e Se fez pessoa para trazer, em gestos concretos, a libertação a todos os homens – nomeadamente aos marginalizados e excluídos, colocados pela doutrina oficial à margem da salvação.
Zaqueu (é o nome do publicano em causa) era, naturalmente, um homem que colaborava com os opressores romanos e que se servia do seu cargo para enriquecer de forma imoral (exigindo impostos muito acima do que tinha sido fixado pelos romanos e guardando para si a diferença, como aliás era prática corrente entre os publicanos). Era, portanto, um pecador público sem hipóteses de perdão, excluído do convívio com as pessoas decentes e sérias. Era um marginal, considerado amaldiçoado por Deus e desprezado pelos homens. A referência à sua “pequena estatura” – mais do que uma indicação de carácter físico – pode significar a sua pequenez e insignificância, do ponto de vista moral.
Este homem procurava “ver” Jesus. O “ver” indica aqui, provavelmente, mais do que curiosidade: indica uma procura intensa, uma vontade firme de encontro com algo novo, uma ânsia de descobrir o “Reino”, um desejo de fazer parte dessa comunidade de salvação que Jesus anunciava. No entanto, o “mestre” devia parecer-lhe distante e inacessível, rodeado desses “puros” e “santos” que desprezavam os marginais como Zaqueu. O subir “a um sicómoro” indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus, que é muito mais forte do que o medo do ridículo ou das vaias da multidão.
Como é que Jesus vai lidar com este excluído, que sente um desejo intenso de conhecer a salvação que Deus oferece e que espreita Jesus do meio dos ramos de um sicómoro? Jesus começa por provocar o encontro; depois, sugere a Zaqueu que está interessado em entrar em comunhão com Ele, em estabelecer com Ele laços de familiaridade (“quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa»”). Atente-se neste quadro “escandaloso”: Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam atentamente a sua Palavra, deixa todos especados no meio da rua para estabelecer contacto com um marginal e para entrar na sua casa. É a exemplificação prática do “deixar as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que estava perdida”… Aqui torna-se patente a fragilidade do coração de Deus que, diante de um pecador que busca a salvação, deixa tudo para ir ao seu encontro.
Como é que a multidão que rodeia Jesus reage a isto? Manifestando, naturalmente, a sua desaprovação às atitudes incompreensíveis de Jesus (“ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «foi hospedar-se em casa de um pecador»”). É a atitude de quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. No entanto, Jesus demonstra-lhes que a lógica de Deus é diferente da lógica dos homens e que a oferta de salvação que Deus faz não exclui nem marginaliza ninguém.
Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde está Zaqueu, o chefe dos publicanos) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”; diz-lhes, também, que Deus os ama, que aceita sentar-Se à mesa com eles – isto é, quer integrá-los na sua família e estabelecer com eles laços de comunhão e de amor. Jesus mostra, dessa forma, que Deus não exclui nem marginaliza nenhum dos seus filhos – mesmo os pecadores – mas a todos oferece a salvação.
E como é que Zaqueu reage a essa oferta de salvação que Deus lhe faz? Acolhendo o dom de Deus e convertendo-se ao amor. A repartição dos bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo, vai muito além daquilo que a lei judaica exigia (cf. Ex 22,3.6; Lev 5,21-24; Nm 5,6-7) e é sinal da transformação do coração de Zaqueu… Repare-se, no entanto, que Zaqueu só se resolveu a ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a experiência do amor de Deus. O amor de Deus não se derramou sobre Zaqueu depois de ele ter mudado de vida; mas foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou quando ainda era pecador – que provocou a conversão e que converteu o egoísmo em generosidade. Prova-se, assim, que só a lógica do amor pode transformar o mundo e os corações dos homens.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode partir das seguintes linhas:
• A questão central posta por este texto é, portanto, a questão da universalidade do amor de Deus. A história de Zaqueu revela um Deus que ama todos os seus filhos sem excepção e que nem sequer exclui do seu amor os marginalizados, os “impuros”, os pecadores públicos: pelo contrário, é por esses que Deus manifesta uma especial predilecção. Além disso, o amor de Deus não é condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor nunca desmentido que, uma vez experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa Nova de um Deus “com coração” que somos convidados a anunciar, com palavras e gestos.
• A vida revela, contudo, que nem sempre a atitude dos crentes em relação aos pecadores está em consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, os crentes ou as Igrejas marginalizam e excluem, assumem atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam mais e o levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. Já devíamos ter percebido (o Evangelho de Jesus tem quase dois mil anos) que só o amor gera amor e que só com amor – não com intolerância ou fanatismo – conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens. Na verdade, como é que acolhemos
e tratamos os que têm comportamentos socialmente inaceitáveis? Como é que acolhemos e integramos os que, pelas suas opções ou pelas voltas que a vida dá, assumem atitudes diferentes das que consideramos correctas, à luz dos ensinamentos da Igreja?
• Testemunhar o Deus que ama e que acolhe todos os homens não significa, contudo, branquear o pecado e pactuar com o que está errado. O pecado gera ódio, egoísmo, injustiça, opressão, mentira, sofrimento; é mau e deve ser combatido e vencido. No entanto, distingamos entre pecador e pecado: Deus convida-nos a amar todos os homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas chama-nos a combater o pecado que desfeia o mundo e que destrói a felicidade do homem.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 31º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 31º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de acção de graças…
3. BILHETE DE EVANGELHO.
É verdade que Zaqueu tinha subido a um sicómoro, mas é Jesus que ergue os olhos e interpela o publicano de Jericó: “Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa”. A iniciativa de Jesus provoca em Zaqueu toda uma mudança, pois ele nunca teria ousado convidar Jesus de quem ouvira falar. Sente-se reconhecido não como “cobrador de impostos” e ladrão, mas como alguém que pode manifestar o homem que é verdadeiramente capaz de ser: generoso para com os pobres, reparador das faltas que tenha podido ocasionar. Na casa de Zaqueu, Jesus faz-nos ver o que veio fazer ao vir ao encontro da humanidade: ajuda-o a encontrar o seu próprio rosto… Sim, Ele veio “procurar e salvar o que estava perdido”, para restabelecer a imagem de Deus no rosto do homem que o pecado tinha afundado.
4. À ESCUTA DA PALAVRA.
A história de Zaqueu é uma história de olhares… Há o olhar de Zaqueu, que procurava ver quem era Jesus; correu e subiu a um sicómoro para ver Jesus que devia passar por aí. Há o olhar de Jesus que, ao chegar a esse lugar, ergueu os olhos… Há, enfim, o olhar da multidão, que, ao ver tudo isso, recriminava Jesus por ir a casa de um pecador. Três olhares, tão diferentes uns dos outros! Bem o sabemos: o olhar é uma linguagem para lá das palavras. Os nossos olhares falam muito mais do que tantos discursos. As nossas palavras podem mentir, os nossos olhares não. EM primeiro lugar, reparemos no olhar da multidão. Jesus tinha curado um mendigo cego; ao ver isso, a multidão celebrou os louvores de Deus. Ao ver o maravilhoso, a multidão maravilhou-se. E depois, tudo muda de repente. Após a atitude de Jesus para com Zaqueu, a multidão olha Jesus com hostilidade. Versatilidade das multidões, sem dúvida. Mas também versatilidade dos nossos próprios olhares. Basta uma coisita de nada para que o meu olhar sobre aquele que estimava mude, quando percebo que ele não era “bem” aquilo que eu pensava! Em segundo lugar, reparemos no olhar de Zaqueu. Mais do que um olhar de simples curiosidade, é um olhar de desejo. Ele tinha ouvido dizer que este Jesus não falava como os escribas e os fariseus. Além disso, Ele fazia milagres. Não viria Ele da parte de Deus? Então, ele quer ver este rabino que não é como os outros. Mas a sua procura continua tímida. Não ousa avançar demasiado. E eu? Qual é o meu desejo de ver Jesus, de O conhecer? Não sou demasiado tímido quando se trata da minha ligação com Jesus e da minha fé? Finalmente, há o olhar de Jesus, que ergueu os olhos para Zaqueu. Que viu Ele? Um pecador à margem da Lei, banido por todos? Não, Jesus viu um homem rejeitado por todos, um homem habitado por um desejo, talvez não muito explícito, de ser acolhido por Ele próprio. Viu um homem que não tinha ainda compreendido que Deus o amava, apesar dos seus pecados, que Deus o olhava unicamente à luz do seu amor primeiro e gratuito. Então, Jesus colocou no seu olhar sobre Zaqueu todo este amor que transformou o publicano. E que o salvou!
5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a oração eucarística nº 4, que reúne em si toda a alegre plenitude deste dia.
6. PALAVRA PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “A Palavra de Deus não está encadeada”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”…; “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”… Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…



UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

XXX Semana – Sábado – Tempo Comum – Anos Pares 29 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Sábado
Lectio
Primeira leitura: Filipenses 1, 18b-26
Irmãos: 18Desde que Cristo seja anunciado, com segundas intenções ou com verdade, é com isso que me alegro e me alegrarei sempre. 19De facto, sei que isto irá resultar para mim em salvação, graças às vossas orações e ao apoio do Espírito de Jesus Cristo, 20de acordo com a ansiedade e a esperança que tenho de que em nada serei envergonhado. Pelo contrário: com todo o desassombro, agora como sempre, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte. 21É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. 22Se, entretanto, eu viver corporalmente, isso permitirá que dê fruto a obra que realizo. Que escolher então? Não sei. 23Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor; 24mas continuar a viver é mais necessário por causa de vós. 25E é confiado nisto que eu sei que ficarei e continuarei junto de todos vós, para o progresso e a alegria da vossa fé, 26a fim de que a glória, que tendes em Cristo Jesus por meio de mim, aumente com a minha presença de novo junto de vós.
Paulo, estando na prisão, é informado de que muitos cristãos anunciam a palavra de Deus (cf. Filip 1, 14ss.). Alguns fazem-no por inveja e procuram lançar Paulo em descrédito (vv. 15ª.17), mas o Apóstolo não se importa. O que é preciso é que o Evangelho seja anunciado (v. 18b). O Espírito Santo e a oração dos Filipenses ajudam-no e dão-lhe esperança de que essas situações dolorosas o não hão-de perturbar. Serão, pelo contrário ocasião de salvação. E Deus há-de recebê-lo, quer continue vivo e a exercer a sua missão, quer venha a ser morto (v. 20b).
A morte é considerada por Paulo como um ganho, porque o introduz na plena comunhão com Cristo, que é, desde já, a sua vida (v. 21; cf. Jo 14). Paulo sente-se pressionado entre duas realidades que o atraem: o desejo da união total com Cristo, só possível da morte, e a necessidade de estar presente e a anunciar a palavra nas comunidades cristãs (vv. 22-24). Se prefere a primeira, julga mais provável que se realize a segunda. A fé dos Filipenses receberá novo impulso e crescerá a sua alegria pela presença do Apóstolo, que também será motivo de glória pela comunhão que lhes foi dada em Cristo (vv. 25s.).
Evangelho: Lucas 14, 1.7-11
Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. 7Observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes esta parábola: 8«Quando fores convidado para um banquete, não ocupes o primeiro lugar; não suceda que tenha sido convidado alguém mais digno do que tu, 9venha o que vos convidou, a ti e ao outro, e te diga: ‘Cede o teu lugar a este.’ Ficarias envergonhado e passarias a ocupar o último lugar. 10Mas, quando fores convidado, senta-te no último lugar; e assim, quando vier o que te convidou, há-de dizer-te: ‘Amigo, vem mais para cima.’ Então, isto será uma honra para ti, aos olhos de todos os que estiverem contigo à mesa. 11Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.»
Jesus aproveita as situações da vida de cada dia para revelar verdades que decorrem da «vida nova» dos filhos de Deus. Durante uma refeição, em casa de um fariseu, nota o arrivismo de alguns convidados que procuram os primeiros lugares (v. 7).
As palavras de Jesus (vv. 8-10) são um ensinamento sobre boa educação, sobre as normas de precedência segundo a escala social. Quem ocupar um lugar que não lhe corresponde, expõe-se ao ridículo e à vergonha (v. 8s.). A ambição, alterando o correcto conceito de auto-estima, dificulta as relações com os outros. Quem não presume merecer honras especiais pode, pelo contrário, ver-se na situação de receber atenções imprevistas (cf. v. 10). O dom de Deus é gratuito, e não consequência matemática de méritos humanos. Jesus lembra-o àqueles que ambicionam receber reconhecimentos e gratificações. A humildade, isto é, a confiança total em Deus e no seu amor, é condição para acolher a glória e a honra que Deus oferece (cf. 1, 46-48.52; Sl 21, 6-8) e que consiste em estar unido a Ele na obra da salvação (cf. Lc 22, 28-30; Mc 10, 35-40).
Meditatio
O texto evangélico lembra-nos naturalmente o Magnificat: «Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes» (Lc 1, 52). Jesus ensina a não buscarmos os primeiros lugares, mas a escolher os últimos, para termos a alegria de um lugar dado por Ele: «Amigo, sobe mais para cima!» (v. 10). Maria praticou este ensinamento, mais do que qualquer outra criatura.
A palavra do Senhor convida-nos a tomarmos consciência de nós mesmos, a formarmos uma consciência realista que nos faz ver o lugar que ocupamos, a responsabilidade que nos foi confiada, a tarefa que devemos realizar. O presumido costuma ver-se a um espelho que lhe dilata as proporções. Por isso, facilmente se pode dar conta de que está fora do lugar, em situações desagradáveis, se não mesmo prejudiciais, para ele ou para os outros.
Como é útil, pelo contrário, estar no seu lugar! Longe da lógica carreirista, dos delírios do protagonismo – tão em voga nos nossos dias – faz-se a experiência de que a verdadeira humildade não reduz as nossas qualidades, mas nos leva a pô-las generosamente ao serviço dos outros, sem nos exaltarmos.
Quem procura dar nas vistas, dominar sobre os outros, corre o risco de se ver catapultado para o último lugar. Quem, pelo contrário, procura o crescimento e o bem dos outros – como Paulo – alegra-se com tudo o que os possa ajudar, ainda que lhe custe sacrifício. E eu, que procuro?
A nossa vida comunitária, caracteriza-se pela busca e pela vivência da comunhão e não pela competição, pelo arrivismo; caracteriza-se pelo amor oblativo, e não pelo ganho gratuito; vivemos «na comunhão, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco» (Cst. 65). É nossa missão contribuir para que esse espírito reine nas relações entre todas as pessoas, sociedades e nações. Suspiramos por uma sociedade mais justa, mais à medida do homem, mais respeitadora da dignidade do homem: Partilhamos as «aspirações dos nossos contemporâneos, como abertura possível ao advento de um mundo mais humano» (Cst. 37). «Queremos contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo» (Cst 32); participar «na construção da cidade terrena e na edificação do Corpo de Cristo» (Cst 38), a fim de que «a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rm 15,16)» (Cst. 31).
Oratio
Senhor, mostra-me, hoje, o meu lugar. Dá-me a graça de clarificar a minha identidade de homem ou mulher crente e de a aceitar com paz e alegria. Que eu não presuma de mim e das minhas qualidades, mas me aceite como sou, ocupe o lugar que me destinas, e procure fazer render ao máximo todos os dons e carismas com que me presenteaste. Que eu não me deixe levar pela tentação do arrivismo, mas aceite com gratidão para contigo, e para com os meus irmãos e irmãs, o lugar e a tarefa que me são destinados. E que, cada dia da minha vida, a minha alma exulte, porque derrubas os poderosos dos seus tronos e exaltas os humildes, porque fazes em mim, e por meio de mim, grandes maravilhas. Magnificat! Magnificat! Amen.
Contemplatio
O demónio transportou Nosso Senhor ao pináculo do Templo e disse-lhe: «Se tu és o filho de Deus, atira-te daqui abaixo».
Nosso Senhor recusou-se evidentemente a ostentar o seu poder por um puro motivo de vaidade.
Amor-próprio, ambição, vaidade, é o apego à sua própria excelência, que é tão perigoso para o padre.
Um coloca a sua complacência no seu pretenso talento; prega-se a si mesmo, mais do que prega o Evangelho. Outro aspira às dignidades, é a sua preocupação.
É menos ardente pelo reino de Deus do que não o é pelo seu próprio. O Coração sacerdotal de Jesus não conheceu estas fraquezas. «Aprendei de Mim, dizia o Salvador, que sou doce e humilde de coração».
Quantas vezes ordena que calem os seus milagres! E quando querem proclamá-lo rei, desaparece para nos ensinar a humildade.
S. Bernardo vivia no Coração de Jesus e conhecia-o bem. Dá-nos estes conselhos de humildade. «Proponde-vos muitas vezes estas três questões: Quem éreis? Nada, quando Deus vos tirou do nada para vos dar o ser. – Que sois? Fumo e pecado que Deus conserva para que não volteis a cair no nada. – Que seríeis? Um saco de vermes sem a mão poderosa de Deus. – Portanto, se tendes alguma coisa de bom dai graças a Deus e dizei-lhe o Magnificat, porque Ele olhou para a baixeza do seu servo. Se caís no pecado, atribuí-o a vós mesmos, porque a liberdade nada sabe senão cometer o pecado. Se observais a lei, dizei ainda: «Nós somos servos inúteis, não fizemos mais do que devíamos fazer».
Jesus aniquilou-se até tomar a forma de um escravo; humilhou-se obedecendo até à morte. «Não procureis, dizia, o primeiro lugar nos festins e nas reuniões, mas o último». «Aquele que se eleva será humilhado e o que se abaixa será elevado».
Quando Jesus lavou os pés dos seus apóstolos, disse-lhes: «Fiz isto para vos dar o exemplo da humildade».
S. Basílio dá-nos estes conselhos: «Sede suaves para com os vossos servos, pacientes com aqueles que vos atacam, humanos com os pequenos. Não repreendais com dureza, não permitais que vos louvem, escondei as vossas virtudes e as vossas vantagens, não deixeis criticar os ausentes. Se for preciso repreender os vossos inferiores, fazei-o com pensamentos de fé». (Leão Dehon, OSP 2, p. 585s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Quem se exalta será humilhado, quem se humilha será exaltado» (Lc 14, 11).
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

XXX Semana – Sexta-feira – Tempo Comum – Anos Pares 28 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: Filipenses 1, 1-11
Irmãos: 1Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos: 2a vós a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! 3Todas as vezes que me lembro de vós, dou graças ao meu Deus, 4sempre, em toda a minha oração por todos vós. É uma oração que faço com alegria, 5por causa da vossa participação no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6E é exactamente nisto que ponho a minha confiança: aquele que em vós deu início a uma boa obra há-de levá-la ao fim, até ao dia de Cristo Jesus. 7É justo que eu tenha tais sentimentos por todos vós, pois tenho-vos no coração, a todos vós que, nas minhas prisões e na defesa e consolidação do Evangelho, participais na graça que me foi dada. 8Pois Deus é minha testemunha de quanto anseio por todos vós, com a afeição de Cristo Jesus. 9E é por isto que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, 10para vos poderdes decidir pelo que mais convém, e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, 11repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
A carta aos Filipenses, escrita da prisão, é das mais afectuosas de S. Paulo, manifestando as excelentes relações do Apóstolo coma primeira comunidade cristã na Europa. Paulo, que associa a si Timóteo, não sente necessidade de explicitar a sua condição de apóstolo, totalmente reconhecida pelos Filipenses. Paulo augura-lhes a plenitude dos dons de Deus e de Jesus Cristo ressuscitado e glorioso (v. 2). E, da comunidade dos baptizados, chamados «santos» porque participam da santidade de Deus, apenas menciona os «bispos e diáconos» (v. 1b), a quem está confiado um particular serviço, provavelmente o governo e a administração da comunidade a uns, e o cuidado dos pobres e o anúncio do Evangelho a outros.
Ao agradecer a Deus, o Apóstolo manifesta o seu afecto pelos Filipenses. Lembra-se continuamente deles, reza por eles e manifesta a sua alegria por se terem tornado missionários entusiastas. Paulo verifica que o Espírito do Senhor os anima e está certo de que os fará perseverar até à parusia (v. 6). A estima de Paulo pelos Filipenses tem sólido fundamento: partilham a sua missão, não o abandonam durante o cativeiro, e dão-se activamente à evangelização. Por isso, o Apóstolo tem por eles uma especial ternura, fundada na caridade de Cristo. E Paulo reza e augura o crescimento da caridade que os anima, tornando-os capazes de compreenderem em todas as circunstâncias qual é a vontade de Deus, para que a cumpram e se enriqueçam de boas obras. E assim os encontrará o Senhor quando voltar no fim dos tempos. E Deus será glorificado (vv. 9s.).
Evangelho: Lucas 14, 1-6
Naquele tempo: 1Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. 2Achava-se ali, diante dele, um hidrópico. 3Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da Lei e fariseus, disse-lhes: «É permitido ou não curar ao sábado?» 4Mas eles ficaram calados.Tomando-o, então, pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5Depois, disse-lhes: «Qual de vós, se o seu filho ou o seu boi cair a um poço, 6não o irá logo retirar em dia de sábado?» E a isto não puderam replicar.
Jesus aproveita a refeição em casa de um chefe dos fariseus para reafirmar a subordinação da lei do sábado à lei do amor (cf. Lc 6, 1-11; 13, 10-17) e evidenciar a redução hipócrita que dela fazem os doutores da lei e os fariseus. Lucas sublinha como a atenção de todos está centrada em Jesus: «todos o observavam» (v. 1b). É, mais uma vez Jesus que, como no caso da cura da mulher curvada, toma a iniciativa. E levanta, Ele mesmo, a controvérsia sobre a observância do preceito sabático, perguntando: «É permitido ou não curar ao sábado?» (v. 3).
Realizada a cura, Jesus interpela, mais uma vez os seus interlocutores com uma questão retórica que tem subentendida a não observância escrupulosa da lei pelos seus adversários, quando nisso há interesse pessoal (v. 5). O silêncio (vv. 4ª.6), com que reagem às perguntas de Jesus, torna clara a incapacidade de impugnar os argumentos do Mestre e as insuficientes razões com que eles defendem a sua interpretação da Lei.
Meditatio
Jesus desmascara a hipocrisia dos seus adversários que têm dois pesos e duas medidas para julgar, conforme estejam ou não em jogo os seus interesses. Se os seus interesses estiverem em jogo, nem o sábado tem importância. Mas se não estão interessados, então sabem recorrer a todo o tipo de objecções, inclusivamente religiosas. Podemos facilmente ver-nos retratados neste evangelho. Quando estamos interessados numa coisa, movemos tudo e todos para alcançá-la ou realizá-la. Mas se nos pedem algo que não queremos dar ou fazer, encontramos mil argumentos, inclusivamente: «agora tenho que ir rezar!». Peçamos ao Senhor que nos ilumine e torne dóceis ao amor. Então saberemos julgar sem preconceitos interessados, teremos o coração livre, puro e magnânimo, tal como o vemos em Paulo no começo da carta aos Filipenses. O Apóstolo diz-lhes que os leva no coração ou, mais precisamente, «nas vísceras» (segundo o termo grego).e que anseia «por todos com a afeição de Cristo Jesus». O amor de Paulo revela-se muitas vezes nestas linhas: vê o bem, alegra-se com ele… E recorda a cooperação dos Filipenses na difusão do Evangelho. Porque os ama, deseja que a sua caridade cresça e torne possível o discernimento e o cumprimento da vontade de Deus. Quanto precisamos de uma caridade idêntica à de Paulo. Há que pedi-la a Deus.
Paulo mostra-nos que, ao contrário do que dizem alguns antigos lugares comuns, o conhecimento de Jesus, acolhê-lo, segui-lo, faz aumentar (e não diminuir) a nossa humanidade, liberta em nós os sentimentos mais profundos e torna-nos capazes de os manifestar na vida com verdade, intensidade e concreção. E onde se manifesta o amor, aí está Deus, aí é glorificado.
Recordemos as desconfianças em relação a certas amizades, dentro ou fora da comunidade. A prudência não deve levar à pusilanimidade e, muito menos, à obsessão pelo medo de eventuais perigos. Pode haver desvios e abusos, quando a relação entre duas pessoas se manifesta como atracção forte e exclusiva, emocional, mórbida, quando isola as pessoas da comunidade, quando é uma amizade fechada. Mas é preciso lembrar a parábola do trigo e do joio, actuando à maneira do dono (Deus) e não à maneira dos servos precipitados e impacientes que, com o jo
io, arrancaram a boa semente (cf. Mt 13, 24-30). Se assim fizermos, pode ficar por realizar aquela importantíssima formação que leva a gerir a nossa afectividade e a saber distinguir a verdadeira amizade, boa e sadia, da amizade adolescente, ciumenta, possessiva, emocional, mórbida, que fecha as pessoas no seu egoísmo e as inclina para a voluptuosidade.
A amizade, é, em primeiro lugar, um dom do Espírito. Quanto mais entramos na intimidade com Deus ou, melhor, quanto mais Deus nos atrai para a Sua intimidade, «para o Seu do Pai» (Jo 1, 18), por meio de Cristo, especialmente na oração contemplativa, mais bebemos o amor na sua fonte, mais experimentamos o Espírito de amor que se derrama sobre nós e verificamos, por experiência própria, a veracidade da afirmação de Paulo: «O amor de Deus foi derramado nos nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). Verificamos que o amor, não é tanto uma difícil conquista nossa, quanto um dom de Deus. Amamos com um amor verdadeiro porque Deus nos ama.
Oratio
Senhor, quero hoje pedir-te por tantos irmãos e irmãs que, em certos momentos, foram e são mediação do teu amor e da tua ternura para outros irmãos e irmãs. Fortalece-os para que, nas inevitáveis provações, não desistam mas se confirmem e robusteçam na sua opção. Dá a todos nós um coração acolhedor, compreensivo e bom, para que possamos ser apoio dos nossos irmãos, especialmente nas horas difíceis.
Mas livra-nos também, nós to suplicamos, da instrumentalização das leis, mesmo religiosas, e das reduzirmos a um pragmático caminho para o céu. Livra-nos de uma cómoda fé privada. Dá-nos o gosto e a alegria da docilidade ao Espírito, fazendo da nossa vida um serviço ao Evangelho.
Contemplatio
Consideremos agora Jesus nas suas relações com as pessoas amigas e benevolentes. Por toda a parte espalha benefícios e eleva as almas para Deus.
Eis em primeiro lugar as bodas de Caná. Jesus assiste a elas, porque tem laços de parentesco com os esposos. Maria e Ele próprio estão atentos às necessidades desta família e a sua bondade é testemunhado com um belo milagre.
Quando Jesus chama Mateus Levi ao apostolado, aceita uma refeição em sua casa; é para semear um pouco de verdade num meio de publicanos e de mundanos.
Aceita também o convite de Zaqueu, mas que generosidade lhe inspira! Zaqueu dá a metade dos seus bens aos pobres e repara o quádruplo dos danos que pôde causar.
A refeição em casa de Simão de Betânia é muito importante. Jesus queria justificar Madalena e receber a unção que devia pressagiar a sua sepultura próxima. É benevolente para com Simão, mas dá-lhe também úteis lições pondo o seu orgulho farisaico em oposição com a humildade de Madalena.
Jesus acolhe o fariseu Nicodemos que vem vê-lo uma noite para esconder o seu respeito humano. Jesus instrui-o e prepara-o para a fé.
Podemos finalmente considerar Jesus em casa dos seus amigos de Betânia. Como Ele ama esta família! Converte Madalena, encoraja Marta, chora a doença e a morte de Lázaro e ressuscita-o.
Não é proibido ao padre ter amizades puras e sobrenaturais. (Leão Dehon, OSP 2, p. 577).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Seja tudo para glória e louvor de Deus» (cf. Filip 1, 11; cfr Cst 25)

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

XXX Semana – Quinta-feira – Tempo Comum – Anos Pares 27 Outubro 2016 - 27.10.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 6, 10-20
Irmãos: 10Tornai-vos fortes no Senhor e na sua força poderosa. 11Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. 12Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus. 13Por isso, tomai a armadura de Deus, para que tenhais a capacidade de resistir no dia mau e, depois de tudo terdes feito, de vos manterdes firmes. 14Mantende-vos, portanto, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestido a couraça da justiça 15e calçado os pés com a prontidão para anunciar o Evangelho da paz; 16acima de tudo, tomai o escudo da fé, com o qual tereis a capacidade de apagar todas as setas incendiadas do maligno. 17Recebei ainda o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. 18Servindo-vos de toda a espécie de orações e preces, orai em todo o tempo no Espírito; e, para isso, vigiai com toda a perseverança e com preces por todos os santos, 19e também por mim; que, quando abrir a minha boca, me seja dada a palavra, para que, corajosamente, dê a conhecer o mistério do Evangelho, 20de que sou embaixador em cadeias; que, nele, eu possa falar aberta e corajosamente, tal como é meu dever.
No mundo são muitas as forças que se opõem a Deus, e ao seu Flho, Jesus Cristo, forças que tentam afastar a criatura do Criador (v. 11b). Estas forças, que não são facilmente identificáveis, são superiores ao homem (v. 12). Todavia o cristão, que vive em comunhão com o Senhor recebe dele a força necessária para o combate (v. 10). Usando imagens militares, Paulo exorta o cristão, despojado do homem velho no baptismo (cfr. Ef 4, 22; Cl 3, 9), a revestir-se adequadamente: o cinturão, a couraça, as sandálias, o escudo, o elmo, a espada simbolizam a «armadura espiritual» da verdade, da justiça, da paz, da fé, da salvação, da palavra de Deus (vv. 14-17). Trata-se de dons que Deus derrama sobre os baptizados e que eles são chamados a acolher e a pôr em prática para viverem a liberdade dos filhos de Deus, livres do medo e das insídias do maligno, fortes e perseverantes nas provações até à realização dos tempos escatológicos (v. 13).
A oração é o meio indispensável para receber os dons de Deus e levar a bom termo a batalha, isto é, viver e agir como cristão. Não se trata, porém, de uma oração qualquer, mas da oração incessante, animada pelo Espírito Santo (v. 18ª). Paulo alerta para o cansaço e para o desânimo, que podem assaltar-nos. Para evitá-los, é preciso rezar uns pelos outros, também por ele, Paulo, enviado a anunciar o Evangelho.
Evangelho: Lucas 13, 31-35
Naquela dia 31aproximaram se alguns fariseus, que disseram a Jesus: «Vai-te embora, sai daqui, porque Herodes quer matar-te.» 32Respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Agora estou a expulsar demónios e a realizar curas, hoje e amanhã; ao terceiro dia, atinjo o meu termo. 33Mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém.»
Herodes, com os chefes religiosos de Israel, querem matar Jesus. O Senhor, alertado, com ou sem recta intenção, por alguns deles, reafirma a sua fidelidade ao mandato recebido do Pai: anunciar o tempo da salvação definitiva (cf. 2 Cor 6, 2). A expulsão dos demónios e as curas são sinais dessa salvação já presente (v. 32). Não há maldade humana capaz de mudar os desígnios de Deus.
Lucas nota como Jesus está consciente de que vai ao encontro da morte cruenta (cf. Lc 9, 22; 9, 44; 17, 25; 18, 31-33), sorte idêntica à dos profetas (vv. 33-34ª; cf. 6, 22s.). Tal irá acontecer exactamente em Jerusalém, cujo nome curiosamente significa «Cidade da paz». Jesus anuncia a ruína dessa cidade (v. 35ª), uma ruína material (será destruída pelos romanos), mas também uma ruína espiritual, pois, recusando Jesus, não acolhe a realização das promessas.
Mas o evangelista entrevê na aclamação triunfal de Jesus, ao entrar na cidade (cf. Lc 19, 28-39), o acolhimento do Salvador por Israel, no fim dos tempos, quando hebreus e pagãos, convertidos ao cristianismo, aclamarem juntos o Senhor. Verdadeiramente «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm 11, 29).
Meditatio
A luta faz parte da vida cristã. Paulo, na primeira leitura, fala dessa luta. E pode fazê-lo como ninguém, porque sofreu na sua carne oposições, prisões, inúmeras dificuldades.
Também Jesus, no evangelho de hoje, nos aparece rodeado de oposições. Herodes quer matá-lo, e os fariseus aproveitam para se livrarem d´Ele: «Parte, vai te daqui, porque Herodes quer matar te» (v. 31). O próprio Jesus verifica que Jerusalém, em vez acolher aquele que lhe leva a paz, o combate: Jerusalém mata os profetas e lapida os que lhe são enviados.
Temos, pois, que aceitar que a nossa vida cristã, em qualquer das suas formas, também decorra em ambiente de combate. O combate espiritual sempre fez parte da vida cristã. Os velhos monges do deserto viveram-no intensamente, bem como os santos de todos os tempos. É preciso que também contemos com ele e o combatamos quando surgir a ocasião. Hoje parecemos todos pouco dispostos a isso e, ao primeiro embate, de qualquer inimigo, facilmente cedemos. Mas, sem combate, não há vitória.
Algumas questões: Por quem combater? Contra quem combater? Que armas temos à disposição para o combate?
Demos uma resposta cristã a estas perguntas, e não apenas uma resposta espontânea. Por quem combater? Jesus e S. Paulo não combatem por si mesmos. Jesus mostra claramente isso. Querem matá-lo. Se combatesse por si, tomaria as medidas adequadas. Mas, na realidade, não se preocupa consigo: aceita morrer e continua o seu ministério de salvação. Avança para Jerusalém, cidade que mata os profetas.
Paulo também não combate em seu favor. Preocupa-se em anunciar o Evangelho e mais nada. Nem sequer pede aos cristãos que rezem para que seja libertado, para que ganhe o processo, para que os seus adversários sejam reduzidos à impotência. Rezai também «por mim; que, quando abrir a minha boca, me seja dada a palavra, para que, corajosamente, dê a conhecer o mistério do Evangelho, de que sou embaixador em cadeias; que, nele, eu possa falar aberta e corajosamente, tal como é meu dever» (vv. 19-20). O objectivo do seu combate é realizar o ministério, ser fiel à vocação, espalhar a luz de Deus, dar a conhecer o seu amor. E será o nosso amor que animará tudo o que somos, fazemos e sofremos pelo serviço do Evangelho, pela participação na obra de reconciliação, que cura a humanidade, a reúne no Corpo de Cri
sto e a consagra para Glória e Alegria de Deus (cf. Cst 25).
Oratio
Senhor Jesus, nós Te pedimos por todos os irmãos e irmãs que vivem em situações de provação. Que saibam resistir ao desânimo! Que saibam escutar o convite a recorrerem a Ti e não abandonem a Palavra que escutaram, a verdade em que acreditaram, a justiça que acolheram. Queremos especialmente pedir hoje pelos arautos do Evangelho: que, como Tu, perseverem, contra toda a oposição visível ou invisível. Que sejam fiéis à tua vontade, testemunhas da verdade, que por primeiros receberam, com a única preocupação de que sejas conhecido e amado, louvado e agradecido. Amen.
Contemplatio
O melhor meio de adquirir uma força superior à das tentações é unir-se e abandonar-se inteiramente a Nosso Senhor e ao seu divino Coração. – Os motivos sobrenaturais são as únicas armas nas quais uma alma cuidadosa dos seus interesses eternos possa colocar a sua confiança. E entre estes motivos, os mais poderosos são aqueles que excitam mais Nosso Senhor a participar no combate e que nos trazem assim o socorro de uma graça mais abundante.
Nosso Senhor oferece a sua graça a todos, mas embora a sua graça seja gratuita, ordinariamente não a distribui senão em proporção das garantias que recebe. É preciso, portanto, julgar os sentimentos que Ele experimenta para com as almas nesta distribuição das graças segundo os de um bom pai de família para com as pessoas da sua casa. Um bom pai de família ajuda e defende sempre todos os seus bens; mas nos perigos instantes, presta um socorro mais pronto e mais poderoso à sua esposa, aos seus filhos, do que aos seus servos. Entre estes, protege com mais diligência e mais eficácia os que se tornaram mais caros ao seu coração pela sua afectuosa dedicação e pelos seus cuidados. Em último lugar, virão os escravos, que não se mostram fiéis e exactos senão por medo do castigo.
Em que categoria nos havemos de colocar? Não depende de ninguém tornar-se esposa, esta escolha é reservada ao Senhor. Mas depende de nós tornarmo-nos seus filhos afectuosos. A única condição a preencher, é a de nos abandonarmos totalmente a Nosso Senhor e nos confiarmos ao seu divino Coração, como uma criança se abandona à sua mãe, darmo-nos generosamente a Ele, com amor, com o único objectivo de lhe agradarmos, e de lhe provarmos o nosso amor como for do seu agrado pedi-lo.
Quando a generosidade não vai até ao abandono, quando a preocupação pelos direitos que pretendemos ter sobre o próprio senhor, faz que deixemos dominar em nós, apesar de uma real afeição, a preocupação pela recompensa ligada aos nossos serviços, colocamo-nos entre os servos. E se o interesse domina a afeição, descemos ao nível do mercenário e do escravo. (Leão Dehon, OSP, p. 278s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Só Tu, Senhor, és a minha força poderosa» (cf. Ef 6, 10).
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

terça-feira, 25 de outubro de 2016

XXX Semana – Quarta-feira – Tempo Comum – Anos Pares 26 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 6, 1-9
1Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo: 2Honra teu pai e tua mãe – tal é o primeiro mandamento, com uma promessa: 3para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra. 4E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com a educação e correcção que vêm do Senhor. 5Escravos, obedecei aos senhores terrenos, com o maior respeito, na simplicidade do vosso coração, como a Cristo: 6não para dar nas vistas, como quem procura agradar aos homens, mas como escravos de Cristo, que fazem a vontade de Deus, do fundo do coração; 7servi de boa vontade, como se servísseis ao Senhor e não a homens, 8sabendo que cada um, escravo ou livre, será recompensado pelo Senhor, conforme o bem que fizer. 9E vós, os senhores, fazei o mesmo para com eles: deixai-vos de ameaças, sabendo que o Senhor, que o é tanto deles como vosso, está nos Céus e diante dele não há acepção de pessoas.
Não só os esposos, mas também os pais e os filhos hão-de viver em recíproca submissão na comum obediência a Cristo (cf. 5,21). Os filhos hão-de lembrar-se do mandamento: «Honra pai e mãe» (Ex 20, 12ª). A obediência aos pais está relacionada com a obediência a Deus, que a ela liga a bênção, expressa em termos de fecundidade (v. 3; cf. Ex 20, 12b). Aos pais é confiada a tarefa da educação dos filhos. Devem realizá-la com suavidade e cuidado, como servidores da obra de Deus (v. 4). É Ele que dá inspiração e orientação a essa educação.
Também as relações entre os escravos e os seus senhores recebem nova luz da mensagem cristã. Trata-se de relações entre pessoas «ambas» submetidas ao mesmo «Senhor» (v. 9b) que, sem qualquer favoritismo, reconhece e aprecia o bem realizado por cada um, e não o estado social que ocupa (v. 8). Para escravos e senhores vale a palavra do Senhor: «Sempre que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequenos, foi a Mim que o fizestes» (Mt 25, 40). Quando o escravo, obedecendo ao dono obedece a Cristo, o seu serviço adquire um valor religioso, que exclui o servilismo ou a busca de ambíguas recompensas (vv. 5-7). O dono, por seu lado, deve tratar o escravo como trataria a Cristo, isto é, com o coração animado pela caridade, sem arrogância nem autoritarismo (v. 9ª).
Evangelho: Lucas 13, 22-30
Naquele tempo: 22Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. 23Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: 24«Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. 25Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: ‘Abre-nos, Senhor!’ Mas ele há-de responder-vos: ‘Não sei de onde sois.’ 26Começareis, então, a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.’ 27Responder-vos-á: ‘Repito-vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.’ 28Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. 29Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. 30E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.»
O sumário lucano do v. 22 introduz uma nova etapa da viagem de Jesus para Jerusalém. Jesus não responde directamente à pergunta com que abre a nova secção (v. 23), indicando o número dos que se salvam. Mas exorta a estar prontos e solícitos para acolher o Reino que vem. É urgente um compromisso total de todo o nosso ser e forças, como faríamos, se tivéssemos de entrar por uma porta estreita (v. 24). «Hoje» é o momento para esse compromisso: a salvação é o dom de Deus a que se adere fazendo o bem, e não simplesmente reclamando laços familiares com Jesus (vv. 25s.).
A imagem do banquete escatológico, em que participam todos os povos da terra (v. 29), manifesta a salvação oferecida a todos os homens e acolhida por muitos pagãos. Estes, os «últimos» a receber o anúncio do Evangelho, serão os «primeiros» a entrar no reino de Deus, enquanto Israel, o primeiro a ouvi-lo, se verá excluído dele, se não o acolher (v. 30). A salvação não é questão de pertença étnica, mas de fé em Jesus. Não é o ser filhos de Abraão que assegura a salvação, mas o realizar as obras de Abraão (cf. Jo 8, 39) que, na esperança da redenção futura, acreditou e, pela fé foi reconhecido como justo (cf. Tg 2, 23).
Meditatio
No tempo de S. Paulo, a situação social não era melhor que a de hoje: havia escravos e senhores. E não se punha a questão social como se põe hoje, isto é, não se procurava melhorar a condição das classes mais miseráveis e maltratadas, como eram os escravos. De vez em quando, havia revoltas de escravos que eram simplesmente esmagadas. E tudo continuava como dantes. Hoje, pelo contrário, procura-se melhorar a sociedade.
S. Paulo não pensou em novas estruturas sociais, mas procurou transformar as existentes do modo mais profundo. E, se pensarmos bem, o seu método ainda continua a ser o mais decisivo. O papel da Igreja não é criar novas estruturas sociais e económicas, mas introduzir em todos os homens um espírito novo, animado pela consciência da igual dignidade de todos os homens e do amor de Cristo.
Na carta ao Efésios, Paulo prega uma igualdade de fundo. Diz aos escravos: «cada um, escravo ou livre, será recompensado pelo Senhor, conforme o bem que fizer» E diz aos senhores: «Vós, os senhores, fazei o mesmo para com eles… sabendo que para o Senhor…não há acepção de pessoas».
À igualdade fundamental corresponde a igualdade de comportamento. Depois de ter dito aos escravos que sejam obedientes aos senhores como a Cristo, prestando-lhes de boa vontade os serviços, como ao Senhor e não aos homens, Paulo exorta os senhores: «Fazei do mesmo modo para com eles» (v. 9). Esse modo é o «serviço». Os escravos devem servir alegremente os senhores e os senhores devem servir alegremente os escravos. Se assim não for, não terão feito algo de bom e serão julgados e condenados.
É uma verdadeira reviravolta. Paulo não prega a liberdade por meio das reivindicações: quer suscitar em todos a vontade de servir, de prestar um serviço que, no fundo, é serviço de Deus: «servi de boa vontade, como se servísseis ao Senhor» (v. 8). Se assim for, toda a sociedade mudará naturalmente e concretizar-se-á uma igualdade fundamental.
Esta é uma pregação mais difícil do que a da viol&ecirc
;ncia e das reivindicações. Mas é esta a perspectiva cristã, a única que corresponde à caridade divina: amar a todos, também aqueles contra quem temos de lutar. É esta a «porta estreita» pela qual Jesus nos convida a entrar: a porta estreita da caridade, que exige renúncia mas se abre à verdadeira vida, onde o coração se dilata até às dimensões de Deus.
Estes ensinamentos de Paulo podem servir à nossa vida religiosa. Na Congregação: «São todos iguais na mesma profissão de vida religiosa, sem qualquer distinção a não ser a dos ministérios» (Cst. 8). Esta igualdade é unidade na diversidade dos ministérios, e, portanto, dos carismas dados pelo Espírito. O importante é que todos se amem reciprocamente, levando «fraternamente os fardos uns dos outros numa mesma vida comum» (Cst. 8), que é um dom do Pai. As nossas comunidades, onde há vários ministérios, onde há superiores e súbditos, hão-de ser um reflexo da família trinitária (cf. Jo 17, 21-23). Vivendo o «sint unum», tão caro ao Pe. Dehon, realizaremos pessoal e comunitariamente a nossa missão de “Oblatos” (Cst. 6) na Igreja, em favor de Cristo “Para que o mundo creia que Tu (Pai) me enviaste” (Jo 17, 23).
Oratio
Senhor, faz-me compreender e assumir que a comunhão contigo se realiza desde já, sobre a terra, e se há-de prolongar para além da morte. Faz-me compreender e assumir que essa comunhão se realiza fazendo o bem, servindo alegre e generosamente todos os nossos irmãos, pois a fé se torna necessariamente amor que caracteriza as nossas relações com os outros. Faz-me compreender e assumir que a família, a comunidade, a paróquia, são lugares para traduzir a minha fé em relações e comportamentos verdadeiramente fraternos. Que eu saiba levar os fardos dos outros; que respeite os carismas dos meus irmãos, e saiba pôr os meus ao seu serviço. Que, em tudo e sempre, eu contribua para o «sint unum». Para que o mundo creia! Amen.
Contemplatio
O Coração sacerdotal de Jesus foi particularmente dedicado às classes populares.
Era necessário renovar o mundo. Em Roma, a escravatura era como um animal de carga. Dez milhões de cidadãos eram servidos por cem milhões de escravos. Na Palestina, os fariseus eram arrogantes e sem coração.
Só um Deus podia dizer aos homens: «Vós sois todos irmãos» (Mt 23). «Amai-vos uns aos outros» (Jo 15).
É a missão de Jesus, foi sob este aspecto que os profetas no-lo apresentaram: «Será totalmente penetrado pelo Espírito de Deus, trará a boa nova aos pequenos e aos humildes, remediará todos os infortúnios, pregará o grande jubileu, com o perdão das dívidas e a reabilitação dos pobres» (Is 61).
Toda a reforma económica e social está em germe nos princípios que coloca: a paternidade divina e a fraternidade de todos os homens.
Dá o exemplo da simplicidade e do trabalho. Escolheu a oficina para sua morada, os pastores para os seus primeiros adoradores. É operário e filho de operário. Vede-o em Nazaré com a mesa e os utensílios do carpinteiro. Despreza a riqueza, o luxo e as honras. Reclama para os operários a justiça, o respeito, a afeição fraterna.
1º A justiça. – «O trabalhador tem direito ao seu salário, ao seu pão, ao que exige a sua vida quotidiana: Dignus est operarius mercede sua, cibo suo» (Mt 10; Lc 10).
S. Tiago desenvolve este preceito: «Ricos avarentos, exclama, os vossos tesouros atrairão a cólera de Deus sobre vós. Os vossos trabalhadores sofreram nos vossos campos e só lhes destes um salário tardio e insuficiente» (Tg 5).
2º Respeito. – «Bem-aventurados os que são mansos, pacíficos e misericordiosos» (Mt 5). – «Aquele que não tem cuidado com os seus servos é mais desprezível do que um pagão» (1 Tm 5).
3º A afeição fraterna. «Vós sois todos irmãos» (Jo 15). «Não deve haver entre vós distinção entre escravos e homens livres. Non est servus neque liber» (Gl 3). «Amai e praticai a fraternidade» (1 e 2Pd; 1Ts 4). (Leão Dehon, OSP 2, p. 603s.)
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Amai e praticai a fraternidade» (1 e 2Pd; 1Ts 4)
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

XXX Semana – Terça-feira – Tempo Comum – Anos Pares 25 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 5, 21-33
Irmãos: 21Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo: 22as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, 23porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja – Ele, o salvador do Corpo. 24Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo. 25Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, 26para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. 27Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. 28Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. 29De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; 30porque nós somos membros do seu Corpo. 31Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. 32Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja. 33De qualquer modo, também vós: cada um ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher respeite o seu marido.
Paulo falou demoradamente da vida nova em Cristo (cfr. Ef 4, 17-5,20). Agora vai falar das relações familiares e logo nos oferece (v. 21) uma chave de leitura para toda a secção: unido a Cristo pelo baptismo, o cristão orienta toda a sua vida para o serviço e para a obediência. Hoje escutamos a sua palavra sobre a relação marido-mulher: Como Cristo ama a Igreja, se entrega totalmente a ela, e a cobre de cuidados e atenções, assim o marido deve fazer com a sua mulher (v. 25); como a Igreja responde ao amor de Cristo com a obediência e a submissão, assim a mulher deve fazer em relação ao seu marido (vv. 22-24). O amor de Cristo pela Igreja é, pois, modelo do amor conjugal. É o grande mistério que o Apóstolo anuncia (v. 32).
As exortações são iluminadas e motivadas por alusões ao baptismo. No baptismo, Cristo mostrou o seu amor pela Igreja, tornando-a pura, esposa digna. Nada pode ofuscar a sua beleza ou ser pretexto para o repúdio. Cristo é o garante da fidelidade.
A exortação dirigida ao marido, para que ame a mulher, é valorizada pelo exemplo do corpo (v. 28): a mulher é parte do corpo do marido, uma vez que o matrimónio fez deles uma só carne, tal como a Igreja é parte do único corpo de Cristo. «Alimentar» e «cuidar» são acções do amor que tutela a vida (vv. 29-31).
A insistência na submissão da esposa deve entender-se no contexto da sociedade patriarcal, em que a supremacia do homem era indiscutível, e a mulher era considerada propriedade do marido (cf. Ex 20, 17s.). Com o paralelismo das relações marido-mulher, Igreja-Cristo, a concepção patriarcal assume uma nova tonalidade: a submissão ao marido, repetidamente exortado a amar a mulher, parece assumir o significado de uma resposta ao amor oferecido, mais do que uma passiva sujeição a uma autoridade de que se reconhece o direito natural.
Evangelho: Lucas 13, 18-21
Naquele tempo, 18Disse Jesus: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? 19É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.» 20Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? 21É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.»
Depois de se ter manifestado como senhor do tempo, ao curar a mulher curvada em dia de sábado, Jesus manifesta-se como o «hoje» da salvação que se realiza no amor. O reino de Deus está no meio de nós. As duas parábolas do texto evangélico que escutamos hoje revelam-nos duas características desse reino: a sua grande expansão e a sua força transformadora.
Entre as várias narrativas parabólicas que Lucas coloca ao narrar a caminhada de Jesus para Jerusalém, apenas estas duas se referem ao reino de Deus. Esse reino tem uma grande expansão no mundo, graças à pregação dos discípulos. Os modestos começos do ministério de Jesus têm um grande desenvolvimento: a sua palavra que ecoa no mundo inteiro e da qual todos recebem vida, é comparável à árvore cósmica de Daniel (4, 7ª-9), cuja imagem é evocada no crescimento do arbusto de mostarda (vv. 18s.).
Outra característica do reino de Deus é a sua força intrínseca, que realiza um crescimento qualitativo no mundo. Como um pouco de fermento escondido na massa inerte de farinha provoca o seu crescimento, assim o reino de Deus, pela evangelização animada pelo poder do Espírito Santo, transforma todo o mundo, sem qualquer discriminação.
Meditatio
A primeira leitura pode levar-nos a meditar no amor que une o homem e a mulher, e que fazem deles imagem e semelhança com Deus, é a maior e a mais significativa expressão da existência humana. Mas tal não acontece quando esse amor é aviltado, ao ser reduzido a necessidade e a prazer, a exigência psico-biológica, o que pode suceder também entre os cristãos.
As parábolas sobre o Reino animam-nos à confiança e à paciência. À confiança, porque o Senhor nos revela que o reino de Deus cresce em nós. É semelhante a uma pequena semente, mas tem uma grande força, semelhante à de um pouco de fermento que faz levedar três medidas de farinha. O fermento não se vê, mas actua em segredo, tal como a semente está escondida na terra, mas está viva e pode dar origem a uma grande árvore.
O Reino tem, pois, uma grande força dinâmica. Ora, esta força está em nós, porque Deus está em nós, actua em nós para transformar a nossa vida. Por enquanto não vemos o que faz: está escondido, é segredo, mas certamente faz grandes coisas.
A única condição é misturar o fermento em todas as medidas de farinha, como faz a mulher ao amassar. Fora de comparações: devemos guardar em nós este fermento e misturá-lo na nossa vida na oração, na reflexão, na decisão firme; devemos amassar sempre em nós o bom trigo do Evangelho com a nossa vida, não separar a nossa vida da palavra do Senhor, confrontar-nos em todas as situações com as propostas de Jesus, com a sua presença em nós.
O fermento é, também, o pão eucarístico que cada dia nos é oferecido. Recebendo o Corpo real de Cristo, podemos deixar-nos transformar em cada vez mais, e mais profundamente, no Corpo Místico de Cristo.
Acolhendo em nós o Palavra e o Pão, podemos caminhar com confiança e paciência rumo à santidade e pôr-nos ao serviço do Senhor, «contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo» (Cst.
32), para que, «a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rom 15,16)» (Cst. 31). Assim seremos fermento, luz, sal, testemunhas da «presença de Cristo» entre os homens e do «Reino de Deus que vem» (Cst. 50) ou, «com a graça de Deus, pela nossa vida religiosa, dar um testemunho profético, empenhando-nos sem reserva, no advento da nova humanidade em Jesus Cristo» (Cst n. 39).
Oratio
Meu Deus, quão grande é o teu mistério! Quando me abro a ele, tremo de espanto. Tu manifestas a tua verdade, isto é, o teu amor pessoal oferecido a todos os homens, por meio da minha frágil existência. Manifesta-lo na união do homem e da mulher. Que a tua vontade se cumpra plenamente em mim, se cumpra em todos os meus irmãos, concretamente naqueles que são chamados à vida matrimonial, para que todos sejamos fermento de vida e de transformação para o mundo em que vivemos e constróis o teu Reino.
Que toda a comunidade humana, transformada pela Palavra e pelo Pão eucarístico, que o teu Espírito torna eficazes, se transforme em oblação santa e agradável para tua glória e alegria. Amen.
Contemplatio
O sacramento da Eucaristia, a maravilha da omnipotência divina, é também o prodígio do amor do Coração de Jesus pelos homens. É por isso que o apóstolo S. João recorda a sua instituição com estas simples palavras: «Como Nosso Senhor tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim».
Este sacramento mostra que não se deve ter medo de ir ter com Nosso Senhor pelos afectos do coração. É fácil compreender que a comunhão do corpo e do sangue de Nosso Senhor é um prodígio de afecto e de amor terno.
No sacramento do altar, Nosso Senhor está vivo. Lá é Deus e homem, homem em corpo e alma. Funde-se total e simultaneamente no corpo e na alma do comungante. Não é isto uma loucura de amor e de amor terno? Somente o seu Coração, o seu Coração transbordante de amor pôde encontrar uma semelhante loucura que exigia pôr em acção todo o seu poder divino. Pôs todo o seu poder ao serviço das loucuras da sua ternura. À loucura da cruz, juntou a loucura de uma comunicação tão íntima que os homens têm dificuldade em concebê-la. É verdade que a sua carne se funde na carne do comungante, a sua alma na alma, o seu coração no coração do fiel, e este abraço inspirado pelo Coração de Jesus ardente de amor dura enquanto durarem as espécies sacramentais. Ele disse: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele».
Há na santa comunhão, diz S. Cirilo, como dois círios que se fundem e juntos se misturam.
O mesmo Padre aplica à Eucaristia o exemplo que S. Paulo dá do fermento que ganha toda a massa da farinha: «Assim, diz, a Hóstia enche todo o homem com a sua graça». (Leão Dehon, OSP 3, p. 664s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«O Reino de Deus é semelhante ao fermento» (cf. Lc 13, 21).
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

domingo, 23 de outubro de 2016

XXX Semana – Segunda-feira – Tempo Comum – Anos Pares 24 Outubro 2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum – Anos Pares
XXX Semana – Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Efésios 4, 32 – 5,8
Irmãos: 32Sede bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo.1Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, 2e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor. 3Mas de prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância nem sequer se fale entre vós, como é próprio de santos; 4nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; são coisas que não convêm; haja, sim, acção de graças. 5Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso – o que equivale a idólatra – tem herança no Reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. 7Não sejais, pois, cúmplices deles. 8É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz.
O baptizado vive em Cristo e é morada do Espírito Santo (cf. Ef 2, 10; 2, 22). Sendo assim, a sua vida e as suas acções devem estar em harmonia com a verdade e a caridade (cf. Ef 4, 5), e contribuir para a comunhão na comunidade (cf. Ef 4, 16). Benevolência, misericórdia e perdão mútuo devem caracterizar as relações entre cristãos, que sabem ter recebido gratuitamente o amor de Deus em Cristo (Ef 4, 32). O nosso modo de agir dos cristãos há-de ser idêntico ao modo de agir de Deus. Vêm-nos à mente as palavras de Jesus: «Sede misericordiosos como o vosso Pai» (Lc 6, 36). Os cristãos, filhos adoptivos de Deus, hão-de viver naquele amor de que Jesus dá exemplo na sua entrega total (Ef 5, 2; cf. Jo 15, 13).
A vida nova em Cristo comporta o abandono de hábitos e tendências que não condizem com o amor. Paulo indica uma série de acções que, manifestando uma relação desordenada com a sexualidade e com os bens, que não têm em conta o único senhorio de Jesus Cristo e do Pai (vv. 3-5). O prazer e o ter, tornados ídolos, as palavras ocas e vulgares, apenas merecem condenação por parte de Deus e exclusão do seu Reino. Daí o insistente convite do Apóstolo a que os Efésios cristãos não sigam aqueles que os querem associar à sua rebelião contra Deus, onde se encontravam antes do baptismo (vv. 6s.). Depois de iluminados pela graça do sacramento, não vivam nas «trevas» do afastamento de Deus, mas na «luz» da comunhão com Ele, uma vez que são filhos.
Evangelho: Lucas 13, 10-17
Naquele tempo, 10Ensinava Jesus numa sinagoga em dia de sábado. 11Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há dezoito anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. 12Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» 13E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus. 14Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.» 15Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? 16E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há dezoito anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» 17Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava.
Jesus prossegue a caminhada para Jerusalém, onde se irá manifestar e onde irá realizar a sua missão salvífica. Lucas coloca ao longo desta caminhada os ensinamentos de Jesus aos discípulos. Eles são chamados a percorrer o mesmo caminho do Mestre, a partirem de Jerusalém (cf. 24, 47; Act 1, 8).
O milagre da cura da mulher curvada é narrado apenas por Lucas. Jesus realiza-a ao sábado, provocando a indignação do chefe da sinagoga. O Senhor aproveita o ensejo para reafirmar o essencial da mensagem evangélica: o amor de Deus, revelado por Jesus, libertando o homem da Lei, que, tendo sido dada para lhe garantir a liberdade, acabara por torná-lo escravo. O amor de Deus é absolutamente gratuito: Jesus curou a mulher sem que ela o pedisse (v. 12). Com o seu gesto, Jesus afirma que o sábado está ao serviço da vida: para quem ama a Deus, deixar de fazer o bem, significa fazer o mal. E é efectivamente “mal” o desprezo do chefe da sinagoga (v. 14); e são “mal” os pensamentos dos adversários de Jesus, para quem o anúncio do reino se torna vergonha (v. 17ª).
A palavra de Jesus realiza o que diz. Os seus gestos nada têm a ver com o espectáculo que davam os taumaturgos orientais. Jesus liberta do espírito maligno, origem do mal, que deforma a imagem do homem (cf. Gn 1, 26ss.), tornando-o escravo, incapaz de erguer os olhos para o Criador (cf. Sl 121, 1; 123, 1). Restituído à dignidade da relação vital com Deus, o homem é cheio de alegria e dá glória ao seu Senhor e Salvador exaltando as suas obras maravilhosas (vv. 13b.17b).
Meditatio
Se tivéssemos assistido à cena que o evangelho de hoje nos refere, não sei de que parte nos colocaríamos. Do lado de Jesus? Do lado do chefe da sinagoga? Hoje, que já conhecemos o Evangelho, colocávamo-nos naturalmente do lado de Jesus. Mas, na vida concreta, facilmente raciocinamos como o chefe da sinagoga!
O cristão é uma pessoa livre da opressão dos seus limites de criatura. Eles não impedem a sua relação pessoal com Deus, porque o próprio Deus a tornou possível em Jesus Cristo. O cristão está livre de qualquer vínculo que torne pesada a convivência humana: o seu único vínculo é o amor, que promove a vida de todos e anima a todos a fazer o bem. Como testemunhar este dom de liberdade? Um modo concreto é comportar-nos no dia a dia como Jesus se comportou, tornando visíveis nos nossos ambientes os atributos de Deus, tais como a misericórdia, o perdão, a benevolência. Mas esse estilo de relação com os outros, muito frequentemente, entra em choque com o da maioria das pessoas. Será que, viver em comunhão com Deus, nos afasta dos outros? Pode acontecer, porque a proposta de um amor que se dá inteiramente se torna incómoda, enquanto que a riqueza, o poder e o sexo se apresentam como mais atraentes. Mas, o cristão, e particularmente o religioso, não podem hesitar na atitude a tomar…
As Constituições lembram-nos que, «pela Sua morte e ressurreição (Cristo) abriu-nos ao dom do Espírito e à liberdade dos filhos de Deus (Rom 8, 21)» (Cst. 11). Jesus fez da Sua morte e ressurreição um Pentecostes. S. João descreve assim a morte de Jesus na cruz: «E inclinando a cabeça, rendeu o espírito» (Jo 19, 30). Em sentido literal,
a expressão significa exalar o último suspiro, expirar. Em sentido místico, frequente em S. João, preanuncia o dom do Espírito (“paradoken to pneuma”= deu o espírito). Esse dom tornou-se imediatamente expresso, na transfixão, pelo sinal da “água” (Jo 19, 34), que brota ao golpe da lança do soldado; dom do Espírito derramado pelo Ressuscitado sobre os discípulos na tarde do dia de Páscoa: «Soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo” »(Jo 20, 22). O Espírito é dom amor e «onde está o Espírito há liberdade» (2 Cor 3, 17). É essa liberdade que somos chamados a viver e a testemunhar no nosso mundo, pretensamente livre, mas dominado por tantos preconceitos, e pelas paixões mais desenfreadas.
O Espírito liberta-nos realmente, até de nós mesmos. Basta pensar nos seus preciosos frutos (cf. Gl 5, 22) particularmente no “auto-domínio”, quando, nos nossos pensamentos, desejos, afectos, palavras, acções não nos deixamos guiar pelo nosso eu (egoísmo), mas pelo Espírito de Deus. O mesmo Espírito nos coloca ao serviço da libertação dos homens, em qualquer tempo e circunstância porque, depois de Deus, o mais valioso é o homem concreto.
Oratio
Senhor, sabes quanto desejo erguer os meus olhos para os grandes ideais que me apresentas e vêm ao encontro dos mais profundos anseios da humanidade. Mas também sabes que, muitas vezes, me fico pelo meu próprio egoísmo. Quantas vezes, sentindo o apelo das alturas, me fico por voos rasos. Quantas vezes anseio pela felicidade que és Tu, e me contento com satisfações epidérmicas e passageiras.
Toma, Senhor, mais uma vez, a iniciativa. Restaura em mim a condição em que me deixou o baptismo. Que eu tome consciência da minha dignidade, da minha condição de filho livre para amar e capaz de gestos que libertam cintilas de luz nas trevas da mesquinhez e do egoísmo. Tu és o meu Salvador! Amen.
Contemplatio
Ide, portanto, com confiança. Com o Espírito Santo agindo dentro e a obediência dirigindo de fora, avançareis seguramente na via do amor. Ultrapassareis todas as dificuldades. – Vir obediens, loquetur victorias: O homem obediente cantará vitória (Prov. 21). Sereis conduzidos como pela mão, e não vos perdereis. – Qui agunt omnia cum consilio, reguntur sapientia: Aqueles que tomam conselho para agir são conduzidos pela sabedoria (Prov. 13), evitareis a censura que a Escritura dirige muitas vezes aos presunçosos. – Ne innitaris prudentiae tuae: Não vos confieis na vossa própria prudência (Prov. 3). Esses são insensatos e caem no perigo, enquanto os prudentes e os humildes lhe escapam. – Sapiens timet et declinet a malo; stultus transilit et confidit: O sábio teme e escapa do mal; o insensato é presunçoso e cai (Prov. 14). (Leão Dehon, OSP 2, p. 111).
Actio
Repete muitas vezes e vive a palavra:
«Cristo amou-me e entregou-se por mim» (cf. Ef 5, 2).
| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/