segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Advento - Primeira Semana - Quarta-feira - 02.12.2015


Tempo do Advento Primeira Semana - Quarta-feira

Lectio
Primeira leitura: Is. 25, 6-10a
6*No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações. 8*Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces, e eliminará o opróbrio que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou. 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 1 DA mão do Senhor repousará sobre este monte.»
o banquete simboliza a comunhão, o diálogo, a festa, a vitória. O banquete anunciado por Isaías celebrará a derrota, por Deus, dos poderes que subjugam o homem, mas também a realeza universal do mesmo Deus. Esse banquete será oferecido em Sião, símbolo da eleição de Israel.
Como era costume, o Rei, ao ser entronizado, oferece presentes aos convidados.
O primeiro é a sua presença, e a sua manifestação aos povos: «arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações» (v. 7). Outro presente será a aniquilação da morte. Finalmente, o próprio Deus passará a enxugar as lágrimas de todas as faces, a consolar todos os que sofrem. É o terceiro dom, um dom personalizado.
Esta esperança baseia-se unicamente na promessa de Deus, e não em cálculos humanos: «Foi o Senhor quem o prodsrnoo» (v. 8). É uma esperança segura. Por isso, irrompe o hino de louvor, ainda antes da realização da promessa da salvação. Deus não falha: «Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua sstvsçêo. (v. 9).


Evangelho: Mt. 15, 29-37


29Naquele tempo, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. 3DVieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés. Ele curou-os, 31 *de sorte que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos: os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. 32*Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 330s discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 350rdenou à multidão que se sentasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 37*Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos.
Mateus apresenta-nos um magnifico quadro em que Jesus que cura os doentes e dá a todos o pão, sinal do banquete messiânico. Assim revela a sua compaixão para com a multidão que O seguiam. Os discípulos nem tinham reparado na fome e falta de meios daquela gente. Por isso, antes de fazer o milagre, Jesus chama-os e convida-os a participar da sua compaixão para com os pobres e carenciados.
Mateus narrara, pouco antes, uma viagem de Jesus a terra estrangeira (15, 21), o que nos permite pensar que a multidão fosse formada, pelo menos em boa parte, por pagãos. O evangelista, que sabe que a missão universal é pós-pascal, quer sublinhar que a compaixão de Deus, manifestada em Jesus, abrange todos os povos. Na primeira multiplicação dos pães (Mt 14, 13-21), Jesus tinha-se revelado o bom pastor de Israel. Agora, também os pagãos são convidados para o banquete messiânico.
Os pães que sobejam mostram que nesse banquete há sempre lugar para todos. O número 7 dos cestos do pão que sobejou, bem como o número 4.000 dos que comeram, simbolizam, mais uma vez, o tema da salvação universal, que Jesus tem em mente.

Meditatio
Todos nós sentimos um forte desejo de felicidade. Foi Deus que pôs em nós esse desejo, para que O procurássemos. Por isso quer satisfazer-nos.
Na liturgia de hoje, Deus promete-nos o fim das nossas penas e muita felicidade. De facto as leituras são uma ilustração coerente do rosto de Deus, que vem curar a humanidade ferida e satisfazer o nosso desejo de salvação. Desejamos essa salvação, mas só Deus no-Ia pode dar, iluminando os nossos corações ameaçados pelo não conhecimento d ' Ele e pelo desânimo. Reconhecemo-nos a nós mesmos no meio da multidão de pobres e doentes que se acotovelam ao redor de Jesus, pois n ' Ele descobrem Deus hóspede da humanidade, que cura os doentes e a todos oferece uma refeição, símbolo do banquete eterno para o qual vem convidar todos os homens. Por isso, todos nos sentimentos também convidados a proclamar o poder do Hóspede divino, que vence a dor e a morte, que prepara o banquete para todos os povos, e a contemplar o seu rosto. De facto, a misericórdia divina assume para nós os contornos do rosto e dos gestos de Jesus que cura os doentes e sacia as multidões famintas que O seguem. Na compaixão de Jesus, torna-se visível, para nós, o rosto de um Deus, médico que cura a nossa humanidade cansada e doente. Nele encontramos o divino e generoso Hóspede que nos acolhe à sua mesa e declara quanto somos importantes e preciosos aos seus olhos.
Ao lermos este evangelho no Advento, podemos ver nele alguns símbolos da Incarnação. Jesus fez-se homem porque teve compaixão dos homens e lhes quis dar de comer. Para poder dar-nos a sua carne e o seu sangue, pediu a colaboração da Virgem Maria. Mais tarde pedirá aos Apóstolos para estarem disponíveis, isto é, para darem o que têm para que Ele possa multiplicar o pouco de que dispõem e responder aos grande problemas do mundo.
O mesmo quer continuar a fazer nos nossos dias. Por isso nos mostra as necessidades do mundo de hoje, nos sensibiliza para elas e nos pergunta: «Quantos pães tendes?» Pede-nos para pormos à disposição de todos o pouco que temos, pede¬nos disponibilidade, para continuar a sua obra de salvação, de libertação.

"A nossa união com Cristo" (Cst. 18), "no seu amor pelo Pai e pelos homens" (Cst. 17) manifesta-se, não só "na escuta da Palavra e na partilha do Pão" (Cst. 17), mas também "na disponibilidade e no amor para com todos" (Cst. 18).
Foi na disponibilidade e no amor para com todos que o Pe. Dehon realizou a sua "solidariedade" afectiva e efectiva com Cristo. Daí o seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as insuficiências pastorais da Igreja do seu tempo" (Cst. 5). Foi assim que realizou o "carisma profético" de oblato na "oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens" (Cst. 6), fazendo de "toda a sua vida ... uma missa permanente' (Cst. 5), um dom para Deus e um dom para os homens.


Oratio
Senhor Jesus, queremos juntar-nos àqueles que, há dois mil anos, e ao longo dos séculos, procuraram em Ti a saúde, a consolação e o alimento que sacia para a vida eterna. Sara as nossas feridas do passado, os nossos males do presente e fortalece-nos para o futuro. Consola-nos com o teu amor, mata-nos a fome com o teu pão de cada dia, e com o Pão eucarístico. Sacia-nos com o teu Espírito.
Aumenta em nós a feliz esperança, a tensão para o banquete da vida plena e definitiva que, com o Pai, preparas para todos os povos.
Nós Te bendizemos pela tua compaixão para com os pobres e sofredores, aos
quais revelas o amor misericordioso do Pai.
Nós Te bendizemos pelo pão de cada dia, sinal da tua solicitude por nós. Nós Te bendizemos pelo Pão da Eucaristia, alimento das nossas almas.
Aumenta em nós a caridade para que, na partilha e no serviço, possamos ser verdadeiras testemunhas do teu imenso coração de pastor, que cuida e apascenta as suas ovelhas.


Contemplatio
«A terceira virtude que é preciso honrar no Sagrado Coração, diz ainda o P.
Cláudio de la Colornbíêre, é a sua compaixão muito sensível pelas nossas misérias, o seu amor imenso por nós apesar destas mesmas misérias, e, apesar destes movimentos e impressões, a sua igualdade inalterável causada por uma conformidade tão perfeita à vontade de Deus, que não podia ser perturbada por nenhum aconteci mente».
Não foi na misericórdia do seu Coração que ele nos visitou: Per viscera misericordiae in qulbus visitavit nos (Lc 1, 78). Quando Jesus encontra doentes, mortos, o seu Coração não pode resistir às lágrimas daqueles que os envolvem. Emudecido de piedade, cura-os, dá-lhes a vida: misericordia motus(lc 7, 13).
Vendo a multidão sem provisões para a sua refeição, tem compaixão dela: misereor super turbam (Lc 10, 33).
«Este Coração está ainda, quanto isso ainda possa ser, nos mesmos sentimentos, observa o P. Cláudio de la Colombíere, está sempre ardente de amor pelos homens, sempre aberto para espalhar todas as espécies de graças e de bênçãos, sempre tocado pelos nossos males, sempre pressionado pelo desejo de nos dar a participar nos seus tesouros e a dar-se a si mesmo a nós, sempre disposto a nos receber, e a nos servir de asilo, de morada e de paraíso, desde esta vida».
Mantendo-me unido ao Coração de Jesus e meditando nos seus mistérios, participarei cada vez mais nas suas virtudes (leão Dehon, OSP 3, p. 668s.).



Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: « Tenho compaixão desta gente» ele 15, 32).



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Advento - Primeira Semana - Terça-feira - 01.12.2015


Tempo do Advento
Primeira Semana - Terça-feira


Lectio
Primeira leitura: Is. 11, 1-10


Naquele tempo: 1 *brotará um rebento do tronco de Jessé. e um renovo brotará das suas raízes. 2*Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e temor do Senhor. 3Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; 4mas julgará os pobres com justiça, e com equidade os humildes da terra; ferirá os tiranos com os decretos da sua boca, e os maus com o sopro dos seus lábios. 5A justiça será o cinto dos seus rins, e a lealdade circundará os seus flancos. 6Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo delter-se-e ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. 7A vaca pastará com o urso, as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. 8A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. 9Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar. 10*Naquele dia, a raiz de Jesse, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será gloriosa a sua morada.
Num cenário de desolação, brota «um rebentos, sinal de vida e de bênção. Brota do tronco da família de David, provada pelas tragédias da história e pela infidelidade do pecado. Mas Deus é fiel e não esquece a promessa de estabelecer para sempre o trono de David. A referência ao «tronco de Jessé», pai de David, lembra que Deus faz maravilhas, não com o David humanamente poderoso, mas com o David criança, fraco diante dos homens, mas amado e escolhido (cf. 1 Sam 16, 1-13).
O dom do Espírito (v. 2) é o dom divino por excelência aos chefes libertadores de Israel, aos juízes carismáticos, aos profetas e aos sacerdotes, aos sábios. Mas era um dom parcial e instável. Mas um descendente de David irá recebê-lo totalmente e de modo duradoiro: «Sobre ele repousará o espírito do senhor- (v. 2). O menino real receberá a totalidade dos dons e dos carismas, que se revelarão num governo justo.
A última parte do texto tem alcance universal: o reino deste menino não se limitará a Jerusalém, mas abrangerá a humanidade inteira e a própria criação. Com ele, aparecerá um mundo totalmente renovado, reconciliado, quase um "novo paraíso", cujo centro é monte santo de Deus, cuja presença será pacificadora e vitoriosa sobre todo o mal. E o «conhecimento do Senhor» (v. 9) inundará a terra.


Evangelho: Lc. 10, 21-24


21 *Naquele tempo, Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, Ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi
do teu agrado. 22*Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23*Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque, digo-vos, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouvirem!»
Jesus reconhece a verdade da sua vocação de Filho na fé dos pequenos, daqueles que os homens da religião, julgam desfavorecidos mas que, com gratidão e humildade, acolheram a pregação dos 72 discípulos. Tudo isto é descoberto e celebrado na força do Espírito que torna o homem capaz de ler os acontecimentos à luz da vontade de Deus.
A exultação de Jesus deixa-nos entrever a qualidade dos eventos pelos quais se manifesta a sua vocação filial. Apesar do insucesso da sua missão, e do parcial sucesso da dos discípulos, dá graças ao Pai pelos seus imperscrutáveis desígnios, que abrem o mistério do Reino aos pequenos e humildes e o fecham aos soberbos.
Jesus admira o "conhecimento" que o Pai tem dele e exalta o conhecimento que o mesmo Pai Lhe dá do seu projecto de salvação. Mais ainda: Jesus introduz neste conhecimento de Deus os seus amigos, aqueles que aceitam participar na familiaridade que O liga ao Pai (v. 22). Essa participação é a verdadeira bem-aventurança dos discípulos, que já não vivem à espera, mas usufruem da presença da salvação (v. 23) há muito esperada por Israel.


Meditatio
O Advento é tempo de esperança e de desejo. Esperamos e desejamos a manifestação do Senhor. A liturgia ajuda-nos a manter vivos e a aprofundar esses sentimentos. O conhecimento do Senhor será a nossa felicidade: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver».
Mas Deus actua e revela-Se de modo imprevisível, confundindo a sabedoria humana. Os caminhos de salvação, que nos faz percorrer, são inesperados, como sugere o tema do «rebento do tronco de Jessé«. O rebento, que desponta de um tronco cortado, no meio de um bosque devastado, recorda a fidelidade de Deus à sua promessa e o privilégio que, aos seus olhos, têm os humildes e pequenos.
Cada um de nós pode ser um desses privilegiados, se acolher o dom do Espírito que repousa sobre Jesus, o rebento messiânico. E como Jesus, pela força do Espírito, soube discernir nos êxitos controversos da sua missão o plano sábio de Deus, também cada um de nós poderá alegrar-se com a atenção e o carinho que Deus reserva aos pobres e simples. Cada um de nós poderá fruir da revelação do mistério do amor do Pai e entrar numa relação de comunhão e intimidade com Ele. Jesus, o Verbo Incarnado, vem oferecer-me a vida filial, a verdadeira sabedoria, o dom do Espírito com que Deus quer encher-me e encher o mundo inteiro. Portanto, há que acolher Jesus, pois Ele é o verdadeiro sinal do céu que Deus nos envia para nos dar a conhecer o seu amor. E dá-o a conhecer, não por gestos espectaculares, mas na bondade para com os doentes, no cuidado e paciência em explicar as coisas a espíritos pouco abertos, no gosto em permanecer connosco.
Peçamos à Virgem Maria que nos faça compreender cada vez mais o mistério da Incarnação, que nos alcance de Deus «um espírito de sabedoria e de revelação para descobrirmos e conhecermos verdadeiramente a Cristo Senhor e compreendermos a que esperança fomos chamados" (cf. Ef 1, 17-18) (Cst. 77). A nossa "esperança", que "não desilude" (Rm 5, 5), que é "o único necessário" para nós, é Cristo, e a vida de união com Ele, particularmente na sua oblação (cf. Cst. 26).

Oratio
Senhor Jesus,
Infunde em nós o Espírito de Sabedoria Que nos ensine a viver
E a buscar a verdadeira felicidade;
Infunde em nós o Espírito de Entendimento
Que nos faça penetrar nos segredos do teu coração manso e humilde; Infunde em nós o Espírito de Conselho e de Fortaleza
que nos leve a fazer opções correctas
e a concretizá-Ias com perseverança, paciência e tenacidade; Infunde em nós o Espírito de Ciência
Que nos faça entender a nossa história
À luz do projecto de Deus Pai;
Infunde em nós o Espírito de temor do Senhor que nos leve a colocar a vontade do Pai
no centro dos nossos pensamentos, desejos e projectos.
Infunde em nós o Espírito
Para que o teu amor ablativo caracterize a nossa vida e revele aos pequenos e pobres,
o rosto de Deus Pai. Amen.


Contemplatio
A consideração das belezas infinitas de Deus é bem difícil sobre a terra onde só podemos ver a Deus através de um véu. Mas a contemplação do amor de Deus pelos homens é-nos fácil. Nós vivemos no meio dos benefícios que este amor nos prodigalizou, porque a maior marca do amor de Deus por nós, é o dom do seu Filho único. O amor de Deus é facilitado pelo amor da humanidade santa de Jesus. O amor de Nosso Senhor contemplado sob as formas sensíveis da sua humanidade, é o amor por um Deus, porque Jesus é Deus. É um acto de caridade, porque as afeições por Nosso Senhor são sempre elevadas a esta altura pela graça. É fácil excitar o nosso coração a este género de caridade. As representações das cenas da /155 vida mortal do Salvador, sobretudo as da sua Paixão, são meios ao alcance de todos. Este exercício não custa esforço, basta ter um coração para a ele se entregar. Também as almas simples, estas almas que Jesus ama tanto, porque são almas de filhos, vão direitas a Ele por este meio que o seu coração lhes inspira (Leão Dehon, OSP 2, p. 154s.)


Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos (cf. Lc 10, 21).


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domingo, 29 de novembro de 2015

S. André, Apóstolo - 30.11.2015

André era discípulo de João Batista, e companheiro de João Evangelista. Quando o Precursor apontou Jesus que passava, dizendo: “Eis o cordeiro de Deus” (cf. Jo 1, 35-40) tornou-se imediatamente discípulo do Senhor. Logo a seguir, comunicou a Pedro, seu irmão a descoberta do Messias (cf. Jo 1, 41s.). Jesus chamou a ambos para se tornarem “pescadores de homens” (Mt 4, 18s.). É André que, na multiplicação dos pães indica a Jesus o rapaz que tem cinco pães e dois peixes (Jo 6, 8s.). Com Filipe, André refere a Jesus que alguns gregos O querem ver (Jo 12, 20s.). A tradição reconhece em Santo André o evangelizador da Acaia (Grécia) e em Patras o lugar onde morreu após dois dias de suplício na Cruz, donde anunciou Cristo até ao último momento.


Lectio


Primeira leitura: Romanos 10,9-18

Irmãos: Se confessares com a tua boca: «Jesus é o Senhor», e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou de entre os mortos, serás salvo. 10É que acreditar de coração leva a obter a justiça, e confessar com a boca leva a obter a salvação. 11É a Escritura que o diz: Todo o que nele acreditar não ficará frustrado. 12Assim, não há diferença entre judeu e grego, pois todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam. 13De facto, todo o que invocar o nome do Senhor será salvo. 14Ora, como hão-de invocar aquele em quem não acreditaram? E como hão-de acreditar naquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, sem alguém que o anuncie? 15E como hão-de anunciar, se não forem enviados? Por isso está escrito: Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas! 16Porém, nem todos obedeceram à Boa-Nova. É Isaías quem o diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? 17Portanto, a fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo. 18Mas, pergunto eu, será que não a ouviram? Pelo contrário: A voz deles ressoou por toda a terra e até aos confins do mundo as suas palavras.

A fé leva à salvação quando nos abandonamos a Deus, reconhecendo-O como único Salvador. Mas a fé pressupõe a escuta da Palavra, pela pregação dos missionários. A pregação e a fé têm o mesmo objeto: o mistério de Jesus-Senhor, morto e ressuscitado pelo poder de Deus Pai. Por isso, quando alguém acredita, expropria-se de si mesmo e torna-se propriedade de Deus, garante e fundamento de toda a confiança dos homens n´Ele. Mas também a pregação pressupõe um evento histórico absolutamente necessário: ter sido enviado. Por outras palavras, a pregação pressupõe a missão. A mensagem evangélica, destinada a todos os povos, passa pela escolha que Jesus faz das suas testemunha e pelo seu envio em missão: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.” (Mc 16, 15).


Evangelho: Mateus 4, 18-22

Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 19Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.» 20E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no. 21Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e 22eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no.

Jesus reúne à sua volta alguns discípulos aos quais dirige um especial ensinamento, porque os quer como discípulos e como testemunhas. Depois da Ressurreição, enviá-los-á ao mundo inteiro. Os Doze, de pescadores de peixes, tornam-se pescadores de homens. É o que Jesus lhes garante: “farei de vós pescadores de homens” (v. 19). André, com o seu irmão Simão, é um dos primeiros a ouvir o chamamento de Jesus e a segui-l´O. Mateus realça a prontidão com que o fizeram: “E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no.” (v. 20). O seguimento de Jesus não admite hesitações ou demoras. Exige radicalidade!


Meditatio

A adesão pronta de André, e dos outros apóstolos, ao seguimento de Jesus e à missão que lhes confiava, permitiram-lhes levar a “Boa Notícia” da salvação aos confins da terra. A fé, adesão a Cristo e ao projeto de salvação que nos propõe, vem da escuta da Palavra, isto é, de Cristo, Palavra definitiva de Deus aos homens. Pregar essa Palavra, para que todos possam conhecê-la e aderir-lhe é, ainda hoje, a missão da Igreja.
Somos, pois, convidados a escutar a Palavra, a acolhê-la no coração. É, sem dúvida, uma palavra exigente. Mas é Palavra salutar. Por isso, não podemos cair na tentação de lhe fechar os nossos ouvidos. Tal como certos remédios, a Palavra pode fazer-nos momentaneamente sofrer. Mas é a nossa salvação.
A palavra é também alimento. Os profetas dizem que Deus promoverá no mundo uma fome, não de pão, mas da sua Palavra. Precisamos de experimentar essa fome, sabendo que a Palavra de Deus nos pode saciar para além de todas as realidades terrestres, e muito mais do que podemos imaginar.
A palavra de Deus é exigência. Jesus fala de uma semente que deve crescer e espalhar-se por todo o lado. É a Palavra que torna fecundo o apostolado. Não pregamos palavras nossas, mas a Palavra que escutamos e acolhemos, e nos impele a proclamá-la, para pôr os homens em comunhão com Deus.
S. João ensina-nos que não é fácil escutar a palavra, porque não é fácil ser dóceis a Deus. Mas só quem dócil ao Pai, escuta a sua Palavra: “Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim” (Jo 6, 45).
A Palavra é a nossa felicidade. A palavra, meio de comunicação humana por excelência, permite-nos comunicar com Deus. Para entrar em comunicação e em comunhão com Deus, havemos de acolher a sua Palavra em nós.
Que Santo André nos ensine a escutar e a acolher a Palavra de Deus, para estarmos em comunhão com Ele e uns com os outros.


Oratio

Senhor, abre-nos os ouvidos e o coração à tua Palavra para que estejamos dispostos a seguir-te em radicalidade evangélica e a ser tuas testemunhas onde e como dispuseres. Que a tua Palavra ecoe, hoje, mais eficazmente do que nunca. Que nos demos conta da tua presença e a reconheçamos, hoje, mais do que nunca, sobretudo os que somos jovens. Abandonados à tua solicitude de pastor, não faltarão vocações à tua Igreja. Ámen.


Contemplatio

Santo André foi um dos apóstolos que melhor compreendeu e saboreou o mistério da cruz. O seu bom coração foi penetrado pela graça do Calvário. Pregou a cruz na Cítia, no Ponto e noutras regiões. Desejava morrer sobre a cruz, para dar a Nosso Senhor amor por amor. Teve esta graça em Patras. Censurava ao juiz as suas perseguições contra a verdade. O juiz irritado ordenou-lhe que sacrificasse aos deuses. - «É ao Deus todo-poderoso, o único e verdadeiro, respondeu André, que imolo todos os dias, não a carne dos animais, mas o Cordeiro sem mancha, inteiro e cheio de vida sobre o altar, depois de ter sido imolado e dado em alimento aos cristãos». Mostrava assim sobretudo o seu amor pela Eucaristia. Contam que, vendo de longe a cruz sobre a qual devia ser ligado, exclamou: «Eu vos amo, cruz preciosa, que fostes consagrada pelo corpo do meu Deus, e ornada com os seus membros como com ricas pedrarias… Aproximo-me de vós com alegria, recebei-me nos vossos braços… Há muito tempo que vos desejo e que vos procuro. Os meus votos cumpriram-se. Que aquele, que de vós se serviu para me resgatar, se digne receber-me apresentado por vós». Na prática, unamos todas as nossas cruzes quotidianas à cruz de Jesus Cristo. Elas unir-nos-ão aos seus méritos. (Leão Dehon, OSP 4, p.505s.).


Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Deixaram as redes imediatamente e seguiram-no.” (Jo 3, 20).”


Fonte http://www.dehonianos.org/

sábado, 28 de novembro de 2015

01º Domingo do Tempo do Advento - Ano C - 29.11.2015


ANO C
1º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO

Tema do 1º Domingo do Tempo do Advento

Neste 1º Domingo do Tempo do Advento, a Palavra de Deus apresenta-nos uma primeira abordagem à “vinda” do Senhor.
Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da aliança anuncia que é fiel às suas promessas e vai enviar ao seu Povo um “rebento” da família de David. A sua missão será concretizar esse mundo sonhado de justiça e de paz: fecundidade, bem-estar, vida em abundância, serão os frutos da acção do Messias.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Messias filho de David, a anunciar a todos os que se sentem prisioneiros: “alegrai-vos, a vossa libertação está próxima. O mundo velho a que estais presos vai cair e, em seu lugar, vai nascer um mundo novo, onde conhecereis a liberdade e a vida em plenitude. Estai atentos, a fim de acolherdes o Filho do Homem que vos traz o projecto desse mundo novo”. É preciso, no entanto, reconhecê-l’O, saber identificar os seus apelos e ter a coragem de construir, com Ele, a justiça e a paz.
A segunda leitura convida-nos a não nos instalarmos na mediocridade e no comodismo, mas a esperar numa atitude activa a vinda do Senhor. É fundamental, nessa atitude, a vivência do amor: é ele o centro do nosso testemunho pessoal, comunitário, eclesial.


LEITURA I – Jer 33,14-16

Leitura do Livro de Jeremias

Eis o que diz o Senhor:
«Dias virão, em que cumprirei a promessa
que fiz à casa de Israel e à casa de Judá:
Naqueles dias, naquele tempo,
farei germinar para David um rebento de justiça
que exercerá o direito e a justiça na terra.
Naqueles dias, o reino de Judá será salvo
e Jerusalém viverá em segurança.
Este é o nome que chamarão à cidade:
‘O Senhor é a nossa justiça’».

AMBIENTE

Estamos no ano décimo do reinado de Sedecias (587 a.C.). O exército babilónio de Nabucodonosor cerca Jerusalém e Jeremias está detido no cárcere do palácio real, acusado de derrotismo e de traição (cf. Jer 32,1). Parece o princípio do fim, a derrocada de todas as esperanças e seguranças do Povo. É neste contexto que o profeta, em nome de Jahwéh, vai proclamar a chegada de um tempo novo, no qual Deus vai “pensar as feridas” do seu povo e curá-las, proporcionar a Judá “abundância de paz e segurança” (Jer 33,6). A mensagem é tanto mais surpreendente quanto o futuro imediato parece sem saída e o próprio Jeremias é acusado de profetizar a inutilidade de resistir aos exércitos caldeus, a destruição de Jerusalém e o exílio de Sedecias (cf. Jer 32,3-5).

MENSAGEM

Nesse momento limite em que tudo parece comprometido, Jeremias anuncia a fidelidade de Jahwéh às promessas feitas a David (cf. 2 Sm 7): no futuro, Deus irá fazer surgir um descendente de David (“zemah zaddîq” – “rebento justo”), que assegurará a paz e a salvação a todo o povo. A palavra “zemah” (“rebento”) evoca a fecundidade e a vida em abundância (cf. Is 4,2; Ez 16,7). É o nome com que o profeta Zacarias designa o “Messias” (cf. Zac 3,8; 6,12).
As palavras ligadas à área da “justiça” desempenham um papel fundamental neste anúncio de Jeremias. Diz-se que o descendente de David será “justo” e que a sua tarefa consistirá em assegurar a “justiça” e o “direito” (“mishpat” e “zedaqa”). A dupla “justiça/direito”, característica da linguagem profética, refere-se ao funcionamento recto da instituição responsável pela administração da justiça (tribunal) que possibilitará, por sua vez, uma correcta ordem social (“zedaqa”), fundamento da paz e da prosperidade. Sedecias nem garantiu a “justiça”, nem assegurou a paz; por isso, a catástrofe está iminente… Mas o rei futuro anunciado pelo profeta, da descendência de David, será o “ungido” de Deus. Terá por missão restaurar a “justiça” e transmitir a abundância de vida e de salvação ao Povo de Deus. Por isso, chamar-se-á “o Senhor é a nossa justiça” (“Jahwéh zidqenû”): por ele, Deus garante ao seu Povo um futuro fecundo, de justiça, de bem-estar, de salvação.
Recordando as promessas de Deus, o profeta elimina a nostalgia de um passado mais ou menos distante, elimina o medo do presente e instaura o regime da esperança.

ACTUALIZAÇÃO

A actualização desta mensagem profética pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:

• O ambiente em que estamos mergulhados potencia, tantas vezes, o medo, a frustração, o negativismo, a insegurança, o pessimismo… É possível acreditar no Deus da “justiça”, fiel à “aliança”, comprometido com os homens e continuar a olhar para o mundo nessa perspectiva negativa, como se Deus – o Deus da justiça e do amor – tivesse abandonado os homens e já não presidisse à nossa história?

• De acordo com o Novo Testamento, esta “justiça” é comunicada pelo “Messias” a todos os membros do povo eleito (cf. Rom 1,17; 1 Cor 1,30; 2 Cor 5,21; Flp 3,9). Sentimo-nos, verdadeiramente, membros do povo messiânico, construtores desse mundo de justiça, de paz, de felicidade para todos? Qual é a atitude que define o nosso empenho: o compromisso sério com a justiça e a paz, ou o comodismo de quem prefere demitir-se das suas responsabilidades e passar ao lado da vida?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 24 (25)

Refrão: Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.

O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.

Os caminhos do Senhor são misericórdia e fidelidade
para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos.
O Senhor trata com familiaridade os que O temem
e dá-lhes a conhecer a sua aliança.


LEITURA II – 1 Tes 3,12–4,2

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses

Irmãos:
O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade
uns para com os outros e para com todos,
tal como nós a temos tido para convosco.
O Senhor confirme os vossos corações
numa santidade irrepreensível,
diante de Deus, nosso Pai,
no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor,
com todos os santos.
Finalmente, irmãos,
eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus:
recebestes de nós instruções
sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus,
e assim estais procedendo;
mas deveis progredir ainda mais.
Conheceis bem as normas que vos demos
da parte do Senhor Jesus.



AMBIENTE

A comunidade cristã de Tessalónica foi fundada por Paulo, Silvano e Timóteo durante a segunda viagem missionária de Paulo, aí pelo ano 50 (cf. Act 17,1ss). Durante o pouco tempo que lá passou, Paulo desenvolveu uma intensa actividade missionária, de que resultou uma comunidade numerosa e entusiasta, constituída na sua maioria por pagãos convertidos (cf. 1 Tess 1,9-10). No entanto, a obra de Paulo foi brutalmente interrompida pela reacção da colónia judaica… Paulo teve de fugir, deixando atrás de si uma comunidade em perigo, insuficientemente catequizada e quase desarmada num contexto de perseguição e provação. Preocupado, Paulo envia Timóteo a Tessalónica para saber notícias e encorajar na fé os tessalonicenses. Quando Timóteo regressa, encontra Paulo em Corinto e comunica-lhe notícias animadoras: a fé, a esperança e o amor dos tessalonicenses continuam bem vivos e até se aprofundaram com as provações (cf. 1 Tes 1,3; 3,6-8). Os tessalonicenses podem ser apontados como modelos aos cristãos das regiões vizinhas (cf. 1 Tes 1,7-8).

MENSAGEM

Apesar de tudo o que Deus já edificou no coração dos crentes de Tessalónica, a caminhada cristã destes não está concluída. Há que “progredir sempre” (1 Tes 4,1), sobretudo no amor para com todos (1 Tes 3,12). Só nesta atitude de não conformação será possível esperar a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 3,13).

ACTUALIZAÇÃO

A confrontação deste texto com a vida pode ter em conta os seguintes elementos:

• A caminhada cristã nunca é um processo acabado, mas uma construção permanente, que recomeça em cada novo instante da vida. O cristão não é aquele que é perfeito; mas é aquele que, em cada dia, sente que há um caminho novo a fazer e não se conforma com o que já fez, nem se instala na mediocridade. É nesta atitude que somos chamados a viver este tempo de espera do Messias.

• Uma dimensão fundamental da nossa experiência cristã é a caridade: só aprofundando-a cada vez mais podemos sentir-nos identificados com Aquele que partilhou a vida com todos nós, até à morte na cruz; só praticando-a, podemos fazer uma verdadeira experiência de Igreja e construir uma comunidade de irmãos; só vivendo-a, podemos ser, para os homens que partilham connosco esta vasta casa que é o mundo, o rosto do Deus que ama.


ALELUIA – Salmo 84,8

Aleluia. Aleluia.

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.


EVANGELHO – Lc 21,25-28.34-36

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas
e, na terra, angústia entre as nações,
aterradas com o rugido e a agitação do mar.
Os homens morrerão de pavor,
na expectativa do que vai suceder ao universo,
pois as forças celestes serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem,
com grande poder e glória.
Quando estas coisas começarem a acontecer,
erguei-vos e levantai a cabeça,
porque a vossa libertação está próxima.
Tende cuidado convosco,
não suceda que os vossos corações se tornem pesados
pela intemperança, a embriaguês e as preocupações da vida,
e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha,
pois ele atingirá todos os que habitam a face da terra.
Portanto, vigiai e orai em todo o tempo,
para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer
e comparecer diante do Filho do homem».



AMBIENTE

Estamos já nos últimos dias da vida terrena de Jesus, após a sua entrada triunfal em Jerusalém. Jesus está a completar a catequese dos discípulos e, nesse contexto, anuncia-lhes tempos difíceis de perseguição e de martírio. Avisa-os, também, de que a própria cidade de Jerusalém será, proximamente, sitiada e destruída (cf. Lc 21,20-24). Ora, é neste contexto e nesta sequência que aparece o texto do Evangelho de hoje.

MENSAGEM

O vector fundamental à volta do qual se estrutura o Evangelho de hoje está na referência à vinda do Filho do Homem “com grande poder e glória” (Lc 21,27) e no convite a cobrar ânimo e a levantar a cabeça porque “a libertação está próxima” (Lc 21,28). A palavra “libertação” (“apolytrôsis” – “resgate de um cativo”) é uma palavra característica da teologia paulina (1 Cor 1,30; cf. Rom 3,24; 8,23; Col 1,14…), onde é usada para definir o resultado da acção redentora de Jesus em favor dos homens. O projecto de salvação/libertação da humanidade, concretizado nas palavras e nos gestos de Jesus, é apresentado como o “resgate” de uma humanidade prisioneira do egoísmo, do pecado, da morte. Trata-se, portanto, da libertação de tudo o que escraviza os homens e os impede de viver na dignidade de filhos de Deus.
A mensagem proposta aos discípulos é clara: espera-vos um caminho marcado pelo sofrimento, pela perseguição (cf. Lc 21,12-19); no entanto, não vos deixeis afundar no desespero porque Jesus vem. Com a sua vinda gloriosa (de ontem, de hoje, de amanhã), cessará a escravidão insuportável que vos impede de conhecer a vida em plenitude e nascerá um mundo novo, de alegria e de felicidade plenas.
Os “sinais” catastróficos apresentados não são um quadro do “fim do mundo”; são imagens utilizadas pelos profetas para falar do “dia do Senhor”, isto é, o dia em que Jahwéh vai intervir na história para libertar definitivamente o seu Povo da escravidão, inaugurando uma era de vida, de fecundidade e de paz sem fim (cf. Is 13,10; 34,4). O quadro destina-se, portanto, não a amedrontar, mas a abrir os corações à esperança: quando Jesus vier com a sua autoridade soberana, o mundo velho do egoísmo e da escravidão cairá e surgirá o dia novo da salvação/libertação sem fim.
Há, ainda, um convite à vigilância (cf. Lc 21,34-36): é necessário manter uma atenção constante, a fim de que as preocupações terrenas e as cadeias escravizantes não impeçam os discípulos de reconhecer e de acolher o Senhor que vem.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão acerca do Evangelho de hoje pode tocar, entre outros, os seguintes pontos:

• A realidade da história humana está marcada pelas nossas limitações, pelo nosso egoísmo, pelo destruição do planeta, pela escravidão, pela guerra e pelo ódio, pela prepotência dos senhores do mundo… Quantos milhões de homens conhecem, dia a dia, um quadro de miséria e de sofrimento que os torna escravos, roubando-lhes a vida e a dignidade… A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre a porta à esperança e grita a todos os que vivem na escravidão: “alegrai-vos, pois a vossa libertação está próxima. Com a vinda próxima de Jesus, o projecto de salvação/libertação de Deus vai tornar-se uma realidade viva; o mundo velho vai converter-se numa nova realidade, de vida e de felicidade para todos”.

• No entanto, a salvação/libertação que há-de transformar as nossas existências não é uma realidade que deva ser esperada de braços cruzados. É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida como dom, e aceitá-la. Jesus vem; mas é necessário reconhecê-l’O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. É preciso, também, ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Jesus, deixar que Ele nos transforme o coração e Se faça vida nos nossos gestos e palavras.

• É preciso, ainda, ter presente, que este mundo novo – que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho – nunca será um realidade plena nesta terra, mas sim uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, haver destruído definitivamente o mal que nos torna escravos.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. GESTO PARA O INÍCIO DO ADVENTO.
Com o 1º Domingo do Advento, começa o ano litúrgico. Para os cristãos, é esta a altura propícia para se desejar um bom ano. O 1º Domingo do Advento é o momento oportuno para apresentar o desenrolar de um ciclo litúrgico no seu conjunto. Descobrir este caminho de oração, comum aos católicos do mundo inteiro, permite falar também da importância da prática regular. É tempo para tomar boas resoluções para o novo ano, o ano litúrgico. Pode-se marcar o início do Advento com uma procissão de entrada mais solenizada, escolhendo um cântico bem adaptado, ou com um acto penitencial mais desenvolvido. Isto para além dos símbolos tradicionais do Advento que podem ser valorizados…

3. COROA DO ADVENTO.
Entre os símbolos tradicionais, temos a “coroa do Advento”, com as quatro velas. Colocadas numa coroa ou de outra maneira, elas significam a progressão para o Natal. Muitas vezes, acende-se a vela ao longo da celebração. Este gesto ganha importância se for bem realizado. Pode ser durante o cântico inicial, no final da procissão, por uma criança ou um jovem, por um padre ou qualquer outro “actor” da liturgia. Pode também ser efectuado pelo próprio presidente da celebração, depois da saudação litúrgica. Tomar-se-á sempre o tempo de um belo gesto, que pode ser acompanhado por um breve refrão a apelar à vinda do Senhor… É importante cuidar da beleza dos objectos (velas, suporte, coroa), de tamanho adaptado ao edifício e dispostos de maneira coerente no espaço próprio.

4. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
“Ó Deus fiel, bendito és Tu pelo olhar que podemos ter sobre a obra que realizaste ao longo dos séculos, sobre as promessas dos profetas e sobre a sua realização pelo descendente de David, o teu Filho Jesus.
Nós Te confiamos os povos e os países vítimas da insegurança, mas também os bairros das nossas cidades e os habitantes que vivem no temor”.

No final da segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças pelas instruções recebidas dos Apóstolos da parte do Senhor Jesus e pelos progressos que nos deixas realizar.
Ó Deus nosso Pai, nós Te pedimos: dá-nos, entre nós e em relação a todos os homens, um amor cada vez mais intenso, coloca-nos no caminho de uma santidade irrepreensível, até ao dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo vier com todos os santos”.

No final do Evangelho:
“Ó Deus fiel, bendito és Tu pelas palavras de esperança que nos deste em Jesus, porque elas permitem-nos erguer a cabeça, mesmo nos momentos menos felizes.
Nós Te pedimos: que o vosso Espírito nos mantenha vigilantes, numa oração perseverante, para que possamos estar firmes na presença de Jesus, teu Filho, e ressuscitar com Ele, quando vier com grande poder e glória”.

5. BILHETE DE EVANGELHO.
O sofrimento, as preocupações, o medo do futuro por vezes esmagam-nos e acabamos por baixar os braços.
“Erguei-vos!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar os que se mantêm de pé, prontos a pôr-se a caminho para construir com Deus um futuro melhor. O medo faz baixar a cabeça; vive-se então no momento presente, com medo dos golpes que será necessário ainda suportar.
“Levantai a cabeça!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que olham no horizonte Aquele que vem para nos salvar. A fadiga acaba por adormecer, sem dúvida porque não se espera mais nada e não se quer mais lutar.
“Tende cuidado convosco e vigiai!”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que permanecem atentos aos sinais que Deus não cessa de manifestar. A falta de confiança destrói a relação, sem se saber do que falar.
“Orai em todo o tempo”, diz-nos Jesus. Só podem esperar aqueles que entram em diálogo com Deus. A esperança nunca é passiva. Para esperar é preciso erguer-se, levantar a cabeça, estar atento e vigiar, orar: tais são os verbos activos que manifestam o que faz a grandeza do homem.

6. À ESCUTA DA PALAVRA.
Leitura do Livro de Jeremias: “Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá”. Palavra do Senhor!
Leitura do Evangelho: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo”. Palavra do Senhor!
Na mesma celebração, proclama-se como Palavra do Senhor duas afirmações tão afastadas uma da outra! Como resolver esta contradição? Primeiro, sendo realistas. O universo conhece transformações constantes, tremores de terra, erupções vulcânicas, tsunamis, meteoritos… A sol e as estrelas, um dia, apagar-se-ão. No fundo, Jesus, com os conhecimentos e a mentalidade da sua época, chama a nossa atenção para essa realidade: o nosso mundo, um dia, acabará. Não somente o “nosso” mundo, mas primeiro o “meu” próprio mundo, no dia da minha morte. Jesus convida-nos a não esquecer o fim de todas as coisas. Diz-nos: “Vigiai”. Vigiai para que não vos instaleis neste tempo como se ele fosse durar sempre! Mas aí, no coração da nossa condição mortal, Deus diz-nos uma palavra que não passará. Esta Palavra é o próprio Jesus.
Começamos hoje um novo ciclo litúrgico. Mas não é um ciclo fechado sobre si mesmo. Cada ano que passa aproxima-nos do nosso fim terrestre, mas é-nos dado também como o tempo durante o qual Jesus vem visitar-nos, dar-nos a sua presença de Ressuscitado. Segundo a bela palavra de Jeremias, oferece-nos a nós como “um rebento de justiça”, como a “promessa de felicidade” que se realizará em plenitude no fim dos tempos. Desde agora, está em acção no segredo dos corações, como o poder da vida que, secretamente, constrói um novo ser no seio materno. “Vigiai e orai em todo o tempo”, a fim de estardes de pé no Dia da sua Vinda na plenitude da Luz.

7. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística IV. É a mais adaptada para o início do Advento, porque recapitula a história da salvação e a obra de Cristo: a história dos homens é uma “história santa”.

8. PALAVRAS PARA O CAMINHO…
Na segunda leitura, Paulo lança-nos um forte apelo: “Irmãos, o Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos”. Ao longo da próxima semana, procuremos ir ao encontro de alguém que já não tem força para esperar: esperar um trabalho, esperar uma saúde melhor, esperar uma reconciliação… Que lhe vamos dizer? O Advento é o tempo propício para ajudar a erguer-se de novo, o tempo de voltar a dar gosto à vida que germina…
Uma palavra de amor para cada dia… Porque Jesus nos pede para “orar em todo o tempo”, porque não experimentar agradar a Deus, nosso Pai, dizendo-lhe mais especialmente o nosso amor filial em cada dia deste tempo do Advento? Bastam alguns minutos, mas pode-se também de modo mais prolongado cuidar deste tempo privilegiado.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXIV Semana - Sábado - 28.11.2015


Lectio

Primeira leitura: Daniel 7, 15-27

Eu, Daniel, senti-me esmagado perante semelhantes visões, com o espírito perturbado. 16Aproximei-me de um dos assistentes e interroguei-o sobre a realidade de tudo aquilo. Respondeu-me e deu-me a explicação: 17«Estes portentosos animais, que são em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra. 18Os santos do Altíssimo são os que hão-de receber a realeza e guardá-la por toda a eternidade.» 19Quis, então, conhecer exactamente o que se referia ao quarto animal, diferente dos outros, excessivamente aterrador, cujos dentes eram de ferro e as garras de bronze, que devorava, depois desfazia em pedaços e o que restava calcava-o aos pés. 20Desejei ser esclarecido acerca dos dez chifres que tinha na cabeça, bem como daquele outro chifre que tinha despontado e diante do qual três chifres tinham caído. É que esse chifre tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes e parecia maior que os seus companheiros. 21Tinha visto este chifre fazer guerra aos santos e levar vantagem sobre eles. 22Mas o Ancião, quando veio, fez justiça aos santos do Altíssimo. A hora deles era aquela e obtiveram a posse do reino. 23Respondeu-me assim: «O quarto animal será um quarto reino terrestre, que será diferente de todos os reinos, devorará o mundo, o calcará e o reduzirá a pó. 24Os dez chifres designam dez reis, que surgirão neste reino, mas após estes surgirá um outro, diferente dos anteriores, o qual vencerá três reis. 25Proferirá insultos contra o Altíssimo, perseguirá os santos do Altíssimo. Pensará em mudar os tempos sagrados e a religião. Os santos viverão sob a sua alçada, apenas durante um determinado espaço de tempo. 26Mas o julgamento continuará e tirar-lhe-ão o domínio, para o suprimir e aniquilar definitivamente. 27A realeza, o império e a grandeza de todos os reinos, situados sob os céus, serão então devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino é eterno e todas as soberanias lhe prestarão preito de obediência.»

A visão escatológica de Daniel prossegue. Mas, desta vez, não consegue compreender sozinho o seu sonho, e pede explicação a uma das figuras do tribunal celeste. Os quatro animais são quatro reinos poderosos, que, todavia, serão suplantados pelo reino dos «santos do Altíssimo» (v. 27). O quarto animal aterroriza Daniel que, mais uma vez, pede explicações ao anjo: haverá dez reis, e finalmente um rei – o pequeno chifre – mais feroz e blasfemo que os outros, que substituirá o culto de Deus pelo dos ídolos. Este rei terá mãos livre durante um certo tempo. Depois, será julgado e reduzido a nada. O reino eterno será, finalmente, entregue aos santos do Altíssimo, as potências angélicas que representam o domínio de Deus. Podemos entrever uma alusão à revolta dos Macabeus contra Antíoco IV ou aos rebeldes que lutam por salvaguardar a pureza da fé e o conforto da previsão da vitória final.


Evangelho: Lucas 21, 34-36

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos 34«Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, 35como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. 36Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.»

Ao terminar o “Discurso escatológico”, Jesus alerta-nos para o perigo do relaxamento espiritual. Mas também nos convida à coragem e à força do testemunho. Mas o que mais interessa ao Senhor é preparar os discípulos para a luta espiritual que há caracterizar a sua experiência histórica. Se são perigosos os ataques exteriores, não o são menos as fraquezas interiores. Para ser fiel ao Evangelho, é preciso estar atento a si mesmo e resistir aos outros. Por isso, o convite: «Velai, orando continuamente» (v. 36). Estas palavras apontam as atitudes de quem quer ser discípulo de Jesus. São atitudes indispensáveis a cada um dos crentes, mas também às comunidades. Na certeza de que todos havemos de comparecer diante do Filho do homem (cf. v. 36), Jesus indica-nos a necessidade de fazer algumas opções. Em primeiro, a da vigilância, isto é, a do exame crítico do tempo em que vivemos, a presença crítica na sociedade em que vivemos e actuamos, mas também o discernimento crítico das propostas de salvação que vamos recebendo de um lado e de outro. Em segundo lugar, a renúncia: para nos prepararmos para o encontro com o Senhor, para estar interiormente e exteriormente puros, para não nos deixarmos seduzir pelo mundo nem pelo Maligno.


Meditatio

«Velai, orando continuamente, a fim de aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.» (v. 36). No último dia do ano litúrgico, o Senhor recomenda-nos esperança e vigilância. Paulo repetia essa recomendação aos Coríntios: «Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes.» (1 Cor 16, 13). A Igreja continua a repeti-la: «Vigiai e orai em todo o tempo, para vos apresentardes sem temor diante do Filho do homem» (versículo do Aleluia).
Podemos ter esperança porque, como lemos no livro de Daniel, «A realeza, o império e a grandeza de todos os reinos, situados sob os céus, serão então devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo» (v. 27). Será então que o Filho do homem, de quem ontem ouvimos falar, corresponde ao povo? É um ponto obscuro. A expressão aqui tem sentido colectivo e sempre messiânico, mas o sentido pessoal não é excluído, porque o Filho do homem é, ao mesmo tempo, o chefe, o representante e o modelo do povo dos santos. Jesus falou de Si mesmo, muitas vezes, como Filho do homem. Os santos, diz Daniel, serão por um certo tempo entregues nas mãos dos inimigos; depois, Deus retirar-lhes-á o poder, e os santos receberão do reino. É a nossa esperança: «Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 13). Jesus venceu, e nós participamos da sua vitória, se permanecermos unidos a Ele, orando e vigiando.
«Segundo o seu desígnio de amor, concebido antes da criação do mundo (cf. Ef 1,3-14), o Pai enviou-nos o seu Filho: "Ele O entregou por todos nós" (Rm 8,32). Pela ressurreição, constituiu-O Senhor, Coração da humanidade e do mundo, esperança de salvação para quantos ouvem a sua voz.» (Cst 19).


Oratio

Senhor, neste último dia do ano litúrgico, quero colocar-me diante de Ti, em atitude de confiança e de paz. Com grande alegria, quero bendizer-Te pelo teu amor sempre presente, pelo teu magnífico projecto de salvação. Louvado e exaltado sejas para sempre por todos os homens, pela tua Igreja, pelos teus servos, pelos justos que, tendo passado pela grande tribulação, já estão Contigo para sempre. Louvado sejas por todos os santos e humildes de coração. Amen.


Contemplatio

Nosso Senhor dará a cada um segundo as suas obras. Foi o que Ele mesmo nos disse. A sua justiça será rigorosa e sem acepção de pessoas. O exame versará primeiro sobre a fé, quem tiver acreditado será salvo; depois sobre a caridade e as obras de misericórdia. Acautele-se quem não tiver praticado a caridade segundo o seu poder. O exame incidirá também sobre os deveres pessoais, sobre os deveres de estado. A quem tiver recebido muito, muito será pedido. Os que tiverem exercido uma autoridade hão-de responder por si e pelos outros. Quantas ilusões hão-de cair nesse dia! O exame será tão rigoroso! O olhar de Deus é tão penetrante! Nós ocultamos as nossas faltas a nós mesmos. Não queremos ver. Não nos queremos humilhar diante dos representantes de Deus. Tenhamos uma vez a coragem de irmos até ao fundo da nossa consciência. Não façamos como os maus contabilistas, que esperam o dia da falência para olharem claramente para os seus negócios. Quando a hora chegar, pode ser próxima e sempre imprevista, escutaremos esta interpelação: «Presta contas da tua administração». Estamos prontos? Conhecemos as contas que temos de dar? Não desviámos sempre os nossos olhos para não vermos? Apressemo-nos a reflectir sobre isto. O juízo será definitivo. Os justos escutarão esta sentença triunfal: «Vinde, benditos de meu Pai, possuir o reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo». E os pecadores receberão este juízo aterrador: «Retirai-vos de mim malditos, ide para o fogo eterno que foi preparado para Satanás e para os seus anjos». E uns irão para o suplício que não acaba e os outros para a vida eterna». Foi por bondade e para nos premunir que Nosso Senhor quis dar-nos toda esta descrição. Ficou gravada no espírito dos apóstolos e foi transmitida a toda a Igreja guardando sempre a mesma vivacidade de expressão. A liturgia colocou-a na sua primeira e na sua última página, nos evangelhos do primeiro e do último domingo do ano. A arte cristã esculpiu-a no pórtico das nossas igrejas, para que entremos sob a impressão desta pregação. O Credo no-lo recorda todos os dias. A conclusão é dada por S. Lucas: «Vigiai, portanto, em todo o tempo». Vigiai todos os dias, pensai sempre no juízo. (Leão Dehon, OSP 4, p. 306s.)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Velai e orai continuamente» (Lc 21, 36).


Fonte http://www.dehonianos.org/

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXIV Semana - Sexta-feira - 27.11.2015


Lectio

Primeira leitura: Daniel 7, 2-14

Considerava eu, na minha visão nocturna, os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o grande mar. 3Surgiram do mar quatro grandes animais, diferentes uns dos outros. 4O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o contemplava, foram-lhe arrancadas as asas. Levantavam-no da terra e endireitavam-no sobre os pés como um homem. Depois, deram-lhe um coração de homem. 5Em seguida, apareceu um segundo animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um dos lados e segurava na goela, entre os dentes, três costelas. Diziam-lhe: ‘Vamos! Devora muita carne! ‘ 6Depois disto, vi um terceiro animal parecido com uma pantera, que tinha sobre o dorso quatro asas de ave e também quatro cabeças. Foi-lhe entregue a soberania. 7Enfim, quando contemplava estas visões nocturnas, divisei um quarto animal, horroroso, aterrador, e de uma força excepcional. Tinha enormes dentes de ferro; devorava, depois fazia em pedaços e o resto calcava-o aos pés. Era diferente dos animais anteriores, pois tinha dez chifres. 8Quando eu contemplava os chifres, eis que surgiu do meio deles um outro chifre mais pequeno. Para dar lugar a este chifre, três dos primeiros foram arrancados. Este chifre tinha olhos como um homem e uma boca que proferia palavras arrogantes. 9«Continuava eu a olhar, até que foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam. O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. 12Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data. 13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.»

O texto que acabamos de escutar pertence ao género literário apocalíptico. As revelações por meio de sonhos são frequentes tanto no Antigo como no Novo Testamento. No nosso texto, Daniel descreve uma visão nocturna do mar revolto, donde emergem quatro grandes e terríveis animais. O mar simboliza aqui o caos primordial, ou o conjunto das forças que se opõem a Deus e aos seus fiéis. Os animais (quatro significa a totalidade) representam as forças inimigas ou reinos pagãos. Apesar da sua arrogância, não passam de simples instrumentos por meio dos quais Deus realiza os seus juízos. Nos animais podem identificar-se os sinais de Babilónia, dos Medos, dos Persas, e, sobretudo, os Selêucidas da Síria, os mais terríveis. A Síria era antigamente identificada com a Assíria, e aqui na visão dos dez chifres (símbolo de poder) e do chifre mais pequeno e mais arrogante sobrepõe-se ao de Antíoco IV a imagem de Assur. A visão torna-se uma teofania. Aparece uma espécie de tribunal celeste presidido por um Ancião vestido de branco e sentado num trono de fogo com rodas flamejantes. A multidão dos que servem o Ancião é incontável. São abertos os livros do juízo e o quarto animal é morto, enquanto aos outros é concedido um tempo limitado de vida. O mal continua a ameaçar os fiéis. Mas o seu fim está perto. A teofania culmina com a aparição do Filho de homem, figura messiânica, a quem é entregue a senhoria eterna sobre todos os povos e nações.


Evangelho: Lucas 21, 29-33

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: 29«Reparai na figueira e nas restantes árvores. 30Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo. 31Assim também, quando virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo. 32Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo se cumpra. 33O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.»

Jesus, ao terminar o “Discurso escatológico”, responde à pergunta inicial: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» (21, 7). A parábola da figueira é a resposta. Já no versículo 28 fora introduzido o tema da vigilância: «cobrai ânimo e levantai a cabeça!» que agora é retomado e desenvolvido. Lucas aproveita todas as ocasiões para exortar os destinatários do seu evangelho a tirar as devidas consequências da mensagem que lhes entrega.
O pormenor das «restan¬tes árvores» (v. 29) visa tornar inteligível a parábola fora da Palestina. Mas não é preciso aplicar a realidade do Reino de Deus ao ritmo das estações. Portanto o regresso do Senhor não deve ser entendido como é o Verão, tempo das colheitas. Apenas se quer afirmar que, quando se verificarem os sinais premonitórios (cf. vv 20-28), então se manifestará definitivamente o poder de Deus que salva. Para Lucas, como sabemos, o reino de Deus já está no meio de nós (cf. 12, 20; 17, 21). O regresso do Senhor não será o início do Reino, mas a realização da sua última fase. «A vossa redenção está próxima» (v. 28): Cristo, o libertador, que já deu início ao reino do Pai no meio de nós, há-de vir aperfeiçoar a sua missão.


Meditatio

«Os quatro grandes animais» do sonho de Daniel não conseguem fixar os olhos no trono resplandecente em que está sentado o Ancião. Consegue-o Daniel, com os olhos puros da fé, a quem é dado contemplar o fim da visão. O poder das forças do mal é limitado no tempo e no espaço, apesar de incutir terror. Os crentes escolheram outro poder, que não tem limites. A multidão dos que servem o Ancião é inumerável. O reino entregue ao Filho do homem é eterno. O poder humano «não é humano»; o único reino “humano” é o reino de Deus.
Mas, voltemos à visão de Daniel. O profeta vê quatro grandes animais: um leão monstruoso, que se endireitava sobre os pés como se fosse um homem e tem coração de homem; um urso, ao qual é dito: «Vamos! Devora muita carne!» (v. 5); uma espécie de pantera à qual foi entregue a soberania; finalmente, «um quarto animal, horroroso, aterrador, e de uma força excepciona» (v. 7). Estes animais representam o poder humano não submetido a Deus. É um poder cruel, desumano, que parece nunca acabar, mas que é miserável e inconsistente. A este poder, Daniel opõe o poder de Deus, na visão de «um ser semelhante a um filho de homem» (v. 13), que recebe poder, glória e reino do próprio Deus. É o rei que preferiu sofrer a fazer sofrer, que se fez homem para melhor compreender os homens e guiá-los de modo humano, com mansidão e humildade.
O profeta Daniel antecipa a grande revelação do Novo Testamento, onde é recordada em momentos decisivos. O Filho do homem a quem Deus dá glória, poder e reino é evocado por Cristo na resposta ao Sumo-sacerdote: «És o Messias, o Filho de Deus?» Jesus respondeu-lhe: «Sim: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» (Mt 26, 63-64). Os cristãos exultaram ao reler a profecia, e contemplam Cristo à direita de Deus. No último encontro de Jesus com os seus, Ele proclama que esta profecia está realizada: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra» (Mt 28, 18).
Como discípulos do Senhor somos chamados a viver a bem-aventurança dos pobres e a renunciar a tantos meios de segurança humana: dinheiro, estado social influente, cargos, poder… Jesus é tudo na nossa vida. De modo particular, como religiosos, queremos assumir o Seu estilo de vida e cooperar, segundo a nossa vocação pessoal e comunitária, para a difusão do Seu Reino.


Oratio

Senhor, obrigado pela ironia com que nos disseste quando será o fim do mundo: “quando virdes a figueira lançar os primeiros rebentos, dizeis que o Verão está perto”. É um fenómeno natural, que o camponês bem sabe interpretar. Também não passará a nossa geração sem que venha o reino de Deus. Não se trata de nos abandonarmos a fantasias milenaristas, mas de viver plenamente a nossa vida cristã, que para isso recebemos. Não é preciso esperar pelo fim do mundo para nos convencermos que a tua Palavra dura eternamente e para decidirmos, de uma vez por todas, confiar-nos a Ti, e não aos poderes deste mundo, que, entretanto, parecem levar a melhor. Obrigado, Senhor, por assim me esclareceres. Amen.


Contemplatio

O silêncio acusador de Jesus, mais eloquente do que tudo o que teria podido dizer, perturbava e inquietava a consciência dos juízes. Caifás quis rompê-lo a todo o custo. As acusações das testemunhas confirmavam-no no pensamento de que Jesus se dava por Messias. Quis obrigá-lo a confessar. Por isso disse-lhe solenemente: «Eu te conjuro, em nome do Deus vivo, a que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus». Jesus sabe que a sua resposta afirmativa terá como consequência uma declaração de morte; mas não quer subtrair-se a uma notificação jurídica. Responde dignamente: «Tu o disseste, sou». É como se dissesse: «Sou o Messias esperado, aquele que os profetas vos anunciaram. Deveríeis reconhecê-lo e proclamá-lo. Em vez disso, ides condenar-me à morte, mas esta morte mesma me fará entrar na glória, e julgar-vos-ei por minha vez». E acrescentava: «Vereis, então, um dia o Filho do homem, sentado à direita de Deus todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu, para julgar os vivos e os mortos». A estas palavras, o sumo-sacerdote, fingindo surpreender o Salvador em flagrante delito de blasfémia, rasgou as vestes e exclamou: «Blasfemou, que vos parece? Que necessidade temos ainda de testemunhas?». Todos se levantaram e gritaram, como possessos: «É digno de morte». Mas Jesus não provou a sua missão com milagres? Era isto que deviam examinar e nem pensam. Ó meu bom Mestre, sim, creio, vós sois o Cristo, Filho de Deus. Reconheço-o, adoro-vos, faço pública retractação por estes ultrajes que vos são feitos em casa de Caifás. Infelizmente, a minha vida tem sido muitas vezes uma negação da vossa autoridade. Perdoai-me, prostro-me aos vossos pés e abraço-os. (Leão Dehon, OSP 3, p. 292s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso
e vindo sobre as nuvens do céu» (Mt 26, 64


Fonte http://www.dehonianos.org/

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXIV Semana - Quinta-feira - 26.11.2015


Lectio

Primeira leitura: Daniel 6, 12-28

Naqueles dias, aqueles homens acorreram, alvoroçados, e encontraram Daniel em oração, invocando o seu Deus. 13Dirigiram-se imediatamente a casa do rei e disseram-lhe, a propósito do decreto real de proibição: «Não promulgaste tu, ó rei, uma proibição, declarando que quem, no período de trinta dias, invocasse algum deus ou homem que não fosses tu, seria lançado na cova dos leões?» Respondeu o rei: «Com certeza, conforme a lei dos Medos e dos Persas, que não pode ser modificada.» 14«Pois bem - prosseguiram eles - Daniel, o exilado de Judá, não teve consideração nem pela tua pessoa, nem pelo decreto que promulgaste. Três vezes ao dia, faz a sua oração.» 15Ao ouvir estas palavras, o rei, muito pesaroso, tomou a peito, apesar de tudo, a salvação de Daniel e nisso se aplicou até ao pôr-do-sol. 16Porém, os mesmos homens, em tropel, vieram novamente procurar o rei. «Sabei, ó rei - lhe disseram - que a lei dos Medos e dos Persas não permite qualquer revogação de uma proibição ou de um decreto publicado pelo rei.» 17O rei, então, mandou levar Daniel e lançá-lo na cova dos leões. Disse-lhe o rei: «O Deus que tu adoras com tamanha fidelidade, Ele próprio te libertará!» 18Trouxeram uma pedra, que rolaram sobre a abertura da cova: o rei selou-a com o seu sinete e com o sinete dos grandes, para que nada fosse modificado em atenção a Daniel. 19Entrando no palácio, o rei passou a noite sem comer nada e sem mandar ir para junto dele concubina alguma; não conseguiu fechar os olhos. 20De madrugada, levantou-se e partiu a toda a pressa para a cova dos leões. 21Quando estava próximo, com uma voz muito magoada, chamou Daniel: «Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus, que adoras com tanta fidelidade, teria podido libertar-te dos leões?» 22Daniel dirigiu-se ao rei nestes termos: «Ó rei, viva o rei para sempre! 23O meu Deus enviou o seu anjo e fechou as fauces dos leões, que não me fizeram qualquer mal, porque, aos olhos dele, estava inocente. Para contigo, ó rei, tão pouco cometi qualquer falta.» 24O rei, então, cheio de alegria, ordenou que tirassem Daniel da cova. Daniel foi, pois, tirado sem qualquer vestígio de ferimento, porque tinha fé no seu Deus. 25Por ordem do rei, trouxeram os acusadores de Daniel e atiraram-nos à cova dos leões, a eles, às mulheres e aos filhos. Ainda não tinham tocado o fundo da cova e já os leões os tinham agarrado e lhes tinham triturado os ossos. 26Então, o rei Dario escreveu: «A todos os povos, a todas as nações e à gente de todas as línguas que habitam a face da terra, paz e prosperidade! 27Promulgo este decreto: ‘Que em toda a extensão do meu reino se tema e trema diante do Deus de Daniel, porque Ele é o Deus vivo, que subsiste eternamente; o seu reino jamais será destruído e o seu domínio é perpétuo. 28Ele salva e Ele liberta, faz milagres e prodígios no céu e na terra: foi Ele quem livrou Daniel das garras dos leões. ‘»

Daniel, apesar da proibição do rei, continua a rezar três vezes ao dia, como faz todo o piedoso israelita (v. 14). Os seus inimigos denunciam-no. Dário fica triste, mas não pode deixar de castigar Daniel, pois os decretos reais são irrevogáveis. Como nas fábulas, Daniel e lançado na cova dos leões, fechada com uma pedra que o rei sela para evitar irregularidades. Mas deseja que o Deus de Daniel intervenha para o salvar. Não hesita em orar e jejuar por essa intenção (vv. 17-19).
No dia seguinte, ainda cedo, quando o rei pesaroso se dirigiu à cova dos leões e chama por Daniel, este responde-lhe, dizendo: «Ó rei, viva o rei para sempre! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou as fauces dos leões, que não me fizeram qualquer mal.» (vv. 22-23). Libertado o herói, Daniel, segue-se o castigo dos seus inimigos que, antes de chegarem ao fundo da cova, são triturados pelos dentes dos leões (vv. 24s.). Tudo termina com um novo decreto do rei, que ordena que em todo o reino se preste culto ao Deus de Daniel (vv. 26-28). O monoteísmo de Israel triunfa sobre as nações pagãs, que, por causa dos seus prodígios, reconhecem o Deus vivo e verdadeiro.


Evangelho: Lucas 21, 20-28

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 20«Quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, ficai sabendo que a sua ruína está próxima. 21Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; e os que estiverem no campo não voltem para a cidade, 22pois esses dias serão de punição, a fim de se cumprir tudo quanto está escrito. 23Ai das que estiverem grávidas e das que estiverem a amamentar naqueles dias, porque haverá uma terrível angústia no país e um castigo contra este povo. 24Serão passados a fio de espada, serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completar o tempo dos pagãos.» 25«Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; 26os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. 27Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima.»

Esta secção do “Discurso escatológico” apresenta duas partes. Na primeira, é descrita a ruína de Jerusalém (vv. 20-24); na segunda é descrito o fim do mundo (vv. 25-28). Na primeira parte verificamos, mais uma vez, como Lucas gosta de passar da apocalíptica à história: «quando virdes Jerusalém sitiada por exérci¬tos… esses dias serão de punição» (cf. vv. 20-22). A destruição de Jerusalém é um juízo de Deus sobre o comportamento passado dos seus habitantes. Mas é também um aviso em relação ao futuro, e de alcance universal: «até se completar o tempo dos pagãos» (v. 24), isto é, o tempo do testemunho, o tempo dos mártires (cf. Actos dos Apóstolos).
S. Lucas gosta de distinguir os tempos: o Antigo Testamento, a plenitude dos tempos caracterizada pela presença de Jesus, e o tempo da Igreja. O «tempo dos pagãos» insere-se nesta última fase da história. Entre a primeira e segunda parte desta página, o evangelista deixa entender que, depois do tempo dos pagãos, será o juízo universal. Os versículos 25-28 caracterizam-se pela vinda do Filho do homem para o juízo universal. O crente nada tem a temer, ainda que a descrição desse momento o induza ao temor de Deus. De facto, o regresso do Senhor caracteriza-se por «grande poder e glória» (v. 27). Mas será nesse regresso que irá trazer aos fiéis o dom da libertação definitiva, o dom da redenção.


Meditatio

Os inimigos de Daniel fazem-no condenar e lançar à cova dos leões, apesar da benevolência do rei para com ele. Aparentemente levam a melhor. Jerusalém, a cidade santa, é destruída, e a população da Judeia exterminada. Tudo parece correr mal para o sábio servo de Deus, Daniel, e para o povo da Aliança. Mas é exactamente no meio das tragédias que gira a roda da fortuna e se manifesta a vitória do projecto divino: os leões, que pouparam Daniel, devoram os seus adversários; enquanto os homens morrem de medo, os discípulos de Jesus erguem a cabeça, porque a sua libertação está próxima. Os crentes, em vez de se espantarem, devem permanecer serenos e alegres, na esperança da libertação, que se aproxima. Toda a tribulação augura vitória, se formos dóceis ao Espírito Santo, que tudo renova. Não esqueçamos que, tanto o autor do livro de Daniel, como Lucas, escreveram em tempos de perseguição, quando a solução positiva e o fim das tribulações pareciam incertos e longínquos. Para o cristão, o sofrimento da morte é libertação para Cristo e para a vida eterna. Pensemos nas palavras de Paulo: «Tenho o desejo de partir e estar com Cristo» (Fl 1, 23). Deixaríamos de lamentar-nos pelas nossas dificuldades de cada dia, se tivéssemos uma migalha da fé testemunhada nas leituras de hoje.
Façamos nosso este modo de ver as coisas, lendo os acontecimentos à luz da fé e da esperança. Externamente, talvez nada mude. Mas nós estaremos sempre em paz, naquela paz que Jesus nos trouxe. Em qualquer circunstância, basta-nos a disponibilidade para tudo acolher e viver em união com Cristo, para nossa salvação e salvação do mundo. O Pe. Dehon quer que o “Ecce venio” seja a nossa máxima preferida: «Esta expressão está sempre nos nossos lábios e, sobretudo, nos nossos corações», escreve o Fundador nas Cst de 1885. A profissão de vítima, isto é, de viver em permanente atitude de oblação, obriga-nos a oferecer todos os dias as nossas orações, obras, sofrimentos e a vida em união com o Coração de Jesus, em espírito de sacrifício, de expiação, de acção de graças e de amor.


Oratio

Senhor, também eu me revejo entre os fugitivos que saem da cidade, aterrados pelos sinais nos céus e pelo bramido e agitação no mar. A “cidade santa”, que me dava refúgio e apoio está reduzida a um montão de ruínas: onde estão a igrejas repletas de outrora? Por onde anda a juventude? Que é feito das formas de piedade tradicional em que fui educado? Onde estão as respostas claras e concisas às minhas dúvidas? Ajuda-me, Senhor, a descobrir a tua vontade no meio de tantas desgraças. Ajuda-me a enfrentar sereno e esperançoso, como Daniel, os leões que rugem e me querem devorar. Ajuda-me a ver para além dos céus abalados e dos mares agitados. Se estiveres comigo, os meus olhos verão o Filho do homem vir numa nuvem e terei força para erguer a cabeça. Amen.


Contemplatio

Nosso Senhor preveniu-nos: «A via larga conduz à perdição. – O reino dos céus sofre violência». S. Pedro recorda-nos nas suas epístolas que os demónios, nossos inimigos, andam à nossa volta, com a fúria dos leões para nos perderem. A nossa natureza corrompida, as paixões, a nossa indolência natural arrastam-nos. O mundo, as suas máximas, os seus costumes seduzem-nos. O respeito humano paralisa-nos. Um bom número de almas fracassa na obra da salvação. Quantas? Deus o sabe. Mesmo os santos tremiam de medo. O próprio S. Paulo, depois de ter convertido uma multidão de almas, temia o juízo de Deus. S. João Crisóstomo pensava que muitos cristãos e mesmo sacerdotes perdem a sua alma. Nosso Senhor fez ver a Santa Teresa que a sua salvação dependia de uma ligação natural que devia romper. Fez a mesma advertência à bem-aventurada Margarida Maria. Disse-lhe que se ela não se retirasse desta afeição, Ele retirar-se-ia dela. Não estamos demasiado confiantes, demasiado descuidados na grande questão da salvação? (Leão Dehon, OSP 2, p. 14s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Animai-vos: a vossa redenção está próxima.» (Lc 21, 28).


Fonte http://www.dehonianos.org/

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXIV Semana - Quarta-feira - 25.11.2015


Lectio

Primeira leitura: Daniel 5, 1-6.13-14.16-17.23-28

Naqueles dias, o rei Baltasar deu um banquete a mil dos seus conselheiros; e, na presença de todos eles, foi bebendo vinho. 2Excitado pela bebida, mandou trazer os vasos de ouro e prata que o pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, a fim de que o rei, os seus grandes, as concubinas e as bailarinas, se servissem deles para beber. 3Trouxeram, pois, os vasos de ouro que tinham sido roubados ao templo de Deus em Jerusalém. O rei, os seus conselheiros, as concubinas e as bailarinas beberam por eles. 4Depois de terem bebido o vinho, iniciaram o louvor aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra. 5Neste momento, apareceram dedos de mão humana que escreviam defronte do candelabro, sobre o reboco da parede do palácio real.O rei, à vista da mão que escrevia, 6mudou de cor, pensamentos terríveis o assaltaram, os músculos dos rins perderam o vigor e os joelhos entrechocavam-se. 13Daniel foi, então, levado à presença do rei, que lhe disse: «És tu, de facto, Daniel, deportado de Judá, a quem meu pai trouxe da Judeia para aqui? 14Ouvi dizer a teu respeito que o espírito de Deus está em ti e que em ti se encontram uma luz, uma inteligência e uma sabedoria superiores. 16Ora, asseguraram-me que tu és mestre na arte das interpretações e das resoluções de enigmas. Se tu, pois, conseguires ler o que está escrito e me deres a conhecer a sua interpretação, serás revestido de púrpura, trarás ao pescoço um colar de ouro e tomarás o terceiro lugar no governo do reino.» 17Daniel respondeu deste modo ao rei: «Guardai as vossas dádivas; as vossas honrarias, dai-as a outro! Contudo, eu lerei ao rei o texto e dar-lhe-ei o significado dele. 23Mas levantaste-te contra o Senhor do Céu; trouxeram-te os vasos do seu templo, pelos quais bebeste vinho, tu, os teus grandes, as tuas mulheres e concubinas. Tributaste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que são cegos, surdos e nada conhecem, em vez de glorificares o Deus que tem na mão o teu sopro de vida e que conhece todos os teus passos. 24Por isso, foi enviada de sua parte esta mão, que traçou na parede estas palavras. 25Eis o texto aqui escrito: ‘Mené, Tequel e Parsin.’ 26Eis o sentido destas palavras: Mené: Deus mediu o teu reino e pôs-lhe um termo; 27Tequel: foste pesado na balança e encontrado muito leve; 28Parsin: o teu reino foi dividido e entregue aos Medos e aos Persas.»

O nosso texto é claramente uma parábola. O rei Baltasar, filho e sucessor de Nabucodonosor, não é uma figura histórica. O rei, durante um banquete, em Babilónia, manda pôr na mesa os vasos sagrados trazidos de Jerusalém por Nabucodonosor. A profanação dos vasos sagrados desencadeia um prodígio que espalha o terror na sala do banquete: uma mão prodigiosa escreve palavras incompreensíveis na parede. O mais assustado é o rei: «O rei, à vista da mão que escrevia, mudou de cor, pensamentos terríveis o assaltaram, os músculos dos rins perderam o vigor e os joelhos entrechocavam-se.» (vv. 5-6), escreve o autor com ironia. Mais uma vez, ninguém conseguiu explicar o fenómeno. A rainha sugere que se chame Daniel. O rei, que já conhece a sabedoria do jovem deportado, promete-lhe uma recompensa choruda, caso consiga interpretar a visão. Mas Daniel não é um adivinho qualquer. Os seus poderes vêm-lhe de Deus e, por isso, exerce-os gratuitamente. Relendo a história, o sábio israelita mostra as consequências da arrogância e do sacrilégio cometido pelo rei. Baltazar opôs-se ao Deus do céu e adorou os ídolos (v. 23). Por isso, tornou-se réu do juízo de Deus. E Daniel explica: o seu reinado vai acabar, o seu poder já não tem peso, o seu reino vai ser dado a outros.


Evangelho: Lucas 21, 12-19

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12«Vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. 13Assim, tereis ocasião de dar testemunho. 14Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, 15porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários. 16Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós 17e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa constância é que sereis salvos.»

Continuamos a escutar o segundo “Discurso escatológico” em que é delineado o futuro dos crentes e das comunidades cristãs de todos os tempos. Entrevemos já os acontecimentos narrados pelo mesmo Lucas nos primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos. A perseguição é sinal da autenticidade da fé em Jesus, porque os crentes participam do seu destino pascal. É também um sinal de que está perto o reino de Deus e de que é preciso estar atento e preparado para o acolher. Sabemos como a espiritualidade martirial marcou a vida das primeiras comunidades, até ao édito de Milão, em 313. E sabemos como tantos crentes ainda hoje vêem o martírio como uma forte possibilidade. Por isso, derramar o sangue por Cristo foi e continua a ser para muitos cristãos uma oportunidade para «dar testemunho» (v. 13) do Senhor e do seu Evangelho. O dom da fé implica a missão. Jesus indica o método e o estilo dessa missão. O testemunho dos discípulos, para ser eficaz, deve ser ao estilo pascal do testemunho de Jesus. Não é preciso preparar a própria defesa (v. 14), nem imaginar métodos de defesa meramente humanos, ou fazer apelo a estratégias terrenas. O que é preciso é viver de pura fé, abandonar-se ao poder de Deus, confiar na sua Providência. Cristo não deixará faltar a eloquência e a coragem aos seus fiéis (v. 15). A perseverança é o distintivo dos mártires.


Meditatio

A linguagem de imagens fortemente evocativas dos textos apocalípticos incute terror. Mas a mensagem subjacente é de esperança.
Que relação pode haver entre as duas leituras de hoje? A primeira narra um banquete real perturbado por um episódio misterioso; o evangelho refere a promessa de perseguições contra os seus discípulos, feita por Jesus. Mas há uma relação de contraste muito significativo entre as duas leituras. Na primeira leitura, vemos o triunfo de uma personagem rica, poderosa, que atingiu o mais elevado grau do sucesso humano. O rei Baltazar exerce o seu domínio sobre um imenso império e pode organizar festas grandiosas, como o grande banquete que preparou para os seus dignitários. No evangelho, Jesus anuncia aos seus discípulos uma sorte bem diferente: «Vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome…Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós e sereis odiados por todos, por causa do meu nome» (v. 12.16.17ª). Os discípulos de Jesus não terão a felicidade de um banquete, como os dignitários de Baltazar, mas a mísera sorte com que é tratado como criminoso.
Um contraste tão violento entre as duas situações sabe a escandaloso, porque não está de acordo com as exigências da justiça. O rei Baltazar abusa do seu poder para cometer sacrilégios: manda que sejam trazidos para o banquete os vasos sagrados do templo de Jerusalém e profana-os, usando-os para beber e embriagar-se. Assume a figura do ímpio triunfante e insolente, como aparece no salmo 73 (72), 3-12).
A infelicidade dos discípulos de Jesus também é escandalosa, porque não merecem ser perseguidos, postos na prisão, odiados. A única razão da hostilidade contra eles é o apego a Jesus, a sua fé n´Ele. É o que diz o próprio Jesus: «Vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos… por causa do meu nome» (v. 12. 17ª). Como é possível serem perseguidos por estarem apegados a uma pessoa tão boa como Jesus? Não tem qualquer lógica! Mas é assim! É uma manifestação do «mistério da iniquidade» (2 Ts 2, 7).
A Sagrada Escritura não cala as provações por que passam as testemunhas de Deus, porque não é um livro enganoso ou falsamente consolador. Quanto mais é vivo o quadro da catástrofe, mais ressalta a firmeza da fé. Enquanto Baltazar empalidece, ecoam seguras as palavras de Daniel: «Deus mediu o teu reino e pôs-lhe um termo» (v. 27).
O cristão revive os sofrimentos de Cristo. De acordo com a interpretação de Santo Agostinho estas tribulações, vividas por todos os cristãos, atingem, com maior razão, aqueles que, por vocação e pelo carisma da oblação reparadora, são chamados a sofrer pela propagação do Evangelho em união com Cristo.


Oratio

Senhor, mantém-me forte e corajoso, para que não trema e vacile diante das provações da vida, nem diante das perseguições promovidas por daqueles que se opõem a Ti e ao teu reino. Dá-me luz para discernir a tua presença e o sentido do caminho que nos propões; dá-me força para testemunhar a minha fé. Conforta-me quando me sinto triste e abandonado. Só Tu podes ajudar-me, sustentar a minha fé, reanimar a minha esperança e dar calor à minha caridade. Só Tu podes dar-me «palavras de sabedoria» para resistir aos ataques dos teus e meus adversários. Obrigado por estares comigo. Obrigado porque a minha fraqueza mostra que só em Ti há vida e salvação. Amen.


Contemplatio

A fortaleza é uma virtude que nos consolida contra o medo e contra o horror das dificuldades, dos perigos e dos trabalhos que se apresentam na execução dos nossos empreendimentos. É o que o dom da fortaleza faz excelentemente: porque este dom é uma disposição habitual que o Espírito Santo coloca na alma e no corpo para fazer e sofrer coisas extraordinárias, para empreender acções difíceis, para expor-se aos perigos, para superar os trabalhos mais rudes, para suportar as dores mais desagradáveis e isto constantemente e de um modo heróico. Este dom é necessário em algumas ocasiões em que alguém se vê exposto a perder os bens, a honra ou a vida, pelo serviço de Deus. O Coração de Jesus assiste então poderosamente com o dom do conselho e da fortaleza a uma alma fiel a qual, desconfiando de si mesma e tenho conhecimento da sua fraqueza e do seu nada, implora o seu socorro e coloca nele a sua confiança. Temos grande necessidade deste dom por causa da dificuldade de alguns empregos aos quais a obediência nos pode aplicar, como ir para as missões, ficar no trabalho das aulas, ou permanecermos num lugar que nos parece menos favorável para a nossa saúde. A ocasião de uma bela morte é tão preciosa que nenhum homem sábio deve perdê-la quando ela se apresenta. Por este único acto de generosidade cristã, merecemos tanto quanto durante todo resto da vida, se vivêssemos mais longamente e colocados fora de perigo. É uma bela morte apanhar a doença ao serviço dos doentes, ir para as missões perigosas, consumir-se pelo próprio rebanho, como fazem os superiores. Não saberíamos dizer quanto aqueles que assim se expõem atraem de graças sobre as suas famílias religiosas. (Leão Dehon, OSP 3, p. 565s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Não vos deveis preocupar-vos: 
Eu próprio vos darei palavras de sabedoria» (Lc 21, 14.15).


Fonte http://www.dehonianos.org/

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXXIV Semana - Terça-feira - 24.11.2015


Lectio

Primeira leitura: Daniel 2, 31-45

Naqueles dias, Daniel disse ao rei: 31tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; era de um brilho extraordinário, mas de um aspecto terrível. 32Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, 33as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro. 34Contemplavas tu esta estátua, quando uma pedra se desprendeu da montanha, sem intervenção de mão alguma, e veio bater nos seus pés, que eram de ferro e argila, e lhos esmigalhou. 35Então, com a mesma pancada foram feitos em pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro, e, semelhantes ao pó que no Verão voa da eira, foram levados pelo vento sem que deixassem qualquer vestígio. A pedra que tinha embatido contra a estátua transformou-se numa alta montanha, que encheu toda a terra. 36Este era o sonho. Vamos agora dar ao rei a sua interpretação. 37Tu, ó rei, és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; 38a quem entregou o domínio sobre os homens, onde quer que eles habitem, sobre os animais terrestres e sobre as aves do céu. Tu é que és a cabeça de ouro. 39Depois de ti surgirá um outro reino menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. 40Um quarto reino será forte como o ferro; assim como o ferro quebra e esmaga tudo, assim este esmagará e aniquilará todos os outros. 41Os pés e os dedos que viste, em parte de argila de oleiro, em parte de ferro, indicam que este reino será dividido; haverá nele alguma coisa da resistência do ferro, conforme tu viste ferro misturado com argila. 42Os dedos dos pés, em parte de ferro e em parte de barro, significam que o reino será ao mesmo tempo forte e frágil. 43Se tu viste o ferro junto com o barro, foi porque as duas partes se uniram por descendência humana, mas não se aguentarão juntas, do mesmo modo que o ferro não se funde com a argila. 44No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará para outro povo. Esmagará e aniquilará todos os outros, enquanto ele subsistirá para sempre. 45Foi o que pudeste ver na pedra que se desprendia da montanha, sem intervenção de mão alguma, e que reduzia a migalhas o ferro, o bronze, a argila, a prata e o ouro.

Nabucodonosor teve um sonho que lhe agitou o espírito e lhe fez perder o sono. Os seus escribas, magos, feiticeiros e os caldeus, não conseguiram interpretar esse sonho, porque só Deus pode desvendar os mistérios (cf. v. 28). E desvenda-os ao seu servo Daniel. Este narra a visão que o rei tivera e tanto o assustava: uma enorme estátua construída com diversos materiais: ouro, prata, bronze, ferro e argila. De um monte desprende-se uma pedra que atinge os pés da estátua e a faz em pedaços, enquanto a própria pedra se transforma numa alta montanha que enche a terra. Depois, Daniel prossegue explicando o significado da visão: depois de Nabucodonosor, vão suceder-se quatro reinos, cada um dos quais suplantará o anterior, numa progressiva decadência até ao último, enfraquecido pela amálgama de ferro e argila. Então surgirá, por obra de Deus, um reino que aniquilará os outros, simbolizado pela pedra. O autor talvez pense na desagregação do império de Alexandre Magno nos reinos dos sucessores, para afirmar a soberania eterna de Deus, que põe termo ao domínio humano com a imagem escatológica da unificação mundial.


Evangelho: Lucas 21, 5-11

5Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava adornado de belas pedras e de ofertas votivas. Jesus respondeu-lhes: 6«Virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.» 7Perguntaram-lhe, então: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» 8Ele respondeu: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar, pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo. ‘ Não os sigais. 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.» 10Disse-lhes depois: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. 11Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.»

O fim do mundo e a vida futura marcam a espiritualidade cristã. É o que Lucas nos indica ao referir mais um “Discurso escatológico” de Jesus (cf. Lc 17, 20-37). As perguntas que os ouvintes fazem a Jesus - «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» - são duas pistas para investigarmos a mensagem. O discurso de Jesus é pronunciado diante do templo, com as suas «belas pedras» e «ofertas votivas», o que cria contraste entre o presente, que ameaça fechar a religiosidade dos contemporâneos de Jesus, e o futuro para onde Jesus deseja orientar a fé dos seus ouvintes. Ao responder, Jesus anuncia o fim do templo e, de certo modo, de tudo aquilo que ele simboliza. Anuncia o fim do mundo que se concretizará nessa catástrofe e em tantas outras. Tudo o que é deste mundo terá certamente fim, mais tarde ou mais cedo. Por isso, o mais importante é acolhermos o ensinamento de Jesus e deixar-nos guiar por ele, enquanto aguardamos a sua vinda. A sua palavra ajudar-nos-á a discernir pessoas e acontecimentos, e a optar pelos valores que nos propõe. Há muita gente que anuncia a proximidade do fim do mundo, para nos aterrorizar, e nos oferece caminhos de salvação. Jesus não faz isso. Mesmo quando fala do fim do mundo, preocupa-se em iluminar-nos e em confortar-nos.


Meditatio

A imagem da primeira leitura, fortemente simbólica como é próprio do estilo apocalíptico, tem uma mensagem profunda, que precisamos de captar, para percebermos o seu significado último.
O livro de Daniel foi composto no tempo de Antíoco IV, quando o povo estava reduzido a quase nada, oprimido, sem esperança. Os Hebreus fervorosos aprofundaram a sua fé, considerando a sorte dos povos que os tinham dominado anteriormente, Medos, Persas, Gregos, colossos de poder, que desapareceram uns depois dos outros. O mesmo havia de suceder a Antíoco Epifânio. Uma «pedra» havia de desprender-se da montanha, para reduzir a cacos a estátua. Nesta pedra, desprendida da montanha, «sem intervenção de mão alguma» (v. 34), reconhecemos Cristo, nascido da Virgem sem pai terreno, que veio a proclamar e a estabelecer o seu reino com a vitória sobre o mal. O reino de Deus é muito diferente do reino dos homens. Apresenta-se na humildade, estabelece-se nos corações e transforma-os sem clamor, com um poder enorme, mas secreto.
Acontece-nos, muitas vezes, desejar um reino mais visível. Mas é um sonho a que temos de renunciar. O importante é acolhermos o reino em nós, nas nossas famílias, nas nossas comunidades, na Igreja. Jesus avisa-nos: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar» (v. 8). De facto, também hoje, há pessoas que propõem coisas extraordinárias. «Não vos alarmeis», alerta-nos Jesus (v. 8). Tudo o que acontece é humano. O reino é uma realidade eterna.
Quando nos sentimos oprimidos por diversos «impérios», externos ou internos a nós mesmos, aprofundemos a nossa fé no Rei que não falha, no Rei forte, perante o Qual todos os outros poderes são reduzidos a nada.
«Verificamos que o mundo de hoje se agita num imenso esforço de libertação: libertação de tudo quanto lesa a dignidade do homem e ameaça a realização das suas mais profundas aspirações: a verdade, a justiça, o amor, a liberdade (cf. GS 26-27) … Nestas interrogações e procuras entrevemos a expectativa de uma resposta que os homens esperam, mesmo sem chegar a formulá-la claramente. Partilhamos essas aspirações dos nossos contemporâneos, como abertura possível ao advento de um mundo mais humano, ainda que elas contenham o risco de um malogro e de uma degradação. Pela fé, na fidelidade ao magistério da Igreja, relacionamos tais aspirações com a vinda do Reino, por Deus prometido e realizado em seu Filho (Cst 36-37).


Oratio

Senhor, Pai santo, com o óleo da alegria consagrastes Sacerdote, Jesus Cristo, Nosso Senhor, para que, oferecendo-Se no altar da cruz, como vítima de reconciliação, consumasse o mistério da redenção humana e, submetendo ao seu poder todas as criaturas, oferecesse à vossa infinita majestade um reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz. Por isso, com os coros dos Anjos e dos Arcanjos, e com todos os coros celestes, proclamamos a vossa glória, hoje e sempre. Amen.


Contemplatio

Jesus é o Rei dos reis. – David viu profeticamente estes reis magos e descreveu-os no salmo 71: «Os reis de Tarsis e das ilhas ofereceram-lhe presentes; os reis da Arábia e de Saba trouxeram-lhe os seus tributos. Todos os reis da terra o hão-de adorar e todos os povos o hão-de servir». Nada está mais bem marcado no Antigo e no Novo Testamento do que a realeza de Jesus. O que o Antigo Testamento dizia de Deus, que é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores (Dt 10), o Apocalipse di-lo várias vezes de Cristo. - «Ele é o primogénito de entre os mortos e o Príncipe dos reis da terra» (Ap 1,5). «O cordeiro triunfará sobre todos os reis, porque ele é o Senhor e o Rei de todos os que reinam» (Ap 17, 14). «O Verbo de Deus reinará sobre todos os povos; o título escrito sobre o seu brasão é: Rei dos reis e Senhor dos senhores» (Ap 19,16). Todo o salmo 2 é o cântico de glória da realeza de Cristo: «Os reis lutarão em vão contra ele. Deus disse-lhe: pede-me todas as nações em herança e eu dar-tas-ei, tu reinarás sobre todos os reis». S. Paulo diz aos Colossenses: «Cristo é o chefe de todo o principado e de toda a potestade» (2,10). Nós vimos ao longo dos séculos o belo reino de Cristo. É o seu direito, ele conquistou a coroa resgatando os homens e as sociedades. Este reino pode encontrar dificuldades e provas, mas Cristo triunfará sempre. «É em vão, diz David, que os reis e os povos conspiram contra Deus e o seu Ungido, o rei dos reis há-de rir-se deles» (Sl 2). (Leão Dehon, OSP 3, p. 38).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Tende cuidado; não vos deixardes enganar» (Lc 21, 8).



Fonte http://www.dehonianos.org/