segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXII Semana - Terça-feira - 01.09.2015


Lectio


Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 5, 1-6.9-11

Irmãos: quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. 2Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão. 3Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína, como as dores de parto sobre a mulher grávida, e não escaparão a isso. 4Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. 5Na verdade, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. 6Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 9De facto, Deus não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo 10que morreu por nós, a fim de que, quer durmamos, quer estejamos vigilantes, com Ele vivamos unidos. 11Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como já o fazeis.

Ao concluir a sua carta, Paulo retoma os temas desenvolvidos e faz uma última e decisiva exortação: «vigiemos» (v. 6). O Dia do Senhor é imprevisível. Chegará como um ladrão. A fé na parusia relativiza a atitude do cristão perante as grandes realizações históricas: «Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína» (v. 3). Embora alegrando-se com as vitórias humanas sobre as suas múltiplas alienações, os cristãos nunca considerarão definitiva nenhuma época histórica, mas adoptarão, em relação a ela, uma atitude crítica e de espera. Não era isso que acontecia, pelo menos com alguns cristãos de Tessalónica, que se entretinham nos prazeres de um mundo vão, se abandonavam ao ócio, aos boatos, aos vícios da vida nocturna. Mais pareciam pagãos do que cristãos, porque não tinham em conta o dia do Juízo, absolutamente inelutável. São filhos das trevas. Os verdadeiros cristãos, pelo contrário, são filhos da luz, pessoas que conhecem o sentido e o fim deste mundo.


Evangelho: Lucas 4, 31-37

Naquele tempo, Jesus 31desceu a Cafarnaúm, cidade da Galileia, e a todos ensinava ao sábado. 32E estavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade. 33Encontrava-se na sinagoga um homem que tinha um espírito demoníaco, o qual se pôs a bradar em alta voz: 34«Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» 35Jesus ordenou-lhe: «Cala-te e sai desse homem!» O demónio, arremessando o homem para o meio da assistência, saiu dele sem lhe fazer mal algum. 36Dominados pelo espanto, diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» 37A sua fama espalhou-se por todos os lugares daquela região.

A distância entre Nazaré e Cafarnaúm é relativamente curta. Jesus percorre-a para a anunciar o evangelho e curar os enfermos. Assim, para Lucas, mostra a autoridade de que está revestido. A palavra de Jesus é eficaz: realiza o que significa. Os gestos terapêuticos de Jesus levam conforto e vida a todos os que deles precisam.
Palavras e gestos são os elementos que ligam todo o Evangelho (cf. Lc 24, 19 onde se fala de «Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo»; Act 1,1: «No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio»). Esta página, que se refere ao início do ministério público de Jesus, confirma-o. Jesus quer se escutado e acolhido por todos e cada um dos homens: por isso lhes fala ao coração e lhes cura o corpo. É uma intervenção libertadora que revela a eficácia da palavra de Jesus. O texto de hoje apresenta-nos um pobre doente que é libertado de um espírito maligno. Começa o choque frontal entre Jesus e o demónio. Esse choque é preciso para que Jesus se revele como salvador, isto é, como aquele que redime os que estão sob o domínio de Satanás e resgata para Deus e para o seu reino.
A intervenção de Jesus tem dois efeitos colaterais: suscita espanto em alguns e faz com que a sua fama se espalhe na região.


Meditatio

S. Paulo, na primeira leitura, diz: «irmãos, não estais nas trevas… todos vós sois filhos da luz e filhos do dia» (v. 4-5). Somos filhos da luz, graças à palavra de Jesus. Somos filhos do dia, graças à eficácia dessa palavra. A palavra de Cristo chega até nós nos sacramentos da Igreja. Chega aos nossos ouvidos, mas chega, sobretudo, aos nossos corações, às nossas consciências. Essa palavra purifica-nos intimamente, torna-nos filhos da luz. Assim, ficamos em segurança, e não corremos o risco de ser surpreendidos. Venham as tribulações que vierem, estamos preparados para as transformar em ocasiões de progresso, de vitória. Quem se apega aos bens terrenos está sempre inseguro. Quem, pelo contrário, segue a Cristo e acolhe a sua palavra, tem em si a força tranquila que lhe permite ultrapassar todos os obstáculos. «Deus – diz-nos Paulo - não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós» (vv. 4-5). A sua morte deu à sua palavra toda a eficácia, todo o poder. Doravante, podemos estar sempre com Ele, e encontrar a paz, que nada nem ninguém podem perturbar.
O evangelho mostra-nos a eficácia e o poder dessa palavra. Jesus fala «com autoridade» (v. 32). Era uma novidade absoluta em Israel. Até Jesus, os mestres falavam apoiando-se sempre na autoridade dos antigos, da tradição. Jesus fala sem precisar desses apoios: tinha uma autoridade pessoal que era suficiente. Os milagres, e concretamente, a capacidade de expulsar demónios, mostram-nos a eficácia da sua palavra. Intima o demónio a calar-se, a deixar a pessoa de quem tinha tomado posse, e o espírito demoníaco nada mais pode fazer do que obedecer: «O demónio… saiu dele sem lhe fazer mal algum» (v. 35). E todos foram «dominados pelo espanto», o espanto que invade o homem quando se vê perante uma manifestação divina. «E diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» (v. 36).
Mas a palavra de Jesus, eficaz e poderosa para nos libertar dos nossos males, é igualmente eficaz e poderosa para realizar a nossa união a Cristo e ao seu amor oblativo ao Pai pelos homens: «Escutamos com frequência a Palavra de Deus. Contemplamos o amor de Cristo nos mistérios da sua vida e na vida dos homens; sustentados pela nossa adesão a Ele, unimo-nos à sua oblação pela salvação do mundo.» (Cst 77).


Oratio

Senhor, Tu vieste para nos salvar. Mas vieste com a espada de dois gumes, que é a tua Palavra. Essa espada, que nos penetra até ao mais íntimo de nós mesmos, não nos deixa indiferentes. Diante dela, ou gritamos escandalizados, rejeitando-a, ou gritamos espantados com as maravilhas que realiza em nós e à nossa volta. Quem não é por Ti, é contra Ti! Quem perde a vida para Te servir, quem se entrega à tua Palavra, vive da tua própria vida. Como juiz divino, ensinaste-nos a ver para além das aparências, a não temer a morte, para vivermos, desde já, na alegria da vida Contigo. Bendito sejas para sempre! Amen.


Contemplatio

Os apóstolos estavam inquietos, perturbados, angustiados, porque Nosso Senhor se ia embora. É sempre a nossa tentação. É mais forte, quando a nossa fé baixa. Temos necessidade de Nosso Senhor. Se está presente, ao menos pela fé, a nossa alma está em paz, na calma. Como a perturbação é frequente em mim! «Os meus dias são maus, cheios de dores e de contrariedades, diz a Imitação; estou sujo por uma infinidade de pecados, envolvido por um grande número de paixões, apertado por diversos temores, dividido por múltiplos cuidados, distraído pela curiosidade, embaraçado pela vaidade, afligido pela tentação, amolecido pelas delícias, atormentado pelos meus desejos». As inquietações devoram-me, a actividade arrasta-me, a febre agita-me, as tristezas abatem-me. Falta-me uma fé viva. O porto de salvação, o asilo da segurança está lá, é o Coração de Jesus, mas não sei entrar nele nem manter-me ao abrigo de todas as perturbações. Senhor, com a vossa palavra eficaz as ondas agitadas que agitam a minha alma. Repeti a palavra pacificadora que dissestes aos apóstolos: «Que o vosso coração não se perturbe», e o meu coração se acalmará. (Leão Dehon, OSP 3, p. 427).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Deus destinou-nos à posse da salvação
por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo » (1 Ts 5, 9).



Fonte http://www.dehonianos.org/

domingo, 30 de agosto de 2015

Tempo Comum ­ Anos Ímpares ­ XXII Semana ­ Segunda­feira - 31.08.2015


Lectio

Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 4, 13-18

Irmãos, 13 não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança. 14De facto, se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus reunirá com Jesus os que em Jesus adormeceram. 15Eis o que vos dizemos, baseando-nos numa palavra do Senhor: nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não precederemos os que faleceram; 16pois o próprio Senhor, à ordem dada, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressurgirão primeiro. 17Em seguida nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. 18Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

Com uma linguagem simples e cheia de imagens, Paulo entra na questão escatológica, para a qual tende toda a carta. O Apóstolo tinha anunciado insistentemente a parusia de Cristo, e os Tessalonicenses julgavam que se tratava de algo iminente, um acontecimento em que já não tomariam parte os membros da comunidade falecidos depois de Paulo ter ido embora. Mas o Apóstolo não podia garantir se se tratava de um acontecimento iminente ou longínquo: «Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão.» (5, 1-2). Conscientes da incerteza do momento, há que estar sempre vigilantes, unidos a Cristo na fé, na esperança e na caridade. Assim estão preparados para receber a salvação que Jesus lhes alcançou pela sua morte e ressurreição (cf. 5, 1-11).
Paulo recorre à linguagem apocalíptica para dizer que o tempo da vinda de Cristo é um tempo fixado, um kairòs, que intervirá na história segundo um preciso desígnio. Esse desígnio pode ser entrevisto por inspiração divina, mas, em última análise, permanece escondido nas profundidades de Deus: «o próprio Senhor» (v. 16), Jesus, deverá esperar pelo sinal celeste para iniciar o seu regresso ao meio dos homens.


Evangelho: Lucas 4, 16-30

Naquele tempo, Jesus 16Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. 17Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: 18«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, 19a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» 20Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» 22Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» 23Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» 24Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. 25Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; 26contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. 27Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» 28Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. 29E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. 30Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.

A pregação de Jesus começa com um rito na sinagoga: levanta-se, vai ler, é-Lhe dado o rolo, abre-o… É um momento solene que Lucas sublinha. Jesus proclama a página profética e interpreta-a: «Cum¬priu se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» Jesus é o profeta prometido. O tempo presente é o kairós – o tempo providencial – que é preciso acolher. Os ouvintes reagem manifestando espanto pelas palavras de Jesus e pelo modo como as pronuncia: palavras repletas de graça. Alguns reagem negativamente, de modo crítico e mesmo agressivo contra Jesus. A proposta da salvação provoca reacções diferentes e, por vezes, opostas.


Meditatio

O tempo de Deus foi anunciado pelos Profetas como tempo de salvação, especialmente para os oprimidos e para os que andam longe da graça do Senhor. A vinda de Cristo inaugurou esse tempo, o kairòs, que dá início à realização das promessas, ao último acto da história da salvação. Quem acolher o anúncio de Jesus de Nazaré, quem reconhecer na sua pessoa a aproximação do reino de Deus, toma parte, desde já, na graça prometida na antiga aliança, no Jubileu da história, que se realiza uma vez por todas. Para quem não rejeitar a humilde revelação do filho do carpinteiro, a libertação acontece hoje, no dia da salvação, que Cristo fez raiar. Desde o advento do Senhor, os homens vivem no único dia, que tem por aurora o seu nascimento na gruta de Belém, e, por pôr-do-sol, a Parusia, a sua vinda gloriosa. Este é o hoje da fé. Quando o Senhor voltar, e formos levados com Ele, o hoje da fé dará lugar ao para sempre da visão beatífica, em que Ele será Emanuel, Deus connosco.
Se quisermos estar com Jesus, precisamos de escutar a lição do evangelho: abrir o coração com disponibilidade e gratuidade. Isto significa não amar, nem sequer a Jesus, de modo possessivo, pedindo-lhe as suas graças, os seus favores, só para nós, pedindo-lhe privilégios. Se quisermos estar com Ele, temos de O acompanhar quando se dirige a outra gente e, portanto, acolher as grandes intenções missionárias da Igreja. Somente assim estaremos unidos ao seu Coração, ao Coração de Jesus, sem estarmos presos pelo egoísmo espiritual, que, por muito espiritual que seja, é contrário à caridade de Cristo.
Escreve S. Paulo: “Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer pela sua pobreza" (2 Cor 8,9). Esta convicção conforta e sustenta atitudes fundamentais para nós, como é a disponibilidade, o abandono, o amor oblativo na nossa relação com Deus e na «nossa vida comunitária» (Cst 63).


Oratio

Louvado sejas, Senhor, por tudo quanto realizaste e realizas em nosso favor. Louvado sejas por, tantas vezes, nos teres libertado da nossa pobreza de filhos do bem-estar, das nossas prisões de vítimas dos sistemas que nós mesmos criámos, da cegueira da nossa incapacidade para Te reconhecermos como Senhor da história, da opressão de vivermos curvados, sem ver a morada onde nos esperas.
Pai santo e bom, faz-nos, mais uma vez, ouvir o anúncio da salvação, faz-nos ouvir as palavras do teu Filho: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura», para que, ponde de parte as nossas fracas seguranças humanas, e libertados de todo o peso, possamos ir ao teu encontro, no teu eterno hoje. Amen.


Contemplatio

A consolação começa na terra. É inspirada pela fé. É uma consolação nas nossas mágoas, nos nossos sofrimentos, nas nossas provações, pensar que a nossa paciência apaga as nossas faltas e nos prepara graças e uma recompensa sempre crescente. A paciência é sempre encorajada pela esperança, diz S. Paulo: um ligeiro sofrimento prepara uma grande recompensa (2Cor 4, 17). – Se sofremos, se morremos com Jesus, diz-nos muitas vezes, havemos de ressuscitar e seremos glorificados com Ele (Rm 8, 17). Esta santa esperança dá uma verdadeira alegria, um começo de beatitude celeste às almas generosas no sofrimento: «Bendito seja o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, diz S. Paulo; consola-nos em todas as nossas tribulações, a fim de que também nós possamos consolar aqueles que estão nas angústias, pelos mesmos motivos de encorajamento que Deus nos dá; porque à medida em que os sofrimentos de Cristo abundam em nós, Cristo faz abundar em nós a consolação» (2Cor 1, 3). Mas a consolação definitiva será no céu: «Deus, diz S. João, enxugará todas as lágrimas dos seus eleitos» (Ap 7, 17). Já não haverá incomodidades da terra, da fome, da sede e das intempéries; mas o Cordeiro que reina lá provirá a tudo e abrirá a todos as fontes da vida e da alegria (Ap 7; Is 49). (Leão Dehon, OSP 3, p. 40s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» (Lc 7, 16).


Fonte http://www.dehonianos.org/

sábado, 29 de agosto de 2015

22º Domingo do Tempo Comum - Ano B - 30.08.2015


ANO B
22º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 22º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre a “Lei”. Deus quer a realização e a vida plena para o homem e, nesse sentido, propõe-lhe a sua “Lei”. A “Lei” de Deus indica ao homem o caminho a seguir. Contudo, esse caminho não se esgota num mero cumprimento de ritos ou de práticas vazias de significado, mas num processo de conversão que leve o homem a comprometer-se cada vez mais com o amor a Deus e aos irmãos.
A primeira leitura garante-nos que as “leis” e preceitos de Deus são um caminho seguro para a felicidade e para a vida em plenitude. Por isso, o autor dessa catequese recomenda insistentemente ao seu Povo que acolha a Palavra de Deus e se deixe guiar por ela.
No Evangelho, Jesus denuncia a atitude daqueles que fizeram do cumprimento externo e superficial da “lei” um valor absoluto, esquecendo que a “lei” é apenas um caminho para chegar a um compromisso efectivo com o projecto de Deus. Na perspectiva de Jesus, a verdadeira religião não se centra no cumprimento formal das “leis”, mas num processo de conversão que leve o homem à comunhão com Deus e a viver numa real partilha de amor com os irmãos.
A segunda leitura convida os crentes a escutarem e acolherem a Palavra de Deus; mas avisa que essa Palavra escutada e acolhida no coração tem de tornar-se um compromisso de amor, de partilha, de solidariedade com o mundo e com os homens.


LEITURA I – Dt 4,1-2.6-8

Leitura do Livro do Deuteronómio

Moisés falou ao povo, dizendo:
«Agora escuta, Israel,
as leis e os preceitos que vos dou a conhecer
e ponde-os em prática,
para que vivais e entreis na posse da terra
que vos dá o Senhor, Deus de vossos pais.
Não acrescentareis nada ao que vos ordeno,
nem suprimireis coisa alguma,
mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus,
tal como eu vo-los prescrevo.
Observai-os e ponde-os em prática:
eles serão a vossa sabedoria e a vossa prudência
aos olhos dos povos,
que, ao ouvirem falar de todas estas leis, dirão:
‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’
Qual é, na verdade, a grande nação
que tem a divindade tão perto de si
como está perto de nós o Senhor, nosso Deus,
sempre que O invocamos?
E qual é a grande nação
que tem mandamentos e decretos tão justos
como esta lei que hoje vos apresento?»

AMBIENTE

O Livro do Deuteronómio é aquele “livro da Lei” ou “livro da Aliança” descoberto no Templo de Jerusalém no 18º ano do reinado de Josias (622 a.C.) (cf. 2 Re 22). Neste livro, os teólogos deuteronomistas – originários do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente aos assírios – apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com Ele uma aliança eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, a propriedade pessoal de Jahwéh (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto apresenta-se como parte do primeiro discurso de Moisés (cf. Dt 1,6-4,43). Na primeira parte desse discurso (cf. Dt 1,6-3,29), em estilo narrativo, o autor deuteronomista põe na boca de Moisés um resumo da história do Povo, desde a estadia no Horeb/Sinai, até à chegada ao monte Pisga, na Transjordânia; na parte final desse discurso (cf. Dt 4,1-43), o autor apresenta, em estilo exortativo, um pequeno resumo da Aliança e das suas exigências. Esta secção final do primeiro discurso de Moisés começa com a expressão “e agora, Israel…”, que enlaça esta secção com a precedente: mostra-se que o compromisso que agora se pede a Israel se apoia nos acontecimentos históricos anteriormente expostos… A acção de Deus ao longo da caminhada do Povo pelo deserto deve conduzir ao compromisso.
O capítulo 4 do Livro do Deuteronómio é um texto redigido, muito provavelmente, na fase final do Exílio do Povo de Deus na Babilónia. Perdido numa terra estrangeira e mergulhado numa cultura estranha, hostilizado quando tentava afirmar a sua fé em Jahwéh e celebrá-la através do culto, impressionado com o esplendor ritual e as solenidades do culto babilónico, o Povo bíblico corria o risco de trocar Jahwéh pelos deuses babilónicos. É neste contexto que os teólogos da escola deuteronomista vão convidar o Povo a olhar para a sua história (cf. Dt 1,6-3,29), a redescobrir nela a presença salvadora e amorosa de Jahwéh e a comprometer-se de novo com Deus e com a Aliança.

MENSAGEM

Esse Deus que, no passado, interveio na história para salvar e libertar Israel é o mesmo Deus que agora oferece ao seu Povo leis e preceitos.
Porque é que Israel deve acolher e praticar essas leis e preceitos que Deus lhe propõe? Em primeiro lugar, como forma de gratidão: é a resposta de Israel a esse Deus libertador, que mil vezes agiu no passado para salvar o seu Povo… Em segundo lugar, porque as leis e preceitos do Senhor são inquestionavelmente um caminho que conduz o Povo pela estrada da felicidade e da liberdade. Em qualquer caso, o viver de acordo com as leis e os preceitos de Jahwéh ajudará o Povo a concretizar todos os seus sonhos e esperanças – nomeadamente o grande sonho de se estabelecer numa terra, escapando aos perigos e incomodidades da vida nómada (vers. 1).
Israel deve, contudo, ter cuidado para não adulterar as leis e preceitos que Deus lhe propõe. Há sempre o perigo de os homens adaptarem a Palavra de Deus, de forma a que ela sirva os seus interesses; há sempre o perigo de os homens suavizarem a Palavra de Deus, de forma a que ela não seja tão exigente; há sempre o perigo de os homens suprimirem da Palavra de Deus aquilo que os incomoda; há sempre o perigo de os homens acrescentarem algo à Palavra de Deus, atribuindo a Deus ideias e propostas com as quais Deus não tem nada a ver… Israel tem de resistir a estas tentações: a Palavra de Deus deve ser uma proposta sagrada, que o Povo se esforçará por cumprir integralmente (vers. 2).
Na parte final do texto que nos é proposto, o catequista deuteronomista manifesta o seu orgulho pelo facto de Israel ser um Povo especial, o Povo eleito de Deus. Essa eleição manifesta-se na presença amorosa e libertadora de Jahwéh junto do seu Povo (“qual a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto o Senhor nosso Deus sempre que O invocamos?” – vers. 7), no dom da Lei e na “sabedoria” presente nessas leis e preceitos que o Senhor deu a Israel, a fim de o conduzir pelos caminhos da história (“qual é a grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje vos apresento?” – vers. 8).
Israel, Povo “de dura cerviz”, nem sempre acolheu e cumpriu as leis e os preceitos que o Senhor lhe propôs; mas os círculos religiosos de Israel preocuparam-se sempre em mostrar ao Povo que essa Lei era uma proposta segura para chegar à vida plena, à felicidade. É essa convicção que o nosso catequista deuteronomista deixa transparecer nesta “homilia” que nos propõe.

ACTUALIZAÇÃO

¨ O autor deste texto é, antes de mais, um crente com um enorme apreço pela Palavra de Deus. Ele vê nas leis e preceitos de Deus um caminho seguro para a felicidade e para a vida em plenitude. Por isso, recomenda insistentemente ao seu Povo que acolha a Palavra de Deus e se deixe guiar por ela. Que importância é que a Palavra de Deus assume na minha existência? Consigo encontrar tempo e disponibilidade para escutar, para meditar e interiorizar a Palavra de Deus, de forma a que ela informe os meus valores, os meus sentimentos e as minhas acções?

¨ Para muitos dos nossos contemporâneos, as leis e preceitos de Deus são um caminho de escravidão, que condicionam a autonomia e que limitam a liberdade do homem; para outros, as leis e preceitos de Deus são uma moral ultrapassada, que não condiz com os valores do nosso tempo e que deve permanecer, coberta de pó, no museu da história. Em contrapartida, para o catequista que nos oferece esta reflexão do Livro do Deuteronómio, a Palavra de Deus é um caminho sempre actual, que liberta o homem da escravidão do egoísmo e que o conduz ao encontro da verdadeira vida e da verdadeira liberdade. De facto, a escuta atenta e o compromisso firme com a Palavra de Deus é, para os crentes, uma experiência libertadora: salva-nos do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência e projecta-nos para o amor, para a partilha, para o serviço, para o dom da vida.

¨ Uma das insistentes recomendações do nosso texto é a de não adulterar a Palavra de Deus, ao sabor dos interesses pessoais dos homens. Existe sempre o perigo, quer na nossa reflexão pessoal, quer na nossa partilha comunitária, de torcermos a Palavra ao sabor dos nossos interesses, de limarmos a sua radicalidade, de lhe cortarmos os aspectos mais questionantes, ou de a fazermos dizer coisas que não vêm de Deus… É preciso perguntarmo-nos constantemente se a Palavra que vivemos e anunciamos é a Palavra de Deus ou é a nossa “palavra”, se ela transmite os valores de Deus ou os nossos valores pessoais, se ela testemunha a lógica de Deus ou a nossa lógica humana. Este processo de discernimento é mais fácil quando é feito em comunidade, no diálogo e no confronto com os irmãos que caminham connosco, que nos questionam e que partilham connosco a sua perspectiva das coisas.

¨ Nós os crentes comprometidos andamos sempre muito ocupados a fazer coisas bonitas no sentido de mudar o mundo, num activismo por vezes exagerado e que, aos poucos, nos vai fazendo perder o sentido da nossa acção e do nosso testemunho. No meio dessa actividade frenética, temos de encontrar tempo para escutar Deus, para meditar as suas propostas, para repensar as suas leis e preceitos, para descobrir o sentido da nossa acção no mundo. Sem a escuta da Palavra, a nossa acção torna-se um “fazer coisas” estéril e vazio que, mais tarde ou mais cedo, nos leva a perder o sentido do nosso testemunho e do nosso compromisso.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 14 (15)

Refrão 1:  Quem habitará, Senhor, no vosso santuário?

Refrão 2: Ensinai-nos, Senhor:
 quem habitará em vossa casa?

O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração
e guarda a sua língua da calúnia.

O que não faz mal ao seu próximo nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio,
mas estima os que temem o Senhor.

O que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo,
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.
Quem assim proceder jamais será abalado.


LEITURA II – Tg 1,17-18.21-22.27

Leitura da Epístola de São Tiago

Caríssimos irmãos:
Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto,
descem do Pai das luzes,
no qual não há variação nem sombra de mudança.
Foi Ele que nos gerou pela palavra da verdade,
para sermos como primícias das suas criaturas.
Acolhei docilmente a palavra em vós plantada,
que pode salvar as vossas almas.
Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes,
pois seria enganar-vos a vós mesmos.
A religião pura e sem mancha,
aos olhos de Deus, nosso Pai,
consiste em visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações
e conservar-se limpo do contágio do mundo.

AMBIENTE

A carta de onde foi extraída a nossa segunda leitura de hoje é um escrito de um tal Tiago (cf. Tg 1,1), que a tradição liga a esse Tiago “irmão” do Senhor, que presidiu à Igreja de Jerusalém e do qual os Evangelhos falam acidentalmente como filho de certa Maria (cf. Mt 13,55; 27,56). Teria morrido decapitado em Jerusalém no ano 62… No entanto, a atribuição deste escrito a tal personagem levanta bastantes dificuldades. O mais certo é estarmos perante um outro qualquer Tiago, desconhecido até agora (o “Tiago, filho de Alfeu” – de que se fala em Mc 3,18 e par. – e o “Tiago, filho de Zebedeu” e irmão de João – de que se fala em Mc 1,19 e par. – também não se encaixam neste perfil). É, de qualquer forma, um autor que escreve em excelente grego, recorrendo até, com frequência, à “diatribe” – um género muito usado pela filosofia popular helénica. Inspira-se particularmente na literatura sapiencial, para extrair dela lições de moral prática; mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho. Trata-se de um sábio judeo-cristão que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do cumprimento que elas encontraram na boca e no ensinamento de Jesus.
A carta foi enviada “às doze tribos que vivem na Diáspora” (Tg 1,1). Provavelmente, a expressão alude a cristãos de origem judaica, dispersos no mundo greco-romano, sobretudo nas regiões próximas da Palestina – como a Síria ou o Egipto; mas, no geral, a carta parece dirigir-se a todos os crentes, exortando-os a que não percam os valores cristãos autênticos herdados do judaísmo através dos ensinamentos de Cristo. Denuncia, sobretudo, certas interpretações consideradas abusivas da doutrina paulina da salvação pela fé, sublinhando a importância das obras; e ataca com extrema severidade os ricos (cf. Tg 1,9-11; 2,5-7; 4,13-17; 5,1-6).
O nosso texto pertence à primeira parte da carta (cf. Tg 1,2-27). Aí, o autor apresenta, num conjunto de desenvolvimentos e de sentenças aparentemente sem ordem nem lógica, uma síntese ou guia breve da carta, pois oferece um breve panorama dos problemas que o preocupam e que ele vai tratar nos capítulos seguintes.

MENSAGEM

Os versículos da Carta de Tiago que nos são propostos como segunda leitura reflectem sobre a Palavra de Deus. O autor da carta não desenvolve um raciocínio continuada, mas vai elencando vários aspectos relacionados com a forma como os crentes devem ver e acolher a Palavra de Deus…
1. Deus oferece continuamente ao homem os seus dons, a fim de lhe proporcionar vida e felicidade (vers. 17). A Palavra de Deus é um dom que o “Pai das luzes” oferece ao homem e destina-se a gerar uma nova humanidade. Os crentes, iluminados pela “Palavra da verdade” que lhes vem de Deus, podem caminhar em segurança em direcção à vida plena, à felicidade sem fim (vers. 18).
2. Os crentes devem estar sempre disponíveis para acolher a Palavra de Deus. Não podem fechar-se no seu orgulho e auto-suficiência, ignorando as propostas de Deus; mas devem abrir o coração para que a Palavra lançada por Deus aí encontre lugar, aí possa lançar raízes e desenvolver-se (vers. 21b).
3. A escuta e o acolhimento da Palavra têm, contudo, de conduzir à acção. A escuta da Palavra de Deus tem de conduzir à conversão, à mudança, ao abandono da vida velha do egoísmo e do pecado, a fim de abraçar uma vida segundo Deus. A escuta da Palavra de Deus também não pode fechar o homem num espiritualismo alienante e estéril, mas tem de conduzir a um compromisso efectivo com a transformação do mundo (vers. 22).
4. No último versículo da nossa leitura (vers. 27), o autor da carta descreve a religião autêntica (por oposição à religião vazia, inoperante, morta, daqueles que falam muito mas não praticam acções coerentes com as suas palavras – vers. 26): “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo”. Ligando este versículo com o tema central do resto da leitura (a Palavra de Deus), podemos dizer que é a escuta atenta da Palavra de Deus que nos projecta para a acção e para o compromisso. A escuta da Palavra de Deus leva o crente a passar de uma religião ritual, legalista, externa, superficial, para uma religião de efectivo compromisso com a realização do projecto de Deus e com o amor dos irmãos.

ACTUALIZAÇÃO

¨ Na nossa sociedade, há uma tal super-abundância de palavras, que a palavra se desvalorizou. Todos dizem o que muito bem entendem, às vezes de uma forma pouco serena e pouco equilibrada, sem pesar as consequências. Habituamo-nos, portanto, a não levar demasiado a sério as palavras que escutamos e a não lhes conceder um crédito absoluto. O nosso texto, contudo, valoriza a Palavra de Deus e sublinha a sua importância no sentido de nos conduzir ao encontro da vida verdadeira e eterna. É preciso darmos à Palavra que Deus nos dirige um peso infinitamente superior às palavras sem nexo que todos os dias enchem os nossos ouvidos e que intoxicam a nossa mente… A Palavra de Deus é Palavra geradora de vida, de eternidade, de felicidade; por isso, deve ser por nós valorizada.

¨ O excesso de palavras (autêntica poluição sonora!) leva também à dificuldade em escutar com atenção. Não temos tempo nem paciência para escutar todos os disparates, todas as conversas sem sentido, toda a verborreia daqueles que gostam de se ouvir a si próprios, embora não digam nada de importante. Por outro lado, as exigências da vida moderna, o trabalho excessivo, o corre-corre do dia a dia, limitam muito a nossa disponibilidade para escutar. Criamos hábitos de não escuta e tornamo-nos surdos aos apelos que chegam até nós através da palavra. A nossa leitura convida-nos, entretanto, a encontrar tempo e disponibilidade para escutar o Deus que nos fala e que, através da Palavra que nos dirige, nos apresenta as suas propostas para nós e para o mundo.

¨ A Palavra de Deus que escutamos e que acolhemos no coração deve conduzir-nos à acção. Se ficamos apenas pela escuta e pela contemplação da Palavra, ela torna-se estéril e inútil. É preciso transformar essa Palavra que escutamos em gestos concretos, que nos levem à conversão e que tragam um acréscimo de vida para o mundo. A Palavra de Deus que escutamos tem de nos levar ao compromisso – à luta pela justiça, pela paz, pela dignidade dos nossos irmãos, pelos direitos dos pobres, por um mundo mais fraterno e mais cristão.

¨ A nossa religião, sem a escuta atenta e comprometida da Palavra de Deus, pode facilmente tornar-se o mero cumprimento de ritos, a fidelidade a certas práticas de piedade, uma tradição que herdámos e na qual nos instalámos, uma prática que torna mais fácil a nossa inserção num determinado meio social, uma alienação que nos faz esquecer certos dramas da nossa vida… É a Palavra de Deus que, propondo-nos uma escuta contínua de Deus e dos seus projectos e um compromisso continuamente renovado com a construção do mundo, dá sentido a toda a nossa experiência religiosa, transformando-a numa verdadeira experiência de vida nova, de vida autêntica.


ALELUIA – Tg 1,18

Aleluia. Aleluia.

Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade,
para sermos como primícias das suas criaturas.


EVANGELHO – Mc 7,1-8.14-15.21-23

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
reuniu-se à volta de Jesus
um grupo de fariseus e alguns escribas
que tinham vindo de Jerusalém.
Viram que alguns dos discípulos de Jesus
comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar.
– Na verdade, os fariseus e os judeus em geral
não comem sem terem lavado cuidadosamente as mãos,
conforme a tradição dos antigos.
Ao voltarem da praça pública,
não comem sem antes se terem lavado.
E seguem muitos outros costumes
a que se prenderam por tradição,
como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –.
Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus:
«Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos,
e comem sem lavar as mãos?»
Jesus respondeu-lhes:
«Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas,
como está escrito:
‘Este povo honra-Me com os lábios,
mas o seu coração está longe de Mim.
É vão o culto que Me prestam,
e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’.
Vós deixais de lado o mandamento de Deus,
para vos prenderdes à tradição dos homens».
Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão
e começou a dizer-lhe:
«Ouvi-Me e procurai compreender.
Não há nada fora do homem
que ao entrar nele o possa tornar impuro.
O que sai do homem é que o torna impuro;
porque do interior dos homens é que saem os maus pensamentos:
imoralidades, roubos, assassínios,
adultérios, cobiças, injustiças,
fraudes, devassidão, inveja,
difamação, orgulho, insensatez.
Todos estes vícios saem lá de dentro
e tornam o homem impuro».

AMBIENTE

Na primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30), o autor apresenta Jesus como o Messias que proclama o Reino de Deus. Deslocando-se por toda a Galileia, Jesus anuncia a Boa Nova do Reino de Deus com as suas palavras e os seus gestos, propondo um mundo novo de vida, de liberdade, de fraternidade para todos os homens. A sua proposta provoca as reacções e as respostas mais diversas nos líderes judaicos, no povo e nos próprios discípulos.
A cena que nos é hoje proposta no Evangelho mostra-nos, precisamente, a reacção dos fariseus e dos doutores da Lei à acção de Jesus. Pouco antes, Jesus tinha realizado a multiplicação dos pães e dos peixes (cf. Mc 6,34-44), propondo, com o seu gesto, um mundo novo de fraternidade, de serviço e de partilha (o “Reino de Deus”); e os líderes judaicos, sem coragem para enfrentar-se directamente com Jesus e para pôr em causa a sua proposta, escolhem os discípulos como alvo das suas críticas… Naturalmente, esses fariseus, fanáticos da Lei, vão questionar os discípulos de Jesus acerca da forma deficiente como eles cumprem a “tradição dos antigos”.
Para os fariseus, a “tradição dos antigos” não se cingia às normas escritas contidas na Lei (Torah), mas abrangia um imenso conjunto de leis orais onde apareciam as decisões e as sentenças dos rabis acerca dos mais diversos temas. Na época de Jesus, essa “tradição dos antigos” constava de 613 leis (tantas quantas as letras do Decálogo dado a Moisés no Monte Sinai), das quais 248 eram preceitos de formulação positiva e 365 eram preceitos de formulação negativa. Essas leis – que o Povo tinha dificuldade em conhecer na sua totalidade e que tinha, ainda mais, dificuldade em praticar – eram, para os fariseus, o caminho para tornar Israel um Povo santo e para apressar a vinda libertadora do Messias. Vai ser, precisamente, à volta desta temática que se vai centrar a polémica entre Jesus e os fariseus que o Evangelho de hoje nos relata.
Quando Marcos escreveu o seu Evangelho (durante a década de 60), a questão do cumprimento da Lei judaica ainda era uma questão “quente”. Para os cristãos vindos do judaísmo, a fé em Jesus devia ser complementada com o cumprimento rigoroso das leis judaicas… No entanto, a imposição dos costumes judaicos levaria, certamente, ao afastamento dos cristãos vindos do paganismo. A questão que era preciso equacionar era a seguinte: o cumprimento da Lei de Moisés era importante, para a comunidade cristã? Para que o Reino que Jesus propôs se concretizasse, era necessário o cumprimento integral da Lei judaica? O Concílio de Jerusalém (por volta do ano 49) já havia dado uma primeira resposta à questão: para os cristãos, o fundamental é a pessoa de Jesus e o seu Evangelho; não é lícito impor aos cristãos vindos do paganismo o fardo da Lei de Moisés. No entanto, o problema continuou a colocar-se durante algumas décadas mais, nomeadamente a propósito dos tabus alimentares hebraicos e que os cristãos vindos do judaísmo pretendiam impor a toda a Igreja (cf. Rom 14,1-15,6).
É, provavelmente, a esta temática que o evangelista Marcos quer responder.

MENSAGEM

Os povos antigos, em geral, e os judeus, em particular, sentiam um grande desconforto quando tinham de lidar com certas realidades desconhecidas e misteriosas (quase sempre ligadas à vida e à morte) que não podiam controlar nem dominar. Criaram, então, um conjunto abundante de regras que interditavam o contacto com essas realidades (por exemplo, os cadáveres, o sangue, a lepra, etc.) ou que, pelo menos, regulamentavam a forma de lidar com elas, de forma a torná-las inofensivas. No contexto judaico, quem infringia – mesmo involuntariamente – essas regras colocava-se a si próprio numa situação de marginalidade e de indignidade que o impedia de se aproximar do mundo divino (o culto, o Templo) e de integrar a comunidade do Povo santo de Deus. Dizia-se então que a pessoa ficava “impura”. Para readquirir o estado de “pureza” e poder reintegrar a comunidade do Povo santo, o crente necessitava de realizar um rito de “purificação”, cuidadosamente estipulado na “Lei”.
Na época de Jesus, as regras da “pureza” tinham sido absurdamente ampliadas pelos doutores da Lei. Na opinião dos rabis de Israel, existia uma lista imensa de coisas que tornavam o homem “impuro” e que o afastavam da comunidade do Povo santo de Deus. Daí a obsessão com os rituais de “purificação”, que deviam ser cumpridos a cada passo da vida diária.
Um desses ritos consistia na lavagem das mãos antes das refeições. Na sua origem está, provavelmente, a universalização do preceito que mandava os sacerdotes lavarem os pés e as mãos, antes de se aproximarem do altar para o exercício do culto (cf. Ex 30,17-21). Na perspectiva dos doutores da Lei, a purificação das mãos antes das refeições não era uma questão de higiene, mas uma questão religiosa… Em cada momento o crente corria o risco, mesmo sem o saber, de tropeçar com uma realidade impura e de lhe tocar; para evitar que a “impureza” (que lhe ficara agarrada às mãos) se introduzisse, juntamente com os alimentos, no corpo exigia-se a lavagem das mãos antes das refeições.
Na Galileia, terra em permanente contacto com o mundo pagão e onde as normas de “pureza” não eram tão rígidas como em Jerusalém, não se dava demasiada importância ao ritual de lavar as mãos antes das refeições para evitar a ingestão da “impureza”. Os fariseus vindos de Jerusalém, testemunhando como os discípulos comiam sem realizar o gesto ritual de purificação das mãos, ficaram escandalizados e referiram o caso a Jesus. Provavelmente, a história serviu aos fariseus para sondar Jesus e para averiguar a sua ortodoxia e o seu respeito pela tradição dos antigos.
Para Jesus, a obsessão dos fariseus com os ritos externos de purificação é sintoma de uma grave deficiência quanto à forma de ver e de viver a religião; por isso, Jesus responde ao reparo dos fariseus com alguma dureza… Partindo da Escritura (vers. 6-8) e da análise da praxis dos judeus (vers. 9-13), Jesus denuncia essa vivência religiosa que aposta apenas na repetição de práticas externas e formalistas, mas que não se preocupa com a vontade de Deus (“este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” – vers. 6) ou com o amor aos irmãos. Trata-se de uma religião vazia e estéril (“é vão o culto que Me prestam” – vers. 7), que não vem de Deus mas foi inventada pelos homens (“as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos” – vers. 7). Àqueles que apostam na religião dos ritos estéreis, Jesus chama “hipócritas” (vers. 6): interessa-lhes mais o “parecer” do que o “ser”, a materialidade do que a essência das coisas… Eles cumprem as regras, mas não amam; vestem com fingimento a máscara da religião, mas não se preocupam minimamente com a vontade de Deus. Esta religião é uma mentira, uma hipocrisia, ainda que se revista de ares muito santos e muito piedosos.
Depois, Jesus dirige-Se à multidão e formula o princípio decisivo da autêntica moralidade: “não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro; o que sai do homem é que o torna impuro” (vers. 15). Este princípio geral, à primeira vista enigmático e passível de várias interpretações, será explicado mais à frente: “do interior do homem é que saem os maus pensamentos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem lá de dentro e tornam o homem impuro” (vers. 22-23). O dito de Jesus refere-se, naturalmente, a dois “circuitos” diversos: o do estômago (onde entram os alimentos que se ingerem) e o do coração (de onde saem os pensamentos, os sentimentos e as acções). Os alimentos que entram no estômago não são fonte de “impureza”; os pensamentos e as acções más que saem do coração do homem é que são fonte de “impureza”: afastam o homem de Deus e da comunidade do Povo santo.
Na antropologia judaica, o “coração” é o “interior do homem” em sentido amplo; é aí que está a sede dos sentimentos, dos desejos, dos pensamentos, dos projectos e das decisões do homem. É nesse “centro vital” de onde tudo parte que é preciso actuar. A verdadeira religião não passa, portanto, pelo cumprimento de regras externas, que regulam o que o homem come ou não come; mas passa por uma autêntica conversão do coração, que leve o homem a deixar a vida velha e a transformar-se num Homem Novo, que assume e que vive os valores do Reino. A preocupação com as regras externas de “pureza” é uma preocupação estéril, que não toca com o essencial – o coração do homem; pode até servir para distrair o crente do essencial, dando-lhe uma falsa segurança e uma falsa sensação de estar em regra com Deus. A verdadeira preocupação do crente deve ser moldar o seu coração, a fim de que os seus sentimentos, os seus desejos, os seus pensamentos, os seus projectos, as suas decisões se concretizem, no dia a dia, na escuta atenta dos desafios de Deus e no amor aos irmãos.

ACTUALIZAÇÃO

¨ O que é que é decisivo na experiência religiosa? Será o estrito cumprimento das leis definidas pela Igreja? Serão as manifestações exteriores de religiosidade que definem quem é bom ou mau, santo ou pecador, amigo ou inimigo de Deus?

¨ As “leis” têm o seu lugar numa experiência religiosa, enquanto sinais indicadores de um caminho a percorrer. No entanto, é preciso que o crente tenha o discernimento suficiente para dar à “lei” um valor justo, vendo-a apenas como um meio para chegar mais além no compromisso com Deus e com os irmãos. A finalidade da nossa experiência religiosa não é cumprir leis, mas aprofundar a nossa comunhão com Deus e com os outros homens sendo, eventualmente, ajudados nesse processo por “leis” que nos indicam o caminho a seguir.

¨ Se fizermos das leis algo de absoluto, elas podem tornar-se para nós um fim e não um caminho. Nesse caso, as “leis” serão, em última análise, uma forma de acalmar a nossa consciência, de nos julgarmos em regra com Deus, de sentirmos que Deus nos deve algo porque nós cumprimos todas as regras estabelecidas. Tornamo-nos orgulhosos e auto-suficientes, pois sentimos que somos nós que, com o nosso esforço para estar em regra, conquistamos a nossa salvação. Deixamos de precisar de Deus, ou só precisamos d’Ele para apreciar o nosso esforço e para nos dar aquilo que julgamos ser uma “justa recompensa”. O culto que prestamos a Deus pode tornar-se, nesse caso, um processo interesseiro de compra e venda de favores e não uma manifestação do amor que nos enche o coração. A nossa religião será, nesse caso, uma mentira, uma negociata, que Deus não aprecia nem pode caucionar.

¨ De acordo com os ensinamentos de Jesus, não é muito religioso ou muito cristão quem aceita todas as “leis” propostas pela Igreja, ou quem cumpre escrupulosamente todos os ritos; mas é cristão verdadeiro aquele que, no seu coração, aderiu a Jesus e procura segui-l’O no caminho do amor e da entrega, que aceita integrar a comunidade dos discípulos, que acolhe com gratidão os dons de Deus, que celebra a fé em comunidade, que aceita fazer com os irmãos uma experiência de amor partilhado.

¨ É isso que Jesus quer dizer quando convida os seus discípulos a não se preocuparem com as leis e os ritos externos, mas a preocuparem-se com o que lhes sai do coração. É no interior do homem que se definem os sentimentos, os desejos, os pensamentos, as opções, os valores, as acções do homem. É daí que nascem os nossos gestos injustos, as discórdias e violências que destroem a relação, as tentativas de humilhar os irmãos, os rancores que nos impedem de perdoar e de aceitar os outros, as opções que nos fazem escolher caminhos errados e que nos escravizam a nós e àqueles que caminham ao nosso lado… A verdadeira religião passa por um processo de contínua conversão, no sentido de nos parecermos cada vez mais com Jesus e de acolhermos a proposta de Homem Novo que Ele nos veio fazer.

¨ É preciso mantermo-nos livres e críticos em relação às “leis” que nos são propostas, sejam elas leis civis ou religiosas... Elas servem-nos e devem ser consideradas se nos ajudarem a ser mais humanos, mais fraternos, mais justos, mais comprometidos, mais coerentes, mais “família de Deus”; elas deixam de servir se geram escravidão, dependência, injustiça, opressão, marginalização, divisão, morte. O processo de discernimento das “leis” boas e más não pode, contudo, ser um processo solitário; mas deve ser um processo que fazemos, com o Espírito Santo, na partilha comunitária, no confronto fraterno com os irmãos, numa procura coerente e interessada do melhor caminho para chegarmos à vida plena e verdadeira.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 22º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Só Deus pode ver o coração, enquanto os homens, esses, vêem as aparências. É, pois, com toda a confiança filial que podemos deixar Deus olhar-nos. Mas isso é exigente para nós, porque todas as nossas palavras e todos os nossos gestos devem estar em harmonia com o que o nosso coração quer exprimir. As nossas palavras e orações devem ser a expressão do nosso amor filial e fraternal. A lei de Deus está inscrita no nosso coração, conhecemos a sua vontade, sabemos muito bem o que Lhe agrada: cabe a nós pormo-nos de acordo sobre os nossos comportamentos e sobre esta vontade de Deus. Aliás, falta-nos pedir-Lhe: “Que a tua vontade seja feita!” Então, talvez Deus dir-nos-á: “Honras-Me com os lábios, fazes a minha vontade, mas o teu coração está longe de Mim”.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Os escribas e fariseus tinham enchido a Lei de Moisés com tantas interpretações que se acabou por sacralizá-la e torná-la intocável, sob o nome de “tradições dos antigos”. A lei tinha-se tornado, em todos os detalhes da vida quotidiana, um fardo insuportável denunciado pelo próprio Jesus. Assim, era contrário à tradição dos antigos comer sem ter lavado as mãos. Regra de higiene elementar, sem dúvida, mas que se tinha intitulado de “purificação”. Não se submeter a essa regra era tornar-se impuro aos olhos de Deus! O que faziam precisamente alguns discípulos de Jesus. Jesus aproveita para dar uma lição de moral… A palavra de Jesus tem todo o seu valor e vigor. Quantas interpretações dadas em Igreja, ao longo dos séculos, que acabámos por identificar com a Palavra de Deus! Multiplicaram-se leis, obrigações e proibições, dizendo: “É a tradição!” Nem pensar em mudar uma vírgula das regras litúrgicas ou morais! É, sem dúvida, uma atitude tranquilizadora, mas esconde muitas vezes medos e inseguranças. É a mesma reacção que a dos escribas e dos fariseus! Ora, não é protegendo a nossa fé com uma carapaça de leis que a tornamos mais sólida, mas por uma escuta sem cessar nova daquilo que “o Espírito diz às Igrejas”. Mas é verdade que o Espírito Santo sempre teve tendência para mexer com os homens e provocá-los, para fazê-los avançar para o grande largo! O Espírito de Jesus quer construir-nos como seres vivos, com uma coluna vertebral interior e não com uma carapaça exterior, para que possamos manter-nos de pé, como ressuscitados!

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Ter um objectivo… Não fiquemos pelas boas intenções… Não tenhamos demasiadas ambições… Cristo não nos pede grandes façanhas, Ele prefere a sinceridade do coração e a vontade de servir o nosso próximo. Vale mais ter um objectivo razoável (visitar determinada pessoa que está só, ajudar outra nas suas preocupações materiais) e tudo fazer para o atingir.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXI Semana - Sábado - 29.08.2015


Lectio

Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 4, 9-11

Irmãos, 9a respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros; 10aliás, vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia. Exortamo-vos, irmãos, a progredir sempre mais, 11a ter como ponto de honra viver em paz, a ocupar-vos das próprias actividades, a trabalhar com as vossas mãos, como vos recomendámos.

A caridade de que fala Paulo esclarece muito sobre a natureza da santidade cristã. Amar-se uns aos outros, praticar o amor fraterno significa, em primeiro lugar, «viver em paz» (v. 11), não procurar nem alimentar conflitos na comunidade. Mais concretamente, é «ocupar-se das próprias actividades» (v. 11), pois a inimizade nasce, muitas vezes, do ócio, que favorece as tagarelices, a intromissão no que pertence aos outros, o falar sobre as pessoas. «Trabalhar com as vossas mãos» (v. 11) é procurar fazer bem o que se deve, particularmente o que se refere ao próprio ofício. Esta expressão também realça a dignidade do trabalho manual, desprezado por alguns, como coisa de escravos. O ócio, sim, é coisa má, em qualquer sociedade humana. Paulo quer que a comunidade de Tessalónica dê exemplo de uma vida ordenada e activa, que testemunha o amor, evitando que uns sejam peso para outros. A opção cristã é integral, abrangendo a relação com Deus, mas também as relações com os outros, que devem ser harmoniosas e respeitosas.


Evangelho: Mateus 25, 14-30

Naquele Tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: 14«Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. 16Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. 17Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. 18Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. 19Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. 20Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ 21O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ 22Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ 23O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ 24Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’ 26O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. 27Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ 28‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. 29Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’»

A espera de Cristo há-de ser dinâmica e fecunda. Os talentos recebidos não podem ser enterrados, inutilizados. Hão-de render. Estes talentos não são apenas os dotes naturais recebidos por cada um. São, mais do que isso, a salvação, o amor do Pai, a vida em abundância, o Espírito. São tesouros a multiplicar e a partilhar até ao seu regresso, ainda que demore «muito tempo» (v. 19ª). Os dons também são responsabilidades de que é preciso dar contas.
Na parábola, há dois «servos bons e fiéis» e um «servo mau». Os servos bons e fiéis são louvados e premiados com a participação na alegria do senhor (vv. 20-23). O servo mau é severamente punido. A desculpa apresentada «Senhor, sempre te conheci como homem duro» (v. 24), acaba por ser virada contra ele. A atitude de escravo tímido assumida pelo servo mau «Aqui está o que te pertence» (v.25), também não ajuda, mas complica. Para ele, talento não foi um dom recebido, mas uma dívida contraída. Por isso, ao restituí-lo ao dono, não faz um acto de justiça, mas um insulto. E recebe o castigo adequado: «Tirai-lhe o talento, e dai-o ao que tem dez talentos… a esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes» (vv. 28-29).


Meditatio

A estima de Paulo pelos cristãos de Tessalónica leva-o a tratá-los com simplicidade e humildade. Não se arma em mestre, porque sabe que têm outro Mestre bem melhor, que é o próprio Deus: «vós próprios fostes ensinados por Deus» (v. 9). Mas é interessante lermos bem todo o versículo e a primeira parte do seguinte: «a respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros, aliás, vós já o fazeis». Deus tinha dito, pela boca de Jeremias, que iria estabelecer uma aliança nova, que não seria, como a antiga, escrita em tábuas de pedra, mas no coração, no íntimo do homem, para o transformar. Essa aliança foi estabelecida por Jesus, quando apresentou o cálice de vinho na Última Ceia: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós» (Lc 22, 20). Os Tessalonicenses, ao acolher a fé, pela pregação de Paulo, entraram na nova aliança e, por isso, são “ensinados” por Deus a amar, e a amar-se uns aos outros. O ensino divino não diz respeito a uma série de verdades a acreditar, mas a um compromisso de vida. Refere-se, em suma, ao que há de mais importante: o amor. Fomos criados para amar, e a coisa mais importante para cada um de nós é encontrar a sua forma de amor generoso, que lhe é ensinado por Deus. Este ensinamento não é só teórico, mas prático e eficaz. Quando Deus ensina no coração, a acção aparece logo: «isto vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia» (v. 10). Já animados pela caridade divina, os Tessalonicenses não precisam de uma exortação especial. Jeremias teve de exortar e esconjurar o povo para que cumprisse a lei de Deus. Mas isso de nada servia porque o povo tinha o coração endurecido e os ouvidos fechados. Na nova aliança, a situação está completamente mudada. Por isso, já não é preciso exortar, embora a tradução portuguesa use esse verbo. Mais próximo do original seria traduzir “pedimos-vos”. Mas, que pede Paulo, ou, se quisermos, a que é que exorta? A «progredir sempre mais», ou a «abundar sempre mais», a «extravasar» no amor, isto é, a amar cada vez com maior intensidade. A graça não é para esconder no lenço, ou para guardar enterrada. É para crescer, para desenvolver, para multiplicar. A graça, simplesmente escondida e guardada, torna-se título de condição: «Servo mau e preguiçoso! … Tirai-lhe, pois, o talento… A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores…»
O nosso esforço deve orientar-se para o acolhimento activo do dinamismo da vida de fé, para colaborarmos com o Senhor na transformação do mundo. Quem recebeu a graça, deve tornar-se instrumento da mesma para os outros.


Oratio

Senhor, que nos encheste da tua graça, e cumulaste de benefícios, ajuda-nos a fazer frutificar os teus dons, os talentos que nos confiaste. Que jamais permaneçamos inertes, ou nos deixemos vencer pelo desânimo e pela falta de confiança. Mantém-nos activos e disponíveis como aqueles servos que fizeram render os talentos recebidos, enquanto esperavam a tua vinda, para que o teu nome seja glorificado entre os homens. Amen.


Contemplatio

Um dos frutos mais brilhantes do Pentecostes foi a caridade mútua dos discípulos do Salvador. A sua união edificava aqueles que a testemunhavam, Nosso Senhor tinha-os preparado para este dom na sua última conversa antes da sua morte. «Meus filhos bem-amados, dizia-lhes, já tenho pouco tempo para passar convosco, mas antes de vos deixar, tenho uma última recomendação a fazer-vos. Depois de ter instituído o sacramento do amor, pelo qual, de algum modo, vós todos fazeis um só corpo comigo, dou-vos, para uma aliança nova, um mandamento novo: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Amai-vos, não só como as criaturas de um mesmo Deus, ou como descendentes de Abraão, vosso pai comum; mas amai-vos como irmãos, como filhos da Igreja, como membros do mesmo corpo, do qual eu sou o chefe. Amai-vos como eu mesmo vos amei, até ao sacrifício de vós mesmos, até dardes a vossa vida para salvar a causa dos vossos irmãos. Eis como vos hão-de reconhecer como meus discípulos». Mas o preceito novo pedia um espírito novo, uma força nova e isto devia ser o fruto do Espírito Santo». (Pe. Dehon, OSP 3, p. 418).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Progredi sempre mais» (cf. 1 Ts 4, 10).


Fonte http://www.dehonianos.org/

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXI Semana - Sexta-feira - 28.08.2015


Lectio

Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 4, 1-8

Irmãos: 1quanto ao resto, irmãos, pedimos-vos e exortamos-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis - assim progridais sempre mais. 2Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, 4que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, 5sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. 6Que ninguém, nesta matéria, defraude e se aproveite do seu irmão, porque o Senhor vinga tudo isto, como já vos dissemos e testemunhámos. 7Com efeito, Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. 8Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo.

Depois de lembrar o passado, em clima de acção de graças e de súplica, Paulo exorta os Tessalonicenses em vista do futuro. «A vontade de Deus é a vossa santificação», garante o Apóstolo. A “santificação” (haghiasmós) é o processo que conduz à haghiosýne, isto é, à “santificação” em sentido verdadeiro e próprio. Trata-se de uma actividade em pleno desenvolvimento, em que concorrem a livre adesão do crente e o seu esforço, por um lado, e a acção do Espírito que plasma a criatura à imagem de Deus, por outro. E tudo isto acontece no “corpo” do homem… O santo é, pois, um homem concreto, que, dia a dia, acolhe a vontade de Deus, aderindo a ela com todo o seu ser e a sua vida. Por outro lado, «a impureza» (pornéia) refere-se a tudo o que tem a ver com paixões carnais em matéria sexual. É também algo de concreto, diante do qual o cristão deve fazer opções contra a corrente, isto é, contra a mentalidade do tempo, guardando o corpo como um dom recebido de Deus, preparando-o para receber a plenitude do Espírito Santo na vida eterna.


Evangelho: Mateus 25, 1-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: 1«O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. 3As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; 4enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. 5Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. 6A meio da noite, ouviu-se um brado: ‘Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!’ 7Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. 8As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.’ 9Mas as prudentes responderam: ‘Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.’ 10Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta.

Mateus continua tratar o tema da segunda vinda de Cristo, cujo momento se desconhece, pelo que é preciso estar vigilantes e prontos: «Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora» (v. 13). Na parábola, que hoje escutamos, o quadro é diferente: não se espera o dono, mas o esposo; quem espera também não é o servo prudente ou o servo mau, mas são cinco virgens prudentes e cinco virgens insensatas. E há mesmo pormenores que podem chocar: a reacção fortemente severa e desproporcionada do esposo, a atitude pouco caridosa das virgens prudentes, etc. Mas o significado global da parábola é claro. A Igreja está toda à espera da vinda de Cristo. Mas é de loucos não prever a hipótese de que demore. Quando se ouvir, no meio da noite, o grito: «Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!» (v. 6), os cristãos hão-de estar prontos, com a lâmpada bem acesa pelo azeite das boas obras realizadas com amor. O esposo esperado pode revelar-se um juiz severo para quem tiver o amor apagado no coração.


Meditatio

Progredir no amor e na santidade, como Paulo ontem recomendava aos Tessalonicenses, é possível quando se procura viver em conformidade com a graça recebida, como indica a leitura de hoje. Paulo, com grande delicadeza, recomenda aos seus caros Tessalonicenses que vivam de acordo com a graça recebida: «pedimos-vos e exortamos-vos no Senhor Jesus Cristo, que assim progridais sempre mais», escreve o Apóstolo (v. 1). Paulo pede e reza para que os seus amigos progridam no amor e na santidade, ou melhor, para que continuem a progredir, pois já estão a avançar. Escreve Paulo: «aprendestes de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis» (v. 1). A vida cristã é dinâmica, é um caminho. Os Tessalonicenses já iniciaram esse caminho no amor e na santidade. Paulo, com a amizade e a confiança que tem neles, pede-lhes que avancem, que não desanimem perante as dificuldades.
A vida cristã é regulada, não por leis abstractas, mas pelo desejo concreto de agradar a uma pessoa, isto é, ao próprio Deus, por Quem nos sentimos amados. Isto faz toda a diferença na moral cristã: não se trata de cumprir uma lei, mas de procurar agradar a uma pessoa, ao próprio Deus. É corresponder a uma graça recebida, com um comportamento adequado. De facto, o ideal cristão não consiste em evitar o pecado para escapar ao castigo. Consiste, sim, em progredir constantemente na fé e no amor. Basear a própria caminhada espiritual na luta contra o pecado pode tornar-se deprimente, uma vez que sempre podem ocorrer quedas, provocando desânimo. A excessiva preocupação com pecado pode levar a maiores tentações e quedas. Daí que seja mais construtiva e animadora a atitude positiva de caminhar no amor, de fazer o bem. Com a graça do Senhor, sempre se vão dando alguns passos, o que suscita ânimo.
Paulo não separa caridade e santidade. O amor cristão é um amor santo, a santidade cristã e santidade de amor. Ao chegar aqui, o Apóstolo acentua um aspecto da santificação cristã, a castidade: «Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra» (vv. 3-4). A tentação da imoralidade sexual é sempre forte para quem vive centrado em si mesmo, na busca egoísta da sua felicidade. Por isso, Paulo aconselha outra atitude: progredir no amor, isto é, na busca e no serviço de Deus, na atenção e no serviço aos irmãos. A imoralidade sexual não é compatível com uma verdadeira relação com o Senhor: «Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão» (v. 3). O cristão, que tem consciência do dom recebido de Deus e quer viver em coerência com esse dom, não pode viver como aqueles que não conhecem a Deus, não reconhecem os seus dons, ou não se interessam por nada disso. O cristão respeita o próprio corpo e procura mantê-lo na santidade. Não se trata de medo do sexo, ou de qualquer complexo deprimente. Trata-se de respeito pelo corpo, e da vontade de usar o sexo de modo compatível com a própria vocação cristã, no celibato ou no matrimónio, mas sempre como atitude e expressão de amor generoso. Isso, que parece impossível a muitos dos nossos contemporâneos, é possível na fé e com o auxílio da graça divina.


Oratio

Senhor, que nos chamaste, não à impureza, mas à santificação, infundi em nós o vosso Espírito Santo, que nos purifique e produza em nós os seus frutos divinos, nomeadamente o da continência e o da castidade. Com a sua ajuda, poderemos vencer as tentações, adquirir uma mentalidade de vencedores, viver na alegria e no gozo, também frutos do Espírito em nós. Vivendo na pureza, estaremos em condições de acolher uma íntima e profunda relação com o Deus santo, que nos chama à santidade. Que saibamos escutar a mensagem exigente de Paulo, para chegarmos à plenitude da alegria. Amen.


Contemplatio

O segredo de Santa Inês é o amor. Ela ouve com alegria pronunciar a sentença de morte. A noiva que avança para o esposo da sua escolha não caminha tão radiosa como Inês para o suplício. É que ela tem um noivo divino, que a morte lhe vai tornar presente. Que esperais? Diz ela aos carrascos. Não sou eu a noiva do Senhor? Apressai-vos em enviar-me para o meu divino esposo. Que o meu corpo pereça se, excitando a vossa piedade, retarda o momento em que hei-de repousar no seio daquele ao qual me dei. Aqui está o segredo! É o Coração de Jesus que a atrai e que a chama. Ela quer ir para nele se repousar. Ela reza, apresenta a sua cabeça à espada do carrasco. As gotas de sangue ornam o pescoço da noiva como outros tantos rubis. Ela vai para o céu receber a dupla coroa do martírio e da virgindade. Santa Inês preferiu perder a vida do seu corpo do que a castidade. Ainda recusaremos os pequenos sacrifícios que a castidade nos pede, a modéstia dos olhos, da imaginação, a prudência nas leituras e nas relações. (Leão Dehon, OSP 3, p. 78s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«A vontade de Deus é a vossa santificação» (1 Ts 4, 3),


Fonte http://www.dehonianos.org/

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXI Semana - Quinta-feira - 27.08.2015


Lectio


Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 3, 7-13

Irmãos: 7encontrámos reconforto em vós, graças à vossa fé, no meio de todas as nossas angústias e tribulações. 8Agora sentimo-nos com mais vida, porque estais firmes no Senhor. 9Que acção de graças poderemos nós dar a Deus por toda a alegria que gozamos, devido a vós, diante do nosso Deus? 10Nós que, noite e dia, insistentemente, pedimos para rever o vosso rosto e completar o que falta à vossa fé? 11Que o próprio Deus, nosso Pai, e Nosso Senhor Jesus nos encaminhem até vós. 12O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós para convosco; 13que Ele confirme os vossos corações irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.

Timóteo, regressado de Tessalónica, traz a Paulo notícias sobre os progressos dessa comunidade na fé. O Apóstolo, que andava angustiado, recupera a alegria, tal como acontece com um pai, que temendo o pior para os filhos, vem a saber que estão bem. Mas nem por isso desiste do desejo de visitar pessoalmente a comunidade, com quem interrompera o diálogo, quando teve de abandonar precipitadamente a cidade, por causa da hostilidade dos judeus. O amor que o anúncio do Evangelho suscitou no coração do Apóstolo é como que uma espada que o atravessa. Anda inquieto, noite e dia, por causa do bem que quer àqueles que a Palavra tinha regenerado para a vida da graça. Mas, agora, põe tudo nas mãos de Deus, dando graças e intercedendo pelos seus amados Tessalonicenses.


Evangelho: Mateus 24, 42-51

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 42Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. 43Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. 44Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.» 45«Quem julgais que é o servo fiel e prudente, que o senhor pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo? 46Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado. 47Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens. 48Mas, se um mau servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor está a demorar’, 49e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios, 50o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece; 51vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.»

Em Mateus, a parábola do servo, ou administrador (cf. Lc 12, 41ss.) responsável encontra-se no último grande discurso de Jesus, o “Discurso escatológico” (cc. 24 e25), dominado pelas tribulações de Jerusalém e pelas perseguições à Igreja nascente, pelo anúncio da crise cósmica que precederá o fim e pela consequente necessidade de vigilância. Este discurso não visa assustar, mas encorajar. O mundo e a história caminham, não para o fim, mas para a plena realização. Haverá catástrofes. Mas abrir-se-á uma nova beleza. É neste contexto que Jesus exorta à vigilância, com quatro belas parábolas. Hoje, escutamos a primeira, cujas palavras-chave são: «Vigiai!», «Estai preparados!» A vinda do Senhor é certa. Mas a hora é incerta. A imagem do «ladrão» (v. 43) é muito expressiva e bem conhecida na igreja primitiva. Deve vigiar a casa o dono, mas também os servos, que são seus amigos e estimam a casa. O «servo fiel e prudente» (v. 45) faz as vezes de dono da casa e trata bem os seus companheiros. O «mau servo» (v. 48) aproveita da ausência do dono para desperdiçar os bens e maltratar os companheiros. Naturalmente terão fins diferentes, quando regressar o dono. Os dirigentes da Igreja hão-de ser servos fiéis e prudentes, e não maus servos, como eram os chefes de Israel, no tempo de Jesus.


Meditatio

Paulo exulta com as boas notícias que Timóteo lhe traz de Tessalónica. A pequena comunidade, que evangelizara durante poucas semanas, e tivera de abandonar, por causa do motim levantado contra ele pelos judeus, resistia às oposições: «Agora que Timóteo voltou daí e nos trouxe boas notícias sobre a vossa fé e a vossa caridade, e porque conservais de nós uma grata recordação, desejando-nos ver tal como nós a vós, encontrámos reconforto em vós, irmãos, graças à vossa fé, no meio de todas as nossas angústias e tribulações. Agora sentimo-nos com mais vida, porque estais firmes no Senhor» (v. 6-8). Paulo revela o seu coração paternal, revela todo o seu amor por aqueles a quem tinha transmitido a nova vida pela pregação do Evangelho. A sua ligação aos Tessalonicenses baseava-se, não só na fé, mas também na relação humana de grande simpatia que estabelecera com essa comunidade. Por isso, não se contenta com as boas notícias, mas, por duas vezes, afirma querer revê-los. Agradece a Deus as boas notícias, mas reza para que o desejado reencontro aconteça o mais breve possível: «Noite e dia, insistentemente, pedimos para rever o vosso rosto» (v. 10). O Apóstolo deseja vivamente o contacto humano. A sua fé, e a sua vida espiritual, não lhe diminuíram a afectividade, mas aumentaram-na. Por outro lado, deseja completar o que iniciou e teve de interromper abruptamente. É maravilhoso observar esta ligação entre a afectividade humana e o zelo apostólico.
O nosso texto termina com a oração de Paulo, que pede a Deus que faça os Tessalonicenses «crescer e superabundar de caridade» (v. 12). O Apóstolo explicita: caridade «uns para com os outros e para com todos», isto é, caridade fraterna no interior da comunidade e caridade universal aberta a todos. É na caridade e na santidade que os Tessalonicenses se hão-de preparar para a vinda do Senhor: «Que o Senhor confirme os vossos corações irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos» (v. 12).
As nossas relações com os outros hão caracterizar-se pelo progresso na fé e no amor, na espiritualidade e na humanidade. As relações de fé exigem uma grande dose de cordialidade humana, crescer e abundar no amor recíproco e no amor universal.
Que belo programa para todos nós, cristãos, particularmente os consagrados, os sacerdotes. É um ideal a alcançar com a graça de Deus, mas também com os nossos esforços de cada dia, a nossa perseverança, o nosso entusiasmo.


Oratio

Senhor, hoje quero agradecer-te porque me cumulaste de bens e confiaste aos meus cuidados tantos irmãos pequenos e fracos. Obrigado, Senhor, por teres confiado em mim. Administrar em teu lugar não é tarefa fácil. Que queres de mim, Senhor? Queres certamente que ponha os olhos no teu Filho Jesus, na sua misericórdia e no seu sacrifício. Queres que recorde as tuas palavras: «Um servo não é maior do que o seu senhor… Dei-vos o exemplo para que, como eu fiz, façais vós também». Queres que, nesta solicitude fraterna, viva o tempo presente como coisa que não é nossa, até ao teu regresso. Ajuda-me, Senhor, a cumprir fielmente a minha missão. Amen.


Contemplatio

Quando Nosso Senhor enche um coração dedicado ao seu amor, brilha através deste coração e derrama à sua volta graças abundantes. Apraz-se em abençoar o ministério daqueles que ama. Sigamos, portanto, o conselho divino, subamos para o oceano das graças e nele havemos de encontrar todas as bênçãos. Mas antes de falar aos outros do Sagrado Coração, é preciso aproveitar para si mesmo os tesouros deste Coração divino. Quem quer estender o reino do Sagrado Coração deve primeiro dedicar-lhe toda a sua vida. É preciso que ele se torne o objecto único dos afectos, das preocupações daqueles que dedicam as suas vidas a dá-lo a conhecer, a fazê-lo amar. Há uma primeira vitória a alcançar sobre todos os nossos defeitos, antes de irmos combater contra os defeitos dos outros. A virtude do apóstolo produz mais frutos de graça do que o seu talento. Compreende-se que uma influência sobrenatural é facilmente exercida por aquele no qual habitam Nosso Senhor com o Espírito Santo. (Leão Dehon, OSP 4, p. 202)


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho» (1 Cor 1, 9).


Fonte http://www.dehonianos.org/

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXI Semana - Quarta-feira - 26.08.2016


Lectio

Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 2, 9-13

Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. 11Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós 12exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória. 13Por isso, damos continuamente graças a Deus, porque, tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente, palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais.

A pregação do Evangelho entre os Tessalonicenses tornou-se uma experiência comum de vida, uma espécie de “livro aberto” capaz de falar aos crentes a linguagem de Deus. O Apóstolo não precisa de recorrer a argumentações rebuscadas, como fazem os filósofos. Basta-lhe lembrar quanto sofreu e se cansou para anunciar a Boa-Nova aos irmãos da comunidade de Tessalónica, o desinteresse e a dedicação com que o fez, procurando não ser pesado a ninguém, trabalhando para subsistir. Tal como a vida e os milagres de Jesus foram “sinais” para as multidões, assim a vida e a acção de Paulo eram sinal para os Tessalonicenses. A gratidão e o louvor que brotam do coração de Paulo garantem a autenticidade da sua missão. O Apóstolo contempla a realização da obra divina nos trabalhos e sofrimentos com que procura restituir os homens à dignidade de filhos de Deus. Esta contemplação é a recompensa de que anuncia o Evangelho.


Evangelho: Mateus 23, 27-32

«Naquele tempo, disse Jesus: 27Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! 28Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. 29Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, 30dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!’ 31Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. 32Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais!

Chegamos aos últimos dos sete «Ai de vós» dirigidos aos escribas e fariseus hipócritas. A crítica de Jesus ao legalismo não tem por alvo a lei, mas aqueles que, a coberto da lei, pretendem iludir as suas exigências profundas. A antítese exterior/interior, tratada nos versículos anteriores, está eloquentemente expressa na imagem dos «sepulcros caiados» (v. 27). São aqueles que cuidam do exterior, para que seja agradável à vista, enquanto no seu interior reina a decomposição e a morte. Jesus já pôs de sobreaviso os discípulos, quando lhes mandou disse «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por ele» (Mt 6, 1). O que conta é aquilo que cada um é diante de Deus, e não o que aparece diante dos outros.
O último «ai de vós» é contra aqueles que são falsos, não só diante de Deus e dos outros, mas também diante da história (vv. 29-32). Edificam sepulcros aos profetas e justos, dizendo que, se tivessem vivido no tempo dos que os mataram, não teriam sido coniventes com tais crimes. Sentem-se inocentes por acusarem os seus pais! Mas não se dão conta de que, se não escutarem os profetas, continuam a matá-los. E a sua falta será mais grave do que a dos seus pais.


Meditatio

Na primeira leitura, Paulo mostra-nos que a vida cristã deve ser conduzida na justiça e na santidade, diante de Deus: «Deus é testemunha de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes» (v. 10). Paulo procura corresponder plena e profundamente às exigências de Deus. Mas esta correspondência, sabe-o bem o Apóstolo, é dom divino. Por isso, prolonga por toda a carta o hino de acção de graças com que a iniciou.
Também no texto de hoje encontramos a expressão do amor paterno de Paulo pelos Tessalonicenses e por todos quantos evangelizou: «Como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória» (vv. 11-12). É interessante ver como, na mesma carta, Paulo exprime, antes, um amor materno, oblativo, pronto a sacrificar a própria vida pelo bem dos filhos e, depois, um amor paterno, que se caracteriza pela ambição paterna. O amor materno é oblativo; o amor paterno é ambicioso, isto é, quer que os filhos se tornem pessoas maduras, com grandes qualidades e com grandes realizações. Como cada filho é importante para um pai, ainda que tenha muitos filhos, assim também Paulo, tendo uma grande geração, se preocupa com cada um pessoalmente: «a cada um de vós exortámos, encorajámos e advertimos». O que o Apóstolo deseja é que, cada um, se comporte «de maneira digna de Deus», que a todos «chama ao seu reino e à sua glória». É interessante dar atenção a este chamamento de Deus: Deus é ambicioso, não nos chama para uma qualquer coisa, mas «ao seu reino e à sua glória». É por isso que Paulo não poupa esforços para que todos correspondam ao chamamento de Deus. Também para ele se trata de uma ambição paterna muito forte, que revela a força da caridade divina.
As recomendações de Paulo vão na linha da verdade, da autenticidade de vida que Jesus lamenta não encontrar nos doutores e fariseus. Mas não esqueçamos que todos estes avisos de Paulo e de Cristo são também para nós, cristãos do século XXI. Estamos efectivamente sujeitos às mesmas tentações dos doutores e dos escribas de que nos fala o evangelho, dos cristãos de Tessalónica, e de tantos outros ao longo dos séculos. Facilmente procuramos satisfações, estima dos outros, honras. Somos sempre tentados de superficialidade no que fazemos pelo Senhor, de nos contentarmos com as aparências de bondade, de santidade.
Oratio

Apóstolo Paulo, ensinai-me a ser coerente com a minha fé, com o evangelho que professo. Ensinai-me a viver de modo digno de Deus, para poder participar no seu reino e na sua glória. Alcançai-me a graça de acolher com disponibilidade a Palavra, que opera nos crentes e os transformar de acordo com o projecto de Deus Pai. Alcançai-me um zelo ardente para proclamar essa Palavra, que tem em si a força de realizar maravilhas, para que todos os homens possam também chegar ao reino e à glória do Pai. Amen.


Contemplatio

Muitas vezes, segundo as aparências, faz-se muito, dá-se muito, mas é pelo ídolo da vaidade e do amor-próprio. Antes de tudo, é o coração, a boa e pura intenção que tem um valor aos olhos de Nosso Senhor, mas não é raro que o coração não esteja lá,; sem ele, todos os outros dons não têm valor. Quantos interesses mesquinhos ou satisfações pueris muitas vezes se tem em vista, mesmo nestas coisas santas! Não há mesmo ministros de Deus que se preocupam mais do que seria necessário com o calor e com a fadiga? No entanto, há por aqui e por ali na multidão uma alma verdadeiramente amante; são estas almas ignoradas e esquecidas que consolam o Sagrado Coração. (Leão Dehon, OSP 3, p. 637s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Caminhai de maneira digna de Deus» (cf.1 Ts 2, 12).


Fonte http://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Tempo Comum - Anos Ímpares - XXI Semana - Terça-feira - 25.08.2015


Lectio

Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 2, 1-8

1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis.

Paulo lembra aos Tessalonicenses as dificuldades que encontrou para lhes anunciar o Evangelho. Como era seu costume, o Apóstolo começou por ir à sinagoga anunciar a Boa-Nova de Cristo. Alguns judeus acolheram a fé. Mas outros montaram contra ele e contra Silas, seu companheiro, um motim. O povo em fúria assaltou a casa de Jasão, à procura dos missionários. Como não os encontrassem, arrastaram Jasão à presença das autoridades, impressionando-as de tal modo que só foi libertado mediante uma caução.
Depois, o Apóstolo lembra a sinceridade e a honestidade com que anunciou o Evangelho. Havia muitos que se apresentavam “em nome da verdade”, a anunciar que o fim estava próximo, e a propor um qualquer caminho de salvação. Paulo afirma-se diferente desses filósofos ambulantes, pseudo-profetas: «a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano» (v. 3). Manifesta afecto pelos Tessalonicenses, mas pretende, sobretudo, agradar a Deus: «Falamos, não para agradar aos homens mas a Deus» (v. 4). O Apóstolo tem por modelo Cristo, e Cristo crucificado. Por isso, entrega-se a si mesmo ao ministério que lhe foi confiado, ao serviço da comunidade, sem nada reservar para si.


Evangelho: Mateus 23, 23-26

Naquele tempo, disse Jesus 23Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! 25Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! 26Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo.

A religião é uma questão de interioridade, de coração, na relação com Deus e com o próximo. Se assim não for, converte-se em algo de acrescentado e sobreposto ao homem, algo que esmaga e asfixia, que escraviza. Por isso, Jesus pronuncia mais dois «Ai de vós» contra o legalismo exterior dos doutores da lei e dos fariseus e escribas, que os leva a desprezar o essencial da lei: «a justiça, a misericórdia e a fidelidade!» (v. 23). Também estes são «guias cegos», que se perdem em formalidades: «filtrais um mosquito e engolis um camelo!» (v. 24) – diz Jesus, esquecendo que, o mais importante, é ter o «coração puro»: «limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade!» (v. 25). Só a pureza do coração permite ver a Deus (cf. Mt 5, 8).


Meditatio

«Tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta», escreve Paulo aos Tessalonicenses (v. 2). Foram muitas as situações difíceis e as perseguições que teve de enfrentar. Paulo fala delas nas suas cartas e, concretamente, no texto que hoje escutamos. Lucas, nos Actos dos Apóstolos, também recorda várias situações difíceis por que passou Paulo. Em Filipos, Paulo e os seus companheiros foram presos, espancados, encarcerados: «A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo» (vv. 22-24). Enquanto, durante a noite, Paulo e Silas cantavam hinos de acção de graças a Deus pela perseguição e pelo sofrimento por que passavam, foram libertados, graças a uma intervenção especial, um terramoto. Muitas vezes, aqueles que têm uma missão e encontram graves dificuldades, desanimam. Não foi o caso de Paulo: «sentimo-nos encorajados no nosso Deus», escreve o Apóstolo (v. 2). Paulo conhece a sua fragilidade e, por isso, reconhece que a sua coragem, e a sua integridade moral são um dom de Deus. É por isso que dá graças.
«Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos» (v. 4), escreve Paulo. Há quem, em vez de «postos à prova», traduza a expressão original de outros modos como “tornados dignos”, “qualificados”. A. Vanhoye prefere “qualificados”. Antes de confiar um ministério a alguém, Deus prova-o, e, por meio da provação, melhora-o, torna-o capaz de cumprir a missão que lhe confia. Qualificado por Deus, Paulo está preocupado em permanecer nas disposições que Deus lhe deu, sem cair na adulação, na ambição, em manobras ambíguas, que seriam indignas do Evangelho. Por outro lado, Paulo empenha-se generosamente, com toda a sua afectividade no ministério apostólico. Não é como alguém que exerce uma função, mas vive como lhe apetece. A sua vida é coerente com o Evangelho que prega com todo o entusiasmo. Trata aqueles a quem se dirige com todo o respeito e afecto, como uma mãe trata os seus filhos: «Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta» (v. 7). Paulo usa um amor paterno e materno para com as comunidades que fundou: «Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis» (v. 8). O afecto de Paulo é oblativo, é generoso. Está disposto a dar a vida por aqueles que ama.
Que belos exemplos e estímulos recebemos do Apóstolos dos gentios.


Oratio

Pai santo, dá-me um coração semelhante ao de Paulo, um coração semelhante ao de Cristo, um coração que saiba unir a santidade e a caridade. Dá-me integridade pessoal, a perfeita pureza de intenção, a ausência de manobras ambíguas, para que possa caminhar na santidade, e empenhar-me, com todo o meu afecto, no serviço dos irmãos. Que todos, na Igreja, possamos compreender que a santidade não reduz o coração, mas o expande e lhe permite dar tudo para testemunhar a caridade de Cristo. Amen.


Contemplatio

S. Paulo… começa a pregar a divindade de Jesus Cristo. Será um dos mais poderosos apóstolos pela palavra e pelo sofrimento. «Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para levar o meu nome diante das nações e dos reis e dos filhos de Israel, e hei-de mostrar-lhe quanto terá de sofrer pelo meu nome». A sua conversão e a sua vocação são devidas à misericórdia do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama as almas ardentes, zelosas, dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu para estas grandes graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre os quais S. Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas, obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas. Ofereçamos as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao Coração de Jesus para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis, apóstolos poderosos em palavras e em obras. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 90s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus» (1 Ts 2, 4).


Fonte http://www.dehonianos.org/