sexta-feira, 31 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Sábado - 01.08.2015


Lectio

Primeira leitura: Jeremias 26, 11-16.24

Naqueles dias, 1o Senhor falou a Moisés, no monte Sinai, nestes termos: 8«Contarás sete semanas de anos, isto é, sete vezes sete anos; de forma que a duração de estas sete semanas de anos corresponderá a quarenta e nove anos. 9Depois, farás ressoar fortemente a trombeta, no décimo dia do sétimo mês. No dia do grande Perdão, fareis ressoar o som da trombeta através de toda a vossa terra. 10Santificareis o quinquagésimo ano, proclamando na vossa terra a liberdade de todos os que a habitam. Este ano será para vós um Jubileu; cada um de vós voltará à sua propriedade, e à sua família. 11O quinquagésimo ano é o ano do Jubileu: não semeareis, não colhereis do que cresce espontaneamente, nem vindimareis as vinhas que não foram podadas. 12Porque é o Jubileu, deve ser uma coisa santa para vós e comereis o produto dos campos. 13Neste Jubileu, cada um de vós recobrará a sua propriedade. 14Quando fizeres uma venda ao teu próximo, ou se comprares alguma coisa, não vos prejudiqueis um ao outro. 15Farás essa compra ao próximo, tendo em conta os anos decorridos depois do Jubileu, e ele fará essa venda tendo em conta os anos das colheitas. 16Conforme os anos forem mais ou menos numerosos, assim tu pagarás mais ou menos pelo que adquirires, porque é um número de colheitas que ele te vende. 17Não vos prejudiqueis uns aos outros. Teme o teu Deus, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus.»

A “Lei de santidade”, além das festas, elenca as normas de ordem social para os anos santos, seja o ano sabático todos os sete anos (uma semana de anos), seja o ano jubilar todos os cinquenta anos (sete semanas de anos), valorizando assim a santidade do dia de sábado e o esquema septenário da semana. Sob esta estrutura económico-social, descobrem-se elementos teológicos que realçam o desenvolvimento da revelação divina. Ao conceito de Deus criador e senhor da história e do mundo, ligam-se os temas do resgate e da remissão das dívidas.
O ano jubilar, que tem carácter social, mas com fundamento religioso, amadureceu na experiência positiva do ano sabático. Fala-se dele neste texto e em Nm 36, 4 e em Ez 46, 17. O fundamento religioso destas leis sociais encontra-se na concepção hebraica segundo a qual os bens do mundo são iguais para todos: a terra pertence a Deus, que libertou o povo da escravidão do Egipto, os homens são irmãos, e a liberdade da pessoa é um bem inalienável.
Tudo isto se realiza plenamente em Jesus, que liberta a humanidade do mal e concede o perdão dos pecados.


Evangelho: Mateus 14, 1-12

1Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos de Herodes, o tetrarca, 2e ele disse aos seus cortesãos: «Esse homem é João Baptista! Ressuscitou dos mortos e, por isso, se manifestam nele tais poderes miraculosos.» 3De facto, Herodes tinha prendido João, algemara-o e metera-o na prisão, por causa de Herodíade, mulher de seu irmão Filipe. 4Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito possuí-la.» 5Quisera mesmo dar-lhe a morte, mas teve medo do povo, que o considerava um profeta. 6Ora, quando Herodes festejou o seu aniversário, a filha de Herodíade dançou perante os convidados e agradou a Herodes, 7pelo que ele se comprometeu, sob juramento, a dar-lhe o que ela lhe pedisse. 8Induzida pela mãe, respondeu: «Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista.» 9O rei ficou triste, mas, devido ao juramento e aos convidados, ordenou que lha trouxessem 10e mandou decapitar João Baptista na prisão. 11Trouxeram, num prato, a cabeça de João e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. 12Os discípulos de João vieram buscar o corpo e sepultaram-no; depois, foram dar a notícia a Jesus.

O relato de Mateus sobre o martírio de João Baptista, mais sóbrio que o de Marcos (6, 14), baseia-se na história, pois se trata de um acontecimento datado no tempo de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, a quem os romanos reconheceram jurisdição sobre a Galileia e a Pereia, no norte da Palestina.
A decapitação do Baptista é motivada pela sua intransigência moral e pela sua forte personalidade. O profeta não se amedrontava diante de nada nem de ninguém, quando se tratava de denunciar a imoralidade. Não se amedrontou sequer diante de Herodes, que tendo repudiado a consorte, tomou por esposa a mulher de seu irmão. Herodes continha a sua vontade de vingança, porque temia uma rebelião popular. Mas Herodíades não se preocupava com isso. Assim, quando Herodes jurou dar à filha de Herodíades o que quer que lhe pedisse, a adúltera não hesitou em sugerir a cabeça de João (vv. 6-11). E obteve-a! Com o seu martírio, João Baptista terminou a missão de precursor. E Jesus compreendeu que era chamado a percorrer o mesmo caminho.


Meditatio

A primeira leitura, com a instituição do jubileu, por meio do qual Deus põe limite à escravidão, à expropriação e aos trabalhos pesados dos campos, realça a intenção de Deus em libertar e redimir os escravos e os oprimidos da sociedade. Séculos depois, em Nazaré, Jesus lê o texto de Isaías em que se anuncia e proclama um ano de remissão, um ano de jubileu (cf. Lc 4, 16,19). Deus não quer prender, nem manter prisioneiro quem quer que seja: «O espírito do Senhor Deus está sobre mim,porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano da graça do Senhor» (Is 61, 1-2a). Deus quer a remissão: a remissão das dívidas, e a remissão dos pecados.
O pecado, que até pode parecer um acto de libertação da lei de Deus, lança-nos na mais dura escravidão. Jesus disse-o claramente: «aquele que comete o pecado é servo do pecado» (Jo 8, 34), e comete pecados cada vez mais graves. Foi o que sucedeu com Herodes: começou por prender João Baptista e chegou a mandá-lo matar, pois era escravo de um juramento feito publicamente, e era sobretudo escravo do seu pecado.
Deus quer libertar-nos, quer-nos livres. Que alegria nos dá esta certeza! Deus quer tirar da opressão as pessoas e as próprias coisas. Daí a lei do repouso jubilar da terra. A Igreja inspirou-se nesta lei do Levítico para instituir o Jubileu, que é um ano de remissão, um ano de graça, em que oferece a possibilidade de obter a remissão da pena merecida com o pecado. Para isso, propõe-nos um contacto mais fácil com o Senhor, convida-nos a aproximar-nos dele, com a certeza de que somos libertados e recebemos nova coragem para cumprir cada vez melhor o bem a que somos chamados.


Oratio

Senhor Jesus, dá-nos tranquilidade diante do imenso campo de trabalho que nos espera. Faz-nos compreender e assumir a espiritualidade do jubileu, para defendermos a vida e a dignidade dos nossos irmãos e irmãs, sem qualquer excepção. Torna-nos solidários com os teus pobres, com aqueles cujo sangue não é julgado precioso pelos tiranos e cobardes deste mundo, mas que é precioso aos teus olhos. Dá-nos a coragem de João Baptista para denunciarmos os abusos dos poderosos. Dá-nos a coragem da caridade na verdade, ainda que isso nos venha a custar caro, como custou a João Baptista, como custou a Ti. Amen.


Contemplatio

O Coração de Jesus é o lugar do nosso doce repouso. Desde os Padres da Igreja que a tradição interpreta neste sentido o nosso texto do Cântico dos Cânticos. Santo Agostinho diz no seu Manual (c. 2): «Longuinhos abriu-me com a sua lança o lado de Jesus, e eu entrei e repouso lá em segurança». – S. Bernardo tem páginas deliciosas no seu tratado da Paixão (c. 3): «O vosso coração foi ferido, diz a Nosso Senhor, para que eu possa nele e em vós habitar… como é bom habitar neste coração!...». S. Boaventura dizia: «Penetrando nas chagas de Jesus, chego até ao fundo do seu amor… entremos lá todo inteiros, aí encontraremos o nosso repouso e uma inefável doçura» (Stim. Div. Amoris, c.1). Nosso Senhor dizia a Santa Matilde: «Dar-te-ei o meu coração como um lugar de refúgio». S. Francisco de Sales escrevia a uma visitandina (Carta 64): «Não sei onde estareis nesta Quaresma segundo o corpo; segundo o espírito, espero que estareis na caverna da rola e no lado ferido de Nosso Senhor; quero esforçar-me por estar lá muitas vezes convosco; Deus, pela sua soberana bondade, nos faça essa graça!... Como este Senhor é bom, minha muito querida filha, como o seu coração é amável! Permaneçamos lá neste santo domicílio!» O P. Cláudio de la Colombière tem por tanto razão ao dizer que o Coração de Jesus é o retiro de todas as almas santas. (Leão Dehon, OSP 3, p. 676).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Enviou-me a proclamar um ano da graça do Senhor» (Is 61, 1-2a).


Fonte http://www.dehonianos.org/

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Sexta-feira - 31.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Levítico 23, 1.4-11.15-16.34b-37

Naqueles dias, 1o Senhor falou assim a Moisés, dizendo. 4Eis aqui as festas do Senhor, as assembleias sagradas que proclamareis na devida data. 5No décimo quarto dia do primeiro mês, ao crepúsculo, é a Páscoa do Senhor. 6E no décimo quinto dia desse mês, terá lugar a festa do Pão Ázimo em honra do Senhor; durante sete dias comereis pão sem fermento. 7No primeiro dia, fareis uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil. 8Oferecereis ao Senhor uma oferta queimada em cada um dos sete dias. No sétimo dia, haverá uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil.’ 9O Senhor falou assim a Moisés: 10«Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando chegardes à terra que vos concedo, e procederdes à ceifa, levareis ao sacerdote o primeiro molho da vossa colheita, 11e ele fará o ritual de apresentação diante do Senhor, para que vos seja aceite; o sacerdote fará essa apresentação no dia seguinte ao sábado. 15«Depois, contareis sete semanas completas, a partir do dia seguinte ao do sábado, isto é, do dia em que tiverdes feito o rito da apresentação do molho de espigas. 16Contareis até ao dia seguinte da sétima semana, isto é, cinquenta dias, e oferecereis ao Senhor uma nova oblação. 27«No décimo dia deste sétimo mês, que é o dia do perdão, fareis uma assembleia sagrada; fareis penitência, e apresentareis uma oferta queimada em honra do Senhor. ‘No décimo quinto dia deste sétimo mês, celebrar-se-á a festa das Tendas, em honra do Senhor, durante sete dias. 35No primeiro dia haverá uma assembleia sagrada, não fareis nenhum trabalho servil. 36Em cada um dos sete dias, apresentareis uma oferta queimada ao Senhor. No oitavo dia, fareis ainda uma assembleia sagrada e apresentareis uma oferta queimada ao Senhor: é uma reunião festiva e não fareis nenhum trabalho servil. ‘» 37«São estas as festas em honra do Senhor, em que deveis convocar assembleias sagradas, apresentando uma oferta queimada ao Senhor, um holocausto e uma oblação, sacrifícios e libações, segundo o ritual de cada dia.

O texto que escutamos refere-se ao ciclo litúrgico das diversas festas anuais, ligado ao ambiente de Jerusalém e enquadrado na «Lei de santidade». As festas hebraicas são vistas como assembleia do povo no lugar santo, na presença do Deus três vezes santo, e lembram a sua sequência no ciclo anual. A digna celebração das festas deve levar os indivíduos a sair da sua auto-suficiência, inserindo-os numa vida com dimensão comunitária. Cada homem pertence ao povo e é sua expressão e, por meio dele, pertence a Deus. Os elementos fundamentais das festas de Israel são especialmente dois: a convocação da santa assembleia do povo e o repouso do trabalho. O primeiro, cadencia a vida do povo e faz-lhe reviver, particularmente na celebração litúrgica, as maravilhas operadas por Deus na sua história; o segundo, afasta o povo das coisas materiais e quotidianas para o introduzir no tempo forte de Deus, onde toma conta do passar da vida e do seu significado de salvação. A páscoa ocupa um lugar especial entre as festas: o Senhor, que, todos os anos, oferece os frutos da terra e os animais, é o mesmo que manifestou o seu poder salvador para libertar Israel. A festa da páscoa funde-se com a dos ázimos para recordar a libertação da escravidão e a posse da terra fértil. A festa das semanas ou do Pentecostes celebra a colheita do trigo e o dom da Lei. A festa dos tabernáculos recorda a vindima e ao mesmo tempo a passagem de Israel pelo deserto. As festas cristãs inspiram-se nas festas hebraicas, mas enriquecidas com o novo conteúdo cristão.


Evangelho: Mateus 13, 54-58

Naquele tempo, 54tendo Jesus chegado à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? 55Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» 57E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» 58E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente.

Acabado o discurso das parábolas, Mateus introduz, no seu evangelho, outro material narrativo que marca a progressiva separação entre Jesus e Israel, e evidencia a formação específica dada ao grupo dos discípulos (cf. Mt 13, 54-17,27). O episódio de hoje tem um paralelo em Mc 6, 1-6, do qual depende, e refere-se à rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos. A apresentação “oficial” de Jesus na sinagoga da sua terra redunda em completo fracasso. Após o assombro inicial, os seus conterrâneos interrogam-se sobre a identidade de Jesus. A frase mais significativa de toda a perícopa é: «estavam escandalizados por causa dele» (v. 57). O evangelho introduz-nos, deste modo, no mistério de Jesus. A atitude dos nazarenos é significativa de todos aqueles que procuram compreender Jesus, partindo unicamente do que pode saber-se sobre Ele: é da nossa terra, filho do carpinteiro, conhecemos a sua família, estudou na nossa sinagoga… Jesus foi incompreendido e desprezado, tal como o foram os profetas... O mesmo sucederá com os seus discípulos. Paulo falará do escândalo da cruz (Mc 14, 27.29; 1 Cor 1, 23). A sorte dos profetas, de Jesus, dos discípulos é sempre a mesma: ser recusados, ser objecto de troça, de desprezo, de perseguição e, muitas vezes, de morte violenta.


Meditatio

A primeira leitura insiste em falar das «festas do Senhor». Fazer festa é importante para nós. Não fomos feitos para viver sempre de modo banal, rotineiro. Fomos feitos para gozar da alegria do Senhor. Também não fomos criados para ser escravos, mas livres. Mas devemos reconhecer que o trabalho, com frequência, assume um aspecto servil, isto é, de escravidão. Noutros tempos, havia escravos e homens livres. Infelizmente, ainda hoje, em alguns lugares e situações, continua a haver escravos e pessoas livres. Muitas «festas do Senhor» continuam subordinadas a certas necessidades escravizantes do nosso mundo contemporâneo. A muitos cristãos não é reconhecido o direito de praticar publicamente a sua religião, de celebrar as «festas do Senhor».
Mas Deus quer que os seus filhos possam viver, em alegria e liberdade, dias de festa ao longo do ano. Já Moisés, a convite de Deus, ordenou ao povo que não fizesse qualquer trabalho servil nas solenidades do Senhor, para, na alegria, se encontrar com Ele e com os outros. No dia da festa do Senhor, da «santa assembleia», é possível acolher-nos reciprocamente, em relações abençoadas pelo Senhor e orientadas para a comunhão com Ele. Estas relações, que orientam para o Senhor, são profundas, sinceras, verdadeiras, e permitem amar-nos generosamente uns aos outros no Senhor.
As festas tornam-nos livres para darmos tempo ao Senhor, para estarmos mais unidos a Ele na oração, no louvor, na exultação, e fazem-nos mais disponíveis para com os outros, mais atentos a todos, mais prontos a escutá-los, a partilhar na alegria, na liberdade e no amor.
A Igreja assumiu este desejo de Deus, e instituiu muitas festas, para nos ajudar a criar um clima de alegria na novidade de vida que Cristo nos deu com a sua morte e ressurreição. Todas as solenidades da Igreja estão ligadas ao Mistério Pascal, para evidenciar que Cristo é centro, princípio e fim de toda a realidade.


Oratio

Senhor, faz-nos compreender a importância do trabalho como meio para a nossa subsistência, mas também como meio de realização pessoal, e de participação na tua obra da criação. Mas faz-nos também compreender a importância do descanso e da festa, para nos encontrarmos mais intimamente Contigo e com os nossos irmãos. Que jamais nos deixemos escravizar pelo trabalho, mas sempre vivamos na liberdade e na alegria, para estarmos em comunhão Contigo e construirmos relações fraternas com todos os homens. Amen.


Contemplatio

Amar Jesus, é tudo o que ele pede. Ele quer expandir a devoção ao seu Coração sagrado, para que vamos ter com ele com o coração. É preciso nesta devoção distinguir duas coisas: o culto público e o culto interior. As solenidades do culto público glorificam o Sagrado Coração e ele é muito sensível a isso. Deus Pai compraz-se nisso e responde com graças abundantes, mas é preciso mais e melhor para Nosso Senhor. É preciso que ele tenha adoradores em espírito e verdade, adoradores que lhe dêem o seu coração, que lhe dêem todos os seus batimentos, todas as suas aspirações, todos os afectos. (Leão Dehon, OSP 3, p. 665s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Que eu Te escute, Senhor, e me converta a Ti» (cf. Jr 26, 3).


Fonte http://www.dehonianos.org/

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Quinta-feira - 30.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Êxodo 40, 16-21.34-38

16Moisés obedeceu; fez tudo quanto o Senhor lhe ordenara. 17No primeiro dia do primeiro mês do segundo ano, foi erigido o santuário. 18Moisés erigiu o santuário: assentou as bases, as pranchas, as travessas e ergueu as colunas; 19estendeu a tenda sobre o santuário e, por cima, a cobertura da tenda, como o Senhor lhe tinha ordenado. 20Tomou o testemunho e depositou-o na Arca; meteu os varais na Arca, sobre a qual colocou o propiciatório. 21Transportou a Arca para o santuário, fixando o véu de protecção, para vedar o acesso à Arca do testemunho, como o Senhor lhe tinha ordenado. 34Então, a nuvem cobriu a tenda da reunião, e a majestade do Senhor encheu o santuário. 35Moisés já não pôde entrar na tenda da reunião, porque a nuvem pairava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o santuário. 36Quando a nuvem se retirava de cima do santuário, os filhos de Israel partiam de viagem, 37e quando a nuvem não se retirava, não partiam, até ao instante em que ela se elevava. 38Porque uma nuvem do Senhor cobria o santuário durante o dia, e um fogo brilhava ali durante a noite, aos olhos de toda a casa de Israel, em todas as suas caminhadas.

O nosso texto é claramente pós-exílico (séculos VI-V a. C.). Ele projecta sobre o santuário do deserto, objecto portátil, que tinha por função representar a condução divina do povo na marcha para a terra, a imagem do templo de Jerusalém. Assim procura o documento sacerdotal justificar o ordenamento do culto da comunidade do segundo templo. Moisés, em obediência a Deus, constrói a tenda, a “Morada” do Senhor (vv. 16-21, e Deus vem estabelecer-se no meio do seu povo escolhido (vv. 34-38). Depois do Sinai, é a tenda que constitui a comunidade da revelação de Deus com os homens. Ela é o lugar ideal onde cada homem pode entrar em contacto com o Senhor e dialogar com Ele. Deus opta por estabelecer morada no meio do seu povo e comunicar com Moisés, mediador carismático. O sinal visível do Deus invisível era a «nuvem», que regulava as etapas do caminho do povo no deserto rumo à terra prometida. A presença de Deus, que enchia a tenda do santuário, era chamada, pela tradição sacerdotal, «glória», manifestação do amor salvífico de Deus no seu poder e santidade. No judaísmo sucessivo, essa «presença» de Deus será chamada shekhînah, «a Presença» por excelência. Para João, a humanidade de Cristo será a nova tenda, o novo templo onde reside toda a plenitude de sabedoria, graça e verdade, em que se manifesta a presença perfeita do Emanuel, o Deus-connosco.


Evangelho: Mateus 13, 47-53

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47«O Reino do Céu é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. 48Logo que ela se enche, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e escolhem os bons para as canastras, e os ruins, deitam-nos fora. 49Assim será no fim do mundo: sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, 50para os lançarem na fornalha ardente: ali haverá choro e ranger de dentes.» 51«Compreendestes tudo isto?» «Sim» - responderam eles. 52Jesus disse-lhes, então: «Por isso, todo o doutor da Lei instruído acerca do Reino do Céu é semelhante a um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro.» 53Depois de terminar estas parábolas, Jesus partiu dali.

A parábola da rede que, lançada ao mar, «apanha toda a espécie de peixes» (v. 47), aprofunda o significado da parábola do trigo e do joio. É uma parábola eminentemente escatológica, pois se refere a realidades que terão lugar nos últimos dias, no último dia. Como na rede se encontram peixes bons e peixes ruins, assim também na Igreja há quem viva e acolha a palavra de Jesus, e há quem a recuse ou permaneça indiferente. A separação, de uns e de outros, acontecerá no fim dos tempos, e pertence a Deus fazê-la (vv. 47-50). Entretanto, como na parábola do trigo e do joio, bons e maus têm de conviver ou coexistir até ao fim. Só então se manifestará clara e definitivamente quem é bom e quem é mau, quem confessou Cristo com o coração e os lábios e quem o confessou só por palavras, quem pertence à comunidade dos filhos de Deus e quem não pertence. Estes últimos terão a sorte dos peixes ruins e do joio.


Meditatio

Quanto nos conforta saber que Deus mora no meio do seu povo e que a sua presença enche essa morada. Há uma presença geral de Deus em todas as coisas. Mas também há uma presença pessoal, que permite dialogar com Ele. Deus quis estar assim presente no meio de nós. A morada, de que nos fala a primeira leitura, é lugar de encontro e de segurança, antecipação e prelúdio de uma outra tenda, a do Verbo de Deus. De facto, a verdadeira morada de Deus no meio dos homens é Cristo. A Virgem Maria também se tornou morada de Deus na Incarnação, quando a sombra do Espírito a cobriu e ficou cheia da glória do Senhor. Agora, a verdadeira morada, onde havemos de permanecer, é Jesus. Nos “discursos de adeus”, que lemos no evangelho de João, volta esta palavra como consolação, convite e promessa: «viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 15, 23), «permanecei em mim, e eu permanecerei em vós» (15, 4) e ainda: «permanecei no meu amor» (15, 9).
É esta a esperança, o desejo profundo de todos quantos O amam: permanecer n´Ele e ser sua morada, numa intimidade misteriosa mas muito real com Ele, com o Pai e com o Espírito. Esta realidade realiza-se, sobretudo, na Eucaristia. No sacrário, torna-se presente a nós «o Verbo feito carne» porque, de facto «habita entre nós» (cf. Jo 1, 14). No Antigo Testamento, Deus manifestava-se na nuvem que vinha e ia, sem se poder tocar. Na plenitude dos tempos, manifestou-se em carne visível, palpável, estável entre nós. Por isso, os apóstolos poderão dizer: «O que vimos, ouvimos, contemplámos, relativamente ao Verbo da vida, isso vos anunciamos…» (cf. 1Jo 1, 1-4). Depois da Ceia pascal, podiam acrescentar: «comemos»: De facto, Jesus diz-lhes: «Tomai e comei…»; «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue…». Na Eucaristia, a presença de Deus torna-se pessoal, real, concreta, plenamente adaptada à nossa condição de seres incarnados. Como os antigos hebreus, podemos dizer: «Que grande nação tem a sua divindade tão próxima de si, como o Senhor está próximo de nós?» (Dt. 4, 7). Verdadeiramente, diante do sacrário, podemos exclamar, como João no Apocalipse: «Eis a morada de Deus entre os homens!» (Apoc 21, 3). A presença eucarística possibilita a dupla imanência de que acima falámos: Jesus em nós e nós n´Ele: «viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 15, 23), «permanecei em mim, e eu permanecerei em vós» (15, 4), diz o Senhor. Tudo isto se realiza de modo muito concreto na comunhão eucarística, em que Cristo vem a nós e nos une a Ele, ao Pai e ao Espírito Santo.


Oratio

Senhor, Tu quiseste habitar no meio de nós. São muitos os modos como habitas. Hoje quero agradecer-Te, particularmente, pela tua presença na Eucaristia, verdadeira morada de Deus entre os homens. Aí podemos encontrar-Te de modo muito particular, de modo sacramental. Aí podemos falar Contigo, como falava o Francisco de Fátima, e como falam todos os que reconhecem a tua presença, escondida mas real, nas espécies eucarísticas. Aí podemos receber-Te para que, não só habites no meio de nós, mas habites em nós. Contigo, assim o cremos, recebemos o Pai e o Espírito Santo. Que maravilhosa é a Eucaristia. É, na verdade, o dom do teu Coração. Obrigado, Senhor! Amen.


Contemplatio

O Coração de Jesus soube tudo arranjar, e a fim de permanecer sempre connosco, inventou o sacramento do amor. Não vemos Jesus, mas Ele está lá; só as fracas aparências eucarísticas nos separam d’Ele, e temos a fé para as penetrar, e temos um coração que voa para o Coração de Jesus, tornado mais do que nunca o Coração do nosso irmão e do nosso amigo. É assim que o Coração de Jesus cumpre a sua promessa: «Não vos deixarei órfãos». É assim que a Eucaristia continua o mistério da Incarnação e multiplica por toda a parte Belém e Nazaré. A Eucaristia torna mesmo Nosso Senhor mais perto de nós do que o mistério da Incarnação, e quando reflectimos bem nisto vemos que Ele não se afastou do homem pela Ascensão senão para estar mais perto dele pela Eucaristia, porque as condições da vida mortal não permitiam ao Salvador tornar-se presente em todos os pontos do espaço, em todo o coração que o amasse e que desejasse a sua visita, mas a sua vida gloriosa permite-lhe a omnipresença do amor; o seu Coração está em toda a parte, encontramo-lo em todos os santuários, e se a nossa ligeireza e a nossa indiferença não impedissem as efusões deste amor insaciável no dom de si mesmo, ser-nos-ia permitido como aos primeiros crentes de o guardar nas nossas casas e de o levar sempre no nosso coração. Tal teria sido a condescendência deste Coração generoso, se a Igreja não tivesse tomado, de algum modo contra Ele mesmo, o cuidado do respeito que Lhe é devido. Mas se este privilégio não nos é concedido, nós podemos sem grande fadiga, e quando queremos, a toda a hora do dia e da noite, aproximar-nos do Coração eucarístico, falar-lhe, abrir-lhe todo o nosso coração, atraí-lo a nós e fazer d’Ele tudo o que quisermos… Pela santa Eucaristia, a Incarnação multiplica-se sobre todos os pontos da terra habitável; em toda a parte aonde nos é dado dirigir os nossos passos, encontramos o Coração do nosso irmão e do nosso amigo, sempre pronto a nos receber, sempre pronto a nos consolar, sempre pronto a nos cumular de graças, a nos iluminar, a nos levantar e a nos perdoar. Assim, nesta Incarnação nova, é sobretudo o Coração de Jesus que está presente; Ele esconde todo o resto, a sua divindade, a sua humanidade, a fim de melhor deixar ver o seu Coração; e se os olhos do corpo não podem ver, como o vêem os olhos do coração e como sabem penetrar os véus que o envolvem! Ah! Porque não nos é dado multiplicar também o nosso coração para o dar a este Coração que se multiplica por nós! Pelo menos, arranquemos os nossos pensamentos, as nossas afeições ao mundo, a nós mesmos, para os dar todos ao único Coração que nos ama, e se não podemos superá-lo nem mesmo igualá-lo em amor, ao menos que todo o nosso amor lhe pertença, todo, absolutamente todo; e ainda, depois disto, digamos que não somos senão servos inúteis (Pe. Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 4 e19s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Viremos a ele e nele faremos morada» (Jo 15, 23),


Fonte http://www.dehonianos.org/

terça-feira, 28 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Quarta-feira - 29.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Êxodo 34, 29-35

Naqueles dias, 29Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas do testemunho. Não sabia, enquanto descia o monte, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus. 30Quando Aarão e todos os filhos de Israel o viram, notaram que a pele do seu rosto se tornara resplandecente e não se atreveram a aproximar-se dele. 31Moisés, porém, chamou-os; Aarão e todos os chefes da assembleia foram ter com ele, e ele falou-lhes. 32Em seguida, aproximaram-se todos os filhos de Israel, aos quais transmitiu todas as ordens que tinha recebido do Senhor, no monte Sinai. 33Depois de ter acabado de falar com eles, Moisés cobriu o rosto com um véu. 34Ao entrar para estar na presença do Senhor e falar com Ele, Moisés retirava o véu até sair. Então, depois de sair, comunicava aos filhos de Israel as ordens recebidas. 35Os filhos de Israel viam resplandecer a face de Moisés que, em seguida, tornava a colocar o véu sobre o rosto, até entrar novamente para falar com Deus.

O tema predominante em Ex 32-34 é a distância e a proximidade de Deus. Foca particularmente e remodela o tema da tenda da reunião (Ex 33, 7-11), o lugar onde Deus vem para se comunicar com Moisés e com o povo. Essa tenda é agora como que posta de lado, para sobressair a figura de Moisés como lugar privilegiado da revelação de Deus aos homens. Trata-se de uma adição pós-exílica (séculos VI-V a. C.) pertencente ao documento sacerdotal. Moisés desce do Sinai, com o rosto radiante, e trazendo nas mãos as tábuas da lei. O povo não ousa aproximar-se dele, pois se sente tomado por um temor sagrado e por respeito (cf. v. 30). Moisés chama, então, Aarão e os representantes do povo para lhes transmitir as ordens de Deus. Enquanto se encontra entre o seu povo, cobre o rosto com um véu. Pelo contrário, quando entra na tenda para dialogar com Deus retira o véu (cf. Sir 45, 2.7s.; 50, 5-13). Moisés, o grande chefe, é aqui o revelador de Deus, através do resplendor do seu rosto e das tábuas da lei, que contêm a palavra de Deus. Aproximar-se de Moisés, e escutar os seus ensinamentos, é fazer experiência do divino (vv. 31-34), e entrar no mistério de Deus. Como figura carismática, Moisés encarna todas as mediações da revelação divina: a ele se atribui a promulgação da lei e a autoridade da palavra de Deus. Neste texto, entrevemos a figura de Cristo glorioso na transfiguração, verdadeira manifestação do Salvador dos homens e imagem viva e luminosa de Deus invisível (cf. Mc 9, 2-8; 2 Cor 4, 6; Heb 1, 3; Cl 1, 15).


Evangelho: Mateus 13, 44-46

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44«O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. 45O Reino do Céu é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. 46Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.»

As parábolas do tesouro casualmente encontrado no campo, e da pérola desejada e finalmente comprada, acentuam a alegria daquele que compreendeu o valor do reino de Deus. Ambos os protagonistas vendem tudo o que têm para adquirirem o tesouro e a pérola, respectivamente. Mas o ensinamento fundamental não é o da entrega incondicional que o Reino exige, com as respectivas renúncias. A palavra fundamental é «cheio de alegria» (v. 44), referida ao homem comovido diante do excepcional achado num campo, e da pérola de grande valor encontrada. Perante essas descobertas, tudo o resto perde valor. Daí que nenhum esforço, nenhuma renúncia, pareçam excessivos para obter tais bens.


Meditatio

A nossa meditação pode partir, hoje, de um pormenor que lemos logo no primeiro versículo da primeira leitura: «Moisés, enquanto descia o monte, não sabia, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus (v. 29). A leitura de ontem dava a entender que todo o povo de Deus podia fazer uma experiência semelhante à de Moisés, frequentando a «tenda da reunião», que era acessível a: «todos aqueles que desejavam consultar o Senhor» (v. 7). E o encontro, a oração, o diálogo com Deus, pode produzir em todos efeitos semelhantes aos que produziu em Moisés. Mas pode dizer-se mais: a contemplação, tal como a santidade, não é privilégio de alguns, mas é vocação comum de todos os cristãos. Contemplar é fixar-nos intuitivamente sobre a realidade divina, que pode ser o próprio Deus, um seu atributo, ou um mistério da vida de Cristo. É fruir da sua presença, deixar-nos iluminar por Ele, tornar-nos resplandecentes. Para os cristãos, e para nós dehonianos, em particular, a Eucaristia, que celebramos e comungamos, é um excelente “objecto” de contemplação. Contemplar a Eucaristia é fixar-nos intuitivamente sobre aquilo que ela é para nós: presença do Senhor Ressuscitado, e fruir dessa presença. De facto, enquanto na meditação prevalece a busca da verdade, na contemplação prevalece o gozo da Verdade encontrada. A contemplação eucarística, feita na adoração, permite-nos ter em nós «os sentimentos que estavam em Cristo Jesus» (Fl 2, 5), permite-nos «pensar segundo Deus, e não segundo os homens» (cf. Mt 16, 23, e torna «puro» o nosso coração. O que, de facto, nos torna impuros é a busca de nós mesmos, da nossa glória. Mas o homem que contempla a Deus, volta as costas a si mesmo, esquece-se de si. Quem contempla, não se contempla.
Assiste-se ao renascimento da adoração eucarística. Os cristãos voltam a gostar de estar diante de Jesus, como Maria de Betânia (Lc 10, 39). É à volta do “Corpo real”, que é a Eucaristia, que redescobrimos e aprofundamos a realidade do Corpo Místico, que é a Igreja.
Estando silenciosos e calmos diante do Senhor, presente na Eucaristia, percebemos os seus desejos a nosso respeito, depomos a seus pés os nossos projectos e aceitamos os d’Ele. A sua luz penetra o nosso coração e cura-o. As almas eucarísticas, contemplando o “sol da Justiça”, Cristo Nosso Senhor, fixam o seu Espírito e transmitem-no a toda a grande árvore que é a Igreja, tornam-se servidores do Reino do «amor e da justiça» entre os homens, como foi Leão Dehon, e nos recomendou que fôssemos. Por isso é que a adoração eucarística, tempo de encontro, de presença e de contemplação, é a primeira opção apostólica da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus. É o grande apostolado que todos podem fazer, mesmo quando lhes faltarem as forças para outros serviços apostólicos, mesmo quando estiverem limitados pela doença ou pela idade. É o apostolado que todo o cristão pode fazer, mesmo sem grande preparação teológica e pastoral. É o apostolado que se pode fazer mesmo quando é mais prudente estar calado que falar...
A contemplação eucarística é realização da profecia «Hão-de olhar para aquele que trespassaram» ou «n´Aquele que trespassaram» (Videbunt in quem transfixerunt) (Jo 19, 37). Mas é, por sua vez, profecia daquilo que, um dia faremos no Céu, quando nos juntarmos à grande liturgia celebrada pelos redimidos à volta do trono do Cordeiro, como nos descreve o Apocalipse (cf. Apoc 5).
Quando descia do monte Sinai, Moisés trazia o rosto radiante de luz, porque tinha conversado com Deus, como com um amigo, frente a frente, “boca a boca” segundo a expressão do livro do Êxodo (cf. Ex 33, 11). Moisés não se dava conta desse brilho. Mas ele era real... Também nós, depois da adoração, talvez não nos demos conta, mas voltamos para junto dos irmãos com o rosto tornado brilhante, porque contemplámos o Senhor. E será esse o mais belo testemunho que podemos dar ao nosso mundo materialista e consumista, mas com uma enorme ânsia de encontrar a Deus.


Oratio

Senhor, obrigado por queres habitar no meio de nós, por quereres ficar connosco na Eucaristia. Na verdade, Tu és um Deus próximo, um Deus amigo. Ninguém tem tão próximo de si o seu deus, como nós temos próximo de nós o nosso Deus. Que a tua Presença nos torne presentes a Ti, para Te ouvirmos, Te falarmos, para sermos iluminados. Assim poderemos tornar-nos significativos para a Igreja e para o mundo, que precisam de pessoas competentes em diversas áreas do saber e da técnica, mas precisam principalmente de profetas em cujos rostos resplandeça a tua glória. Tu estás connosco! Que estejamos contigo, e sejamos iluminados! Amen.


Contemplatio

A adoração do Sagrado Coração de Jesus no seu Sacramento exposto é também um dos principais exercícios de reparação. No nosso tempo, o Espírito Santo impele com uma força toda divina a Igreja a tomar frequentemente como objecto de contemplação o Santíssimo Sacramento exposto sobre os nossos tabernáculos. As exposições do Santo Sacramento multiplicaram-se ao infinito. Vários institutos religiosos têm o Santíssimo Sacramento exposto todos os dias; outros, todas as semanas. A divina vítima é o objecto das suas contemplações mais frequentes. Os amigos do Sagrado Coração de Jesus, não se esquecem de O contemplar sobretudo na humanidade santa do Salvador, a fonte e o fundamento de todo o resto, o amor, o Coração mesmo de Jesus. Não há, depois da santa Missa, exercício que supere em mérito e em eficácia a adoração eucarística. No Santíssimo Sacramento, a oração do Coração de Jesus, esta oração que é toda amor, reparação, acção de graças, dura sempre, ardente, abrasadora, toda-poderosa, capaz de tudo reparar. Saibamos portanto unir-nos a ela, tomá-la, colocá-la no nosso coração, para que viva desta vida de amor e de imolação, e que nela se consuma como a lâmpada do santuário. Tais são os sentimentos que nos devem inspirar, quando nos apresentamos à adoração do Sagrado Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento. A nossa adoração não reclama sempre muitas palavras; há também momentos de silêncio que são eloquentes por si mesmos. Nada de mais belo e de mais tocante do que a união a este Coração sempre silencioso e sempre actuante por nós. Santo Afonso de Ligório diz que esta oração do divino Sacramento produz às vezes graças sensíveis como própria sagrada Comunhão. Nesta adoração, é o amigo que fala ao seu amigo sobre os interesses do seu amor e da sua glória. Enfim, não nos podemos esquecer que esta devoção ao Sagrado Coração de Jesus nasceu no meio de uma adoração ao Santíssimo Sacramento. É por meio deste exercício que ela se espalhará, se fortificará e se tornará o órgão todo-poderoso do amor, da reparação e da acção de graças (Leão Dehon, Eucaristia, OSP 2, p. 487s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Hão-de olhar para aquele que trespassaram» (Jo 19, 37).


Fonte http://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Terça-feira - 28.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Êxodo 33, 7-11; 34, 5b-9.28

Naqueles dias, 7Moisés pegou na tenda e foi colocá-la a certa distância do acampamento. Deu-lhe o nome de tenda da reunião. E todos aqueles que desejavam consultar o Senhor iam à tenda da reunião, fora do acampamento. 8Quando Moisés se dirigia para a tenda, todo o povo se levantava, permanecendo cada um à entrada da própria tenda, para o seguir com os olhos, até Moisés entrar na tenda. 9Logo que Moisés entrava na tenda, a coluna de nuvem descia e mantinha-se à entrada, e o Senhor falava com Moisés. 10E, ao ver a coluna de nuvem que permanecia à entrada da tenda, todo o povo se levantava e se prostrava, cada um à entrada da sua tenda. 11O Senhor falava com Moisés, frente a frente, como um homem fala com o seu amigo. Moisés voltava, em seguida, para o acampamento; mas Josué, filho de Nun, o seu servidor, homem ainda novo, não se afastava do interior da tenda. Moisés, passando junto dele, pronunciou o nome do Senhor. 6O Senhor passou em frente dele e exclamou: «Senhor! Senhor! Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e de fidelidade, 7que mantém a sua graça até à milésima geração, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado, mas não declara inocente o culpado e pune o crime dos pais nos filhos, e nos filhos dos seus filhos até à terceira e à quarta geração.» 8Moisés curvou-se imediatamente até ao chão e prostrou-se em adoração, 9dizendo: «Se, entretanto, alcancei graça aos teus olhos, ó Senhor, vem, por favor, caminhar no meio de nós, pois este é um povo de cerviz dura. Mas perdoa-nos as nossas iniquidades e os nossos pecados e aceita-nos como propriedade tua.» 28Moisés permaneceu junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. E escreveu nas tábuas as palavras da aliança, os dez mandamentos.

A leitura que hoje escutamos é composta por dois pequenos textos, o primeiro eloísta e o segundo javista, que nos referem a renovada aliança pelo Senhor, mediante um acto de renovação permanente do culto. O Senhor, apesar do pecado do povo, pela sua misericórdia e pelo seu amor, permanece junto do povo, graças a Moisés. Este, pegou «na tenda da reunião», isto é, no lugar do culto, e «foi colocá-la a certa distância do acampamento» (v. 7), como que a indicar que Deus não pode conviver harmoniosamente com homens pecadores, apesar de estar sempre disponível a perdoar-lhes. Todos os que reconheciam o seu pecado podiam dirigir-se à tenda e falar com Deus, tal como o intercessor Moisés, quando falava com o Senhor face a face, como amigo a amigo, e como Josué, que «não se afastava do interior da tenda» (v. 11). Em resumo, Deus, que se revela a Moisés como misericordioso, quer ensinar ao seu povo que o verdadeiro lugar da aliança não é o monte Sinai ou um qualquer outro lugar material, mas o reconhecer-se pecador e o estar disposto a acolher a sua misericórdia, que se manifesta nas situações concretas e por meio de homens e pessoas santas e amigas de Deus.


Evangelho: Mateus 13, 36-43

Naquele tempo, 36afastando-se das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» 37Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; 38o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; 39o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. 40Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, 42e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!»

O Evangelho oferece-nos várias parábolas para nos ensinar como é que Deus faz chegar a sua Palavra aos homens. A parábola do joio no campo alerta-nos para a existência de outro semeador: o semeador do mal. Onde Deus semeia, também Satanás semeia. A acção do semeador do mal caracteriza-se por acontecer durante a noite, enquanto os criados dormem. Durante o dia, não seria possível uma tal acção. A separação entre o que é bom e o que é mau só terá lugar no momento da ceifa, isto é, no dia do juízo final (cf. Mt 9, 37; Mc 4, 29; Jo 4, 35). Quando chega o tempo da ceifa – não antes, para não arrancar também o trigo – o dono dirá aos ceifeiros que cortem o trigo e o joio, e que os separem: o joio vai para queimar e o trigo é guardado no celeiro. Esta parábola parece querer que responder a uma questão surgida nas primeiras comunidades: porque existem bons e maus cristãos na Igreja? A resposta é: tanto Deus como Satanás semeiam a sua semente. Deus tolera essa sementeira, e o crescimento e a maturação de ambas as sementes, para dar aos maus oportunidade de conversão.


Meditatio

O texto do Êxodo, que hoje escutamos, já nos faz antever o projecto de Deus de habitar no meio do seu povo, e de ter com cada um de nós uma relação pessoal profunda. Esta intenção divina começa a concretizar-se quando Moisés ergue a tenda e a chama «tenda da reunião». A tenda é o lugar do encontro. O texto sagrado diz que Moisés «foi colocá-la a certa distância do acampamento» (v. 7). Deus não podia habitar no meio do seu povo, porque esse povo tinha pecado, tinha-se afastado dele, tinha caído na idolatria. Portanto, a tenda estava distante. Mas era acessível: «todos aqueles que desejavam consultar o Senhor iam à tenda da reunião» (v. 7). Mesmo fora do acampamento, a tenda era o lugar do encontro de Deus com os homens e dos homens com Deus. Mas esse encontro será permanente quando, como nos diz João, no seu evangelho, o Verbo se fizer carne e habitar entre nós: «O Verbo fez-se homem e veio habitar connosco» (Jo 1, 14). Na Incarnação, o Verbo de Deus, o Filho de Deus, ergueu a sua tenda no meio das nossas tendas, tornou-se nosso vizinho e companheiro. Podemos, agora, falar com Ele, não apenas como um homem fala a outro homem, mas como um amigo fala ao seu amigo: «Já não vos chamo servos, … mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).
Na nova aliança, cada homem, cada um de nós, é chamado a esta relação pessoal, profunda com Deus, uma relação, não só face a face, mas coração a coração. É um privilégio que havemos de acolher com respeito, admiração, reconhecimento. A Eucaristia oferece-nos a inaudita possibilidade de receber Jesus, o Filho de Deus feito nosso irmão, nosso amigo, não só no meio de nós, mas dentro de nós, para falarmos com Ele, escutá-l´O, deixar que guie toda a nossa vida e a encha do seu amor. Pela Incarnação, pela Eucaristia, o Filho do homem, semeou e semeia em nós essa «boa semente». Há que impedir que o joio a sufoque. Há que deixá-la germinar, crescer, frutificar.


Oratio

Senhor Jesus, Tu viveste uma intensíssima intimidade com Deus, a Quem chamavas “Abbá”, com a confiança familiar que esse nome comporta. Mas quiseste viver também em grande intimidade connosco. Pela Incarnação, tornaste-Te nosso vizinho, amigo, irmão. Pela Eucaristia, quiseste permanecer connosco até ao fim dos tempos. Assim continuas a partilhar a nossa vida e a nossa sorte. Assim queres ser nosso companheiro, nosso alimento de caminhada, nossa luz e nossa força. Obrigado, Senhor! Obrigado! Amen.


Contemplatio

A comunhão é uma extensão da Incarnação. Em que consiste propriamente este mistério inefável (da Incarnação)? É que o homem se torna Deus pela união hipostática da natureza divina à natureza humana. Ora, não convinha que o Verbo se incarnasse em cada um de nós. E todavia o Coração de Jesus, tão ávido de se dar, dizia para Si mesmo: Entre todos os meus tesouros, há um, o mais precioso de todos, a minha divindade, que se torna inacessível aos meus irmãos e aos meus amigos; não gozam como Eu da união hipostática. Ora bem! Eis o que farei; dar-lhes-ei a minha carne que é a vida do mundo, inebriá-los-ei com o meu sangue, no seu coração colocarei o meu Coração e então a minha divindade unir-se-á a eles de um modo muito especial, embora não hipostático, dado que não o é por natureza. É assim que a divina Eucaristia, por meio da santa comunhão, nos faz entrar no próprio mistério da Incarnação, e estende-o a todos os filhos de Adão que quiserem pôr-se em estado de dele aproveitar. Que há de maior? Que há de mais belo? Que há de mais terno e de mais generoso! Associar-nos à divindade unindo-nos à humanidade santa de Jesus, ao seu Coração divino; tal é então o fim da santa Comunhão, e é assim que este Coração amante não se contenta com a qualidade de irmão, de amigo, ou de pai, mas torna-se o esposo das nossas almas e do nosso coração mesmo. «A minha carne, diz, é verdadeiramente uma comida, e o meu sangue verdadeiramente uma bebida». Comer Deus, saciar-se de Deus, incorporar-se em Jesus Cristo, não fazer senão uma só coisa com Ele, oh! Que glorioso privilégio! E quanto a incarnação eucarística é um complemento maravilhoso da primeira Incarnação. Todos os autores místicos descrevem muito longamente os efeitos maravilhosos da santa Comunhão. Faltar-nos-ia o tempo para os analisar, mas nós encontramos tudo e muito mais nesta magnífica síntese: A divina Eucaristia não é outra coisa senão a Incarnação aplicada a cada um de nós (Leão Dehon, OSP 2, p. 421s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O Verbo fez-se homem e veio habitar connosco» (Jo 1, 14).


Fonte http://www.dehonianos.org/

domingo, 26 de julho de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XVII Semana - Segunda-feira - 27.07.2015


Lectio

Primeira leitura: Êxodo 32, 15-24.30-34

Naqueles dias, 15Moisés desceu do monte, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, escritas nos dois lados, numa e noutra face. 16As tábuas eram obra de Deus e o que estava gravado nas tábuas fora escrito por Deus. 17Ao ouvir o barulho que o povo fazia, gritando, Josué disse a Moisés: «Há no acampamento alaridos de batalha.» 18Moisés respondeu: «Não são nem gritos de vitória, nem gritos de derrota. O que oiço são vozes de gente a cantar.» 19Ao chegar junto do acampamento, viu o bezerro e as danças. Acendeu-se a sua cólera, atirou com as tábuas e partiu-as ao pé do monte. 20Depois, agarrando no bezerro que tinham feito, queimou-o e reduziu-o a pó fino que espalhou na água. E deu-a a beber aos filhos de Israel. 21Moisés disse a Aarão: «Que te fez este povo para o deixares cometer um tão grande pecado?» 22Aarão respondeu: «Que o meu senhor não se irrite. Tu próprio sabes como este povo é inclinado para o mal. 23Disseram-me: ‘Faz-nos um deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, esse homem que nos fez sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido.’ 24Eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Despojaram-se dele e entregaram-mo; lancei-o ao fogo e saiu este bezerro.» 30No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Cometestes um enorme pecado. No entanto, vou subir para junto do Senhor. Talvez alcance o perdão para o vosso pecado.» 31Moisés voltou para junto do Senhor e disse: «Ah, este povo cometeu um grande pecado. Fizeram para si um deus de ouro. 32Apesar disso, perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste.» 33O Senhor disse a Moisés: «Apagarei do meu livro aquele que pecou contra mim. 34Vai agora, e conduz o povo para onde te disser. O meu anjo caminhará diante de ti. Mas no dia da prestação de contas, puni-los-ei pelo seu pecado.»

Esta página do Êxodo deve ser lida no contexto dos capítulos 32-34, que acusa o «pecado original» contra a aliança e refere a renovação da mesma para reparar a sua ruptura. O episódio do culto idolátrico do bezerro de ouro liga-se ao da conclusão da aliança (Ex 24). Os capítulos intermédios são os da “lei sacerdotal”. O conjunto referido é composto pela fusão de diversas fontes, primeiro a eloísta e depois a javista (Ex 34), com elementos deuteronomistas.
Moisés demora-se no monte, em diálogo com Deus (vv. 7-16). Ao descer, depara-se com o bezerro de ouro e as danças cultuais do povo em honra dele. A sua reacção é violenta: despedaça as tábuas da lei, funde o bezerro de ouro, redu-lo a pó, que espalha na água e dá a beber aos filhos de Israel. Depois, pede contas a Aarão, que atira as culpas para o povo. Moisés faz, então, com que o povo tome consciência do seu pecado, se volte para Deus e peça perdão. Deus responde com a habitual atitude de misericórdia, garantindo a prossecução do seu projecto salvador, mas também anunciando o castigo dos culpados.
Esta narrativa, composta entre o IX e o VIII século a. C., reflecte, não só a apostasia no tempo do êxodo, mas também a decadência moral e religiosa do tempo dos reis de Israel.
Aarão faz triste figura, não sabendo reagir adequadamente ao mal do povo e consentindo na apostasia. Moisés, pelo contrário, revela-se um verdadeiro profeta, um homem de Deus, que, com força e fidelidade, testemunha e exige fidelidade a Deus. É como que uma consciência que fala, denuncia o pecado e chama à conversão. Mas também se apresenta como intercessor solitário e audaz diante de Deus, em favor do seu povo.


Evangelho: Mateus 13, 31-35

Naquele tempo, 31Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.»
33Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.»
34Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas. 35Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo.

As parábolas do grão de mostarda e do fermento, vêm na continuidade das anteriores, que ilustram as características do Reino, acrescentando mais uma: a desproporção entre os seus começos, quase imperceptíveis, e o seu desenvolvimento extraordinário. A Palavra de Deus geralmente é muito discreta. Se não estivermos atentos, quase não se damos por ela. Mas, quando a acolhemos, tem uma tal eficácia interna, que lança raiz e produz efeitos e frutos surpreendentes. É o que acontece com a pequeníssima semente de mostarda: se germina e ganha raiz, pode atingir a altura de três ou quatro metros. Um pouco de fermento faz levedar uma grande quantidade de farinha, capaz de alimentar multidões. A força interior e exterior do Reino de Deus é tal que chega a transformar toda a vida do homem.


Meditatio

Para nosso ensinamento, é interessante notarmos o contraste de atitudes e comportamentos de Aarão e de Moisés. Aarão torna-se cúmplice da idolatria do povo. É ele mesmo que organiza as coisas e torna possível a realização do bezerro de ouro e o seu culto. Mas, quando Moisés lhe pergunta: «Que te fez este povo para o deixares cometer um tão grande pecado?» (v. 21), Aarão desculpa-se e atira as culpas para o povo: «Tu próprio sabes como este povo é inclinado para o mal. Disseram-me: ‘Faz-nos um deus`» (vv. 22-23). Moisés, que, pelo contrário, não só não participou no pecado de idolatria, mas até se irritou fortemente ao ver o bezerro de ouro e o povo em festa, vai interceder diante de Deus, para que perdoe o pecado do mesmo povo. Chega ao ponto de pedir a Deus que o apague do seu livro, caso não perdoe ao povo: «Ah, este povo cometeu um grande pecado. Fizeram para si um deus de ouro. Apesar disso, perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste» (vv. 31-32). Moisés, inocente, está disposto a sofrer o castigo dos pecadores, a ser rejeitado por Deus: «apaga-me do livro que escreveste» (v. 32). É uma grande lição para nós, sempre dispostos a declarar que nada temos a ver com o pecado dos outros. Ainda que não nos sintamos completamente inocentes, recusamos ser castigados com os outros pecadores. Como aqueles para os quais Jesus contou as parábolas da dracma perdida, da ovelha perdida e do filho pródigo (Lc 16), julgamo-nos bons e justos, agradáveis ao Senhor. Mas agradam ao Senhor aqueles que se sentem solidários com os pecadores, que estão dispostos a carregar sobre si o castigo que pende sobre eles. Foi essa a atitude de Moisés. Foi essa, sobretudo, a atitude de Jesus: Ele, o Inocente, carregou sobre Si o pecado de todos nós. Como afirma Paulo tornou-se «maldição» para nos livrar da maldição do pecado (cf. Gl 3, 13).
É difícil aceitar sofrer o castigo merecido por outros. Tantos cristãos se revoltam quando sofrem, não se sentindo culpados de nada: «Que fiz eu a Deus para sofrer isto?» É mais correcto voltar-se para o Crucificado e, contemplando-O, rezar como Moisés: «Ah, perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste» (cf. vv. 31-32)». A contemplação do Senhor crucificado transforma-nos. Faz levedar os nossos pensamentos, projectos, atitudes, esperanças, aspirações, relações. Leva-nos a dar-nos conta de que também nós fabricamos alguns bezerros de ouro a quem prestamos culto. A contemplação do Senhor Crucificado transforma também a nossa convivência colectiva, para vivermos e testemunharmos integralmente o Evangelho. Arrancando tudo o que, nas nossas relações a todos os níveis, não está na direcção da «vida em abundância» que Jesus veio trazer ao mundo (cf. Jo 10, 10), faz crescer tudo o que contribui para essa vida.
O tema da solidariedade para com os pecadores é acentuado nas nossas Constituições, que falam de Cristo solidário com os pecadores, convidando-nos à mesma solidariedade (cf. Cst 19). Vivendo esta solidariedade, aproximamo-nos do mistério redentor de Cristo, em harmonia com a «experiência de fé do P. Dehon», com a tradição da congregação, para prestar a Cristo “o culto de amor e de reparação que o seu Coração deseja (cf. NQ XXV, 5) (n. 7).


Oratio

Pai, o que Te agrada não é a morte do pecador, mas que se converta e viva. Implicados no pecado, mas participantes na graça redentora, queremos, hoje, oferecer-nos a Ti como oblação viva, santa e agradável. Converte-nos a Ti e converte os nossos irmãos para que buscando-Te como único bem necessário, nos consagremos inteiramente ao louvor da tua glória, e sejamos no mundo fermento do Reino. Amen


Contemplatio

Jesus rezava: Meu Pai, se é possível, que este cálice se afaste de mim! No entanto, que a vossa vontade se faça e não a minha! Não cede à fadiga, ao desgosto, ao desânimo. Reza com mais insistência. Reza com tanto respeito, com muita humildade, de joelhos, com o rosto por terra. Reza com perseverança: Foi de novo, dizendo as mesmas palavras... Foi ainda, repetindo o seu pedido por uma terceira vez. Reza com resignação: Que a vossa vontade se faça, ó meu Pai, e não a minha! Reza com a disposição de se abandonar inteiramente à vontade do seu Pai e de se entregar por nós até onde for necessário: se este cálice não pode passar sem que eu o beba, que a vossa vontade seja feita! Reza pelos seus apóstolos que dormem e que não rezam ao aproximar-se a tentação. Poderá dizer a Pedro: «Rezei para que a tua fé não desfaleça». Reza por todos durante esta longa oração de três horas. Reza por nós, reza por mim. Acumula graças para os séculos futuros. Antes de morrer, cumpre a sua grande missão de oração. Obtém a graça e a misericórdia pelos pecadores, força e coragem por aqueles que são experimentados e tentados. O seu divino Coração pensou em todos. Eu também estava lá com os meus pecados, com a minha pobreza infinita, com as minhas resistências à graça e à vontade divina. Estava lá com o meu coração duro e frio. Nada o fez desanimar, nem as minhas recaídas, nem a minha ingratidão. Ó Jesus, aplicai-me hoje o fruto das vossas orações. Piedade! Piedade! (Leão Dehon, OSP 3, p. 138s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra
«Perdoa ao teu povo, Senhor» (cf. Ex 32, 32).


Fonte http://www.dehonianos.org/

sábado, 25 de julho de 2015

17º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 26.07.2015


ANO B
17º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 17º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta connosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.
O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.


LEITURA I – 2 Re 4,42-44

Leitura do Segundo Livro dos Reis

Naqueles dias,
veio um homem da povoação de Baal-Salisa
e trouxe a Eliseu, o homem de Deus,
pão feito com os primeiros frutos da colheita.
Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge.
Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente».
O servo respondeu:
«Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?»
Eliseu insistiu:
«Dá-os a comer a essa gente,
porque assim fala o Senhor:
‘Comerão e ainda há-de sobrar’».
Deu-lhos e eles comeram,
e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.

AMBIENTE

As tradições proféticas sobre Elias e Eliseu (os “ciclos” de Elias e Eliseu) ocupam um espaço significativo no Livro dos Reis (cf. 1 Re 17,1-21,29; 2 Re 1,1-13,21). Referem-se a um período bastante conturbado – quer em termos políticos, quer em termos religiosos – da vida do Reino do Norte (Israel). Elias exerce a sua missão profética durante os reinados de Acab (874-853 a.C.) e de Acazias (853-852 a.C.); Eliseu dá o seu testemunho profético durante os reinados de Jorão (853-842 a.C.), de Jeú (842-813 a.C.) e de Joacaz (813-797 a.C.).
Os reis de Israel procuraram sempre estabelecer relações comerciais, económicas, políticas e militares com os povos circunvizinhos. Essa abertura de fronteiras teve, no entanto, os seus custos em termos de fidelidade a Jahwé e à Aliança, uma vez que os cultos aos deuses estrangeiros entravam no país e ocupavam um lugar significativo na vida e no coração dos israelitas. É uma época de sincretismo religioso, em que a religião jahwista é, com a complacência até com o apoio declarado dos reis de Israel, preterida em favor dos cultos de Baal e de Astarte. Em termos sociais, é uma época em que se multiplicam as injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos. Tudo isto consubstancia um quadro de graves infidelidades contra Deus e contra a Aliança.
É contra este quadro que se levantam Elias e Eliseu. Elias aparece como o representante desses israelitas fiéis aos valores religiosos tradicionais, que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel; e a luta de Elias será continuada por um dos seus discípulos – Eliseu.
Parece que Eliseu – o actor principal da primeira leitura deste domingo – fazia parte de uma comunidade de “filhos de profetas” (os “benê nebi'im” – 2 Re 2,3; 4,1). Trata-se de uma comunidade de homens que viviam pobremente (2 Re 4,1-7) e que eram os seguidores incondicionais de Jahwéh. O Povo consultava-os regularmente e buscava neles apoio face aos abusos dos poderosos. Eliseu é apresentado muitas vezes, nas histórias narradas no “ciclo de Eliseu” (cf. 2 Re 2; 3,4-27; 4,1-8,15; 9,1-10; 13,14-21), como um profeta “dos milagres”, cujas acções mostram a presença da força e da vida de Deus no meio do seu Povo. Outras vezes, Eliseu é o profeta da intervenção política; a sua acção neste campo ultrapassa mesmo as fronteiras físicas de Israel e chega a Damasco (cf. 2 Re 8,7-15).

MENSAGEM

O texto que nos é proposto como primeira leitura conta que um homem de Baal-Shalisha trouxe a Eliseu o “pão das primícias”: vinte pães de cevada e trigo novo num saco. De acordo com Lv 23,20, o pão das primícias devia ser apresentado diante do Senhor e consagrado ao Jahwéh, embora depois revertesse em benefício do sacerdote… Deve ser este costume que está subjacente ao episódio da entrega dos pães a Eliseu.
Eliseu, no entanto, não conservou os dons para si, mas mandou reparti-los pelas pessoas que rodeavam o profeta. O “servo” do profeta não acreditava que os alimentos oferecidos chegassem para cem pessoas; no entanto, chegaram e ainda sobraram.
Estamos, aqui, diante de uma sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de grãos de trigo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
Este relato fornecerá aos autores neo-testamentários o modelo literário em que se inspirarão para apresentar os relatos evangélicos das multiplicações dos pães (cf. Mc 6,34-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-38; Lc 9,10-17).

ACTUALIZAÇÃO

• O “profeta” é um homem chamado por Deus e enviado a ser o rosto de Deus no meio do mundo. Nas palavras e nos gestos do “profeta”, é Deus que Se manifesta aos homens e que lhes indica a sua vontade e as suas propostas. No gesto de repartir o pão para saciar a fome das pessoas, o “profeta” manifesta a eterna preocupação de Deus com a “fome” do mundo (fome de pão, fome de liberdade, fome de dignidade, fome de realização plena, fome de amor, fome de paz…) e a sua vontade de dar aos homens vida em abundância… Não tenhamos dúvidas: Deus preocupa-Se, todos os dias, em oferecer aos seus filhos vida em abundância. É Deus que nos dá, dia a dia, o pão que mata a nossa fome de vida.

• Como é que Deus actua para saciar a fome de vida dos homens? É fazendo chover do céu, milagrosamente, o “pão” de que o homem necessita? A nossa primeira leitura sugere que Deus actua de forma mais simples e mais normal… É através da generosidade e da partilha dos homens (primeiro do homem que decide oferecer o fruto do seu trabalho; depois, do profeta que manda distribuir o alimento) que o “pão” chega aos necessitados. Normalmente, Deus serve-Se dos homens para intervir no mundo e para fazer chegar ao mundo os seus dons. Muitas vezes sonhamos com gestos espectaculares de Deus e vivemos de olhos fixos no céu à espera que Deus Se digne intervir no mundo; e acabamos por não perceber que Deus já veio ao nosso encontro e que Ele Se manifesta na acção generosa de tantos homens e mulheres que praticam, sem publicidade, gestos de partilha, de solidariedade, de doação, de entrega. É preciso aprendermos a detectar a presença e o amor de Deus nesses gestos simples que todos os dias testemunhamos e que ajudam a construir um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário.

• Ao mostrar que é através das acções dos homens que Deus sacia a fome do mundo, o nosso texto convida-nos ao compromisso. Deus precisa de nós, da nossa generosidade e bondade, para ir ao encontro dos nossos irmãos necessitados e para lhes oferecer vida em abundância. Nós, os crentes, somos chamados a ser – como o profeta Eliseu – testemunhas desse Deus que quer partilhar com os homens o seu “pão”; e esse “pão” de Deus deve derramar-se sobre os nossos irmãos nos nossos gestos de partilha, de generosidade, de solidariedade, de amor sem limites.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)

Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.


LEITURA II – Ef 4,1-6

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos:
Eu, prisioneiro pela causa do Senhor,
recomendo-vos que vos comporteis
segundo a maneira de viver a que fostes chamados:
procedei com toda a humildade, mansidão e paciência;
suportai-vos uns aos outros com caridade;
empenhai-vos em manter a unidade de espírito
pelo vínculo da paz.
Há um só Corpo e um só Espírito,
como existe uma só esperança na vida a que fostes chamados.
Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo.
Há um só Deus e Pai de todos,
que está acima de todos, actua em todos
e em todos Se encontra.

AMBIENTE

A Carta aos Efésios (que temos vindo a reflectir e cujo texto vai continuar a acompanhar-nos nos próximos domingos) parece ser uma “carta circular”, enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor, inclusive aos cristãos de Éfeso. É considerada uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
De qualquer forma, é um texto bem trabalhado, que apresenta uma catequese sólida e bem elaborada. Poderia ser um texto da fase “madura” de Paulo. Alguns autores consideram a Carta aos Efésios uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O texto que hoje nos é proposto como segunda leitura é o início da parte moral e parenética da carta (cf. Ef 4,1-6,20). Temos, aí, uma espécie de “exortação aos baptizados”, na qual Paulo reflecte longamente sobre a edificação e o crescimento do “Corpo de Cristo”. Em termos sempre bastante concretos, Paulo dá pistas aos cristãos acerca da forma como eles devem viver os seus compromissos com Cristo, de forma a chegarem a ser Homens Novos.

MENSAGEM

O nosso texto começa com uma referência ao facto de Paulo estar preso… A condição de prisioneiro por causa de Jesus e do Evangelho dá um peso especial às recomendações do apóstolo: são as palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela.
Na perspectiva de Paulo, a vida nova exige, em primeiro lugar, que os crentes vivam unidos em Cristo. Ora, há comportamentos e atitudes que são condição necessária para que essa unidade se torne efectiva (vers. 2-3)… Antes de mais, Paulo refere a humildade, pois só ela permite superar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência que afastam os irmãos e que erguem entre eles barreiras de separação; depois, Paulo refere a mansidão, irmã da humildade, e qualidade que derruba barreiras na comunhão; Paulo refere também a paciência, que permite ser tolerante e compreensivo para com as falhas dos irmãos e que permite entender e aceitar as diferentes maneiras de ser e de agir… Em resumo, trata-se, fundamentalmente, de fazer com que a caridade presida às relações que estabelecemos uns com os outros; o amor deve ser sempre o suporte das nossas relações humanas. A unidade é um dom de Deus; mas a sua efectivação depende do contributo e do esforço de cada irmão.
Na segunda parte do nosso texto, Paulo apresenta um conjunto de elementos que fundamentam a obrigatoriedade da unidade dos crentes: “há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança” na vida a que todos os crentes foram chamados; “há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua em todos e em todos se encontra” (vers. 4-6). A menção do Pai, do Filho e do Espírito, neste contexto, sugere que a Trindade é a fonte última e o modelo da unidade que os cristãos devem viver, na sua experiência de caminhada comunitária.

ACTUALIZAÇÃO

• A Igreja é um “corpo” – o “Corpo de Cristo”. Naturalmente, esse “corpo” é formado por muitos membros, todos eles diversos; mas todos eles dependem de Cristo (a “cabeça” desse “corpo”) e recebem d’Ele a mesma vida. Formam, portanto, uma unidade… Têm o mesmo Pai (Deus), têm um projecto comum (o projecto de Jesus), têm o mesmo objectivo (fazer parte da família de Deus e encontrar a vida em plenitude), caminham na mesma direcção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão (dar testemunho no mundo do projecto de amor que Deus tem para os homens). Neste esquema, não fazem qualquer sentido as divisões, os ciúmes, as rivalidades, as invejas, os ódios, as divergências que tantas vezes dividem os irmãos da mesma comunidade. Quando os irmãos não se esforçam por caminhar unidos, provavelmente ainda não descobriram os fundamentos da sua fé. A minha comunidade (cristã ou religiosa) é uma comunidade que caminha unida e solidária, partilhando a vida e o amor, apesar das diferenças legítimas dos seus membros? Em termos pessoais, sinto-me um construtor de unidade, ou um factor de divisão?

• Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos destinatários da Carta aos Efésios a humildade, a mansidão e a paciência. São atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Como é que eu me situo face aos outros? A minha relação com os irmãos é marcada pelo egoísmo ou pela disponibilidade para servir e partilhar? Procuro estar atento às necessidades dos outros e ir ao seu encontro, ou levanto muros de orgulho e de auto-suficiência que impedem a relação, a comunhão, a comunicação? Estou aberto às diferenças e disposto a dialogar, ou vivo entrincheirado nos meus preconceitos, catalogando e marginalizando aqueles que não concordam comigo?

• A Igreja é uma unidade; mas é também uma comunidade de pessoas muito diferentes, em termos de raça, de cultura, de língua, de condição social ou económica, de maneiras de ser... As diferenças legítimas nunca devem ser vistas como algo negativo, mas como uma riqueza para a vida da comunidade; não devem levar ao conflito e à divisão, mas a uma unidade cada vez mais estreita, construída no respeito e na tolerância. A diversidade é um valor, que não pode nem deve anular a unidade e o amor dos irmãos.


ALELUIA – Lc 7,17

Aleluia. Aleluia.

Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.


EVANGELHO – Jo 6,1-5

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia,
ou de Tiberíades.
Seguia-O numerosa multidão,
por ver os milagres que Ele realizava nos doentes.
Jesus subiu a um monte
e sentou-Se aí com os seus discípulos.
Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
Erguendo os olhos
e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro,
Jesus disse a Filipe:
«Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?»
Dizia isto para o experimentar,
pois Ele bem sabia o que ia fazer.
Respondeu-Lhe Filipe:
«Duzentos denários de pão não chegam
para dar um bocadinho a cada um».
Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
«Está aqui um rapazito
que tem cinco pães de cevada e dois peixes.
Mas que é isso para tanta gente?»
Jesus respondeu: «Mandai sentar essa gente».
Havia muita erva naquele lugar
e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil.
Então, Jesus tomou os pães, deu graças
e distribuiu-os aos que estavam sentados,
fazendo o mesmo com os peixes;
E comeram quanto quiseram.
Quando ficaram saciados,
Jesus disse aos discípulos:
«Recolhei os bocados que sobraram,
para que nada se perca».
Recolheram-nos e encheram doze cestos
com os bocados dos cinco pães de cevada
que sobraram aos que tinham comido.
Quando viram o milagre que Jesus fizera,
aqueles homens começaram a dizer:
«Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo».
Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei,
retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.

AMBIENTE

A liturgia propõe-nos hoje (e durante mais alguns domingos) a leitura do capítulo 6 do Evangelho segundo João – a catequese sobre Jesus, o Pão da vida.
Na primeira parte do Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João apresenta a actividade de Jesus no sentido de criar e dar vida ao homem, de forma a que surja um Homem Novo, liberto do egoísmo e do pecado, animado pelo Espírito, capaz de seguir Jesus e de viver na mesma dinâmica de Jesus – isto é, no amor ao Pai e aos irmãos. Esta primeira parte divide-se em dois “livros” – o “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56) e o “Livro da Hora” (cf. Jo 12,1-19,42).
No “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor do Quarto Evangelho expõe, recorrendo a símbolos significativos (a “água” – cf. Jo 4,1-5,47; o “pão” – cf. Jo 6,1-7,53; a “luz” – cf. Jo 8,12-9,41; o “pastor” – cf. Jo 10,1-42; a “ressurreição” – cf. Jo 11,1-56), a sua catequese sobre a acção de Jesus em favor do homem. Jesus é aí apresentado como a proposta de vida verdadeira que o homem é convidado a acolher e a assimilar.
No capítulo 6 – que hoje começamos a ler – João apresenta Jesus como o Pão que sacia a sede de vida que o homem sente. O episódio hoje narrado é geograficamente situado “na outra margem” do Lago de Tiberíades (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galileia, a atravessar o “mar” para o outro lado). Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egipto.

MENSAGEM

Uma leitura, ainda que superficial, do texto que nos é proposto mostra alguns interessantes paralelos entre a cena da multiplicação dos pães e a libertação do Povo de Deus da escravidão do Egipto, com Jesus no papel de Moisés, o libertador. O facto dá-nos, logo à partida, uma chave de leitura para entender esta catequese: João quer apresentar a acção de Jesus como uma acção libertadora que visa fazer passar o Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade… A catequese que João nos apresenta vai desenvolver-se em vários passos:
1. Começa com uma referência à “passagem do mar” (que, na realidade, é um lago); essa referência pode aludir à passagem do Mar Vermelho por Moisés com o Povo libertado do Egipto (cf. Ex 14,15-31). O objectivo final de Jesus é, portanto, fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade.
2. Como aconteceu com Moisés, com Jesus vai uma grande multidão. A multidão que acompanha Jesus pretende “ver os milagres que Ele realizava nos doentes” (vers. 2). O termo grego aqui utilizado (“asthenês” – “enfermos”) designa, em geral, alguém que está numa situação de grande debilidade. A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Já perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.
3. Jesus – diz o nosso texto – subiu a “um monte” (vers. 3). A referência ao “monte” leva-nos ao contexto da Aliança do Sinai e ao monte onde Deus ofereceu ao Povo, através de Moisés, os mandamentos. Dizer que Jesus subiu ao “monte” significa dizer que é através de Jesus que se vai realizar a nova Aliança entre Deus e esse Povo de gente livre que, com Jesus, “atravessou o mar” em direcção à terra da liberdade.
4. A referência à Páscoa que estava próxima (vers. 4) seria uma referência inútil, se não estivéssemos no contexto da libertação do Povo da escravidão. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.
5. A multidão que segue Jesus tem fome e não tem que comer (vers. 5-6). A referência leva-nos, outra vez, ao Êxodo, ao deserto, quando o Povo que caminhava para a terra da liberdade sentiu fome. Então, foi Deus que respondeu à necessidade do Povo e lhe deu comida em abundância; aqui, é Jesus que Se apercebe das necessidades da multidão e tenta remediá-las. Ele mostra, assim, o rosto do Deus do amor e da bondade, sempre atento às necessidades do seu Povo.
6. Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Na procura da solução, Jesus envolve a comunidade dos discípulos (“onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?” – vers. 5). A comunidade de Jesus (onde naturalmente Jesus Se inclui) tem de sentir-se responsável pela “fome” dos homens e tem de sentir que é sua responsabilidade e missão saciar essa “fome”.
João nota que Jesus põe a questão aos discípulos (representados por Filipe) para os “experimentar” (vers. 6). O problema pode ser posto da seguinte forma: como é que a comunidade dos discípulos – formados na escola e nos valores de Jesus – pretende responder à fome do mundo? É recorrendo ao sistema económico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro e coloca os bens nas mãos de poucos, gerando uma lógica de opressão, de dependência e de necessidade? Será este o sistema desse mundo novo e livre que Jesus deseja instituir? Os discípulos de Jesus alinham com esse sistema opressor, baseado na compra, na venda e no lucro, ou já perceberam que Jesus tem uma proposta nova a fazer, geradora de libertação e de vida em abundância para todos?
7. Filipe constata a impossibilidade de resolver o problema, dentro do quadro económico vigente… “Duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (vers. 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho; assim, nem o dinheiro de mais de meio ano de trabalho daria para resolver o problema. Por outras palavras: confiando no sistema instituído (o da compra e venda, que supõe o sistema económico regido pelo lucro egoísta), é impossível resolver o problema da necessidade dos esfomeados. A comunidade de Jesus é convidada, portanto, a abandonar este sistema e a encontrar outros…
8. André, porém, vislumbra uma solução diferente (vers. 8-9). Este apóstolo representa, na comunidade de Jesus, essa categoria dos que aderiram a Jesus de forma convicta, que têm uma grande intimidade com Jesus e que, portanto, estão mais conscientes das propostas de Jesus. No entanto, André não está muito convicto dos resultados (“o que é isso para tanta gente?”). Seria bom – considera André – encontrar outro sistema diferente do sistema explorador; mas isso não resulta… Jesus vai, precisamente, provar que é possível encontrar outro sistema que reparta vida e que elimine a lógica da exploração.
9. A figura do “menino” que apenas aparece na cena da multiplicação dos pães na versão de João é uma figura desnecessária do ponto de vista da narração: para o resultado final, tanto dava que o possuidor dos pães e dos peixes fosse uma criança ou um adulto. Sendo assim, porque é que João insiste em falar de uma criança? Porque a figura do “menino” é muito significativa: quer pela idade, quer pela condição, é um “débil”, física e socialmente. Representa a debilidade da comunidade de Jesus face às enormes carências do mundo. A palavra grega utilizada por João para falar da criança indica simultaneamente um “menino” e um “servo”: a comunidade, representada nesse “menino”, apresenta-se diante do mundo como um grupo socialmente humilde, sem pretensão alguma de poder e de domínio, dedicada ao serviço dos homens. É essa comunidade simples e humilde, vocacionada para o serviço, que é chamada a resolver a questão da necessidade dos pobres e a instaurar um novo sistema libertador. Qual é esse sistema?
10. Os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”), também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete” – o número que significa totalidade… Ou seja: é na partilha da totalidade do que a comunidade possui que se responde à carência dos homens. É uma totalidade fraccionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.
11. Sobre os alimentos disponibilizados pela comunidade, Jesus pronuncia uma “acção de graças” (vers. 11). O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa desvinculá-los do seu possessor humano, para reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos e que quem os possui é apenas um administrador encarregado de os pôr à disposição de todos os irmãos, com a mesma gratuidade com que os recebeu. Os bens são, assim, libertos da posse exclusiva de alguns, para serem dom de Deus para todos os homens. É este o sistema que Deus quer instaurar no mundo; e a comunidade cristã é chamada a testemunhar esta lógica.
12. Uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… E a comunidade, uma vez percebido o projecto de Jesus, deve usar o que tem para continuar a oferecer a vida aos homens. A referência aos doze cestos recolhidos pelos discípulos pode ser uma alusão a Israel (as doze tribos): se a comunidade dos discípulos souber partilhar aquilo que recebeu de Deus, pode satisfazer a fome de todo o Povo (vers. 12-13).
13. Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei (vers. 14-15). Jesus não aceita… Ele não veio resolver os problemas do mundo instaurando um sistema de autoridade e de poder; mas veio convidar os homens a viverem numa lógica de partilha e de solidariedade, que se faz dom e serviço humilde aos irmãos. É dessa forma que Ele se propõe – com a colaboração dos discípulos – eliminar o sistema opressor, responsável pela fome e pela miséria. O mundo novo que Jesus veio propor não assenta numa lógica de poder e autoridade, mas no serviço simples e humilde que leva a partilhar a vida com os irmãos.
A perícopa que nos é hoje proposta pretende, pois, apresentar o projecto de Deus realizado em Jesus como um projecto de libertação, que há-de eliminar a opressão e instaurar um mundo de homens livres, salvos do egoísmo e capazes de amar e de partilhar. Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude. É necessário – diz Jesus – substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. A comunidade de Jesus tem a função de descobrir esta lógica, de a acolher e de propô-la ao mundo. Ela tem de aprender que os bens são um dom de Deus, destinados a todos. Procedendo dessa forma, ela está a instaurar um novo sistema e a libertar os homens desses condicionamentos egoístas que geram injustiça, necessidade, carência, debilidade, sofrimento. Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, do amor aos irmãos.

ACTUALIZAÇÃO

• Jesus é o Deus que Se revestiu da nossa humanidade e veio ao nosso encontro para nos revelar o seu amor. O seu projecto – projecto que Ele concretizou em cada palavra e em cada gesto enquanto percorreu, com os seus discípulos, as vilas e aldeias da Palestina – consiste em libertar os homens de tudo aquilo que os oprime e lhes rouba a vida. O nosso texto mostra Jesus atento às necessidades da multidão, empenhado em saciar a fome de vida dos homens, preocupado em apontar-lhes o caminho que conduz da escravidão à liberdade. A atitude de Jesus é, para nós, uma expressão clara do amor e da bondade de um Deus sempre atento às necessidades do seu Povo. Garante-nos que, ao longo do caminho da vida, Deus vai ao nosso lado, atento aos nossos dramas e misérias, empenhado em satisfazer as nossas necessidades, preocupado em dar-nos o “pão” que sacia a nossa fome de vida. A nós, compete-nos abrir o coração ao seu amor e acolher as propostas libertadoras que Ele nos faz.

• A “fome” de pão que a multidão sente e que Jesus quer saciar é um símbolo da fome de vida que faz sofrer tantos dos nossos irmãos… Os que têm “fome” são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou económico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.

• No nosso Evangelho, Jesus dirige-Se aos seus discípulos e diz-lhes: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos de Jesus são convidados a continuar a missão de Jesus e a distribuírem o “pão” que mata a fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que não tem nada com isso… Os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero.

• No nosso Evangelho, os discípulos constatam que, recorrendo ao sistema económico vigente, é impossível responder à “fome” dos necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será sempre um sistema que se apoia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça… Os discípulos de Jesus têm de encontrar outros caminhos e de propor ao mundo que adopte outros valores. Quais?

• Jesus propõe algo de realmente novo: propõe uma lógica de partilha. Os discípulos de Jesus são convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia que enriquece ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. É esta a proposta de Deus; e é disto que os discípulos são chamados a dar testemunho.

• Os discípulos de Jesus não podem, contudo, dirigir-se aos irmãos necessitados olhando-os “do alto”, instalados nos seus esquemas de poder e autoridade, usando a caridade como instrumento de apoio aos seus projectos pessoais, ou exigindo algo em troca… Os discípulos de Jesus devem ser um grupo humilde (a “criança” do Evangelho), sem pretensão alguma de poder e de domínio, e que apenas está preocupado em servir os irmãos com “fome”.

• O que resulta da proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens. Os necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida digna e humana; os que repartem os bens libertam-se da lógica egoísta dos bens e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.

• No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 17º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 17º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não fecha os olhos diante dos homens: não somente vê a multidão, como se apercebe da sua fome. Antes de fazer o milagre, solicita a confiança dos seus apóstolos, esta confiança que Ele põe à prova. Então faz dois gestos: vira-se para Deus seu Pai, dando graças, e distribui o alimento. Que contraste gritante entre esta multidão que tem fome e o alimento que lhe vai ser oferecido, cinco pães e dois peixes. E ao mesmo quanta abundância! Não somente a multidão está saciada, mas sobram doze cestos. É a prodigalidade do Amor: Deus ama infinitamente, e este sinal operado por Jesus anuncia não o poder de um rei, mas o dom de Deus a todos os homens. Não somente Jesus veio para o maior número, mas veio dar a vida em abundância. Este sinal anuncia um outro sinal. Depois de ter comido, a multidão, no dia seguinte, terá ainda fome. Mas o alimento que Cristo ressuscitado oferecerá aos homens será a sua vida, e aqueles que comerem este Pão de Vida jamais terão fome.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Jesus não cria pães e peixes a partir de nada. Cria a partir dos cinco pães e dois peixes do rapazito. A partir do pão dos pobres! Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus multiplica o dom do rapazito. Mas é ridículo alimentar uma multidão de cinco mil homens com tão pequena quantidade. Mas uma pequena quantidade pode ter um valor infinito. Jesus não olha como nós. O nosso olhar deve ser como o de Jesus. Quando damos amor, amizade, um pouco do nosso tempo ou simplesmente um sorriso, quando procuramos respeitar o outro, sem o julgar, quando fazemos um caminho de perdão… Jesus serve-Se desse pequeno pouco para construir connosco, pacientemente, dia após dia, o seu Reino.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Procuremos afastar-nos um pouco da vida frenética e stressante, procuremos ser menos inquietos e mais confiantes… Fiar-se mais no Senhor, dispor-se para responder às diversas missões e confiar tudo isso ao Senhor, para que Ele multiplique…





UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
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