domingo, 30 de novembro de 2014

Advento - Primeira Semana - Terça-feira - 02.12.2014


Tempo do Advento
Primeira Semana - Terça-feira


Lectio
Primeira leitura: Is. 11, 1-10


Naquele tempo: 1 *brotará um rebento do tronco de Jessé. e um renovo brotará das suas raízes. 2*Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e temor do Senhor. 3Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; 4mas julgará os pobres com justiça, e com equidade os humildes da terra; ferirá os tiranos com os decretos da sua boca, e os maus com o sopro dos seus lábios. 5A justiça será o cinto dos seus rins, e a lealdade circundará os seus flancos. 6Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo delter-se-e ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. 7A vaca pastará com o urso, as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. 8A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. 9Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar. 10*Naquele dia, a raiz de Jesse, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será gloriosa a sua morada.
Num cenário de desolação, brota «um rebentos, sinal de vida e de bênção. Brota do tronco da família de David, provada pelas tragédias da história e pela infidelidade do pecado. Mas Deus é fiel e não esquece a promessa de estabelecer para sempre o trono de David. A referência ao «tronco de Jessé», pai de David, lembra que Deus faz maravilhas, não com o David humanamente poderoso, mas com o David criança, fraco diante dos homens, mas amado e escolhido (cf. 1 Sam 16, 1-13).
O dom do Espírito (v. 2) é o dom divino por excelência aos chefes libertadores de Israel, aos juízes carismáticos, aos profetas e aos sacerdotes, aos sábios. Mas era um dom parcial e instável. Mas um descendente de David irá recebê-lo totalmente e de modo duradoiro: «Sobre ele repousará o espírito do senhor- (v. 2). O menino real receberá a totalidade dos dons e dos carismas, que se revelarão num governo justo.
A última parte do texto tem alcance universal: o reino deste menino não se limitará a Jerusalém, mas abrangerá a humanidade inteira e a própria criação. Com ele, aparecerá um mundo totalmente renovado, reconciliado, quase um "novo paraíso", cujo centro é monte santo de Deus, cuja presença será pacificadora e vitoriosa sobre todo o mal. E o «conhecimento do Senhor» (v. 9) inundará a terra.
Evangelho: Lc. 10, 21-24
21 *Naquele tempo, Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, Ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi
do teu agrado. 22*Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23*Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque, digo-vos, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouvirem!»
Jesus reconhece a verdade da sua vocação de Filho na fé dos pequenos, daqueles que os homens da religião, julgam desfavorecidos mas que, com gratidão e humildade, acolheram a pregação dos 72 discípulos. Tudo isto é descoberto e celebrado na força do Espírito que torna o homem capaz de ler os acontecimentos à luz da vontade de Deus.
A exultação de Jesus deixa-nos entrever a qualidade dos eventos pelos quais se manifesta a sua vocação filial. Apesar do insucesso da sua missão, e do parcial sucesso da dos discípulos, dá graças ao Pai pelos seus imperscrutáveis desígnios, que abrem o mistério do Reino aos pequenos e humildes e o fecham aos soberbos.
Jesus admira o "conhecimento" que o Pai tem dele e exalta o conhecimento que o mesmo Pai Lhe dá do seu projecto de salvação. Mais ainda: Jesus introduz neste conhecimento de Deus os seus amigos, aqueles que aceitam participar na familiaridade que O liga ao Pai (v. 22). Essa participação é a verdadeira bem-aventurança dos discípulos, que já não vivem à espera, mas usufruem da presença da salvação (v. 23) há muito esperada por Israel.


Meditatio
O Advento é tempo de esperança e de desejo. Esperamos e desejamos a manifestação do Senhor. A liturgia ajuda-nos a manter vivos e a aprofundar esses sentimentos. O conhecimento do Senhor será a nossa felicidade: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver».
Mas Deus actua e revela-Se de modo imprevisível, confundindo a sabedoria humana. Os caminhos de salvação, que nos faz percorrer, são inesperados, como sugere o tema do «rebento do tronco de Jessé«. O rebento, que desponta de um tronco cortado, no meio de um bosque devastado, recorda a fidelidade de Deus à sua promessa e o privilégio que, aos seus olhos, têm os humildes e pequenos.
Cada um de nós pode ser um desses privilegiados, se acolher o dom do Espírito que repousa sobre Jesus, o rebento messiânico. E como Jesus, pela força do Espírito, soube discernir nos êxitos controversos da sua missão o plano sábio de Deus, também cada um de nós poderá alegrar-se com a atenção e o carinho que Deus reserva aos pobres e simples. Cada um de nós poderá fruir da revelação do mistério do amor do Pai e entrar numa relação de comunhão e intimidade com Ele. Jesus, o Verbo Incarnado, vem oferecer-me a vida filial, a verdadeira sabedoria, o dom do Espírito com que Deus quer encher-me e encher o mundo inteiro. Portanto, há que acolher Jesus, pois Ele é o verdadeiro sinal do céu que Deus nos envia para nos dar a conhecer o seu amor. E dá-o a conhecer, não por gestos espectaculares, mas na bondade para com os doentes, no cuidado e paciência em explicar as coisas a espíritos pouco abertos, no gosto em permanecer connosco.
Peçamos à Virgem Maria que nos faça compreender cada vez mais o mistério da Incarnação, que nos alcance de Deus «um espírito de sabedoria e de revelação para descobrirmos e conhecermos verdadeiramente a Cristo Senhor e compreendermos a que esperança fomos chamados" (cf. Ef 1, 17-18) (Cst. 77). A nossa "esperança", que "não desilude" (Rm 5, 5), que é "o único necessário" para nós, é Cristo, e a vida de união com Ele, particularmente na sua oblação (cf. Cst. 26).

Oratio
Senhor Jesus,
Infunde em nós o Espírito de Sabedoria Que nos ensine a viver
E a buscar a verdadeira felicidade;
Infunde em nós o Espírito de Entendimento
Que nos faça penetrar nos segredos do teu coração manso e humilde; Infunde em nós o Espírito de Conselho e de Fortaleza
que nos leve a fazer opções correctas
e a concretizá-Ias com perseverança, paciência e tenacidade; Infunde em nós o Espírito de Ciência
Que nos faça entender a nossa história
À luz do projecto de Deus Pai;
Infunde em nós o Espírito de temor do Senhor que nos leve a colocar a vontade do Pai
no centro dos nossos pensamentos, desejos e projectos.
Infunde em nós o Espírito
Para que o teu amor ablativo caracterize a nossa vida e revele aos pequenos e pobres,
o rosto de Deus Pai. Amen.


Contemplatio
A consideração das belezas infinitas de Deus é bem difícil sobre a terra onde só podemos ver a Deus através de um véu. Mas a contemplação do amor de Deus pelos homens é-nos fácil. Nós vivemos no meio dos benefícios que este amor nos prodigalizou, porque a maior marca do amor de Deus por nós, é o dom do seu Filho único. O amor de Deus é facilitado pelo amor da humanidade santa de Jesus. O amor de Nosso Senhor contemplado sob as formas sensíveis da sua humanidade, é o amor por um Deus, porque Jesus é Deus. É um acto de caridade, porque as afeições por Nosso Senhor são sempre elevadas a esta altura pela graça. É fácil excitar o nosso coração a este género de caridade. As representações das cenas da /155 vida mortal do Salvador, sobretudo as da sua Paixão, são meios ao alcance de todos. Este exercício não custa esforço, basta ter um coração para a ele se entregar. Também as almas simples, estas almas que Jesus ama tanto, porque são almas de filhos, vão direitas a Ele por este meio que o seu coração lhes inspira (Leão Dehon, OSP 2, p. 154s.)


Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos (cf. Lc 10, 21).

Fonte http://www.dehonianos.org/

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

01º Domingo do Advento - Ano B - 30.11.2014


ANO B
1º DOMINGO DO ADVENTO


Tema do 1º Domingo do Advento

A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a equacionar a nossa caminhada pela história à luz da certeza de que “o Senhor vem”. Apresenta também aos crentes indicações concretas acerca da forma devem viver esse tempo de espera.
A primeira leitura é um apelo dramático a Jahwéh, o Deus que é “pai” e “redentor”, no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. O profeta não tem dúvidas: a essência de Deus é amor e misericórdia; essas “qualidades” de Deus são a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.
O Evangelho convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que “o Senhor vem”. Ensina, ainda, que esse tempo de espera deve ser um tempo de “vigilância” – isto é, um tempo de compromisso activo e efectivo com a construção do Reino.
A segunda leitura mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere também aos crentes que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus.


LEITURA I – Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7

Leitura do Livro de Isaías

Vós, Senhor, sois nosso Pai
e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome.
Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos
e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema?
Voltai, por amor dos vossos servos
e das tribos da vossa herança.
Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!
Ante a vossa face estremeceriam os montes!
Mas Vós descestes
e perante a vossa face estremeceram os montes.
Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram
que um Deus, além de Vós,
fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam.
Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça
e recordam os vossos caminhos.
Estais indignado contra nós,
porque pecámos e há muito que somos rebeldes,
mas seremos salvos.
Éramos todos como um ser impuro,
as nossas acções justas eram todas como veste imunda.
Todos nós caímos como folhas secas,
as nossas faltas nos levavam como o vento.
Ninguém invocava o vosso nome,
ninguém se levantava para se apoiar em Vós,
porque nos tínheis escondido o vosso rosto
e nos deixáveis à mercê das nossas faltas.
Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai
e nós o barro de que sois o Oleiro;
somos todos obra das vossas mãos.

AMBIENTE

Aos capítulos 56-66 do Livro de Isaías, convencionou-se chamar “Trito-Isaías”. Trata-se de um conjunto de textos cuja proveniência não é totalmente consensual… Para alguns, são textos de um profeta anónimo, pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém após o regresso dos exilados da Babilónia, nos anos 537/520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de diversos autores pós-exílicos e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente, entre os sécs. VI e V a.C.).
Em qualquer caso, estamos na época posterior ao Exílio e numa Jerusalém em reconstrução… As pedras calcinadas da cidade lembram os dramas passados, a população da cidade é pouco numerosa, a reconstrução é lenta e modesta porque os retornados são pobres, os inimigos estão à espreita. A população está desanimada e sem esperança… Desse desânimo resulta a indiferença face a Jahwéh e à Aliança. Consequentemente, o culto é pouco cuidado e Deus ocupa um lugar secundário no coração e nas preocupações do Povo.
Os profetas que desenvolvem a sua missão nesta fase vão tentar acordar a esperança num futuro de vida plena e de salvação definitiva (em que Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa e Deus residirá aí, no meio do seu Povo); mas não deixam de sublinhar que o Povo tem de se reconverter aos caminhos da Aliança, da justiça, do amor, da fidelidade a Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto é parte de uma perícopa que vai de 63,7 a 64,11. Esta perícopa apresenta-se como um conjunto de versículos sem grande unidade nem ordem, onde se misturam elementos típicos de súplica ou lamentação com elementos de confissão dos pecados. A situação é a de desgraça nacional. O Povo dirige-se ao Deus da história, pedindo-Lhe que intervenha para salvar; e, uma vez que a desgraça é considerada castigo pelos pecados, o Povo confessa a culpa e pede perdão.

MENSAGEM

O nosso texto apresenta-se na forma de uma oração que o profeta dirige a Jahwéh. Nela, Deus é invocado como “pai” e como “redentor”. O título “pai” (provavelmente herdado das culturas cananeias, onde o deus principal do panteão é “pai” enquanto exerce a função de protecção e de senhorio) resulta da acção protectora e salvadora de Deus em favor do seu Povo, ao longo da história. O título “redentor” (“goel”) é, no antigo direito israelita, reservado ao parente próximo, a quem incumbe o dever de defender os seus, de manter o património familiar (cf. Lv 25,23-24), de libertar um familiar caído na escravidão (cf. Lv 25,26-49), de proteger uma viúva (cf. Rut 4,5) ou de vingar um parente assassinado (cf. Nm 25,19-20). O uso destes títulos pretende, portanto, lembrar a Deus as suas responsabilidades enquanto protector, defensor e salvador do seu Povo.
Qual é a situação que “exige” a acção salvadora e libertadora de Deus em favor do seu Povo?
O profeta quer que Deus – o “pai” e o “redentor” de Israel – não deixe o Povo continuar a endurecer o seu coração e a afastar-se dos caminhos da Aliança. É uma invocação dramática, que parece ter como objectivo forçar a intervenção libertadora de Deus. O problema é que a “geração presente” (os retornados do Exílio) não reconhece culpa alguma e vive instalada no pecado, na infidelidade, na injustiça, na indiferença face a Deus e às suas propostas. Será possível alterar esta lógica, fazer que Israel se volte decisivamente para Deus e possa trilhar, novamente, caminhos de vida e de salvação?
O profeta está convencido de que essa dinâmica é possível. No entanto, está consciente também de que o Povo, por si só, é incapaz de sair dessa rotina de rebeldia e de infidelidade em que tem vivido. É neste contexto que Deus tem de assumir as suas responsabilidades de Pai e de redentor e de Se dignar “descer” para transformar o coração do seu Povo.
Deus não veio já ao encontro do seu Povo e não lhe ofereceu a Aliança como proposta de vida plena e feliz? Na verdade, Jahwéh manifestou-Se mil vezes na história e ofereceu sempre ao seu Povo a salvação. Israel tem plena consciência dessa actuação de Deus; e é precisamente essa “memória” histórica que fundamenta a esperança: se Deus sempre foi o “pai” e o “redentor” de Israel, certamente voltará a sê-lo outra vez, na dramática situação actual.
O nosso texto termina com uma imagem muito bela: Deus é o “oleiro” e o seu Povo é o barro que o artista modela com amor e cuidado. A imagem serve, certamente, para definir o poder e o senhorio de Deus que pode modelar o seu Povo como bem Lhe aprouver; mas, provavelmente, faz também alusão àquilo que o profeta espera de Deus: uma nova criação. A imagem leva-nos, precisamente, a Gn 2,7 e à criação do homem do barro da terra… O profeta quererá, dessa forma, sugerir que a intervenção salvadora de Deus no sentido de mudar o coração do seu Povo (fazendo que ele deixe os caminhos do egoísmo e da auto-suficiência e volte aos caminhos de Deus e da Aliança) é uma nova criação, da qual nascerá uma humanidade nova.

ACTUALIZAÇÃO

Considerar, na reflexão, as seguintes questões:

• O nosso texto apresenta em pano de fundo um Povo de coração endurecido, rebelde, indiferente, que há muito prescindiu de Deus e deixou de se preocupar em viver de forma coerente os compromissos assumidos no âmbito da Aliança. É um quadro que não difere significativamente daquilo que é a vida de tantos homens e mulheres dos nossos dias. Que lugar ocupa Deus na nossa vida? Que importância damos às suas propostas? As sugestões e os apelos de Deus têm algum impacto sério nas nossas opções e prioridades?

• O nosso texto convida-nos também a reconhecer que só Deus é fonte de salvação e de redenção. Nós, por nós próprios, somos incapazes de superar essa rotina de indiferença, de egoísmo, de violência, de mentira, de injustiça que tantas vezes caracteriza a nossa caminhada pela vida. Deus, o nosso “Pai” e o nosso “redentor”, é sempre fiel às suas “obrigações” de amor e de justiça e está sempre disposto a oferecer-nos, gratuita e incondicionalmente, a salvação. A nós, resta-nos acolher o dom de Deus com humildade e com um coração agradecido.

• A acção de Deus, o seu papel de “redentor” concretiza-se através de Jesus e das propostas que Ele veio fazer aos homens e ao mundo? Neste Advento, estou disposto a acolher Jesus e a abraçar as propostas que Deus, através d’Ele, me faz?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 79 (80)

Refrão: Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar,
mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.

Pastor de Israel, escutai,
Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei.
Despertai o vosso poder
e vinde em nosso auxílio.

Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós.

Estendei a mão sobre o homem que escolhestes,
sobre o filho do homem que para Vós criastes;
e não mais nos apartaremos de Vós:
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.


LEITURA II – 1 Cor 1,3-9

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
A graça e a paz vos sejam dadas
da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito,
pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus.
Porque fostes enriquecidos em tudo:
em toda a palavra e em todo o conhecimento;
e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo.
De facto, já não vos falta nenhum dom da graça,
a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele vos tornará firmes até ao fim,
para que sejais irrepreensíveis
no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fiel é Deus, por quem fostes chamados
à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

AMBIENTE

No decurso da sua segunda viagem missionária, Paulo chegou a Corinto, depois de atravessar boa parte da Grécia, e ficou por lá cerca 18 meses (anos 50-52). De acordo com Act 18,2-4, Paulo começou a trabalhar em casa de Priscila e Áquila, um casal de judeo-cristãos. No sábado, usava da palavra na sinagoga. Com a chegada a Corinto de Silvano e Timóteo (2 Cor 1,19; Act 18,5), Paulo consagrou-se inteiramente ao anúncio do Evangelho. Mas não tardou a entrar em conflito com os judeus e foi expulso da sinagoga.
Corinto era uma cidade nova e muito próspera. Servida por dois portos de mar, possuía as características típicas das cidades marítimas: população de todas as raças e de todas as religiões. Era a cidade do desregramento para todos os marinheiros que cruzavam o Mediterrâneo, ávidos de prazer, após meses de navegação. Na época de Paulo, a cidade comportava cerca de 500.000 pessoas, das quais dois terços eram escravos. A riqueza escandalosa de alguns contrastava com a miséria da maioria.
Como resultado da pregação de Paulo, nasceu a comunidade cristã de Corinto. A maior parte dos membros da comunidade era de origem grega, embora em geral, de condição humilde (cf. 1 Cor 11,26-29; 8,7; 10,14.20; 12,2); mas também havia elementos de origem hebraica (cf. Act 18,8; 1 Cor 1,22-24; 10,32; 12,13).
De uma forma geral, a comunidade era viva e fervorosa; no entanto, estava exposta aos perigos de um ambiente corrupto: moral dissoluta (cf. 1 Cor 6,12-20; 5,1-2), querelas, disputas, lutas (cf. 1 Cor 1,11-12), sedução da sabedoria filosófica de origem pagã que se introduzia na Igreja revestida de um superficial verniz cristão (cf. 1 Cor 1,19-2,10).
Tratava-se de uma comunidade com boas possibilidades, mas que mergulhava as suas raízes em terreno adverso. Na comunidade de Corinto, vemos as dificuldades da fé cristã em inserir-se num ambiente hostil, marcado por uma cultura pagã e por um conjunto de valores que estão em profunda contradição com a pureza da mensagem evangélica.
O texto que nos é hoje proposto é a “acção de graças” inicial. Habitualmente, Paulo começava as suas cartas com uma “acção de graças”.

MENSAGEM

Nesta “acção de graças”, em clima de oração e de louvor, Paulo agradece a Deus por certas realidades concretas que fazem parte da vida da comunidade cristã de Corinto, ao mesmo tempo que antecipa temas que vai depois desenvolver na carta. Não é um texto inócuo e convencional, mas um texto carregado de densidade teológica.
Há neste texto dois aspectos que, pelo seu significado e importância, convém pôr em relevo: o primeiro diz respeito aos dons que a comunidade recebeu de Deus, através de Jesus Cristo; o segundo diz respeito à finalidade do chamamento dos coríntios.
Em primeiro lugar, é claro para Paulo que a comunidade foi privilegiada com “dons” de Deus (vers. 4-6). É a primeira vez que, nos escritos paulinos, aparece a palavra “carismas” (vers. 7) – palavra que define os dons que resultam da pura generosidade divina e que são derramados sobre determinadas pessoas para o bem da comunidade. A comunidade de Corinto é uma comunidade amada por Deus, carregada de “carismas” que resultam da generosidade de Deus. É bom que os coríntios tenham consciência da liberalidade divina e saibam dar graças. Mais adiante (em 1 Cor 12-14), Paulo vai desenvolver a sua catequese sobre os “carismas”.
Que “carismas” são esses? Paulo menciona a palavra (“lógos”) e o conhecimento (“gnosis”) como principais componentes da riqueza espiritual que Deus concedeu aos coríntios. Trata-se de temas muito importantes no contexto da cultura grega, que são apresentados aqui como dons de Deus. Paulo procura, assim, animar a intensa procura de “sabedoria” dos coríntios dando, no entanto, a essa busca um significado e um enquadramento cristão. Paulo desenvolverá a questão nos capítulos seguintes avisando, no entanto, os coríntios de que a “sabedoria” de Deus nem sempre coincide com a “sabedoria” dos homens (cf. 1 Cor 2,1-16).
Em segundo lugar, Paulo manifesta a sua convicção de que os “carismas” com que Deus cumulou os coríntios são destinados a construir uma comunidade orientada para Jesus Cristo, capaz de viver de forma irrepreensível o seu compromisso com o Evangelho até ao dia do encontro final e definitivo com Cristo. É para esse objectivo final de encontro e de comunhão total com Deus que a comunidade, animada por Jesus Cristo e sustentada com os dons de Deus, deve caminhar.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e a actualização da Palavra podem partir dos seguintes elementos:

• O nosso texto deixa claro que a comunidade cristã é uma realidade continuamente enriquecida pela vida de Deus. Através dos seus dons, Deus vem continuamente ao encontro dos homens e manifesta-lhes o seu amor. Os crentes devem viver numa permanente atitude de escuta e de acolhimento desses dons. A comunidade de que faço parte está consciente de que Deus vem continuamente ao encontro dos homens através dos dons que Ele oferece? Acolhe os dons de Deus como sinais vivos do seu amor?

• Qual o objectivo dos dons de Deus? Segundo Paulo, é “tornar firme nos crentes o testemunho de Cristo”. Os dons de Deus destinam-se a promover a fidelidade das pessoas e das comunidades ao Evangelho, de forma a que todos nos identifiquemos cada vez mais com Cristo. Os dons que Deus me concedeu destinam-se sempre a potenciar a minha fidelidade e a fidelidade dos meus irmãos às propostas de Jesus, ou servem, às vezes, para concretizar objectivos mais egoístas, como sejam a minha promoção pessoal ou a satisfação de certos interesses e anseios?

• Há, neste texto, um apelo implícito à vigilância. O cristão tem de estar sempre vigilante e preparado para acolher o Deus que vem ao seu encontro e lhe manifesta o seu amor através dos seus dons… E tem também de estar sempre vigilante para que os dons de Deus não sejam desvirtuados e utilizados para fins egoístas.


ALELUIA – Salmo 84 (85), 8

Aleluia. Aleluia.

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.


EVANGELHO – Mc 13,33-37

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
"Acautelai-vos e vigiai,
porque não sabeis quando chegará o momento.
Será como um homem que partiu de viagem:
ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos,
atribuindo a cada um a sua tarefa,
e mandou ao porteiro que vigiasse.
Vigiai, portanto,
visto que não sabeis quando virá o dono da casa:
se à tarde, se à meia-noite,
se ao cantar do galo, se de manhãzinha;
não se dê o caso que, vindo inesperadamente,
vos encontre a dormir.
O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!"

AMBIENTE

O texto que nos é hoje proposto como Evangelho situa-nos em Jerusalém, pouco antes da Paixão e Morte de Jesus. É o terceiro dia da estada de Jesus em Jerusalém, o dia dos “ensinamentos” e das polémicas mais radicais com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-13,1-2). No final desse dia, já no “Jardim das Oliveiras”, Jesus oferece a um grupo de discípulos (Pedro, Tiago, João e André – cf. Mc 13,3) um amplo e enigmático ensinamento, que ficou conhecido como o “discurso escatológico” (cf. Mt 13,3-37).
A maior parte dos estudiosos do Evangelho segundo Marcos consideram que este discurso, apresentado com uma linguagem profético-apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período que vai desde a morte de Jesus até ao final da história humana. É um texto difícil, que emprega imagens e uma linguagem marcada pelas alusões enigmáticas, bem ao jeito do género literário “apocalipse”. Não seria tanto uma reportagem jornalística de acontecimentos concretos, mas antes uma leitura profética da história humana. O seu objectivo seria dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até à vinda final de Jesus para instaurar, em definitivo, o novo céu e a nova terra.
Os quatro discípulos referenciados no início do “discurso escatológico” representam a comunidade cristã de todos os tempos… Os quatro são, precisamente, os primeiros discípulos chamados por Jesus (cf. Mc 1,16-20) e, como tal, convertem-se em representantes de todos os futuros discípulos. O discurso escatológico de Jesus não seria, assim, uma mensagem privada destinada a um grupo especial, mas uma mensagem destinada a toda a comunidade crente, chamada a caminhar na história com os olhos postos no encontro final com Jesus e com o Pai.
A missão que Jesus (que está consciente de ter chegado a sua hora de partir ao encontro do Pai) confia à sua comunidade não é uma missão fácil… Jesus está consciente de que os seus discípulos terão que enfrentar as dificuldades, as perseguições, as tentações que “o mundo” vai colocar no seu caminho. Essa comunidade em marcha pela história necessitará, portanto, de estímulo e alento. É por isso que surge este apelo à fidelidade, à coragem, à vigilância… No horizonte último da caminhada da comunidade, Jesus coloca o final da história humana e o reencontro definitivo dos discípulos com Jesus.
O “discurso escatológico” divide-se em três partes, antecedidas de uma introdução (cf. Mc 13,1-4). Na primeira parte (cf. Mc 13,5-23), o discurso anuncia uma série de vicissitudes que vão marcar a história e que requerem dos discípulos a atitude adequada: vigilância e lucidez. Na segunda parte, o discurso anuncia a vinda definitiva do Filho do Homem e o nascimento de um mundo novo a partir das ruínas do mundo velho (cf. Mc 13,24-27). Na terceira parte, o discurso anuncia a incerteza quanto ao “tempo” histórico dos eventos anunciados e insiste com os discípulos para que estejam sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor que vem (cf. Mc 13,28-37).

MENSAGEM

O nosso texto está integrado na terceira parte do discurso escatológico. Refere-se directamente ao final dos tempos e à atitude que os discípulos devem ter face a esse encontro último e definitivo com Jesus. O seu objectivo não é transmitir informação objectiva acerca do “como” e do “quando”, mas formar os discípulos e torná-los capazes de enfrentar a história com determinação e esperança.
O Evangelho deste domingo começa com uma parábola – a parábola do homem que partiu em viagem, distribuiu tarefas aos seus servos e mandou ao porteiro que vigiasse (cf. Mc 13,33-34) – e termina com uma admoestação aos discípulos acerca da atitude correcta para esperar o Senhor (cf. Mc 13,35-37). Primitivamente, a parábola contada por Jesus seria dirigida aos discípulos e teria como objectivo recordar-lhes o dever de guardar e fazer frutificar os tesouros desse Reino que Jesus lhes confiou antes de partir para o Pai.
O “dono da casa” da parábola é, evidentemente, Jesus. Ao deixar este mundo para voltar para junto do Pai, Ele confiou aos discípulos a tarefa de construir o “Reino” e de tornar realidade um mundo construído de acordo com os valores do Reino. Os discípulos de Jesus não podem, portanto, cruzar os braços, à espera que o Senhor venha; eles têm uma missão – uma missão que lhes foi confiada pelo próprio Jesus e que eles devem concretizar, mesmo em condições adversas. É necessário não esquecer isto: esta espera, vivida no tempo da história, não é uma espera passiva, de quem se limita a deixar passar o tempo até que chegue um final anunciado; mas é uma espera activa, que implica um compromisso efectivo com a construção de um mundo mais humano, mais fraterno, mais justo, mais evangélico.
Quem é o “porteiro”, com uma tarefa especial de vigilância (vers. 34)? Na perspectiva de Marcos, o “porteiro” parece ser todo aquele que tem uma responsabilidade especial na comunidade cristã… A sua missão é impedir que a comunidade seja invadida por valores estranhos ao Evangelho e à dinâmica do Reino. A figura do “porteiro” adequa-se, especialmente, aos responsáveis da comunidade cristã, a quem foi confiada a missão da vigilância e da animação da comunidade. Eles devem ajudar a comunidade a discernir permanentemente, diante dos valores do mundo, aquilo que a comunidade pode ou não aceitar para viver na fidelidade activa a Jesus e às suas propostas.
Todos – “porteiro” e demais servos do “senhor” – devem estar activos e vigilantes. A palavra-chave do Evangelho deste dia é esta: “vigilância”. Contudo, “vigilância” não significará, para os discípulos, o viver à margem da história, num angelismo alienante, evitando comprometer-se para não se sujar com as realidades do mundo e procurando manter a “alminha” pura e sem mancha para que o Senhor, quando chegar, os encontre sem pecados graves; mas será o viver dia a dia comprometido com a construção do Reino, realizando fielmente as tarefas que o Senhor lhes confiou. Essas tarefas passam pelo compromisso efectivo com a construção de um mundo novo, um mundo que viva cada vez mais de acordo com os projectos de Deus.
O nosso texto assegura aos discípulos, em caminhada pelo mundo, que o objectivo final da história humana é o encontro definitivo e libertador com Jesus. “O Senhor vem” – garante-lhes o próprio Jesus; e esta certeza deve animar e dar esperança aos discípulos, sobretudo nos momentos de crise e de confusão. Mesmo que tudo pareça ruir à sua volta, os discípulos são chamados a não perder a esperança e a ver, para além das estruturas velhas que vão caindo, a realidade do mundo novo a nascer.
Que devem os discípulos fazer, enquanto esperam que irrompa definitivamente esse mundo novo prometido? Devem, com coragem e perseverança, dar o seu contributo para a edificação do “Reino”, sendo testemunhas e arautos da paz, da justiça, do amor, do perdão, da fraternidade, cumprindo dessa forma a missão que Jesus lhes confiou.

ACTUALIZAÇÃO

Para reflectir e partilhar, considerar os seguintes pontos:

• Antes de mais, o Evangelho deste domingo coloca-nos diante de uma certeza fundamental: “o Senhor vem”. A nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que vem. Não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra infalível de Jesus. O tempo de Advento recorda-nos a realidade de um Senhor que vem ao encontro dos homens e que, no final da nossa caminhada por esta terra, nos oferecerá a vida definitiva, a felicidade sem fim.

• O tempo do Advento é, também, o tempo da espera do Senhor. O Evangelho deste domingo diz-nos como deve ser essa espera… A palavra mágica é “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem e determinação a missão que Deus lhe confiou. Estar “vigilante” não significa, contudo, preocupar-se em ter sempre a “alminha” limpa para que a morte não o apanhe com pecados por perdoar; mas significa viver sempre activo, empenhado, comprometido na construção de um mundo de vida, de amor e de paz. Significa cumprir, com coerência e sem meias tintas, os compromissos assumidos no dia do baptismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo. É dessa forma que eu tenho procurado viver?

• Em concreto, estar “vigilante” significa não viver de braços cruzados, fechado num mundo de alienação e de egoísmo, deixando que sejam os outros a tomar as decisões e a escolher os valores que devem governar a humanidade; significa não me demitir das minhas responsabilidades e da missão que Deus me confiou quando me chamou à existência… Estar “vigilante” é ser uma voz activa e questionante no meio dos homens, levando-os a confrontarem-se com os valores do Evangelho; é lutar de forma decidida e corajosa contra a mentira, o egoísmo, a injustiça, tudo aquilo que rouba a vida e a felicidade a qualquer irmão que caminhe ao meu lado… Como me situo face a isto?

• O nosso Evangelho recomenda especialmente a “vigilância” aos “porteiros” da comunidade – isto é, a todos aqueles a quem é confiado o serviço de proteger a comunidade de invasões estranhas. Todos nós a quem foi confiado esse serviço, sentimos o imperativo de cuidar com amor dos irmãos que Deus nos confiou, ou demitimo-nos das nossas responsabilidades e deixamos que o comodismo e a preguiça nos dominem? Quais são os nossos critérios, na filtragem dos valores: os nossos interesses e perspectivas pessoais, ou o Evangelho de Jesus?


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1º DOMINGO DO ADVENTO
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo do Advento, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. ENTRAR NESTE DOMINGO.
VINDA. A liturgia da Palavra fala muito desta palavra. O tempo do Advento quer sensibilizar-nos para esta vinda. A dimensão escatológica marca toda a celebração cristã, particularmente neste domingo. Na preparação da liturgia, será bom partilhar esta dimensão para se entrar verdadeiramente neste domingo…
VIGÍLIA. O apelo que Cristo nos lança à vigilância é para ser tomado bem a sério. Vigiai, pois… deve ser marcado no momento da proclamação do Evangelho ou no momento do envio, por exemplo, pois é uma atitude a ser vivida no quotidiano. Que o Senhor não nos encontre a dormir ou adormecidos…
ADVENTO. Este domingo marca a entrada num novo tempo litúrgico: as quatro semanas do Advento. Habitualmente, há um gesto comum como as quatro velas da coroa do Advento que se vão acendendo em cada domingo… Hoje, é o início e este gesto deve ter um destaque especial, através de um cântico ou outro elemento que faça a ligação para os outros domingos…

3. PALAVRA DE VIDA.
A nossa vida tem um horizonte. Mesmo se olhamos por vezes o passado para recordar… mesmo se tomamos o nosso presente para o viver plenamente…, precisamos de nos voltar decididamente para o futuro para entrever os projectos que nos mobilizam. Tal é o convite que Jesus nos lança três vezes: “Vigiai!” Como Maria, José, os pastores, os Reis Magos… Se vigiamos, o nosso presente e o nosso futuro encontrar-se-ão. É isso a esperança.

4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Uma oração penitencial baseada na primeira leitura… A primeira leitura é uma bela oração, cheia de confiança e de esperança, mas também plena de lucidez sobre as falhas do povo e a situação religiosa do país. É como que um apelo para que o Senhor venha sacudir a torpor do seu povo e despertar o seu fervor adormecido. Para iniciar o tempo do Advento, pode fazer-se uma oração penitencial confiante e sincera. Depois do cântico de entrada e de uma breve introdução, alguém coloca-se de joelhos junto à cruz ou diante do altar e lê lentamente a primeira parte do texto. A assembleia canta um refrão de tipo penitencial. A mesma pessoa levanta-se e lê o segundo e o terceiro parágrafo de uma forma mais alegre e expressiva. O mesmo cântico penitencial poderá concluir a leitura neste momento penitencial.

5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
A oportunidade de um novo começo… Devido às nossas numerosas actividades, inclusive na Igreja, a nossa vigilância está muitas vezes ameaçada: falta-nos o tempo para parar, discernir, fazer novas escolhas em ordem a despertar a nossa adesão a Cristo. E se o tempo do Advento nos oferecesse esta oportunidade de um novo começo?…


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.ecclesia.pt/dehonianos

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares - 29.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Sábado

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 22, 1-7

1O Anjo do Senhor Mostrou-me a mim, João, um rio de água viva, resplendente como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. 2No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de medicamento para as nações. 3E ali nunca mais haverá nada maldito. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade e os seus servos hão-de adorá-lo 4e vê-lo face a face, e hão-de trazer gravado nas suas frontes o nome do Cordeiro. 5Não mais haverá noite, nem terão necessidade da luz da lâmpada, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus irradiará sobre eles a sua luz e serão reis pelos séculos dos séculos. 6E disse-me: «Estas palavras são dignas de fé e verdadeiras: o Senhor Deus, que inspira os profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos o que brevemente vai acontecer. 7Eis que Eu venho em breve. Feliz o que puser em prática as palavras da profecia deste livro.»

Chegámos à última visão do Apocalipse que nos apresenta «um rio de água viva» (v. 1) e a «Árvore da Vida» (v. 2), que produz frutos abundantes e cujas folhas medicinais. A bem-aventurança prometida está diante de nós, à nossa disposição: «Nunca mais haverá nada maldito… porque o Senhor Deus irradiará sobre eles» (vv. 3-5). As imagens deram lugar à realidade. A luz de que precisa o crente é Deus; o remédio de que necessita é o Redentor; a vida por que anseia é dom de Deus.
O livro do Apocalipse termina com uma perspectiva profética: «Eis que Eu venho em breve» (v. 7ª), e com uma bem-aventurança: «Feliz o que puser em prática as palavras da profecia deste livro» (v. 7b). A bem-aventurança do crente está ligada às palavras entregues no Evangelho, mas também a esta promessa. Somos peregrinos, entre o já e o ainda não, apoiados na fé e animados pela esperança. Por isso, a nossa bem-aventurança é incompleta enquanto não voltar o Senhor para um encontro de comunhão e de paz perene.


Evangelho: Lucas 21, 34-36

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos 34«Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, 35como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. 36Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.»

Ao terminar o “Discurso escatológico”, Jesus alerta-nos para o perigo do relaxamento espiritual. Mas também nos convida à coragem e à força do testemunho. Mas o que mais interessa ao Senhor é preparar os discípulos para a luta espiritual que há caracterizar a sua experiência histórica. Se são perigosos os ataques exteriores, não o são menos as fraquezas interiores. Para ser fiel ao Evangelho, é preciso estar atento a si mesmo e resistir aos outros. Por isso, o convite: «Velai, orando continuamente» (v. 36). Estas palavras apontam as atitudes de quem quer ser discípulo de Jesus. São atitudes indispensáveis a cada um dos crentes, mas também às comunidades. Na certeza de que todos havemos de comparecer diante do Filho do homem (cf. v. 36), Jesus indica-nos a necessidade de fazer algumas opções. Em primeiro, a da vigilância, isto é, a do exame crítico do tempo em que vivemos, a presença crítica na sociedade em que vivemos e actuamos, mas também o discernimento crítico das propostas de salvação que vamos recebendo de um lado e de outro. Em segundo lugar, a renúncia: para nos prepararmos para o encontro com o Senhor, para estar interiormente e exteriormente puros, para não nos deixarmos seduzir pelo mundo nem pelo Maligno.


Meditatio

O tema da perseverança caracteriza todo o “Discurso escatológico” de Jesus e deve caracterizar a nossa vida de crentes. Não basta acreditar em Jesus e viver os seus ensinamentos durante algum tempo. É preciso perseverar até ao fim, para estarmos preparados no momento em que o Senhor vier. «Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» (Lc 12, 40).
Perseverar no bom caminho, nos bons propósitos, na fé, na esperança e na caridade, nunca foi fácil. Hoje parece particularmente difícil, num mundo em mudança permanente e acelerada. A eventualidade de não estarmos preparados para a vinda do Senhor é uma possibilidade que nos pode causar angústia e mesmo desespero. Mas a reacção que mais nos convém, e que Jesus recomenda, é a vigilância. Com a vigilância, podemos indicar o discernimento permanente, a humildade e a oração. É precisamente a oração que nos mantém vigilantes, à escuta dos passos e da voz e do Senhor que pode chegar e falar-nos a qualquer hora do dia ou da noite. Mas a atitude de vigilância também nos mantém em oração. Por outro lado, a oração ajuda-nos a estar vigilantes e a perseverar no caminho da salvação. Assim damos unidade à nossa vida: vigiando, rezamos e, rezando, vigiamos.
Vivemos um tempo difícil. É precisa força para escaparmos a tudo quanto está para acontecer. Só Deus no-la pode dar. E dá-a, se lha pedirmos na oração assídua e perseverante. E a perseverança, por sua vez, cresce no exercício da fidelidade evangélica a todo o custo.
De modo particular, confiemo-nos a Maria para que nos acompanhe e ajude a ser constantes. A obra, que deve realizar-se em nós, é obra divina, é nova criação, e só Deus a pode levar a termo. Mas a Virgem Maria pode ajudar-nos e assistir-nos com o seu amor materno. Como os servos em Caná, trazemos a nossa água e, orientados por Maria, apresentamo-la a Jesus, que a transforma em vinho.
Depois das tribulações deste mundo, pela perseverança, atingiremos, em plenitude a realidade do «o homem novo, (criado) à imagem de Deus, na justiça e na santidade verdadeiras (cf. Ef 4,24, como nos lembram as Constituições (n. 12). As mesmas Constituições continuam: «Cristo faz-nos acreditar que, apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente. O seu Caminho é o nosso caminho» (n. 12)
Num mundo que nos enche de angústias e nos torna muitas vezes pessimistas, porque nos parece que «tudo... jaz sob o poder do maligno» (1 Jo 5, 19), Cristo, «Homem novo» (Ef 4, 24) dá-nos coragem, ilumina-nos, pacifica-nos e dá-nos alegria (cf. Jo 20, 20-21), porque n´Ele, “apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente (Cst 12). Insistimos na convicção de que «... está presente», de que caminha à nossa frente. Por isso, »corremos com perseverança a carreira que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da fé» (Heb 12, 1-2), que deu a Sua vida por nós e, agora, glorioso, intercede por nós junto do Pai (cf. Heb 7, 25).


Oratio

Senhor, Tu convidas-nos a «vigiar e a orar» para sermos teus discípulos e perseverarmos até ao fim, até comparecermos diante de Ti, Filho do homem. Ensina-nos a fazer as opções necessárias para caminharmos seguros e perseverantes: Ensina-nos a vigilância: a examinar criticamente o tempo em vivemos, a sermos presença crítica na sociedade, a fazermos um verdadeiro discernimento pessoal e comunitário dos acontecimentos e das propostas que de todos os lados nos chegam com promessas de salvação. Ensina-nos a renúncia: para nos prepararmos para o encontro contigo, para nos mantermos interiormente e exteriormente puros, para não cedermos às seduções do mundo e do Maligno.
Tu és o Homem Novo, que nos precedeste no caminho. De olhos fixos em Ti, autor e consumador da nossa fé, queremos caminhar com perseverança até ao dia em que nos disseres: «Vem, servo bom e fiel: entra no gozo do teu Senhor!».


Contemplatio

«Vou-me embora, diz o Salvador, mas é para vos preparar um lugar». Tal deve ser o pensamento director de toda a nossa vida.
Um lugar nos espera no Céu, preparado por Jesus. Aqui em baixo estamos só de passagem, porquê então apegar-nos a coisas que passam e que vão desaparecer?
Mesmo que perdêssemos na terra os nossos pais, os nossos amigos, os nossos bens, porquê desencorajar-nos? Não havemos de encontrar tudo isto melhor, aperfeiçoado, na morada estável, eterna e real onde o nosso nome está inscrito no Coração de Jesus.
Como esta promessa de Jesus eleva os nossos pensamentos! Prepara-nos um lugar; está lá antes de nós como nosso advogado, nosso mediador. Tenhamos confiança. Tomemos o caminho que nos mostrou e sigamo-lo com perseverança.
Caminhemos com o olhar fixo no termo para onde vamos. Não trabalhemos senão para o céu; vivamos como convém a futuros habitantes do Céu. Gozemos, na esperança, a alegria e o antegosto do Céu. (Leão Dehon, OSP 3, p. 438)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eis que Eu venho em breve» (Ap 22, 7).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 28.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Sexta-feira

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 20, 1-4. 11 – 21, 2

1Eu, João, vi um anjo que descia do céu. Trazia na mão a chave do Abismo e uma grande corrente. 2Agarrou o Dragão, a Serpente antiga, que também se chama Diabo ou Satanás: prendeu-o por mil anos 3e lançou-o no Abismo que depois fechou e selou, para que ele não mais enganasse as nações, até que se completassem mil anos. Depois deste período, o Diabo deve ser solto por algum tempo. 4Vi também alguns tronos; e aos que neles estavam sentados foi dado o poder de julgar. Vi ainda as almas dos que foram decapitados pelo testemunho de Jesus e pela Palavra de Deus, os quais não adoraram a Besta, nem a sua estátua, nem trouxeram na fronte ou na mão o sinal da Besta. Eles reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos. 11Depois, vi um trono magnífico e branco e alguém sentado nele. Os céus e a terra fugiram da sua presença e desapareceram definitivamente. 2E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo.

João contempla a luta definitiva entre a serpente antiga e o Cordeiro imolado. Deus vencerá sobre Satanás e trará novidade de vida e grande alegria a todos os crentes. O combate e a vitória final acontecerá na cidade de Deus, pátria de todos aqueles que «foram decapitados pelo testemunho de Jesus e pela Palavra de Deus» (20, 4) e lugar onde todos os que não adoraram a Besta e a sua estátua recuperam a vida e reinam com Cristo. É, portanto, a cidade da alegria, a cidade da vida que triunfa sobre a morte, a cidade de Deus que elimina toda e qualquer outra alternativa. No centro dessa cidade, está um trono branco sobre o qual se senta Aquele que tem nas mãos o «livro dos vivos» (v. 12). Esta imagem diz-nos que Deus conhece e avalia, com sabedoria e bondade, todas as nossas obras. Junto ao livro da vida, está o «lago de fogo» (v. 14), também chamado «segunda morte», destino tremendo para todos aqueles que não tiverem o nome no livro da vida.
Mas o final será feliz: no fim da história, a morte já não terá qualquer poder sobre os que seguiram o Cordeiro no seu caminho pascal. Estes serão admitidos à total e eterna comunhão com Deus, aqui simbolizada pela Jerusalém celeste, «noiva adornada para o seu esposo» (21, 2), que será a cidade santa.


Evangelho: Lucas 21, 29-33

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: 29«Reparai na figueira e nas restantes árvores. 30Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo. 31Assim também, quando virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo. 32Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo se cumpra. 33O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.»

Jesus, ao terminar o “Discurso escatológico”, responde à pergunta inicial: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» (21, 7). A parábola da figueira é a resposta. Já no versículo 28 fora introduzido o tema da vigilância: «cobrai ânimo e levantai a cabeça!» que agora é retomado e desenvolvido. Lucas aproveita todas as ocasiões para exortar os destinatários do seu evangelho a tirar as devidas consequências da mensagem que lhes entrega.
O pormenor das «restantes árvores» (v. 29) visa tornar inteligível a parábola fora da Palestina. Mas não é preciso aplicar a realidade do Reino de Deus ao ritmo das estações. Portanto o regresso do Senhor não deve ser entendido como é o Verão, tempo das colheitas. Apenas se quer afirmar que, quando se verificarem os sinais premonitórios (cf. vv 20-28), então se manifestará definitivamente o poder de Deus que salva. Para Lucas, como sabemos, o reino de Deus já está no meio de nós (cf. 12, 20; 17, 21). O regresso do Senhor não será o início do Reino, mas a realização da sua última fase. «A vossa redenção está próxima» (v. 28): Cristo, o libertador, que já deu início ao reino do Pai no meio de nós, há-de vir aperfeiçoar a sua missão.


Meditatio

A maravilhosa visão, que o Apocalipse hoje nos apresenta, enche-nos de esperança e dá-nos coragem para vivermos o presente, sobretudo se pensarmos que a grande transformação já começou. Depois da dissolução do mundo actual, Deus fará surgir outro, simbolizado pela nova Jerusalém. Mas tanto o juízo final como a nova Jerusalém já são realidades presentes e actuantes no mundo. João mostra-nos que as realidades definitivas se actuam desde já. E Jesus diz-nos que «Agora é o julgamento deste mundo» (Jo 12, 31).
O texto de Lucas é um exemplo do estilo parenético-exortativo que o caracteriza e certamente reflecte a intenção de Jesus: «Reparai» … «quan¬do virdes» … «conhecereis». Como crentes, temos o dever de olhar e ver, de nos darmos conta e de compreender, não para sondar o mistério, mas acolhermos a mensagem de consolação e de libertação que Jesus nos veio trazer.
Como verdadeiro mestre, Jesus pede a atenção e a reflexão dos discípulos, sem lhes dar a solução pronta e clara. Prefere envolvê-los na contemplação e na compreensão do mistério que, Ele mesmo, recebeu do Pai. É um caminho talvez cansativo, mas desafiador e belo, aquele que o pedagogo Jesus propôs aos seus contemporâneos e continua a propor-nos. Para ler em profundidade os acontecimentos históricos actuais, e aqueles que nos esperam, Jesus oferece-nos a sua Palavra e o seu exemplo. Todos os acontecimentos, da nossa história pessoal, ou da nossa história comunitária, podem ser interpretados como sinais da presença divina, como dons do Senhor, como estímulo para retomarmos o caminho do Evangelho, na fidelidade aos mandamentos de Deus e a exemplo de Jesus. É nisso que consiste a graça: o dom de Deus que «desce do céu» pode transformar a pessoa humana, apesar da sua fragilidade, em nova criatura, bela, adornada para o esposo. Vivemos numa alegria e numa esperança mais actual, mais bela, mais forte, porque, aquilo que esperamos, é uma realidade já começada. De facto, é para nós consolador verificar que Cristo é nosso companheiro e amigo neste nosso mundo que «sofre... dores de parto» (Rm 8, 22), que luta e se esforça por se abrir ao dom do Espírito, neste mundo onde, apesar de tudo, surgem germes de bem, florescem obras de amor, está presente a santidade «apesar do pecado, dos fracassos e da injustiça... » (Cst 12).
Como dehonianos, somos chamados a colaborar no advento do «mundo novo». Em primeiro lugar, em nós mesmos, porque não se pode evangelizar sem antes sermos evangelizados. Depois, como participantes no carisma do P. Dehon e, em harmonia com a sua experiência de fé, seguimos a Cristo e abrimo-nos ao Espírito, aos Seus dons, para irradiarmos os seus frutos, praticar as bem-aventuranças, convencidos de que, colaborando com o Espírito, «os novos céus» e a «nova terra», em que «habita a justiça» (2 Pe 3, 13; cf. Is. 65, 17; 66, 22; Ap 21, 1.27), não são apenas uma expectativa futura, escatológica, mas podem tornar-se uma realidade actual.


Oratio

Senhor, ao menos uma vez por ano, a natureza, que nos rodeia, manifesta as suas capacidades escondidas quando, na Primavera, desabrocham folhas e flores, ervas e searas nos nossos campos. É o irromper improviso e violento da vida que escondeste no mundo material, e que nos revela as maravilhas que ele pode produzir, quando responde à tua palavra. Tal como a terra explode na Primavera em folhas, rebentos e flores, assim um dia explodirá, transformando-se num mundo de luz e de glória, onde será possível vermos os Santos e os Anjos que o habitam. Será a Primavera Eterna que aguardamos na fé. Sabemos que há-de vir e não tardará (cf. Heb 10, 37). Por isso Te suplicamos: Venha o teu Reino! Mostra-Te, Senhor, manifesta-Te; Tu que te sentas sobre os Querubins, mostra-te; ergue o teu poder e vem ajudar-nos. Amen! Maranatha!


Contemplatio

Jesus quer inspirar-nos confiança, tal como Ele a praticou durante a sua vida mortal. Do mesmo modo que a sabedoria infinita de Nosso Senhor Lhe aconselhara a intimidar-nos com o medo do julgamento, assim também o seu Coração Lhe inspira que nos anime pela confiança na sua misericórdia.
Quis chorar ao descrever aos apóstolos a destruição de Jerusalém, figura do juízo final, para mais os impressionar e imprimir neles mais profundamente um temor salutar (Lc 19). Mas também quis devolver a paz e a confiança aos seus corações mostrando-lhes que a meditação impressionante do juízo final não era para eles mais do que uma precaução salutar. «Quando estas coi¬sas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima» E acrescentava, para os firmar na confiança, uma comparação tirada do gracioso espectáculo que tinham a seus olhos: «Reparai na figueira e nas restan¬tes árvores. Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo. Assim também, quan¬do virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo», … quer dizer: pensai que a ceifa está próxima para vós.
Esta confiança que Nosso Senhor queria deixar aos apóstolos, também a quer inspirar a nós.
Não nos deu Ele o exemplo pela confiança no seu Pai, manifestada nas circunstâncias mais difíceis, no Getsémani e o Calvário? Mesmo então, quando a sua alma tinha mergulhado no medo, na tristeza e no tédio, reerguia-se com confiança: Surgite eamus («Levantai-vos e vamos»).
Abandonado sensivelmente pelo seu Pai, devolvia-lhe nada menos que a sua alma, com confiança: In manus tuas commendo spiritum meum («Nas tuas mãos entrego o meu espírito»).
Era esta confiança que impressionava S. Paulo, quando escrevia: «Tomou a cruz com alegria» (Heb 12).
Inspirava esta confiança aos seus santos, e S. Paulo, depois de ter dito: «temo a reprovação», acrescentava: «todavia tenho confiança de alcançar a coroa depois de ter combatido o bom combate» (Leão Dehon, OSP 4, p. 492s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar» (Lc 21, 33).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

terça-feira, 25 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Quinta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 27.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Quinta-feira

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 18, 1-2. 21-23; 19, 1-3.9a

1Eu, João, vi outro anjo que descia do céu com grande autoridade. A terra foi iluminada pelo seu esplendor; 2e gritou com voz forte:«Caiu, caiu Babilónia, a grande. Tornou-se antro de demónios, guarida de todos os espíritos imundos, guarida de todas as aves imundas guarida de todos os animais imundos e repelentes; 20Ó céus, rejubilai pela sua ruína! E vós também, os santos, os apóstolos e os profetas! Porque, condenando-a, Deus fez-vos justiça.» 21Depois, um anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma mó de moinho e lançou-a ao mar, dizendo: «Assim, com o mesmo ímpeto, será lançada Babilónia, a grande cidade! E nunca mais será encontrada. 22A melodia das cítaras e dos músicos, das flautas e das trombetas nunca mais se ouvirá dentro de ti. Não mais se encontrará em ti nenhum artista de qualquer arte que seja; não mais se ouvirá em ti o ruído da mó. 23A luz da lâmpada nunca mais brilhará dentro de ti. E as vozes do noivo e da noiva nunca mais se ouvirão dentro de ti. Porque os teus comerciantes eram os magnates da terra e com os teus feitiços ludibriaste todas as nações.» 1Depois disto, ouvi no céu algo que parecia o alarido de uma multidão imensa que dizia: «Aleluia! A vitória, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus; 2porque Ele julga com verdade e com justiça, porque Ele condenou a grande prostituta - a que corrompia a terra com a sua devassidão e lhe pediu contas do sangue dos seus servos.» 3E diziam ainda: «Aleluia! O fumo do incêndio da cidade subirá pelos séculos dos séculos!» 9Depois disse-me: «Escreve: Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!»

João fala-nos de outra visão que tem por objectivo iluminar a história do povo de Deus peregrino. A alusão ao céu e ao esplendor que dele vem indicam a origem divina da palavra que vai ser proclamada. Quem a ouvir, e acolher a mensagem, pode caminhar seguro rumo à meta.
É proclamado o fim de Babilónia, símbolo das forças que se opõem a Deus. A derrota dessas forças, que tentam levar os crentes à idolatria, é inevitável e certa, ainda que, de momento parecem estar a vencer. A derrota de Babilónia provará que nada nem ninguém é capaz de se opor ao desígnio de Deus. A ausência de alegria nessa cidade, «a melodia das cítaras e dos músicos, das flautas e das trombetas nunca mais se ouvirá dentro de ti» (v. 22), indica a falta de Deus e a surdez dos seus habitantes ao apelo do Senhor à conversão.
Pelo contrário, o Aleluia proclamado logo a seguir (19, 1.3) manifesta a vitória de Deus sobre os seus adversários, a vitória do Cordeiro sobre os seus inimigos e a alegria dos redimidos. O «banquete das núpcias» (v. 19, 9), que o Cordeiro oferece a todos os convidados, é o símbolo final da sua retumbante vitória.


Evangelho: Lucas 21, 20-28

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 20«Quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, ficai sabendo que a sua ruína está próxima. 21Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; e os que estiverem no campo não voltem para a cidade, 22pois esses dias serão de punição, a fim de se cumprir tudo quanto está escrito. 23Ai das que estiverem grávidas e das que estiverem a amamentar naqueles dias, porque haverá uma terrível angústia no país e um castigo contra este povo. 24Serão passados a fio de espada, serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completar o tempo dos pagãos.» 25«Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; 26os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. 27Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima.»

Esta secção do “Discurso escatológico” apresenta duas partes. Na primeira, é descrita a ruína de Jerusalém (vv. 20-24); na segunda é descrito o fim do mundo (vv. 25-28). Na primeira parte verificamos, mais uma vez, como Lucas gosta de passar da apocalíptica à história: «quando virdes Jerusalém sitiada por exérci¬tos… esses dias serão de punição» (cf. vv. 20-22). A destruição de Jerusalém é um juízo de Deus sobre o comportamento passado dos seus habitantes. Mas é também um aviso em relação ao futuro, e de alcance universal: «até se completar o tempo dos pagãos» (v. 24), isto é, o tempo do testemunho, o tempo dos mártires (cf. Actos dos Apóstolos).
S. Lucas gosta de distinguir os tempos: o Antigo Testamento, a plenitude dos tempos caracterizada pela presença de Jesus, e o tempo da Igreja. O «tempo dos pagãos» insere-se nesta última fase da história. Entre a primeira e segunda parte desta página, o evangelista deixa entender que, depois do tempo dos pagãos, será o juízo universal. Os vv. 25-28 caracterizam-se pela vinda do Filho do homem para o juízo universal. O crente nada tem a temer, ainda que a descrição desse momento o induza ao temor de Deus. De facto, o regresso do Senhor caracteriza-se por «grande poder e glória» (v. 27). Mas será nesse regresso que irá trazer aos fiéis o dom da libertação definitiva, o dom da redenção.


Meditatio

S. Lucas é o teólogo da história da salvação, em que distingue três grandes etapas: a Antiga Aliança, a Nova Aliança e a Parusia. A Antiga Aliança foi profecia e figura da Nova Aliança, realizada em Jesus Cristo morto e ressuscitado, que a Igreja continua a pregar e a tornar presente, até à sua última vinda. Para S. Lucas faz sentido empenhar-se na obra da evangelização, que parte da história de Jesus, mas que engloba a história das suas testemunhas da primeira comunidade cristã e das comunidades cristãs de todos os tempos.
Quando Jerusalém for destruída, Jesus diz-nos: «cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima» (v. 28). Babilónia e Jerusalém simbolizam o pecado, as forças que se opõem a Deus. É o mundo que deve ser destruído. Por outro lado, a Sagrada Escritura também fala do mundo como objecto do amor de Deus, que manda o Filho para o salvar. Temos, então, que esclarecer o significado do termo mundo: «mundo» são a violência, a desonestidade, o abuso do sexo, as estruturas de pecado. É contra esse mundo que havemos de lutar. É esse mundo que tem de ser destruído. Mas, «mundo» é também o universo e a humanidade que Deus ama e que o cristão também deve amar, na solidariedade com que luta contra o pecado, para que seja salvo. A relação Igreja-mundo é, pois, muito complexa: é uma relação semelhante à de Jesus, cheio de amor e solidariedade para com todos, mas inflexível contra o pecado.
É ao mundo dos homens que a Igreja deve anunciar Jesus Cristo, para que nele encontrem a libertação e a redenção por que anseiam, e que é uma nova criação. Jesus veio, efectivamente, libertar o homem do pecado e dar-lhe a possibilidade de recuperar a primitiva imagem de Deus que lhe foi imprimida ao ser criado. No fim dos tempos, Cristo há-de voltar para criar os «novos céus e a nova terra» mas, sobretudo, para aperfeiçoar no homem a original imagem de Deus.
O P. Bourgeois no seu primeiro comentário ao texto ou hino cristológico que encontramos nas Constituições (nn. 10-12), faz notar uma dialéctica, que se revela no texto, entre o passado, o presente e o futuro. Passado: «Cristo... prestou o seu serviço em prol das multidões» (Cst 10); «revelou o amor de Deus e anunciou o Reino» (Cst 10); «rezou pelo advento do Reino» (Cst 11); «abriu-nos ao dom do Espírito» (Cst 11); «N'Ele foi criado o homem novo, à imagem de Deus» (Cst 12)... Presente: O «mundo novo já presente em germe nos esforços hesitantes dos homens» (Cst 10); «o Reino, que já está em acção com a sua presença (de Cristo) no meio de nós» (Cst 11); Cristo «é para nós o Primeiro e o Último, Aquele que vive (Cst 11); Ele dá-nos a graça de acreditar, apesar do pecado, fracassos e injustiças, a redenção é possível, oferecida e já está presente» (Cst 12). Futuro: «este mundo novo... encontrará a sua realização... quando, por Jesus, Deus for tudo em todos» (Cst 10); Um mundo novo aberto «ao dom do Espírito e à liberdade dos Filhos de Deus» (Cst 11); habitado pelo «homem novo... criado... à imagem de Deus, na justiça e na santidade verdadeiras (Cst. 12); um mundo libertado pela “redenção de Cristo» (Cst 12); realizando «o Reino» em que, «por Jesus, Deus for tudo em todos» (Cst 10). Uma bela perspectiva para lermos a história da salvação, mas também a nossa história pessoal, e para nos motivar na caminhada da fé e do testemunho, no serviço do Evangelho. Até que o Senhor volte!


Oratio

Senhor, aumenta a minha esperança para que tenha coragem de procurar mundos novos, e remover os detritos e hábitos que me enterram em seguranças precárias, para que a certeza de Te encontrar jamais me permita desistir de Te procurar, para que nunca deixe de caminhar, apesar da minha fraqueza. É a esperança que mobiliza os meus biblioteca para chegar à meta que me reservas. É esperança que me dá força para lutar contra uma existência incolor que pouco a pouco esmaga e paralisa. É a esperança que me leva a abrir-me a Ti e a inspirar-me no Evangelho para renovar a minha vida. É a esperança que me leva a manter viva a chama. É a esperança que me leva a resistir a ser como os outros me querem, e a não perder a minha identidade, fechando-me à graça. Senhor, aumenta a minha esperança: a esperança de Te ver e de ser surpreendido por Ti. Amen.


Contemplatio

Algumas vezes Jesus encoraja-nos com o incentivo das recompensas: «O reino dos céus é um tesouro que é preciso conquistar, uma pérola que é preciso comprar a todo o preço».
Outras vezes sustém-nos com o medo dos castigos: «O mau grão será queimado no momento da colheita; - os peixes maus captados pela rede serão lançados ao mar; - o convidado para as núpcias que não tiver o traje nupcial não será admitido; - as virgens loucas encontrarão as portas fechadas; - o servo que não tiver feito frutificar o seu talento será atirado às trevas exteriores».
Ou então Nosso Senhor descreve minuciosamente o último juízo, do qual a destruição de Jerusalém será apenas o prelúdio.
Aqui está um fundo sólido de pregação: a santidade da moral a praticar, o céu para aqueles que são fiéis, o inferno para os maus servidores.
E Nosso Senhor dava uma invencível autoridade aos seus ensinamentos pela santidade da sua vida, pelo encanto da sua palavra, pela unção da graça de que estava penetrado.
Onde está a nossa pregação? Tem porventura um fundo sério? Faz valer suficientemente os grandes motivos da esperança e do temor? Está apoiada pela santidade da nossa vida? Estamos bastante unidos a Deus pela vida interior para que isto se manifeste em todo o nosso ser e em todas as nossas palavras? (Leão Dehon, OSP 2, p. 553).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!» (Ap 19, 9).)


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 26.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Quarta-feira

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 15, 1-4

1Eu, João, vi no céu um sinal maravilhoso e surpreendente: sete anjos eram portadores dos sete últimos flagelos porque neles se cumpria a ira de Deus. 2Vi ainda uma espécie de mar de vidro misturado com fogo. Os que tinham vencido a Besta, a estátua da Besta e o número correspondente ao nome da Besta estavam junto do mar de vidro com as harpas que Deus lhes tinha dado. 3E cantavam o Cântico de Moisés, servo do Senhor, e o cântico do Cordeiro, aclamando:«Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! 4Senhor, quem não reverenciará o teu nome? Quem não lhe dará glória? Porque só Tu és santo! Todas as nações virão prostrar-se diante de Ti, pois as tuas justas sentenças foram promulgadas!»

João, ao escrever esta página, tem claramente em fundo o quadro do Êxodo. Há uma ligação entre o fim que o Apóstolo profetiza e o início da história da salvação, quando Deus fez maravilhas em favor do seu povo. Jesus, o Cordeiro imolado, é o novo Moisés que introduz o novo povo de Deus no reino do Pai, fazendo-o passar através do mar, símbolo do mundo mergulhado no pecado. A segunda vinda de Cristo realizará a páscoa definitiva, libertando o homem de tudo quanto se opõe à sua salvação. Fá-lo sair do Egipto, terra de escravidão, e fá-lo entrar na Terra prometida, «onde corre leite e mel» (Ex 3, 8). Liberta-o do pecado e introdu-lo na comunhão de vida com Ele.
O povo de Deus, definitivamente libertado, entoa «o Cântico de Moisés, servo do Senhor, e o cântico do Cordeiro» (v. 3). Há uma clara referência a Ex 15, 1ss.
O dom da salvação tem dimensão universal, testemunhada pela passagem do Antigo ao Novo Testamento: «Todas as nações virão prostrar-se diante de Ti» (v. 4b). O dom de Deus passa por Israel, mas é para toda a humanidade. Assim, a mensagem do Apocalipse atinge a sua meta.


Evangelho: Lucas 21, 12-19

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12«Vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. 13Assim, tereis ocasião de dar testemunho. 14Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, 15porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários. 16Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós 17e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa constância é que sereis salvos.»

Continuamos a escutar o segundo “Discurso escatológico” em que é delineado o futuro dos crentes e das comunidades cristãs de todos os tempos. Entrevemos já os acontecimentos narrados pelo mesmo Lucas nos primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos. A perseguição é sinal da autenticidade da fé em Jesus, porque os crentes participam do seu destino pascal. É também um sinal de que está perto o reino de Deus e de que é preciso estar atento e preparado para o acolher. Sabemos como a espiritualidade martirial marcou a vida das primeiras comunidades, até ao édito de Milão, em 313. E sabemos como tantos crentes ainda hoje vêem o martírio como uma forte possibilidade. Por isso, derramar o sangue por Cristo foi e continua a ser para muitos cristãos uma oportunidade para «dar testemunho» (v. 13) do Senhor e do seu Evangelho. O dom da fé implica a missão. Jesus indica o método e o estilo dessa missão. O testemunho dos discípulos, para ser eficaz, deve ser ao estilo pascal do testemunho de Jesus. Não é preciso preparar a própria defesa (v. 14), nem imaginar métodos de defesa meramente humanos, ou fazer apelo a estratégias terrenas. O que é preciso é viver de pura fé, abandonar-se ao poder de Deus, confiar na sua Providência. Cristo não deixará faltar a eloquência e a coragem aos seus fiéis (v. 15). A perseverança é o distintivo dos mártires.


Meditatio

As leituras das últimas semanas do ano litúrgico, aparentemente deprimentes porque falam das perseguições e das tribulações dos cristãos na luta contra a Besta, são, na realidade, uma mensagem de esperança, e querem criar em nós uma mentalidade de vencedores. Isso nota-se, sobretudo, no Apocalipse. S. João apresenta os cristãos como «os que tinham vencido a Besta» (v. 2), enquanto os redimidos atribuem a vitória a Deus e ao Cordeiro. De facto, nas suas tribulações, experimentaram vivamente o apoio de Deus. No evangelho, Jesus, depois de anunciar aos discípulos perseguições e sofrimentos, diz-lhes que a sua única preocupação há-de ser permanecer fiéis, porque Deus lhes dará a vitória. De facto, não lutam em nome de si mesmos, mas de Jesus: «por causa do meu nome» (vv. 12 e 17). Os cristãos perseguidos lutam em nome de Jesus. Por isso, não devem preocupar-se com a sua defesa: «Eu próprio vos darei palavras de sabedoria», diz o Senhor. A única preocupação do cristão há-de ser centrar-se no nome de Jesus, isto é, na sua pessoa.
Assim entrevemos o valor específico do testemunho cristão: não vale tanto pelo que as pessoas saibam ou possam dizer, quanto pelo dom divino que, pela sua palavra, se manifesta. A testemunha torna-se, então, sinal de uma presença superior. As suas palavras veiculam uma mensagem divina. O seu martírio é prolongamento do martírio de Jesus. Jesus está presente nos seus mártires para ser a sua força no combate e no testemunho. A presença de Jesus torna-nos invulneráveis, apesar das aparências: «não se perderá um só cabelo da vossa cabeça» (v. 18).
O livro dos Actos dos Apóstolos e as páginas do martirológio cristão mostram a verdade das palavras de Jesus.
O sacrifício de Cristo é um apelo ao nosso martírio. S. Paulo intuiu essa verdade quando escreveu aos Romanos: "Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos) como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto espiritual" (Rm 12, 1). Cristo, consagrado e imolado, para ser fiel e obediente ao Pai, é um apelo a todos os cristãos, particularmente aos consagrados para que sejam fiéis e obedientes, até à imolação. Pela obediência, comenta Orígenes, ofereço «um holocausto no altar de Deus. Assim, sou sacerdote do meu sacrifício». Assim, também nós, nos tornamos, com Cristo, construtores do Reino de Deus entre os homens, reparadores com Cristo reparador. Estamos assim abertos para o «acolhimento do Espírito», damos «uma resposta ao amor de Cristo por nós», estamos em «comunhão no Seu amor pelo Pai» e cooperamos "na sua obra redentora no coração do mundo" (Cst 23).


Oratio

Senhor, faz-nos compreender que, da fidelidade à nossa vocação e à nossa missão, brota a disponibilidade para o sofrimento, para o martírio. Dá-nos a graça de sofrermos para sermos fiéis à nossa vocação ou, melhor, para sermos fiéis a Ti, que nos chamaste pelo nome; de sofrermos para actualizar o teu desígnio de salvação em favor dos irmãos e para tua glória; de sofrermos para ser fiéis aos valores que nos propões, enfrentado a revolta das nossas paixões e a incompreensão de quem não pensa como nós; de sofrermos convencidos de que se deve substituir o sofrimento inútil por um sofrimento consciente e paciente.
Assim poderemos gozar daquela paz que o mar de cristal simboliza e oferece a quem, depois de ter passado pelo fogo da provação, sai dele purificado e renovado. Torna-nos perseverantes no teu amor e no teu santo serviço, mesmo que venha a ser preciso sofrer e morrer. Tu és um Deus fiel. Dá-nos a graça da fidelidade. Amen.


Contemplatio

«O meu Pai e eu, diz o Senhor, somos assim glorificados». É, de facto, o amor divino pelos homens que é imitado e continuado. A nossa união fraterna faz a alegria de Deus nosso Pai. Ela faz também a nossa força e a nossa consolação. As obras da caridade fraterna são também um poderoso meio de apostolado e o instrumento da conversão dos povos. O mundo vê que nos amamos e fica emocionado.
Esta caridade tem tido os seus inumeráveis mártires, que têm fecundado a Igreja e enchido o céu. Todos aqueles que sacrificaram a sua vida nos trabalhos e nos perigos do apostolado sob todas as suas formas são mártires da caridade. Enfrentaram as fadigas, as doenças, as dificuldades do clima, a hostilidade dos infiéis para irem em socorro dos que sofrem ou que estão nas trevas da idolatria. Era o espírito da caridade que os conduzia.
Dando-nos o seu preceito novo, Nosso Senhor dá-nos, no Espírito Santo, a graça de o cumprirmos.
Se correspondermos a este espírito de caridade, havemos de praticar entre nós a doçura, a paciência, a benevolência. As obras de misericórdia ser-nos-ão caras e fáceis. Teremos gosto em tomar conta dos pequenos, dos pobres, dos ignorantes, daqueles que sofrem. Havemos de nos recordar da palavra do bom Mestre: «O que fazeis aos pequenos e aos deserdados, tenho como feito por mim». Se tivermos uma caridade ardente e abundante, levá-la-emos até ao sacrifício. Despojar-nos-emos, afadigar-nos-emos para socorrer o nosso próximo, e, se for preciso, daremos a nossa vida por ele como Nosso Senhor a deu por nós. (Leão Dehon, OSP 3, p. 419s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pela vossa constância é que sereis salvos» (Lc 21, 19).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

domingo, 23 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 25.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Terça-feira

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 14, 14-19

14Eu, João, vi uma nuvem branca. Sobre a nuvem estava sentado alguém que se parecia com um homem. Tinha na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. 15Depois saiu do santuário um outro anjo que gritava ao que estava sentado na nuvem: «Lança a tua foice e ceifa, porque chegou o tempo de ceifar. Está madura a seara da terra.» 16Então, o que estava sentado na nuvem lançou a foice à terra e a terra foi ceifada. 17Depois saiu outro anjo do santuário celeste que também trazia uma foice afiada. 18E, do altar, saiu ainda outro anjo, o que tem poder sobre o fogo. E gritou ao anjo que tinha a foice afiada: «Manda a tua foice afiada e vindima os cachos da vinha da terra; porque as uvas já estão maduras.» 19O anjo lançou a foice à terra, vindimou a vinha da terra e lançou as uvas no grande lagar da ira de Deus.

Mais uma vez, João utiliza símbolos cuja interpretação nos introduz na compreensão da mensagem. O primeiro símbolo é a nuvem (v.14): na tradição bíblica indica uma teofania, uma manifestação de Deus. Neste caso é o Filho do homem que aparece para julgar e oferecer a salvação. Este Filho do homem é Cristo. João conclui a sua mensagem sobre a pessoa e a missão de Cristo.
O símbolo da ceifa (v. 15s.) e o da vindima (v. 18-19) ilustram o juízo que Jesus veio e virá pronunciar sobre a humanidade. Trata-se de um juízo aberto à salvação, que é exactamente dom d´Aquele cujo nome é Salvador. Considerar esse juízo apenas pelo lado negativo, seria desconhecer o dom de Deus e subtrair-se à vontade salvífica universal do Senhor. É verdade que, os que tiveram recusado a salvação, serão afastados de Deus, e objecto da sua cólera (v. 19). Mas isso acontece porque livremente se subtraíram à divina misericórdia.
A página joânica oferece-nos outra mensagem: há uma íntima relação entre a vida presente e a vida futura. Tudo depende de Deus e da sua divina bondade, mas tudo depende também das nossas opções pessoais e das obras que fazemos.


Evangelho: Lucas 21, 5-11

5Naquele tempo, comentavam alguns que o templo estava adornado de belas pedras e de ofertas votivas. Jesus respondeu-lhes: 6«Virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.» 7Perguntaram-lhe, então: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» 8Ele respondeu: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar, pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não os sigais. 9Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.» 10Disse-lhes depois: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. 11Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.»

O fim do mundo e a vida futura marcam a espiritualidade cristã. É o que Lucas nos indica ao referir mais um “Discurso escatológico” de Jesus (cf. Lc 17, 20-37). As perguntas que os ouvintes fazem a Jesus - «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» - são duas pistas para investigarmos a mensagem. O discurso de Jesus é pronunciado diante do templo, com as suas «belas pedras» e «ofertas votivas», o que cria contraste entre o presente, que ameaça fechar a religiosidade dos contemporâneos de Jesus, e o futuro para onde Jesus deseja orientar a fé dos seus ouvintes. Ao responder, Jesus anuncia o fim do templo e, de certo modo, de tudo aquilo que ele simboliza. Anuncia o fim do mundo que se concretizará nessa catástrofe e em tantas outras. Tudo o que é deste mundo terá certamente fim, mais tarde ou mais cedo. Por isso, o mais importante é acolhermos o ensinamento de Jesus e deixar-nos guiar por ele, enquanto aguardamos a sua vinda. A sua palavra ajudar-nos-á a discernir pessoas e acontecimentos, e a optar pelos valores que nos propõe. Há muita gente que anuncia a proximidade do fim do mundo, para nos aterrorizar, e nos oferece caminhos de salvação. Jesus não faz isso. Mesmo quando fala do fim do mundo, preocupa-se em iluminar-nos e em confortar-nos.


Meditatio

As leituras de hoje colocam-nos perante a realidade do fim do mundo e do juízo de Deus que não pode suportar o pecado e intervém com força terrível: «o Anjo vindimou os cachos da vinha da terra… e lançou as uvas no grande lagar da ira de Deus», diz-nos o Apocalipse (14, 18-19); «Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído», diz-nos Jesus, ao falar do templo de Jerusalém. Mas entre as duas leituras há um salmo de exultação, porque Deus vem julgar a terra: «Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores das florestas diante do Senhor que vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade» (cf. Sl 95). Tudo neste mundo é efémero, menos o Reino de Deus que já está presente e actuante, e que Cristo, um dia, virá completar e conduzir ao Pai.
No “Discurso escatológico” de Jesus temos que distinguir três níveis: a destruição de Jerusalém o fim da vida terrena de cada um de nós, os acontecimentos finais da história de toda a humanidade. Tudo passa. Só Cristo e o seu reino de amor, de justiça e de paz, hão-de permanecer. E cada cristão, como templo de Deus, adornado com as belas pedras das virtudes cristãs, pode e deve perseverar no bem, resistindo às diversas provações.
Entretanto, individualmente e, sobretudo, em comunidade de fé, iluminados pela Palavra e fortalecidos pelo Espírito, os crentes devem ler os sinais dos tempos e fazer um verdadeiro discernimento do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, para não se não se deixar enganar pelos falsos profetas e afastar do seguimento de Jesus Cristo, o único Salvador.
O Espírito impele-nos a ser entre os homens e no mundo testemunhas deste amor de Deus, derramado em nós no baptismo, um amor que regenera e salva. Impele-nos a apressar a recapitulação de todos os homens e de todo o universo em Cristo. Nós suspiramos pela “plenitude dos tempos”, quando se há-de realizar o “desígnio” do Pai «de recapitular em Cristo todas as coisas, as do céu e as da terra» (Ef 1, 10; cf. Rm 8, 19-25).
Para apressar esta recapitulação, devemos, antes de mais nada, ser, nós mesmos, recapitulados em Cristo: “Tudo é vosso..., vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1 Cor 3, 22-23).
Concretamente, devemos viver cada dia sob o influxo do Espírito, deixando-nos guiar pelos Seus dons, irradiando os Seus frutos, exercendo os Seus carismas, vivendo as bem-aventuranças. É preciso que sejamos eucaristia do Senhor, que vivamos os nossos dias como “uma missa permanente” (Cst. 5).
Deste modo, a realidade escatológica dos “novos céus” e da “nova terra, onde habitarão a justiça (amor oblativo)” (2 Pe 3, 13), torna-se, em nós e, possivelmente, nas nossas comunidades, uma realidade diária.


Oratio

Senhor Jesus, quando voltares, será perfeita a nossa alegria; quando voltares, já não será a esperança que nos há-de sustentar, mas a realidade que nos há-de saciar. Mas, desde já, queremos alegrar-nos em Ti, porque nos enche de júbilo a esperança que precede a realidade. Agora, amamos na esperança, porque já temos as primícias do Espírito e mesmo algo mais. De facto, desde já, estamos perto daquele que amamos. Desde já experimentamos e saboreamos algo daquela comida e daquela bebida de que, um dia, seremos saciados.
Efectivamente, o Senhor não está longe, a não ser que O obriguemos a afastar-se de nós. Se amarmos, senti-l´O-emos próximo. Se amarmos, fará em nós sua morada, porque «Deus é amor» (1 Jo 4, 8). O amor é a virtude pela qual amamos. Amamos um bem inefável, um bem benéfico, o bem que cria todos os bens. Ele mesmo é a nossa delícia, porque dele recebemos tudo quanto nos deleita. Dele recebemos tudo quanto possuímos, excepto o pecado.
Senhor, era com palavras semelhantes a estas que Te rezava o teu servo Agostinho de Hipona. E é assim que, hoje, Te quero rezar. Que a expectativa da tua vinda gloriosa me encha de alegria. Amen.


Contemplatio

Antes de entrar na posse da bem-aventurança eterna, haverá um juízo que devemos temer. Nosso Senhor estava com os discípulos no Monte das Oliveiras, em frente de Jerusalém. Os apóstolos reflectiam sobre a beleza do Templo: «Que pedras magníficas! Que riqueza!» Sim, diz-lhes Nosso Senhor, é muito belo, mas dentro de poucos anos tudo será destruído. E mais tarde, toda a terra será arrasada. Tudo isto é passageiro. O repouso não está nisso, mas no vosso Jesus na eternidade. Mas será preciso passar primeiro pelo juízo, e esse juízo, é preciso prevê-lo, meditá-lo, prepará-lo… Esse juízo será terrível, assustador. Será precedido por uma confusão universal. Os vivos ficarão transidos de medo, os mortos sairão das sepulturas. Nosso Senhor virá no esplendor do poder e da majestade e pronunciará contra os pecadores a terrível sentença. Este juízo é temido mesmo por aqueles que receberam grandes graças e uma vocação de eleição. Os santos sempre temeram o juízo: «Castigo o meu corpo pela penitência – dizia S. Paulo – para me precaver da condenação» (1 Cor 9). Santo Agostinho: Temo o fogo eterno. S. Bernardo: Tremo ao pensar no inferno…
O temor não deve ser servil, mas filial e misturador com amor. Somos filhos do Sagrado Coração, e nunca devemos esquecer a parte do amor nas nossas disposições. O temor é um dom do Espírito Santo, do Espírito de amor. O amor deve ser sobrenatural e filial. Devemos temer perder Jesus, ser afastados dele eternamente, ser privados do seu amor e do seu coração (Leão Dehon, OSP 4, p. 489s. passim).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Lança a tua foice; chegou o tempo de ceifar» (Ap 14, 15).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

sábado, 22 de novembro de 2014

XXXIV Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 24.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Segunda-feira

Lectio

Primeira leitura: Apocalipse 14, 1-3. 4b-5

1Eu, João, vi o Cordeiro de pé no Monte Sião e, com Ele, estavam cento e quarenta e quatro mil pessoas que tinham o seu nome e o nome de seu Pai escrito nas frontes. 2Ouvi também uma voz que vinha do céu que era como o fragor do mar ou como estrondo de forte trovão. A voz que eu ouvira era ainda semelhante à música de harpas tocadas por harpistas. 3E cantavam um cântico novo diante do trono, diante dos quatro seres viventes e diante dos anciãos.Ninguém podia aprender aquele cântico a não ser os cento e quarenta e quatro mil que tinham sido resgatados da terra. Foram resgatados, como primícias da humanidade, para Deus e para o Cordeiro. 5Na sua boca não se achou mentira: são irrepreensíveis.

João apresenta-nos os redimidos, o povo eleito que, reunido em assembleia, aclama a Deus e ao Cordeiro imolado. A mensagem joânica é eclesial, e mesmo universal, como se vê pelo número simbólico dos eleitos: 144 mil assinalados. Este número resulta da multiplicação de 12 por 12 por 1.000. Cento e quarenta e quatro mil é o produto de três números, cada um dos quais significa perfeição. Trata-se, pois, de um número aberto que será perfeito quando todos os chamados também forem eleitos.
«O monte Sião» (v. 1) também é um símbolo. Sobre ele se hão-de encontrar todos os que tiverem na fronte o nome do Cordeiro e do seu Pai (v. 1). Ter o nome indica uma relação especial com a pessoa: neste caso, indica que o povo dos eleitos tem uma relação especial com Deus e com Jesus. É pela fé que se entra a fazer parte desse povo, que é a comunidade daqueles que invocam o Nome e reconhecem nele a fonte da salvação. É um povo que acredita e por isso canta: «um cântico novo diante do trono... Ninguém podia aprender aquele cântico a não ser os cento e quarenta e quatro mil que tinham sido resgatados da terra» (vv. 3-4). É o cântico do Aleluia pascal que se transforma em Aleluia eterno.


Evangelho: Lucas 21, 1-4

Naquele tempo, 1Levantando os olhos, Jesus viu os ricos deitarem no cofre do tesouro as suas ofertas. 2Viu também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas 3e disse:«Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os outros; 4pois eles deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da sua indigência, deitou tudo o que tinha para viver.»

Lucas, para nos inserir numa situação de vida que, hoje como ontem, nos interpela pela sua dramaticidade, serve-se de elementos contrastantes: os «ricos» e a «viúva», a «miséria» e o «supérfluo». O Evangelho não é um livro de piedosas exortações. Ilumina a realidade em que vivemos para que a possamos ler em profundidade. Jesus vê e elogia a pobre viúva; vê e não pode deixar de estigmatizar o gesto daqueles ricos. O olhar de Jesus é como que um juízo sobre a atitude daqueles que têm uma relação diferente com os bens, com o dinheiro. Um juízo que é sempre difícil de aceitar, mas que ilumina o gesto e o coração das pessoas.
Jesus elogia a viúva pobre por causa das «duas moedas» que ofereceu ao templo. Também aqui há um forte contraste nas palavras de Jesus: duas moedas são duas moedas; mas Jesus considera-as mais preciosas do que as ofertas dos ricos. O gesto desta mulher lembra o da mulher anónima que, na véspera da paixão de Jesus, perfumou os seus pés e a sua cabeça com perfume precioso. É um gesto belo que agrada a Jesus mais do que qualquer outro. O pouco da pobre viúva é tudo aos olhos de Deus, enquanto o muito dos ricos é simplesmente supérfluo. Também aqui encontramos um juízo bastante claro: Deus aprecia mais o valor qualitativo do que o valor quantitativo dos nossos gestos. Só Ele vê o nosso coração e nos conhece profundamente.


Meditatio

Quem são os “virgens” de que fala o Apocalipse (14,1-5). Para alguns autores estes virgens seriam os que vivem no estado da virgindade integral e que seriam os perfeitos representantes do Povo de Deus peregrino, os cristãos modelo. Mas outros autores julgam que se trata apenas de virgindade alegórica, que denota fidelidade e adesão total a Deus, própria de qualquer cristão que tenha vivido plenamente a sua vocação. De facto, na linguagem profética, a infidelidade do povo a Deus é chamada prostituição. Não há pois convergência na interpretação do texto. Mas parece que podemos aceitar a opinião de um autor moderno: “o texto é um testemunho evidente da estima que a Igreja primitiva tinha pela virgindade”, uma vez que, para designar os cristãos perfeitos não encontrou melhor termo que o de “virgens”.
Ao comentar este texto, São Bernardo diz que o Cordeiro sobe muito alto e desce muito baixo. Desce muito baixo porque se humilhou a si mesmo fazendo-se obediente até à morte; sobe muito alto porque é o Cordeiro sem mancha. Os 144 mil que seguem o Cordeiro também não têm mancha, são “virgens”. E S. Bernardo continua a dizer: um pecador arrependido segue o Cordeiro; um que é virgem, segue o Cordeiro; mas pode acontecer que, nem um nem outro, o sigam para onde quer que vá: um porque não está sem mancha e outro porque se ensoberbeceu por causa da sua virgindade. O melhor, conclui o Santo, é segui-lo como pecador arrependido, porque o arrependimento purifica das culpas e torna possível seguir o Cordeiro, enquanto a soberba mancha a virgindade e impede segui-l´O. Por vezes, pode ser um bem tocar com a mão a própria miséria, porque nos pode impedir de cairmos na soberba.
O texto evangélico leva-nos a reflectir sobre o valor do dom, do dom de si mesmo. A viúva fez um gesto eloquente: deu com generosidade e confiança, revelando o seu bom coração e o valor d´Aquele a Quem doava. Manifesta-se aberta a Deus, cheia de confiança n´Ele e, ao mesmo tempo, mostra que, para ela, Deus é o supremo bem. O seu gesto é um acto de fé, de abandono à Divina Providência, um acto de adoração.
Os dons ligam as pessoas umas às outras, não tanto pelo valor que têm em si mesmos, mas por causa dos sentimentos que revelam no coração de quem dá, e pelo valor atribuído a quem se dá. É o coração que torna precioso o dom. Sob o ponto de vista religioso, a fé altera radicalmente o valor do que se dá. O pouco da viúva, dado com fé, é tudo; o muitos dos ricos, dado sem fé, é nada. O que torna precioso um dom é a intenção que o acompanha. Se o termo do gesto oblativo é Deus, o dom assume um valor extremamente grande. É Deus Quem o acolhe, o aprecia e o agradece.
A vocação ao celibato consagrado por causa do Reino, sendo um dom de Deus, não deixa de exigir muita generosidade. Mas a vocação cristã em geral, e particularmente a nossa vocação oblativa reparadora, também exigem grande generosidade. A participação no sacerdócio e no estado de vítima de Cristo, todavia, não é para seres excepcionais e extraordinários, mas para todos os que querem viver Cristo em profundidade, de maneira simples e humilde, mas com total confiança e abandono. Para nós, Oblatos-SCJ é “um dom particular” (Cst 13), “uma graça especial” (Cst 26) de testemunho, para recordar a todos os nossos irmãos cristãos (leigos, sacerdotes, religiosos) a sua vocação baptismal, participação no sacerdócio de Cristo. A «vida de união à oblação de Cristo como o único necessário» (Cst 26) ou, como se dizia no tempo do Pe. Dehon, a vida de vítima, pede generosidade e abandono a todos os baptizados.


Oratio

Senhor, dá-me a graça de Te seguir, para onde quer que vás. Que eu Te siga, ao menos, como pecador arrependido, recebendo da tua generosidade sem limites as graças de que preciso, especialmente a da humildade e a da fidelidade.
Faz-me também generoso e confiante como a viúva pobre que observaste no templo, para que me entregue sem reservas em completa oblação à tua glória e em total disponibilidade para os irmãos. Que a minha natureza ferida e corrupta, a pretexto de nobres ideais, jamais me leve a dons mascarados pelo egoísmo e pela vaidade. Que os meus dons sejam sempre motivados, única e exclusivamente, pelo amor puro. Amen.


Contemplatio

S. João aprende com os exemplos e as palavras de Jesus as virtudes que fazem as vítimas do Sagrado Coração: Obediência, paciência, caridade, abandono, reparação – S. João era o primogénito e o modelo das vítimas do Sagrado Coração. O tempo entre a tomada do hábito e a sua profissão não foi longo. No entanto, passou por um noviciado, por um tempo de prova, durante o qual aprendeu mais, avançou mais em virtude e em perfeição, sofreu mais no seu coração e no seu espírito do que a razão humana pode conceber. Lá aprendeu até onde vai o verdadeiro, santo e puro amor de Deus e que a medida deste amor é amar sem medida.
Na noite da Ceia viu como Nosso Senhor se deu inteiramente no mistério da Eucaristia. No dia seguinte, foi testemunha da oferta dolorosa da vítima sangrenta sobre a cruz. Pela sua presença, pela sua fidelidade e constância, testemunhou abertamente que conhecia Nosso Senhor, que era e queria permanecer seu discípulo. Nesta hora solene, fez no seu coração cheio de amor, de reconhecimento, de compaixão e de zelo, as promessas mais santas para o futuro. Tomou a resolução de nunca abandonar Jesus nem a sua doutrina. Depois recebeu em partilha o Coração ferido de Jesus, o Coração sobre a cruz, envolvido com os espinhos da humilhação, do ultraje, da dor, da ingratidão, da infidelidade e da cobardia dos seus discípulos, daqueles de então e dos do futuro. Viu como Nosso Senhor era ao mesmo tempo sacrificador e vítima, como deve ser todo o verdadeiro sacerdote da nova lei (Leão Dehon, OSP 3, p. 520s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Estes seguem o Cordeiro para onde quer que vá» (Ap 14, 4).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/