quinta-feira, 29 de setembro de 2016

6 Outubro 2016 XXVII Semana – Quinta-feira – Tempo Comum – Anos Pares

Tempo Comum – Anos Pares

XXVII Semana – Quinta-feira
Lectio

Primeira leitura: Gálatas 3, 1-5

1Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? 3Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição? 4Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas? Se é que foi mesmo em vão! 5Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, será, pois, que o faz pelas obras da Lei ou pela pregação da fé?

Paulo dirige aos Gálatas palavras duras. Para compreendê-las, devemos recordar que o Apóstolo, seu pai e mestre na fé, vive para comunicar a sua convicção fundamental: «o homem não é justificado (salvo) pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada» (Gl 2, 16). Paulo mostra aos Gálatas a sua insensatez, por voltarem a considerar-se devedores da Lei, como se não tivessem conhecido o Evangelho, como se aos seus olhos não tivesse sido exposto «Jesus Cristo crucificado» (Gl 3, 1), única fonte de salvação. Pode-se viver plenamente incarnados neste mundo, mas vivendo simultaneamente «na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gl 2, 20). Nessa perspectiva, o horizonte muda radicalmente, como o daquele que antes vivia dependente de uma máquina de oxigénio e agora pode respirar a plenos pulmões. É para isso que Deus lhes concede o Espírito Santo, que opera maravilhas. Dotados pelo Espírito, os Gálatas podem tornar-se verdadeiros crentes e actuar na caridade. O crente, de facto, não é chamado a um esforço voluntarista para cumprir as obras da Lei, mas a ser dócil ao Espírito, que os torna crentes de cumprirem os mandamentos, crucificando o próprio egoísmo, a ponto de poderem dizer: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (2, 20). Por Ele e com Ele, não só deixaremos de fazer o mal, mas procuraremos, com a força do Espírito, fazer todo o bem possível.

Evangelho: Lucas 11, 5-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5«Se algum de vós tiver um amigo e for ter com ele a meio da noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer’, 7e se ele lhe responder lá de dentro: ‘Não me incomodes, a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para tos dar’. 8Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar.» 9«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; 10porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á. 11Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? 12Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!»

Depois de nos transmitir o «Pai nosso», a oração de Jesus, Lucas dá-nos alguns ensinamentos sobre a atitude interior com que havemos de dirigir-nos a Deus, que é Pai e amigo do homem. Fá-lo com duas parábolas: a primeira é a do amigo importuno que, no meio da noite, vai pedir pão a outro amigo. A nota principal é a insistência de quem sabe bater ao coração (mais do que à porta) de um amigo, e a confiança em obter o que pede.
A segunda parábola usa coloridas imagens (peixe/serpente, ovo/escorpião) para aprofundar o conceito de «pai». O peixe, tal como o pão, é símbolo de Cristo; a serpente evoca o inimigo por excelência do homem (cf. Gn 3). O ovo é símbolo da vida, enquanto o escorpião, que tem veneno na cauda, simboliza a morte.
Os verbos fortemente correlativos entre eles (pedir/obter, procurar/achar, bater/abrir) ensinam-nos que a oração nunca é perda de tempo, ou desafio a um deus longínquo e surdo. A oração tem sempre resposta positiva. Mas precisa de ser perseverante (cf. Lc 18, 1).
A interrogação de Jesus, depois da segunda parábola, interpela fortemente a nossa sensibilidade. Sabemos que, por natureza, não somos bons. Mas o instinto paterno é tão forte que leva a corresponder positivamente aos pedidos dos filhos, dando-lhes o que é bom. O Espírito Santo é o Dom por excelência, que jamais será negado a quem O pedir.

Meditatio

Cristo convida-nos, como Seus discípulos e, sobretudo, como Seus “amigos” à “assiduidade” na oração, e nós queremos corresponder a esse convite. Por isso, precisamos de «rezar incessantemente…» (1 Ts 5, 17; cf. Ef 5, 20).
Ser «féis à oração» (Act 2, 42) é ser fiéis ao «nosso carisma profético» (Cst. 27), é realizar a primeira união da nossa «vida religiosa e apostólica à oblação reparadora de Cristo ao Pai pelos homens» (Cst. 6). Só realizando, com a ajuda do Espírito, dos seus dons, dos seus frutos, dos seus carismas, o nosso carisma de oblação, damos um conteúdo de vida e de realismo à «fidelidade» que nos recomenda o n. 76 das Constituições.
É pouco ser fiéis às necessárias práticas de piedade pessoais e comunitárias. As orações devem ajudar-nos a descobrir o seu núcleo vital: rezar é amar. A caridade é a oração que dá valor a todas as orações e práticas de piedade e torna fecundo o nosso apostolado.
O homem precisa de amar e de ser amado como precisa do ar; por isso, a oração perene é o amor perene: Amai, sem nunca desanimar, diz Jesus (cf. Lc 18, 1); amai incessantemente, confirma S. Paulo (cf. Ts 5, 17).
Rezar é estar em diálogo de amor perene com Deus, Pai amoroso em Quem podemos confiar, e com os irmãos; rezar é fazer do amor oblativo a nossa vida. Devemos, todavia, beber esse amor oblativo na sua fonte, que é Deus. Daí a necessidade da oração de intimidade pessoal, da oração trinitária. Podemos servir-nos das formas simples e profundas que aprendemos nos joelhos da nossa mãe: «Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo», entendendo o «em nome» (“eis to onoma”: Mt 28, 19) no sentido de posse: «Sou Teu, ó Pai; sou Teu, ó Filho; sou Teu, ó Espírito Santo» – «Amem»: Sim, com todo o meu coração, com toda a minha vida, no tempo e na eternidade. E ainda: «Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo», entendendo
“glória” no sentido de amor oblativo. Amor ao Pai, amor ao Filho, amor ao Espírito Santo. “Amem”, Sim, com todo o meu coração, com toda a minha vida, no tempo e na eternidade. É evidente também a necessidade da invocação frequente do Espírito para que venha «em ajuda da nossa fraqueza» (Rm 8, 26): «Vem, Espírito Santo… Vem, pai dos pobres; vem, dador de todos os dons; vem, Luz dos corações» (Liturgia).
Da oração de intimidade, que é amor oblativo para com Deus, passamos à oração de continuidade, que é amor oblativo para com o próximo, que é apostolado, contacto cordial com as pessoas, identificação com as suas alegrias e com as situações difíceis, e mesmo dramáticas, em que, por vezes, vivem. Quando formos pessoas que rezam, será para nós espontâneo passar da contemplação à acção e regressar da acção à contemplação. Na contemplação, encher-nos-emos do Espírito que produzirá em nós os seus frutos, as obras de bem, sinal do Reino em nós. Para um Oblato-Sacerdotes do Coração de Jesus, não há diferença entre actividade apostólica e contemplação: é amor oblativo a contemplação, é amor oblativo a acção. Rezar é amar e amar é rezar. Sendo assim, compreendemos a importância enorme que tem a verdadeira oração entendida, antes de mais nada, como experiência do inefável «amor que Deus tem por nós» (1 Jo 4, 16), e como adesão de todo o nosso ser a esse amor oblativo, correspondendo-lhe com o nosso amor oblativo, no serviço de Deus e no serviço aos irmãos. Por isso, «Reconhecemos que da oração assídua dependem a fidelidade de cada um e das nossas comunidades (à nossa vocação de Oblatos-SCJ), bem como a fecundidade do nosso apostolado. Cristo convida os seus discípulos, sobretudo os seus amigos, a perseverarem na oração: queremos responder a este convite» (Cst. 76).

Oratio

Ó meu bom Mestre, tudo fizeste para ganhar os nossos corações; para atingir esse fim, ensinaste-nos as orações das jaculatórias. Bem o dizias na parábola da viúva pobre que faz apelo ao juiz: seremos mais bem escutados por Ti, do que pelos poderosos da terra, quando reclamarmos o teu auxílio, ou quando Te declararmos o nosso amor e o nosso reconhecimento!
Porque tenho aqui um seguro meio para ganhar o teu Coração e me unir a ele, doravante hei-de servir-me da oração das jaculatórias e farei dela um hábito incessante. Amen. (Leão Dehon, OSP 2, p.102).

Contemplatio

Quem me ama sinceramente, – diz o Salvador – mistura-me de tal modo a tudo o que faz, que não tem necessidade de reflectir e de raciocinar para me dizer o reconhecimento do seu coração. Este reconhecimento resplandece com um dardo de amor. Os santos iam mais longe; agradeciam-me não apenas os seus sucessos, mas também os seus insucessos, porque viam neles uma provação querida ou permitida por mim para os manter na humildade.
Queria, portanto, que este hábito das orações jaculatórias estivesse tão profundamente enraizado naqueles que estão consagrados ao meu amor, que os seus lábios cheguem a balbuciar como brotando de si mesmos alguma palavra afectuosa por mim. Este seria o meio por excelência de pôr em prática o voto do salmista: Meditatio cordis mei in conspectu tuo semper: Os sentimentos do meu coração estão sempre diante dos vossos olhos.
Este hábito de oração é simultaneamente um fruto e um meio de vida interior. Os mestres da vida espiritual recomendam os actos de fé frequente e o exercício da presença de Deus. A prática da oração jaculatória obtém facilmente este duplo fim. Faz mais do que dar o hábito da presença de Nosso Senhor, dando o dos impulsos do coração, da união, do colóquio íntimo e contínuo com Ele. Coloca o seu agrado em escutar estas invocações, porque o coração tem mesmo aí muitas vezes uma parte maior do que nas orações litúrgicas onde a rotina se insinua muito frequentemente. Resgatam-se assim por este meio muitas negligências.
Quando na oração da manhã a alma está árida, quando não podemos, por uma razão ou por outra, seguir o tema proposto, um excelente meio de retirar algum fruto deste exercício, é ainda a oração jaculatória. Muitas vezes uma alma que ficou fria e seca durante uma grande parte da oração, reanima-se de repente através de uma oração jaculatória na qual diz a sua mágoa por se sentir tão fria.
Muitas vezes – diz o Salvador – respondo a estas lamentações cândidas com um toque de graça, e em todos os casos a oração assim feita produz o seu fruto, porque atinge o meu Coração. (Leão Dehon, OSP 2, p. 102).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Mandai, Senhor, o vosso Espírito» (cf. Sl 104, 30)

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

5 Outubro 2016 XXVII Semana – Quarta-feira – Tempo Comum – Anos Pares

Tempo Comum – Anos Pares

XXVII Semana – Quarta-feira
Lectio

Primeira leitura: Gálatas 2, 1-2.7-14

Irmãos: 1Passsados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando comigo também Tito. 2Mas subi devido a uma revelação. E pus à apreciação deles – e, em privado, à dos mais considerados – o Evangelho que prego entre os gentios, não esteja eu a correr ou tenha corrido em vão. 7Antes pelo contrário: tendo visto que me tinha sido confiada a evangelização dos incircuncisos, como a Pedro a dos circuncisos – 8pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios – 9e tendo reconhecido a graça que me havia sido dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas, deram-nos a mão direita, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para irmos, nós aos gentios e eles aos circuncisos. 10Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho. 11Mas, quando Cefas veio para Antioquia, opus-me frontalmente a ele, porque estava a comportar-se de modo condenável. 12Com efeito, antes de terem chegado umas pessoas da parte de Tiago, ele comia juntamente com os gentios. Mas, quando elas chegaram, Pedro retirava-se e separava-se, com medo dos partidários da circuncisão. 13E com ele também os outros judeus agiram hipocritamente, de tal modo que até Barnabé foi arrastado pela hipocrisia deles. 14Mas, quando vi que não procediam correctamente, de acordo com a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: «Se tu, sendo judeu, vives segundo os costumes gentios e não judaicos, como te atreves a forçar os gentios a viver como judeus?»

Paulo continua a escrever em jeito de autobiografia. Depois de catorze anos, vai a Jerusalém, acompanhado por um levita cipriota chamado José, a quem os Apóstolos tinham dado o sobrenome de Barnabé, isto é, “filho da consolação”, e que acompanhou Paulo durante o primeiro período de evangelização. Leva também Tito, um greco-cristão incircunciso, que mediou o conflito entre a Igreja de Corinto e Paulo (cf. 2 Cor 3, 13).
Tito era um exemplo vivo de liberdade perante tudo o que não correspondia ao essencial ensinamento de Cristo: ao contrário do que defendiam e praticavam alguns cristãos de Jerusalém, Tito não era circunciso. Com este exemplo concreto, Paulo expõe aos chefes da Igreja o seu evangelho, para não «correr em vão» (v. 6). Dá-se, então, em Jerusalém uma forte experiência de comunhão, expresso no aperto de mão de Paulo, a Pedro, Tiago e João, considerados «as colunas» (v. 9) da Igreja. Chega-se a um acordo: as «colunas» evangelizariam os circuncisos, Paulo e os seus companheiros evangelizariam os pagãos. A única recomendação é dar atenção aos pobres, coisa que Paulo terá em grande conta (v. 10).
Mas a comunhão não impede Paulo de se opor a Pedro que, em Antioquia, se deixou dominar pelos cristãos judaizantes, deixando de frequentar a mesa dos cristãos convertidos do paganismo, que justamente se julgavam livres de tomar qualquer tipo de alimento. E verificamos duas realidades: a primeira é que Paulo se sente livre para dizer claramente a verdade a Pedro, que “coxeia” na sua prática de crente; a segunda é que a mensagem de Cristo é uma mensagem de liberdade em relação a todo o formalismo, exterioridade, hipocrisia e constrição.

Evangelho: Lucas 11, 1-4

Naquele tempo, 1Sucedeu que Jesus estava algures a orar. Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou os seus discípulos.» 2Disse-lhes Ele: «Quando orardes, dizei:Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; 3dá-nos o nosso pão de cada dia; 4perdoa os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixes cair em tentação.»

«Jesus estava algures a orar» (v. 1). Em qualquer tempo e lugar se pode rezar, ainda que haja tempos e lugares expressamente destinados à oração. Ao ver Jesus rezar, um dos discípulos percebeu que não sabia rezar e suplicou: «Senhor, ensina nos a orar» (v. 1). Então, Jesus ensinou-lhes a sua oração, o «Pai nosso».
A oração de Jesus começa com a invocação do Pai, Abba, no texto lucano, palavra que exprime uma ternura e um à vontade idêntico à nossa palavra “papá”. Jesus introduz-nos, deste modo, a um novo tipo de relação com Deus, caracterizado pela confiança, semelhante à de um filho que se dirige ao pai, por quem se sente amado. Chamando Pai a Deus, assemelhamo-nos a Jesus, o Filho por excelência, e partilhamos a relação íntima que existe entre Ele e o Pai. É nisto que caracteriza, em primeiro lugar, a oração do cristão.
– «santificado seja o teu nome»: pedimos a Deus que seja glorificado por todos e em todos; que seja glorificado em cada um de nós, isto é, que vendo o nosso modo de ser e de agir, todos O reconheçam e louvem; este pedido sublinha a verdade de que é procurando a glória de Deus, e não na nossa, que encontramos a nossa própria felicidade, entrando em comunhão com Ele, com os outros, com o cosmos.
– «venha o teu Reino»: toda a história é aspiração, consciente ou não, por este Reino, que é «justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 7).
– «dá nos em cada dia o pão da nossa subsistência»: o «pão» é o elemento vital que simboliza tudo o que o homem precisa para viver dignamente, crescer e realizar-se (pão, vestuário, cultura, habitação, …). Pede-se o pão «nosso» … Se for só «meu», torna-se elemento de morte. Partilhado, faz crescer. «Pão» é também a Eucaristia, a Palavra de Deus… porque «não só de pão vive o homem».
– «perdoa nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos»: o perdão de Deus liga-se à nossa atitude de perdoar, como raiz à árvore. O fundamento do nosso perdão e saber-nos perdoados por Deus… Perdoar não significa esquecer. Desejar perdoar, pedir a Deus que nos ajude a perdoar, já é atitude de perdão…
– «não nos exponhas à tentação». Esta expressão significa pedir a Deus a graça de não sucumbirmos à tentação, por causa da nossa fraqueza. Sabemos que Deus nos ouve porque «é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças» (1 Cor 10, 13).

Meditatio

Paulo recusa todo o formalismo, constrição, oportunismo, tradicionalismo. O essencial é aderir a Cristo e à sua verdade. Para defender essa posição, que julga correcta, está disposto a tudo, até a indispor-se com Pedro, não hesitando e aplicar-lhe a correcção fraterna. Tem de ha
ver coerência entre o Evangelho e a vida.
É urgente que nas nossas comunidades cristãs, e religiosas, se instaure esta parresia, este atrevimento, esta franqueza de relações, esta busca apaixonada da verdade de Cristo, dando ouvidos às exigências do Reino, e não dos nossos mesquinhos interesses.
Nada melhor do que ter bons espaços e tempos de oração para ultrapassar rotinas e confusões que inquinam a verdade pura do Evangelho e escravizam o nosso coração. Se rezo ao Abbá, ao Pai cheio de ternura, meu e dos meus irmãos, se Lhe peço que seja glorificado como convém, e que venha o reino da justiça, do amor e da paz, também através da minha pequena vida, então terei a força de me tornar, cada vez mais, na porção da Igreja de que faço parte, aquilo que, hoje, sou chamado a ser. Não me tornarei, certamente, um elemento polémico, soberbo e capaz de rebentar com tudo, mas uma pessoa tão intensamente unida a Jesus, tão compenetrada pelo seu humilde amor, que nada temerei, nem sequer a reacção daqueles que vier a corrigir, por amor. Pedir frequentemente, ao longo do dia, «venha o teu reino», é o segredo para alcançar a força espiritual de realmente o querer e procurá-lo, numa atitude pessoal e de relação.
O verdadeiro diálogo, na Igreja e nas nossas comunidades cristãs e religiosas, precisa de um clima de liberdade. Cada um deve experimentar que lhe é possível manifestar as suas opiniões, o seu modo de ver. Este respeito pelas opiniões dos outros, leva à compreensão recíproca, à aceitação do conselho e também à correcção fraterna. Mesmo num debate aceso, jamais se devem atacar as pessoas, mas confrontar com simpatia as ideias, as propostas, os pontos de vista.
É preciso participar no diálogo desarmados. Não devemos pensar em vencer ou perder. A vitória deve pertencer à verdade e ao bem. Ninguém de nós tem a verdade no bolso, ninguém de nós é infalível; procuramos a verdade e, mais do que procurá-la, deixamo-nos conquistar por ela.
O verdadeiro diálogo exclui a intransigência. De que me serve vencer se a minha opinião está errada? Nenhuma vantagem vem do erro. Vim para dominar ou para servir? Se estamos com Jesus devemos estar dispostos para servir: «Não vim para ser servido, mas para servir» (Mt 20, 28). Servir a verdade é servir Jesus: «Quem é da verdade, escuta a minha voz» (Jo 18, 27); «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6).
O verdadeiro diálogo comunitário deveria excluir também as “acomodações” e os “compromissos”. Eles indicam que ainda não cerramos fileiras pela verdade. É preciso estar apaixonados, enamorados pela verdade, porque estamos enamorados de Cristo-Verdade (cf. Jo 14, 17), porque, como “Deus é caridade” (1 Jo 4, 16), Deus é verdade. Não importa de quem vem a verdade, não importa o meio: pode ser um jovem, um noviço. O Espírito «sopra onde quer» (Jo 3, 8) e como quer; mas, de certeza, é Ele a fonte última da verdade, como a é da caridade: «O Espírito é a verdade» (1 Jo 5, 6).
Invoquemos o Espírito e demos lugar ao Espírito nos nossos diálogos comunitários e experimentemos os seus saborosos frutos, sinais do Reino já presente no meio de nós: a caridade, a paz, a alegria, a bondade, a benevolência, a mansidão, etc. Não só pessoalmente, mas também comunitariamente.
Estamos convencidos de que a realidade escatológica dos «novos céus» e da «nova terra», onde «habita a justiça» (2 Pe 3, 13), pode ser uma realidade actual, antecipada, não só pessoalmente, mas também comunitariamente.

Oratio

Senhor, disseste que, se escutarmos e vivermos a tua palavra, conheceremos a verdade, e que «a verdade nos libertará» (cfr. Jo 8). Dá-nos a graça de rezar e de viver a ardente súplica: «Venha o teu Reino», que é verdade e liberdade de Deus e do homem. Dá-nos a graça de a rezar com tal perseverança que ela se torne, não só um desejo do nosso coração, mas também coragem e compromisso libertador de toda a nossa acção e da nossa relação com quantos, como nós, são Igreja peregrina rumo aos esplendores do Reino. Amen.

Contemplatio

Recordai os principais títulos do vosso Pai celeste ao vosso amor. E, em primeiro lugar, Ele é vosso Pai. Será que se encontra na natureza um título que dê mais direito a ser amado do que este? E é-o de um modo eminente. É o criador do vosso corpo e da vossa alma e o autor da sua união. É só d’Ele que recebeis as vossas faculdades e as vossas qualidades naturais. Somente por Ele é que continuais a existir em cada instante. É Ele que provê em cada instante às vossas necessidades, às vossas comodidades e mesmo aos vossos prazeres; porque vós não gozais de nenhum, mesmo contra a sua vontade sem que seja Ele que vos forneça os seus elementos. Poderia retirar-vos tudo aquilo que vos deu, quando disso abusais para o ofender.
É o vosso Pai a um título mais excelente ainda na ordem sobrenatural, porque vos adoptou como seus filhos. É o vosso Pai por graça, como é o Pai de Nosso Senhor por natureza. Tornai-vos em Jesus o objecto da sua complacência. Estende até vós a ternura infinita que tem por Ele. Este benefício é tão grande que os anjos dele seriam invejosos se o pudessem ser.
Todas as consequências desta paternidade são outros tantos motivos de ainda mais amardes a Deus. Entrais por adopção na família de Deus. Sois incorporados nesta família da qual Jesus é o primogénito. Pertenceis à casa do vosso Pai não na qualidade de servos, mas na qualidade de filhos. Jesus não faz distinção a este respeito entre vós e Ele, como o observais no Evangelho: «Meu Deus e vosso Deus; meu Pai e vosso Pai» (Jo 20, 17). (Leão Dehon, OSP 2, p. 24).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Pai, venha o teu Reino» (cf. Lc 11, 1-2)

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

4 Outubro 2016 S. Francisco de Assis

S. Francisco de Assis nasceu em 1181, ou 1182. Filho de um rico comerciante, Francisco sonhava tornar-se cavaleiro. Desviado desse ideal, procurou com persistência vontade de Deus. O encontro com os leprosos, e a oração diante do Crucifixo na igreja de S. Damião, levaram-no a abandonar a família e a iniciar uma vida evangélica penitencial. Bem depressa o Senhor lhe deu irmãos dispostos a viverem o evangelho sine glossa, em fraternidade. O papa Honório III aprovou a Regra e a vida dos frades menores, em 1222. No ano seguinte, Francisco recebeu os estigmas do Crucificado, selo da sua conformidade com o único Senhor e Mestre. Faleceu em 1226, sendo canonizado em 1228. Grande amigo da Natureza, S. Francisco é padroeiro dos ecologistas. É também um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, Dehonianos.

Lectio

Primeira leitura: Gálatas 6, 14-18

Irmãos: Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. 16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. 17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus. 18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!Ámen.

Ao terminar a sua Carta aos Gálatas, Paulo declara ter agido retamente ao desmascarar a hipocrisia dos que defendiam a necessidade da circuncisão e da observância de lei hebraica para os cristãos (v. 12). Em seguida, afirma que não procura a glória do mundo, mas se sente honrado por estar em comunhão com Jesus Crucificado, cujo amor redentor afastara dele toda a ambição, orgulho e egoísmo. O seu único motivo de orgulho é a cruz do Senhor, que iniciou uma nova economia fundamentada, não na Lei, mas no Espírito. Acolhendo e pondo em prática o amor misericordioso de Deus, o cristão pode usufruir da plenitude dos bens messiânicos. Consciente de tal dom, Paulo não quer ouvir falar de outras doutrinas. A sua pertença exclusiva ao Senhor é manifestada pelos sofrimentos que, a seu exemplo, suporta para Lhe ser fiel (v. 17).

Evangelho: Mateus 11, 25-30

Naquele tempo, Jesus exclamou: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» 28«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos.29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

A relação entre Jesus e o Pai é única, como declara o nosso texto. Jesus é o Filho do Pai, de Quem recebeu tudo, por Quem é conhecido, e a Quem conhece como mais ninguém. Jesus revela-nos esse conhecimento, que é dom recíproco de amor. Na sua oração de bênção, Jesus reconhece que só os pequenos, os que não presumem de si mesmos, estão em condições de conhecer o amor do Pai e viver em comunhão com Ele. Que se fecha na sua “sabedoria” autoexclui-se dessa vida e comunhão. Francisco de Assis foi um desses pequenos e humildes que encontraram respiro e vida nova nas palavras e gestos de Jesus.

Meditatio

Francisco de Assis foi um daqueles pequenos, que receberam de coração aberto e disponível a revelação de Jesus, como Filho muito amado do Pai. O Evangelho, sine glossa, tornou-se a única regra da sua vida, regra que também propôs àqueles que se lhe quiseram juntar como irmãos. Para Francisco, tudo se resumia à relação com Jesus, no amor. Os estigmas, que recebeu já perto do fim da sua vida, são sinal da intensíssima relação com Jesus, que o levou a identificar-se com Ele também fisicamente. Numa época em que os homens da Igreja procuravam riquezas e grandezas, Francisco quis permanecer pobre e pequeno diante de Deus e dos homens. Por causa disso, nem aceitou ser ordenado sacerdote, permanecendo simplesmente irmão entre os irmãos, como o mais pequeno de todos, por amor do Senhor.
Para ele realizaram-se plenamente as palavras de Jesus: “o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (v. 30). Quanta alegria enchia o coração de Francisco, pobre de tudo e rico de tudo, que no amor do Senhor sentia como suaves os maiores sofrimentos. “Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo.” (Gl 6, 2). As cargas dos outros: é esse o jugo do Senhor. S. Francisco compreendeu-o desde o princípio da sua conversão. No fim da vida, contava: “Estando eu em pecado, parecia-me coisa excessivamente amarga ver os leprosos, mas o próprio Senhor me conduziu para meio deles e eu exercia misericórdia para com eles”. Este é o jugo, que consiste em carregar as cargas dos outros, mesmo que isso nos parece muito duro. E continuava Francisco: “Carregando-as, o que me parecia amargo, converteu-se para mim em doçura na alma e no corpo”. Pouco mais adiante, encontramos a segunda frase de Paulo: “Cada um terá de carregar o próprio fardo” (Gl 6, 5). Aqui, trata-se de não julgar os outros, de ter muita compreensão por todos, de não impor aos outros os nossos pontos de vista e os nossos modos de fazer, de vermos os nossos próprios defeitos e de não aproveitar os defeitos dos outros para lhes impor pesos que não estão de acordo com o pensamento do Senhor. “Ninguém se deve julgar o primeiro entre os irmãos”, recomendou. “Quem jejua, não julgue os que comem”. A caridade não critica os outros, não os julga, mas ajuda-os.
Carreguemos, também nós, o jugo do Senhor, os fardos dos outros, e não os sobrecarreguemos com críticas e juízos sem misericórdia. Assim conheceremos melhor o Filho de Deus, que morreu por nós, e nele o Pai que está nos céus, com a mesma alegria de S. Francisco.

Oratio

Fazei, ó meu Deus, exclamava, que a doce violência do vosso amor me desapegue de todas as coisas sensíveis e me consuma inteiramente, a fim de que eu possa morrer por vosso amor infinito. Eu vo-lo peço por vós mesmo, ó Filho de Deus, que morrestes por amor de mim. Meu Deus e meu tudo! Quem sois vós, e quem sou eu, senão um verme de terra? Desejo amar-vos, Senhor adorável. Consagrei-vos a minha alma e o meu corpo com tudo o que sou. Levar-me-ei a fazer com ardor o que mais contribuir para vos glorificar. Sim, meu Deus, este é o único objeto dos meus desejos. (Oração de S. Francisco, citada por Leão Dehon, in OSP 4, p. 322)

Contemplatio

O Coração de Francisco foi, como o de Jesus, um porto de refúgio no qual todos os pobres corações humanos, agitados pela tempestade, podiam encontrar um asilo. O coração de Francisco foi um coração de apóstolo, um coração de fogo. Semelhante a um carro inflamado, percorria o mundo, ardendo por arrastar atrás de si todos os homens para os conduzir ao céu. O seu coração inflamado de amor gerou três ordens que deram e que dão tantos santos ao céu. Depois do capítulo geral da sua ordem em 1219, enviou religiosos para a Grécia, para África, para a França, para a Inglaterra, para aí estender o reino de Deus. Tinha reservado para si a missão da Síria e /323 do Egipto onde esperava encontrar o martírio! O coração de Francisco não estava simplesmente aberto às misérias morais, mas também às misérias físicas. Oh! Como amava os pobres e a pobreza! Como era terno para com os doentes e os aflitos! S. Francisco diz-nos a todos como S. Paulo: «Sede meus imitadores». A seu exemplo, entremos no Coração de Jesus pelo amor e pela imitação. (Leão Dehon, OSP 4, p. 322s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Carregai as cargas uns dos outros
e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo.” (Gal 6, 2).

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S. Francisco de Assis (04 Outubro)

XXVII Semana – Terça-feira – Tempo Comum – Anos Pares
Tempo Comum – Anos Pares

XXVII Semana – Terça-feira
Lectio

Primeira leitura: Gálatas 1, 13-24

Irmãos: 13Certamente ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a Igreja de Deus e procurava devastá-la; 14e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais. 15Mas, quando aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – 16revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma, 17nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco. 18A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. 19Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir. 21Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22Mas não era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo que estão na Judeia. 23Apenas tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como Evangelho, a fé que então devastava.» 24E, por causa de mim, glorificavam a Deus.

Depois de afirmar que o seu Evangelho é o de Jesus Cristo, Paulo apresenta as suas credenciais de apóstolo. É um texto importante, de carácter autobiográfico. O Apóstolo recorda aos Gálatas a sua mudança radical: de tenaz defensor da Lei, e feroz perseguidor da igreja de Cristo, tornara-se seu audaz apóstolo e defensor.
O evangelho que Paulo prega não se fundamenta no seu passado judeu, não brotou das práticas de fariseu zeloso. A revelação recebida no caminho de Damasco revolucionou completamente o seu modo de pensar e de agir.
Paulo está consciente de que Deus o escolheu e chamou desde o seio de sua mãe em vista de um evento absolutamente gratuito: a revelação de Jesus a anunciar a todos, também aos pagãos (cfr. vv. 15 e 16). A tradução «… revelar o seu Filho em mim» é muito expressiva. A sua vocação é semelhante à dos profetas, à de Jeremias, por exemplo. Por isso, não opõe resistência e, sem recorrer a «conselhos humanos» (v. 16), parte para a Arábia, deixando-se envolver na aventura de anunciar a Jesus Cristo.
A absoluta independência do evangelho de Paulo verifica-se também pelo facto de que, só num segundo momento, sente necessidade de «conhecer a Cefas», indo a Jerusalém, onde permaneceu «quinze dias» (v. 18). As palavras de Paulo têm o sabor da verdade profunda acolhida e a luz de um evento vivido em plenitude.

Evangelho: Lucas 10, 38-42

Naquele tempo, 38Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. 40Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» 41O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; 42mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.»

Este texto foi usado ao longo dos séculos para “justificar” a vida activa, figurada em Marta, e a vida contemplativa, figurada em Maria. Mas, mais importante que os dois estados de vida, são as duas atitudes interiores.
Jesus vai a caminho de Jerusalém, rumo à consumação do mistério pascal da nossa salvação: «continuando o seu cami¬nho, Jesus entrou» (v. 38). Em Betânia, entra em casa de Lázaro, onde Marta, irmã de Maria e de Lázaro, faz as honras da casa. Mas parece que estavam só as duas irmãs. Por isso, a entrada de Jesus na casa é um gesto audacioso. Na verdade, para Ele, «já não conta ser judeu ou grego, homem ou mulher»; o que conta é ser «nova criatura» que, na relação com Ele, se afirma (cfr. Gal 6, 15).
Marta acolhe Jesus; Maria senta-se a seus pés e escuta a palavra. Aqui, a atenção não está centrada em Jesus que fala, mas na “mulher-verdadeira-discípula” acocorada a seus pés e esquecida de tudo quanto não seja Ele e a sua palavra. Marta, pelo contrário, «andava atare¬fada» (v. 40), em grande tensão, quase diríamos, alienação, com o que havia para fazer. Então, com alguma petulância, como se pode entrever numa tradução literal do v. 40: «adiantando-se» ou, mais rigorosamente, «pondo-se por cima», Marta perturba a quieta contemplação das palavras de Jesus e da escuta de Maria. Marta quase acusa Jesus de não ligar atenção e interesse aos seus serviços.
É então que Jesus aproveita a ocasião para repreender, não o útil serviço que Marta está a prestar, mas a excessiva inquietação e preocupação que lhe marcam negativamente o agir. Já noutra ocasião Jesus dissera: não vos preocupeis com o que haveis de vestir, ou comer, ou com qualquer outra coisa (cfr. Mt 6, 25-34). Mas a escolha de Maria foi acertada, porque deu atenção à única coisa que interessa, isto é, à escuta da Palavra. É a melhor parte que não será tirada a quem ama.

Meditatio

Para justificar a sua missão de Apóstolo, diante dos Gálatas, Paulo usa um argumento que me toca profundamente. Também eu, «desde o seio minha mãe» fui escolhido e chamado a viver a realidade baptismal da minha adopção filial, com tudo o que essa escolha e essa vocação comportam de dom inestimável da parte de Deus e de compromisso perseverante da minha parte. Num mundo marcado por grande confusão e pela desesperada perda de sentido, num mundo onde os mass media, em si mesmos tão positivos, mas manipulados pelas cegas forças do eficientismo materialista, “macaqueiam” os «caminhos da paz», falsificando a vida e a morte, é urgente acolher a palavra de Jesus. Acolho-a, em primeiro lugar, em mim mesmo; é em mim que, de acordo com a prioridade contemplativa sugerida pela atitude de Maria, a escuta, em tempos e espaços de indispensável quietude de todo o meu ser.
Mas também é urgente anunciá-la. Hoje mais do que nunca! Todavia há que resistir à tentação da excessiva inquietação e preocupação, que Jesus estigmatiza em Marta. Inquietar-se e preocupar-se, seria como quem pretendesse pescar agitando permanentemente as redes, em vez de as lançar com mão segura ao mar. Chegou o tempo de viver, no dia a dia, a atitude orante de Maria, sem descuidar o genuíno serviço de Marta, mas animando-o e vivificando-o com este sereno acolhimento da Palavra. Sem uma tenaz e humilde fidelidade à Palavra rezada de manhã e vivida no ministério do serviço ao l
ongo do dia, não há autenticidade de vida cristã e, muito menos, de vida religiosa. Não há autenticidade no anúncio do Evangelho. É importante que esta convicção invada todo o meu ser.
O Pe. Dehon é um exemplo vivo e expressivo de uma vida onde contemplação e acção se harmonizam e motivam reciprocamente. Cada Oblato-SCJ, se é verdadeiro filho do Pe. Dehon, deve experimentar esta mesma exigência. Escreve o Pe. Dehon no Directório Espiritual: «A vocação dos Sacerdotes do Coração de Jesus é inconcebível sem a vida interior. Os actos frequentes de amor, de desagravo, de reparação, de fé viva e de abandono, que são a vida de uma vítima do Coração de Jesus, só podem encontrar-se numa vida realmente interior, na união habitual com Nosso Senhor e na permanência na Sua santa presença» (Directório Espiritual, parte VI, n. 21, p. 204). No Diário, escreve: «Nosso Senhor adverte-me novamente de que quer uma união completa com Ele e uma imolação constante. Quando me renderei completamente ao Seu desejo?» (NQ IV. 36v; 22.4.1888).
Esta exigência de contemplação realiza-se na escuta da palavra e na oração de intimidade, geralmente, diante do Jesus Eucaristia, num tempo que varia de pessoa para pessoa, conforme as possibilidades e as disposições psicológicas de cada um. «O crescimento pessoal (na caridade) exige que cada um tenha uma regra de vida pessoal. O número reduzido de regras comunitárias reforça tal exigência…» (Cst 71).

Oratio

Senhor Jesus, nesta época aturdida de palavras humanas, ajuda-me a ter um coração adorante e ouvinte como o de Maria sentada a teus pés.
«Tu me sondas e me conheces», Tu já me escolhias e chamavas quando eu ainda estava «no seio de minha mãe». Que eu o entenda no coração e o viva na força irradiante dessa compreensão, volvendo frequentemente o olhar para Ti que habitas no mais profundo do meu ser. Então, como o Pe. Dehon, poderei anunciar com a minha vida que é bom harmonizar a contemplação de Maria com o serviço de Marta, a escuta adorante da Palavra e a Palavra tornada vida no decorrer dos meus dias. Amen.

Contemplatio

A piedosa família da aldeia de Betânia era querida ao Coração de Jesus. «Jesus – diz S. João – amava Marta, e Maria sua irmã e Lázaro» (Jo 11, 5). Que felizes seríamos se se pudesse dizer de nós que o Coração de Jesus nos ama! Marta e Maria amavam Jesus com um afecto um pouco diferente. Maria permanecia junto de Jesus totalmente absorta na contemplação. Marta atarefava-se em prestar mil pequenas atenções ao Salvador. Uma vez, Jesus repreendeu-a suavemente por causa da sua excessiva preocupação: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas».
Imitemos o cuidado e dedicação de Marta, evitando a agitação. Nosso Senhor espera de nós atenções temporais e eternas. As atenções temporais são a nossa participação no culto, na ornamentação dos altares e na boa ordem no santuário; é também a compaixão por todos os que sofrem e a ajuda a dar-lhe, uma vez que Nosso Senhor toma como feito a Si mesmo tudo o que fazemos por eles.
As atenções espirituais são os actos da nossa vida interior, os actos de adoração, de acção de graças, de reparação e de oração; são sobretudo as invenções do amor terno, generoso e assíduo, e o cuidado de consolar Nosso Senhor pela ingratidão dos homens. (Leão Dehon, OSP 4, p. 102).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Jesus amava Marta e Maria!» E ama-me a mim!

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

3 Outubro 2016 XXVII Semana – Segunda-feira – Tempo Comum – Anos Pares

Tempo Comum – Anos Pares

XXVII Semana – Segunda-feira
Lectio

Primeira leitura: Gálatas 1, 6-12

Irmãos: 6Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. 7Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. 8Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. 9Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema. 10Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. 11Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; 12pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo.

Durante a segunda viagem missionária, Paulo atravessou «a Frigia e a região da Galácia» (Act 16, 6), nas imediações da actual cidade de Ankara. Aí fundou comunidades cristãs, que depois visitou durante a terceira viagem (Act 18, 23), nos anos 53-57 DC. O Apóstolo defendia que o crente se salva pela fé em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, e não pela observância da Lei. Para ele, é nisso que consiste a liberdade cristá. Mas os judaizantes queriam adaptar a vivência do Evangelho à religião judaica e a certas práticas, tais como a circuncisão e certas observâncias. A Igreja que estava na Ásia também sofria com esses judeo-cristãos, que deformavam o evangelho pregado por Paulo e se permitiam mesmo ironizar sobre a autoridade e sobre a doutrina do Apóstolo. Paulo reagiu com força. Ao dirigir-se aos «gálatas insensatos!» e enfeitiçados (cfr. Gal 3, 1), o Apóstolo manifesta a sua indignação, não tanto para se defender, mas por verificar que estavam a afastar-se do Evangelho e a corrompê-lo. As suas palavras, cheias de fogo, querem levar os gálatas a declarar-se por Cristo e a acolherem a única certeza que conta: o Evangelho, tal como lhes foi pregado. É essa a única alegre notícia. Ao pregá-la, Paulo só deseja uma aprovação: a de Deus. De facto, o que lhes anunciou é palavra de Deus, recebida por meio de uma revelação de Jesus, e não por ensinamento humano.

Evangelho: Lucas 10, 25-37

Naquele tempo, 25Levantou-se um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. 33Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. 34Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» 37Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»

Jesus vai a caminho de Jerusalém. Um judeu faz-lhe uma pergunta armadilhada: que devo fazer para alcançar a vida eterna? Jesus responde com outra pergunta que conduz o doutor à própria lei de Moisés. Que está escrito nela? O homem lembra o preceito do amor, tal como estava formulado em Dt 6, 3: «Amarás ao Senhor, teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo» (v.27), e que os israelitas recitavam todos os dias, acrescentando o preceito do amor do próximo, tal como está expresso no Lv 19, 18.
O legalista, vendo a sua síntese aprovada por Jesus, acrescenta outra pergunta armadilhada: «quem é o meu próximo?» (v. 29). Pensando que, no Antigo Testamento, “próximo” era apenas o israelita e, mais tarde, o imigrado que se tinha inserido na comunidade israelita (cf. Lv 19, 33s.); pensando que, no tempo de Jesus, o «próximo» estava limitado ao membro da própria seita (fariseus, zelotas, etc.), compreendemos a força inovadora que se solta da parábola contada por Jesus. O Senhor não dá uma resposta teórica. Conta uma parábola que ia ao encontro da experiência dos ouvintes, que deviam estar lembrados de acontecimentos idênticos ao narrado por Jesus.
O cenário também é importante: a estrada que, de Jerusalém (situada a 740 metros acima do nível do mar), leva a Jericó (situada a 350 metros abaixo do nível do mar), desenha um percurso cheio de curvas e contracurvas, de gargantas e ravinas, onde facilmente se escondiam salteadores. A acção é animada e forte: o homem agredido, dilacerado e a sangrar é visto por um sacerdote e um levita, que passam ao largo. Finalmente aparece o protagonista da parábola: um samaritano, mestiço, bastardo e herético, que cuida do ferido. Jesus compraze-se na descrição das acções deste homem malvisto pelos judeus. Cheio de compaixão, aproxima-se do homem caído, desinfecta-lhe as feridas com vinho, minora-lhe as dores com azeite, e leva-o para a estalagem onde, à sua custa, o faz curar.
Jesus faz mais uma pergunta: «Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem» (v. 36). Está aqui o centro da narrativa. Quando Jesus diz ao doutor: «Vai e faz tu também o mesmo» (v. 37), desloca totalmente o centro da questão. Não se trata de saber quem é o nosso próximo, porque toda a criatura humana o é; trata-se, isso sim, de saber como nos tornamos próximo do outro. Quem manifesta a sua compaixão em acções concretas em favor de quem precisa, esse é verdadeiro discípulo de Deus porque «se faz próximo» do homem.

Meditatio

A tentação de confundir a alegre notícia do Evangelho com outras mensagens continua actual nos nossos tempos. Quantas propostas nos chegam, hoje, do Oriente e do Ocidente! Quanta confusão no que se refere a iniciativas e realidades, em si mesmas válidas, como o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Paulo diz-nos a nós, cristãos de hoje, que o an&uac
ute;ncio do Evangelho não pode ser comandado por modas culturais e espiritualistas.
Para agradar a Deus, o cristão tem de ser um alegre servo do Evangelho e, por isso mesmo, livre para amar. É essa a sua verdadeira liberdade, tal como verificamos no texto do evangelho: «O bom samaritano faz-se próximo apesar da distância étnica, social e mesmo religiosa. Não pede contrapartidas» (C. M. Martini). Não se entrincheira em falsas seguranças ou medos, nem em integralismos donde possa disparar flechas de aguçados juízos sobre quem não pensa como ele.
A adesão a Jesus é plena e, por isso, não apenas mental. Adere-se a Cristo com a mente, mas também com o coração e a vida. E é na vida do dia a dia que Jesus, o Bom Samaritano, que se aproximou de cada um de nós para nos salvar, nos pede a conversão. Ao contrário do sacerdote e do levita, somos chamados a tornar-nos próximos, com o coração atento e caloroso, de quem precisa da nossa atenção e do nosso serviço. Em vez da intolerância desses legalistas, somos chamados a actuar com mansidão, escuta atenta, diálogo. Vencendo a dureza do coração, tomaremos a nosso cuidado aqueles que sofrem junto de nós. Tornar-nos-emos próximos de todos em casa, no trabalho, na comunidade, na acção pastoral. Revestir-nos-emos interiormente de paciência, benevolência, empatia e simpatia. Afogaremos no mar da misericórdia de Deus todos os ressentimentos, amarguras e recônditos interesses pessoais. Para nos tornarmos verdadeiramente próximos, vestir-nos-emos do seu amor que, se traduzirá em disponibilidade, cuidado, serviço atento, generoso e humilde.
Ainda há cristãos, e mesmo religiosos, que vivem a lei, a regra, em termos de contrato. Para eles a ordem e a regularidade são os valores primários. Não os observar é fracassar na vida cristã, na vida religiosa. O perigo de uma tal concepção é dar à observância das normas e das regra um poder vital que elas não têm. Semelhante exaltação da lei pode ser contrária à caridade e sufocar a vida; pode ser um obstáculo à comunidade-comunhão e, portanto, um obstáculo ao amor de Cristo. Podemos comportar-nos como o sacerdote ou o levita da parábola do bom Samaritano: cumpriram as suas obrigações legais e deixaram o desgraçado meio morto no caminho (cf. Lc 10, 31-32). Jesus condenou a estéril observância da lei e a inútil multiplicação de leis sem caridade. A regra ou observância que rege a vida das comunidades cristãs, e religosas, não pode ser desumanizada, despersonalizada.
Mas há também cristãos, e até religiosos, que reagem contra aquilo a que chamam formalismo, legalismo, recusando qualquer regra. A lei, dizem, destrói a espontaneidade. Querem ser completamente livres, confundindo liberdade com libertinagem, que leva ao egoísmo, à licenciosidade. A lei justa é garantia de justa liberdade, feita não só de direitos, mas também de deveres. Os meus deveres são os direitos dos outros e é justo respeitá-los. A lei dos cristãos e dos religiosos, não é tanto um código escrito, mas é Cristo vivo, Bom Samaritano da Humanidade.

Oratio

Senhor Jesus, que disseste: «Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15, 5), ajuda-me a mergulhar vivo no teu Evangelho, a crer com total adesão de mente e de coração. Dá-me a força do teu Espírito para arrancar de mim toda a indiferença, comodismo, intolerância, que me tornam semelhante àqueles que, na estrada de Jericó, passaram ao largo do homem caído e meio morto, sem lhe darem atenção e ajuda.
Dá-me um coração novo, sensível ao grito de quem sofre, um coração tão convencido do teu amor e tão apaixonado por Ti que viva unicamente para Te reconhecer, amar, dando atenção e prestando serviço, caridoso e humilde, a quem precisar. Amen.

Contemplatio

Um homem foi despojado, atacado, ferido. Um sacerdote judeu e um levita passaram e não socorreram o ferido. Um samaritano passa, é o verdadeiro padre, é a figura do Salvador, o padre da nova lei. Tem compaixão do ferido; cuida as suas chagas colocando nelas azeite e vinho. Coloca o ferido sobre o seu cavalo, condu-lo à hospedaria e paga os cuidados que lhe derem.
O verdadeiro padre e pontífice mostra assim todo o seu coração. Padres de Jesus Cristo, sejamos bons samaritanos para os doentes das nossas paróquias.
Havia então muitos possessos. Os demónios agitavam-se vendo o seu poder posto em perigo pela redenção. Hoje, o demónio age diversamente. Dirige os homens pelas seitas e associações secretas. Que faremos nós contra ele? Jesus expulsava os demónios, mas tinha grande piedade dos possessos. Detestando as seitas, sejamos bons para as pessoas.
Jesus mostra a sua bondade pelo pobre possesso do país dos Gerasenos, que era atormentado por uma legião de demónios. Cura-o. Este homem, vindo a si mesmo, quer ligar-se a Jesus como discípulo. Mas o bom Mestre diz-lhe para voltar à sua terra e aí anunciar os benefícios de Deus (Lc 8).
Sejamos sempre bons para as pessoas, mesmo condenando as doutrinas e as práticas das seitas. (Leão Dehon, OSP 2, p. 555s.)

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Bom Samaritano da humanidade, dá-me um coração semelhante ao teu»

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/

2 Outubro 2016 27º Domingo do Tempo Comum - Ano C

ANO C
27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 27º Domingo do Tempo Comum

Na Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão sobre a atitude correcta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta, confirma a sua intenção de actuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o “tempo de Deus”.
O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projecto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.

LEITURA I – Hab 1,2-3; 2,2-4

Leitura da Profecia de Habacuc

«Até quando, Senhor, chamarei por Vós
e não Me ouvis?
Até quando clamarei contra a violência
e não me enviais a salvação?
Porque me deixais ver a iniquidade
e contemplar a injustiça?
Diante de mim está a opressão e a violência,
levantam-se contendas e reina a discórdia?»
O Senhor respondeu-me:
«Põe por escrito esta visão
e grava-as em tábuas com toda a clareza,
de modo que a possam ler facilmente.
Embora esta visão só se realize na devida altura,
ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará.
Se parece demorar, deves esperá-la,
porque ela há-de vir e não tardará.
Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta;
mas o justo viverá pela sua fidelidade».

AMBIENTE

Sobre a vida e a personalidade de Habacuc, não sabemos nada: o título do livro não indica o lugar do nascimento do profeta, nem o tempo histórico em que o profeta viveu. A menção dos “caldeus” (Hab 1,6) parece situar a proclamação de Habacuc na época em que os babilónios, depois de desmembrarem o império assírio, procuravam impor o seu domínio aos povos de Canaan. Estaríamos, pois, nos finais do séc. VII a.C.…
O rei de Judá é, nesta altura, Joaquim (609-598 a.C.). Trata-se de um rei fraco, incompetente, que explora o povo, que deixa aumentar as injustiças e cavar um fosso cada vez maior entre ricos e pobres; além disso, o rei desenvolve uma política aventureirista de alianças com as super-potências da época… Apesar das simpatias pró-egípcias de Joaquim, Judá sente já o peso do imperialismo babilónio e vê-se obrigado a pagar um pesado tributo a Nabucodonosor. Prepara-se a queda de Jerusalém nas mãos dos babilónios, a morte de Joaquim, a deportação do seu filho e sucessor Joaquin (que reinou apenas três meses – cf. 2 Re 24,8) e a partida para o exílio de uma parte significativa da classe dirigente de Judá (primeira deportação: 597 a.C.).

MENSAGEM

O nosso texto começa por expor a queixa do profeta: “até quando, Senhor, clamarei sem que me escutes? Até quando gritarei ‘violência’, sem que me salves?” (Hab 1,2)… Habacuc grita a sua impaciência (e a impaciência do seu Povo), questionando a atitude complacente de Deus para com o pecado; ele não compreende que Deus contemple, impassível, as lutas e contendas do seu tempo… Habacuc sente-se interpelado pelo que o rodeia e não concebe que Deus (esse mesmo Deus que Se manifestou como libertador e salvador na história do Povo e que Se proclama fiel aos compromissos que assumiu para com os homens) não ponha fim a tantas grosseiras violações do seu projecto para o mundo. O profeta não se limita a escutar a Palavra de Jahwéh e a transmiti-la; mas ele próprio toma a iniciativa, pergunta a Deus, exige respostas. E, como uma sentinela vigilante, o profeta fica à espera que Deus Se justifique (cf. Hab 2,1).
Finalmente, Deus digna-Se responder. A mensagem é de esperança, pois a resposta de Deus deixa claro que Ele não fica indiferente diante do mal que desfeia o mundo e que o momento da vingança divina está para chegar; ao homem, resta esperar com paciência o tempo da acção de Deus (cf. Hab 2,2-5): nessa altura, o orgulhoso e o prepotente receberão o castigo e o justo triunfará.
Em conclusão: diante da injustiça e da opressão, Jahwéh parece, muitas vezes, indiferente e ausente; mas, de acordo com o seu plano (que o homem não conhece em pormenor), Ele encontrará o momento ideal para intervir, para castigar o imperialismo, o orgulho, a injustiça e a opressão.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem fazer-se de acordo com as seguintes linhas:

¨ Com frequência encontramos pessoas que nos questionam acerca da relação entre Deus, a sua justiça e a situação do mundo: se Deus existe, como é que Ele pode pactuar com a injustiça e a opressão? Se Deus existe, porque é que há crianças a morrer de cancro ou de fome? Se Deus existe, porque é que os bons sofrem e os maus são compensados com glória, honras e triunfos? Se Deus existe, porquê o sofrimento inocente? Estas são as questões que, hoje, mais obstaculizam a crença em Deus… A nossa resposta tem de ser o reconhecimento humilde de que os projectos de Deus ultrapassam infinitamente a nossa pequenez e finitude e que nós nunca conseguiremos explicar e abarcar os esquemas de Deus…

¨ Sobretudo, importa perceber que os caminhos de Deus não são iguais aos nossos. Deus tem o seu próprio ritmo; e o ritmo de Deus não é o ritmo da nossa impaciência, da nossa correria, do nosso egoísmo, dos nossos interesses… Do ponto de vista de Deus, as coisas integram-se num “todo” que nós, na nossa pequenez, não podemos abarcar. Resta-nos respeitar – mesmo sem entender – o ritmo de Deus.

¨ Além disso, precisamos de aprende
r a confiar em Deus, a entregarmo-nos nas suas mãos, a sentir que Ele é um Pai que nos ama e que, aconteça o que acontecer, está a escrever a história por caminhos direitos (embora os caminhos pelos quais Deus conduz o mundo nos pareçam, tantas vezes, estranhos, misteriosos, enigmáticos, incompreensíveis). Há que confiar na bondade e na magnanimidade desse Deus que nos ama como filhos e que tudo fará, sempre, para nos oferecer vida e felicidade.

¨ Mesmo sem entender, a nossa missão é continuar a dar testemunho… Deus chama-nos a denunciar tudo o que impede a realização plena do projecto de felicidade que Ele tem para o homem (a injustiça, a violência, a repressão, o egoísmo, o medo…); mas quanto ao tempo exacto e aos moldes da intervenção salvadora e libertadora de Deus no mundo e na história pessoal de cada homem ou mulher, isso só a Deus diz respeito.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)

Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».

LEITURA II – 2 Tim 1,6-8.13-14

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo

Caríssimo:
Exorto-te a que reanimes o dom de Deus
que recebeste pela imposição das minhas mãos.
Deus não nos deu um espírito de timidez,
mas de fortaleza, de caridade e moderação.
Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor,
nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro.
Mas sofre comigo pelo Evangelho,
confiando no poder de Deus.
Toma como norma as sãs palavras que me ouviste,
segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo.
Guarda a boa doutrina que nos foi confiada,
com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.

AMBIENTE

A Segunda Carta a Timóteo contém, como a primeira, conselhos pastorais de Paulo para o seu grande colaborador e sucessor na animação das Igrejas da Ásia: esse Timóteo que acompanhou Paulo nas suas viagens missionárias e que, segundo a tradição, foi bispo de Éfeso.
Também aqui, é muito duvidoso que seja Paulo o autor deste texto. Os argumentos são os mesmos que vimos, a propósito da Primeira Carta a Timóteo: linguagem diferente da utilizada habitualmente por Paulo, estilo diferente, doutrinas diferentes e, sobretudo, um contexto eclesial que nos situa mais no final do séc. I ou princípios do séc. II do que na época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta (e que se apresenta na pele de Paulo) diz encontrar-se na prisão e pressentir a proximidade da morte. Exorta insistentemente Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã doutrina. É uma espécie de “testamento”, no qual Timóteo (que aqui representa todos os animadores das comunidades cristãs) é convidado a manter-se fiel ao ministério e à doutrina recebidos dos apóstolos.

MENSAGEM

O autor da carta começa por exortar Timóteo (e os animadores das comunidades cristãs, em geral) a que reanime o carisma que recebeu quando Paulo e o colégio dos anciãos lhe impuseram as mãos, consagrando-o para o ministério apostólico (vers. 6-8). É um pedido lógico: mesmo que a opção de doar a vida a Deus e aos irmãos já tenha sido tomada, essa decisão fundamental necessita, cada dia, de ser aprofundada e confirmada… As desilusões, os fracassos, a monotonia, a fragilidade humana arrefecem o entusiasmo original; e é necessário, a cada instante, redescobrir o sentido das opções fundamentais que, um dia, o discípulo fez. Na sequência, são recordadas a Timóteo três das qualidades fundamentais que devem estar sempre presentes no apóstolo: a fortaleza frente às dificuldades, o amor que o impulsionará para uma entrega total a Cristo e aos homens e a prudência (ou moderação) necessária para a animação e orientação da comunidade.
Na segunda parte do texto que nos é proposto (vers. 13-14), Timóteo é exortado a conservar-se fiel à sã doutrina recebida de Paulo. Estamos – como já dissemos atrás – numa época em que as heresias começam a infiltrar-se na comunidade cristã e a confundir os cristãos. O animador da comunidade tem o dever de ensinar a doutrina verdadeira e de defender a comunidade de tudo aquilo que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus, fielmente transmitido pelo testemunho apostólico.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão e partilha podem partir dos seguintes dados:

¨ A interpelação do autor da Segunda Carta a Timóteo dirige-se, antes de mais, a todos aqueles que um dia aceitaram o Baptismo e optaram por Cristo… Na verdade, o mundo que nos rodeia apresenta imensos desafios que, muitas vezes, nos desmobilizam do serviço do Evangelho e dos valores de Jesus. É por isso que é preciso redescobrir os fundamentos do nosso compromisso. Quais são os interesses que influenciam a minha vida e que condicionam as minhas opções: os meus gostos pessoais, as indicações da moda, as sugestões da sociedade, ou as exigências e os valores do Evangelho de Jesus?

¨ Como é que eu revitalizo, dia a dia, o meu compromisso com Cristo e com os irmãos? Há muitos caminhos para aí chegar… Mas a comunhão com Deus, a oração, a escuta e partilha da Palavra de Deus, os sacramentos são formas privilegiadas para redescobrir o sentido das minhas opções e do meu compromisso com Deus. Isto faz sentido, para mim? É este o caminho que venho procurando seguir? Mantenho com Deus esse diálogo necessário?

¨ O nosso texto interpela de forma directa os animadores das comunidades cristãs. Convida-os a redescobrir, cada dia, esse entusiasmo que lhes enchia o coração no dia em que optaram pela entrega da própria vida a Cristo e aos irmãos. Convida-os a despirem-se da preguiça, da inércia, do comodismo e a fazerem da sua vida, em cada dia, um dom corajoso ao “Reino”. É isso que acontece comigo? Sou forte, corajoso, sem medo, quando se trata de vencer as dificuldades que me impedem de me dar a Cristo e aos outros? O que me impulsiona é o amor, ou são interesses próprios e egoístas? Sou uma pessoa moderada e de bom senso, que não trata os irmãos da comunidade de forma
agressiva e prepotente?

¨ No texto há, ainda, um convite a conservar a doutrina verdadeira… O que é que isto significa: um conservar inalteradas as fórmulas e os ritos, ou um redescobrir cada dia o essencial, adaptando-o sempre às novas realidades e aos novos desafios que o mundo põe? Como é que sabemos se estamos em consonância com a proposta de Jesus?

ALELUIA – 1 Pedro 1,25

Aleluia. Aleluia

A palavra do Senhor permanece eternamente.
Esta é a palavra que vos foi anunciada.

EVANGEHO – LUCAS 17,5-10

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
os Apóstolos disseram ao Senhor:
«Aumenta a nossa fé».
O Senhor respondeu:
«Se tivésseis fé como um grão de mostarda,
diríeis a esta amoreira:
‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’,
e ela obedecer-vos-ia.
Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado,
lhe dirá quando ele volta do campo:
‘Vem depressa sentar-te à mesa’?
Não lhe dirá antes:
‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires,
até que eu tenha comido e bebido.
Depois comerás e beberás tu.
Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou?
Assim também vós,
quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei:
‘Somos inúteis servos:
fizemos o que devíamos fazer’».

AMBIENTE

Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém” e a deparar com as “lições” que preparam os discípulos para o desafio de compreender e de dar testemunho do “Reino”. Desta vez, o nosso texto junta um “dito” de Jesus sobre a fé e uma parábola que convida à humildade.
Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino” (disse-lhes que entrar no “Reino” é “entrar pela porta estreita” – Lc 13,24; convidou-os à humildade e à gratuidade – cf. Lc 14,7-14; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens – cf. Lc 14,26-33; exigiu-lhes o perdão como atitude permanente – cf. Lc 17,5-6); agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais “fé”.
O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20 (um “dito” análogo lê-se também em Mc 11,23 e Mt 21,21, a propósito da figueira seca). No estado actual do texto, é muito difícil definir o contexto original do “dito” de Jesus, o seu enquadramento e o seu significado… Aqui, no entanto, ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”.

MENSAGEM

A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé (vers. 5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”?
No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projecto – ou seja, ao projecto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois supõe um compromisso radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar.
Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada: quantas vezes a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:

¨ A “fé” é, antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projecto. Posso dizer, de facto, que é a “fé” que conduz e que anima a minha vida? Jesus é o eixo central à volta do qual se constrói a minha existência? É Jesus que marca o ritmo e a cor das minhas opç&
otilde;es e dos meus projectos?

¨ O “Reino” é uma realidade sempre “a fazer-se”; mas apresentam-se, com frequência, situações de injustiça, de violência, de egoísmo, de sofrimento, de morte, que impedem a concretização do “Reino”. Como é que eu – homem ou mulher de fé – ajo, nessas circunstâncias? A minha “fé” em Jesus conduz-me a um empenho concreto pelo “Reino” e entusiasma-me a lutar contra tudo o que impede a concretização do “Reino”? A minha “fé” nota-se nos meus gestos? Há algo de novo à minha volta pelo facto de eu ter aderido a Jesus e pelo facto de eu estar a percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer?

¨ Nós, homens, somos, com frequência, muito ciosos dos nossos direitos, dos nossos créditos, daquilo que nos devem pelas nossas boas acções. Quando transportamos isto para a relação com Deus, construímos um deus que não é mais do que um contabilista, que escreve nos seus livros os nossos créditos e os nossos débitos, a fim de nos pagar religiosamente, de acordo com os nossos merecimentos… Na realidade – diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir nada de Deus: existimos para cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia, para acolher os seus dons e para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o discípulo de Jesus deve estar sempre.

¨ De certas pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para descrever o seu egoísmo e as suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as coisas? O que é que motiva as nossas acções e gestos: o amor desinteressado, ou o interesse pela retribuição?

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 27º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. PALAVRA CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na preparação da celebração, pode-se prever que algumas expressões da liturgia da Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração dos fiéis, num momento de acção de graças…

3. BILHETE DE EVANGELHO.
O pedido “aumenta a nossa fé” que os Apóstolos fazem a Jesus é uma bela oração também para nós. No Evangelho de Mateus, diz-se que, no momento da partida de Jesus, “alguns tiveram dúvidas”, enquanto Jesus lhes assegura que estará com eles todos os dias até ao fim dos tempos. Isto quer dizer que a fé não é da ordem da evidência, mas do crescimento: não somos crentes uma vez por todas, tornamo-nos crentes. E esta fé, precisa Jesus, manifesta-se humildemente, porque a confiança não suporta grandes declarações, verifica-se no quotidiano e nas pequenas coisas, pode mesmo operar grandes coisas, porque Deus Se deixa tocar pela confiança que n’Ele depositamos. Deus deixa-Se tocar pela humildade do servo, pois tal é a única e verdadeira atitude que espera daqueles que põem n’Ele a sua confiança. O servo não procura, então, a glória, mas somente a alegria de ter feito o seu dever.

4. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Aumenta a nossa fé!” Jesus já tinha ouvido uma súplica semelhante, quando o pai da criança epiléptica lhe havia suplicado: “Vem em ajuda da minha pouca fé!” A resposta de Jesus é surpreendente, até provocadora, sem dúvida: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia”. A sua resposta, na realidade, força-nos a ir para além do imediato e do sensacional. A fé é já um caminho humano. Quando duas pessoas se amam, sabem muito bem que o seu amor não se pode demonstrar cientificamente. O amor descobre-se como um dom gratuito, mas constrói-se na confiança. Posso dizer àquele ou àquela que amo “eu sei que te amo”, porque sei o que vibra dentro de mim. Mas ao mesmo tempo não posso dizer-lhe “creio que tu me amas”, porque não estou na pele do outro. O amor implica, pois, um salto num certo desconhecido que, no plano das relações humanas, pode, sem dúvida, apoiar-se nas provas “tangíveis”, mas que são fracas. Quando se trata da nossa relação com Deus, a fé é, sem dúvida, mais difícil, porque não tem, ou tem muito pouco, suporte “afectivo”. Mas o “princípio”, finalmente, é o mesmo. Sou convidado a ter confiança na Palavra de Deus, que se exprimiu plenamente em Jesus e foi transmitida pelos seus primeiros discípulos. Jesus dá-lhes como missão serem suas testemunhas autorizadas. Posso, sem dúvida, pôr em causa o seu testemunho, não aderir a Ele, exigindo provas convincentes. Mas posso igualmente comprometer-me noutro caminho, da relação amorosa com Jesus. A fé só se pode viver numa relação de amor que nos faz ver para lá das aparências, porque os homens vêem com os olhos, mas Deus vê com o coração. “Sim, Jesus, aumenta em mim a fé, para que eu possa amar-Te sempre cada vez mais”.

5. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a oração eucarística para as circunstâncias especiais V-C, pela sua insistência em Cristo “Verbo, mediador” e no Evangelho de que devemos ser servidores.

6. PALAVRA PARA O CAMINHO…
Levar a Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da Palavra de Deus: «Senhor, aumenta a nossa fé!»; «Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor…»; «Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações»; «Exultemos de alegria no Senhor!». Procurar transformá-las em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehnianos.org – www.dehonianos.org

Santos Anjos da Guarda
O Anjos, criaturas puramente espirituais e dotadas de inteligência e vontade, servem a Deus e são seus mensageiros. Eles “

veem constantemente a face de meu Pai que está no Céu” (Mt 18, 10). São “poderosos mensageiros, que cumprem as suas ordens” (Sl 103, 20). São encarregados por Deus de proteger a humanidade. O povo de Deus sempre sentiu o dever de corresponder à sua silenciosa e benévola companhia, honrando-os. Em 1615, entrou no Calendário romano a celebração que hoje lhes dedicamos.

Lectio

Primeira leitura: Êxodo 23, 20-23a

Eis que o que diz o Senhor: “Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei. 21Mantém-te atento na sua presença e escuta a sua voz. Não lhe causes amargura, porque ele não suportará a vossa transgressão, porque está nele a minha autoridade. 22Mas se escutares a sua voz e se fizeres tudo o que Eu falar, Eu serei inimigo dos teus inimigos e serei adversário dos teus adversários, 23pois o meu anjo caminhará diante de ti.

Estamos no epílogo do código da aliança, numa seção com caráter de pregação, possivelmente de origem eloísta. Logo no início aparece-nos a figura de um anjo, que irá à frente do povo na sua caminhada para a Terra Prometida, para o proteger e orientar. Chama-se o anjo de Deus ou anjo de Javé, idêntico ao próprio Deus. O povo deve, pois, obedecer-lhe. O enquadramento contextual do texto permite também afirmar que o anjo de Deus é, agora, a Lei, palavra de Deus encarnada na palavra humana. Mas poderão ser igualmente os acontecimentos futuros, todos eles mensageiros potenciais de Deus, testemunhas da sua palavra e da sua ação. Em última análise, como já dissemos, o anjo é o próprio Deus com o homem. Importa que o homem tome consciência dessa presença e se torne digno dela, deixando-se guiar docilmente.

Evangelho: Mateus 18, 1-5.10

Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu.4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.» 10«Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai que está no Céu.

Na literatura judaica, a função dos anjos era tripla: adoração e louvor de Deus; agentes ou mensageiros divinos nos assuntos humanos; guardiães dos homens e das nações (Heb 12, 15). Segundo uma crença generalizada, eram poucos os anjos que tinham acesso direto a Deus. Tendo em conta estas premissas, o ensinamento tem por alvo a dignidade dos pequeninos que acreditam em Jesus: se os seus anjos têm essa dignidade, quanto maior será a dignidade dos crentes ao serviço dos quais eles estão!
Como Deus nos protege com os seus anjos, assim também nós havemos de proteger os irmãos, sobretudo os mais frágeis e pequenos.

Meditatio

Esta memória dos anjos recorda-nos que, no caminho da vida, não estamos sós. Deus não nos abandona. Deus caminha connosco.
Há, com efeito, uma criação visível, que podemos ver, pelo menos parcialmente, com os olhos da carne; e há uma criação invisível, mas real, que só os sentidos espirituais nos permitem perceber, por meio da fé, da oração, da iluminação interior que vem do Espírito Santo.
Os anjos são, em primeiro lugar, um sinal luminoso da divina Providência, da bondade paterna de Deus, que nada, do que é necessário, deixa faltar aos seus filhos. Intermediários entre a terra e o céu, os anjos são criaturas invisíveis postas à nossa disposição para nos guiarem no caminho de regresso à casa do Pai. Vêm do Céu para nos reconduzirem ao Céu e nos fazer pregustar algo das realidades celestes. Por vezes, podemos experimentar a presença dos anjos de modo muito concreto e sensível, desde que a saibamos reconhecer. Trata-se de encontros “casuais”, - que todavia se tornam fundamentais e determinantes na nossa vida – ou de auxílio súbito e inesperado, em situações de perigo. Pode ser também uma intuição repentina, que nos permite dar-nos conta de um erro, de um esquecimento. Como não sentir-nos guiados, protegidos, nesses momentos? Os anjos protegem-nos de tantos perigos de que nem nos damos conta. Sobretudo do perigo de nos tornarmos ímpios, de não escutarmos nem obedecermos à Palavra de Deus. Os anjos sugerem-nos pensamentos de retidão e de humildade. Sugerem-nos bons sentimentos.
Havemos também de ser anjos Deus em relação aos outros, ajudando-os a ver e a orientar-se pelos caminhos de Deus.
O P. Dehon rezava: “Anjos do Senhor, recomendai-me à misericórdia do Sagrado Coração.” (OSP 4, p. 317).

Oratio

Pai santo, Deus eterno e providente, nós vos damos graças por Cristo, Nosso Senhor. Proclamamos a vossa imensa glória, que resplandece nos Anjos e nos Arcanjos, e, honrando estes mensageiros celestes, exaltamos a vossa infinita bondade, porque a veneração que eles merecem é sinal da vossa incomparável grandeza sobre todas as criaturas. Por isso, com a multidão dos Anjos, que celebram a vossa divina majestade, Vos louvamos e bendizemos. Ámen. (cf. Prefácio dos Anjos).

Contemplatio

Os Anjos louvam a Deus e servem-n’O. «Eles são milhares de milhares, diz Daniel, à volta do trono de Deus, ocupados em servi-l’O» (Dan 7, 10). «Anjos do céu, diz o salmo, bendizei o Senhor, vós que executais as suas ordens» (Sl 102). Deus envia-os junto das criaturas. O seu nome significa «mensageiros». «São os enviados de Deus, diz S. Paulo, vêm ajudar os homens a realizarem a sua salvação» (Heb 1, 14). Há os anjos das nações e os anjos de cada um de nós. Deus dizia ao seu povo por Moisés: «Enviarei o meu anjo diante de vós. Conduzir-vos-á, guardar-vos-á e dirigir-vos-á para a terra que vos prometi» (Ex 23). Deus acrescentava: «Honrai-o, escutai a sua voz quando vos fala por Moisés. Se lhe obedecerdes, sereis abençoados e triunfareis sobre os vossos inimigos. Se o desprezardes, sereis castigados» (Ibid.). «Deus ordenou aos seus anjos, diz o salmo, que vos guardassem em todos os vossos caminhos. Levar-vos-ão nas suas mãos para que eviteis as pedras do caminho» (Sl 90). Trata-se aqui dos anjos de cada um de nós. «Respeitai as crianças, diz Nosso Senhor, os seus anjos veem constantemente a face de meu Pai» (Mt 18, 10). Os anjos vigiam particularmente as crianças. (L. Dehon, OSP 4, p. 315).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“Anjos do Senhor, bendizei o Senhor!” (Sl 103, 20).
Fonte http://www.dehonianos.pt/

1 Outubro 2016 S. Teresa do Menino Jesus, Virgem

Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em Alençon, França, em 1873. É a filha mais nova dos Beatos Luís Martin e Célia Guérin, casal cristão exemplar. Aos 15 anos, Teresa entrou no Carmelo de Lisieux. A vida de clausura e de contemplação, a vivência da infância espiritual, não a impediram de ser missionária. Pelo contrário, viveu de modo extraordinário o ideal de Santa Teresa de Ávila: “Vim para salvar almas e sobretudo a fim de rogar pelos sacerdotes”. A entrega de amor fê-la vítima de amor. Faleceu aos 24 anos de idade, em 1897. Pio XI canonizou-a em 1925, proclamando-a Padroeira das Missões.

Lectio

Primeira leitura: Isaías 66, 10-14

Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante, e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo, e acariciados sobre os seus regaços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor,como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.

Jerusalém foi consolada por Deus, fonte de toda a consolação. Agora é chamada a oferecer essa mesma consolação, como mãe generosa, aos filhos das suas entranhas. O profeta especifica essas consolações, que não são promessas vãs ou retórica vazia, mas paz e segurança a todos os níveis. Acabaram-se os tempos das tensões e das guerras, acabaram-se as ameaças dos inimigos. A cidade santa está em paz, dom de Deus, e pode oferecê-la aos seus habitantes. Aliás a Nova Jerusalém identifica-se com Javé, que, pela sua presença e pelo seu espírito, atrairá todos os povos para lhes oferecer a paz e a consolação definitivas.

Evangelho: Mateus 18, 1-5

Naquela hora, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» 2Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles 3e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. 4Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. 5Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.

Ao dizer estas palavras, Jesus parece pensar na humildade das crianças, que não têm pretensões, que têm consciência de ser crianças e aceitam a sua pequenez, a sua impotência e a necessidade que têm dos pais para sobreviver. Na relação com Deus, estas palavras têm ainda mais sentido: que é o homem diante d´Ele?
A humildade é necessária particularmente aos dirigentes da comunidade cristã pelo que eles são – bem pouca coisa - e pelo que são os outros, - filhos de Deus.

Meditatio
Os pensamentos de Deus são bem diferentes dos nossos, tal como os seus caminhos são distantes dos nossos. Os nossos pensamentos vêm do orgulho; os pensamentos de Deus vêm da humildade. Os nossos caminhos são esforço para nos tornarmos grandes; os caminhos de Deus conduzem à pequenez. Como quem quer ir para o Norte deve caminhar em direção oposta ao Sul, assim, para avançar nos caminhos de Deus devemos tomar a direção oposta ao nosso orgulho.
Teresa tinha grandes ambições: queria ser simultaneamente contemplativa e ativa, apóstola, doutora, missionária e mártir. Aliás, parecia-lhe pouco um só martírio e desejava-os todos. Acabou por descobrir que, no coração da Igreja, é o amor que tudo anima e move. Então, escreve: “Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações e que o Amor é tudo!... E, num transporte de alegria delirante, exclamei: encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor! No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor, assim serei tudo, assim o meu sonho será realizado." E, enquanto, no seu tempo, muitas pessoas fervorosas se ofereciam a Deus como vítimas da sua justiça, Teresa preferiu entregar-se ao seu Amor Misericordioso. Descobrira esse amor ao meditar na parábola do filho pródigo ou, melhor dizendo, do pai misericordioso. Dizia a santa de Lisieux: "Deus infinitamente Misericordioso, que se dignou perdoar com tanta bondade os pecados do filho pródigo, não será também justo comigo, que estou sempre a seu lado?" Para Teresa, Deus manifesta-se justo exatamente na sua misericórdia e no seu perdão a quem deles necessita. A Justiça de Deus é Amor e Misericórdia. Foi aceitando a sua pequenez e pobreza, e acolhendo e caminhando no amor misericordioso de Deus que ela chegou à Santidade.
Como escreveu o P. Dehon: “A união íntima a Cristo na sua oblação e imolação de amor é-nos confirmada pela sua predileção pela oferta como vítima “ao Amor misericordioso” de Santa Teresa de Lisieux. “Nascemos do espírito de Santa Margarida Maria, aproximando-nos do da Ir. Teresa”. Seguidamente o Pe. Dehon transcreve a fórmula com que a santa se ofereceu como vítima ao Amor misericordioso. Depois, conclui: “Com a Ir. Teresa, abandonamo-nos completamente à vontade divina“ (Diário XLV, 53.55-56: Abril de 1925).
A descoberta do Deus Misericordioso foi o ponto mais importante do Caminho Espiritual de Teresa do Menino Jesus. Essa perceção levou-a a dar-se conta da sua missão na Terra: anunciar que Deus não é Castigador, mas Misericordioso. Esta confiança na Misericórdia de Deus, tomou, transformou e entreteceu toda a sua vida e tornou-se o grande motor do que fez e disse até ao fim dos seus dias. Como vemos há uma forte semelhança e quase identidade entre a experiência espiritual e a missão do P. Dehon e de Santa Teresa.

Oratio

Ó Cristo Senhor, Tu nos escolheste e chamaste ao teu serviço pelo grande Amor que tens a Deus Pai e aos teus irmãos. Foste tu quem nos escolheu e não nós a Ti. Faz, pois, com que possamos, hoje, segundo o desígnio da tua chamada, dar frutos de salvação ao mundo, pelo qual nos oferecemos, como pessoas e como comunidade. Aviva em nós o espírito do Pe. Dehon, o qual, por teu amor, não se cansava de trabalhar para que toda a humanidade fosse, um dia, recapitulada em Ti. Torna-nos um testemunho vivo do teu amor na Igreja. Ámen.

Contemplatio

O Pai de misericórdia que nos ama ternamente chama-nos. Chama-nos seus filhinhos. Descreveu-se com complacência na parábola do filho pródigo. Eu sou este filho pródigo, que viveu, se não na luxúria, pelo menos na vaidade e na inutilidade. Volto para o meu Pai, hesitante, tímido, temeroso, mas ele está lá, que me acolhe com amor. O seu coração bate fortemente no seu peito. Deseja-me com ardor, observa, procura. E se regresso, atira-se ao meu pescoço e aperta-me contra si, coração contra coração. E chama os seus servos, os seus anjos, para me darem tudo o que perdi. Nada falta: o manto de outrora, o anel de nobreza, os sapatos, e o vitelo gordo para a festa. O Coração de Jesus está emocionado; os seus olhos choram de ternura, mas sorriem de alegria: «Alegremo-nos, diz o bom Mestre, este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado». (Leão Dehon, OSP 3, p. 653).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“No Coração da Igreja Minha Mãe, eu serei o Amor” (Santa Teresa do Menino Jesus).

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S. Teresa do Menino Jesus, Virgem (01 Outubro)

XXVI Semana – Sábado – Tempo Comum – Anos Pares
Tempo Comum – Anos Pares

XXVI Semana – Sábado
Lectio

Primeira leitura: Job 42, 1-3.5-6.12-17

1Job respondeu ao Senhor e disse: 2«Sei que podes tudo e que nada te é impossível. 3Quem é que obscurece assim o desígnio divino, com palavras sem sentido? De facto, eu falei de coisas que não entendia, de maravilhas que superavam o meu saber. 5Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos. 6Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza.» 12O Senhor abençoou a nova condição de Job, mais do que a antiga, e Job chegou a possuir catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. 13Teve também sete filhos e três filhas; 14à primeira pôs-lhe o nome de Jemima, à segunda, Quecia e à terceira, Quéren-Hapuc. 15Em toda a terra não havia mulheres mais formosas que as filhas de Job. E o pai deu-lhes uma parte da herança entre os seus irmãos. 16Depois disto, Job viveu ainda cento e quarenta anos e viu os seus filhos e os filhos dos seus filhos, até à quarta geração. 17Depois Job morreu velho e satisfeito com os dias vividos.

O livro de Job termina com expressões de confiança e abandono em Deus. Job fizera a sua primeira confissão de fé ao contemplar a criação e as suas maravilhas. Agora, reconhece a desordem da sua mente, mas confessa a sabedoria e a omnipotência de Deus.: «Sei que podes tudo e que nada te é impossível» (v. 2).
Job fez uma longa caminhada. Passou por situações de desespero, pela noite dos sentidos e do espírito, numa experiência das mais terríveis da existência. Compreendeu que Deus se esconde para se fazer procurar e ser encontrado: a aceitação disto sublinha o seu caminho místico, o grande dinamismo da sua vida espiritual. Pôde, pois, afirmar: “Agora vêem-te os meus próprios olhos», enquanto «antes conhecia-te por ter ouvido falar de Ti» (cf. 42, 5). Agora conheço-Te; entrei no mais profundo do teu mistério – pode dizer Job. O santo varão já não conhece Deus por ter ouvido falar d´Ele. Aproximou-se do mistério divino e procurou tornar-se semelhante ao Filho de Deus que deu a sua vida pelo homem. E ficamos a perceber que o problema de Job é, sobretudo, um problema de grande amor. É o problema de quem, sentindo-se rejeitado, não desiste de procurar e gritar a Deus a sua fidelidade. Satanás tinha apostado com Deus que não havia amor gratuito. Job consegue provar que, quando o amor do homem é atraído pelo de Deus, sabe chegar à doação total.

Evangelho: Lucas 10, 17-24

Naquele tempo, 17os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele:«Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» 21Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque – digo-vos – muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!»

Os setenta e dois discípulos voltam «cheios de ale¬gria» (v. 17) e Jesus revela-lhes o conteúdo profundo daquilo que fizeram.
O tema é tratado em duas secções ligeiramente diferentes, mas unitárias (vv. 17-20 e vv. 21-24). Temos, em primeiro lugar a missão, considerada pelos 72 discípulos uma vitória na luta contra Satanás (v. 18); depois, a vitória sobre Satanás, que evidencia a capacidade dos discípulos em vencer o mal que há no mundo. Por isso são chamados «Felizes» (v. 23) e os seus nomes estão «escritos no Céu» (v. 20); em terceiro lugar, o evangelho faz notar que «os pequenos» (v. 21) estão abertos ao mistério e recebem a verdade de Jesus; finalmente, Jesus louva o Pai pelo dom concedido «aos pequenos» e revela a união de amor entre Ele e o Pai: «Tudo me foi entregue por meu Pai; e nin¬guém conhece quem é o Filho senão o Pai…» (v. 22).
Pode dizer-se que a missão é irradiação do amor que une o Pai e o Filho. Este amor, revelado «aos pequenos» é a força que destrói o mal. Os discípulos são «felizes» (v. 23) porque vêem e saboreiam desde já o amor do Pai e do Filho.

Meditatio

Terminamos, hoje, a leitura do livro de Job. No começo, Satanás tinha apostado com Deus que o homem não era capaz de um amor gratuito. Na conclusão, verificamos que, ainda que não saibamos se o homem é ou não capaz de um amor gratuito por Deus, uma coisa é certa: Deus ama-nos e dilata o nosso coração provando-o no fogo incandescente do seu amor. Deus espera que nos entreguemos a Ele, com confiança e perseverança, tal como Job. Se amamos a Deus, o nosso amor encontrará em si mesmo a sua riqueza. É este amor incrível e atraente que nos envolverá e conduzirá a saborear o dom inaudito do amor trinitário.
O Cântico dos Cânticos diz-nos que Aquele que procuramos existe e nos ama. Havemos de encontrá-lo um dia, se perseverarmos na busca contemplativa. E seremos repletos de alegria. Mas é preciso procurá-lo desde já, sem desânimos. Job, no fim da sua caminhada dramática, pode afirmar: «os meus olhos vêem-te» (Jb 42, 5). Só quem viu e ouviu, como Pedro (cf. 2 Pe 1, 16-19), pode anunciar, pode fazer apostolado. Tudo o que podemos dizer sobre Deus deriva da contemplação: da contemplação feita por Jesus, pela Igreja e por nós. Graças ao amor, que o firmou numa autêntica relação com Deus, Job alcança a bênção de Deus, muito mais alargada do que antes.
Meditámos, nos últimos tempos, sobre o mistério da provação e do amor. Viver a oblação de amor, a vida de vítima, quando se está alegre, com saúde, em prosperidade, não levanta particulares problemas, se houver uma fé viva, espírito de oração e de intimidade com Deus. Árduo é quando temos de enfrentar o sofrimento ou a provação. A experiência da dor é perturbadora e difícil de viver. Ela perturbou o próprio Cristo (cf., Lc 7, 13; Jo 11, 33-34). Chocou-O profundamente (cf. Mt 26, 37-38; Mc 14, 3
3-34; Lc 22, 43-44).
Ao mistério da dor e do mal, que para a razão é um absurdo, a fé responde com outro mistério, o de Cristo na cruz. A fé não responde às interrogações sobre cada um dos sofrimentos, mas dá-lhes um sentido, infunde uma luz e força que permitem vivê-los com amor. Para quem não tem fé, o sofrimento, especialmente o dos inocentes, não tem sentido, não tem resposta; falta a luz e a força de Cristo crucificado, vítima inocente de expiação e de redenção.
O sofrimento é uma das possíveis realidades da nossa vida. E tantas vezes nos bate à porta! É preciso falar dele com realismo e discrição. Só deveria falar dele quem o experimenta ou já o experimentou. Às vezes encontram-se pessoas com uma fé maravilhosa que, embora sofrendo, consolam e dão força a quem as desejaria consolar. Neles é uma realidade, com simples heroísmo, a oferta dos sofrimentos, levados «com paciência e abandono» à vontade de Deus, «mesmo na noite escura e .na solidão, como eminente e misteriosa comunhão com os sofrimentos de Cristo pela redenção do mundo» (cf. Cst n. 24)
O tempo do sofrimento, tanto o das provações morais e espirituais, como o da doença e o da velhice, se for vivido como um tempo de «eminente e misteriosa comunhão» com a oblação de sofrimento de Cristo, torna-se um tempo de «disponibilidade pura», de «pura oblação».
Se for vivido com Cristo crucificado, o sofrimento é um tempo, não só de purificação dolorosa, mas de abertura à acção do Espírito, de puro abandono, de união amorosa à Vítima divina. Então, o tempo do sofrimento torna-se uma interiorização profunda, um encontro e comunhão com uma Presença misteriosa que nos ama.

Oratio

Senhor, ensina-me a entender melhor o sentido do sofrimento. Do sofrimento físico, do sofrimento moral, do sofrimento espiritual. Ensina-me, sobretudo, a vivê-lo unido a Ti, Crucificado de Lado aberto e Coração trespassado, como sinal supremo do amor gratuito, do amor oblativo com que o Pai, e Tu próprio, nos amastes e continuais a amar-nos. Que, nessa contemplação, encontre luz e força para olhar o tempo do sofrimento como ocasião de «eminente e misteriosa comunhão» com a Tua oblação, como tempo de «disponibilidade pura», de «pura oblação». Torna-te, Tu mesmo, uma torrente em mim, para que o correr dos meus dias, me conduza ao teu amor e possa ajudar muitos irmãos a atingir a mesma meta. Que, como Paulo, possa dizer com verdade: “Alegro-me nos sofrimentos suportados… e completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Col 1,24). Amen.

Contemplatio

As provações interiores eram mais temíveis antes da instituição da devoção ao Sagrado Coração, mas desde esta revelação de amor, as almas abandonadas que amam o Sagrado Coração são mais ajudadas nestas vias dolorosas. O divino sol não deixa de luzir por elas; se uma nuvem por vezes vela a face do sol, nunca é por muito tempo.
O divino Salvador quis passar por este estado de desolação interior sem exemplo, a fim de que nós não julgássemos tudo perdido quando a parte inferior do nosso ser foge daquilo que lhe é contrário, e para nos ensinar que não seremos julgados acerca da enfermidade da nossa carne, mas sobre a disposição da nossa vontade…
O Sagrado Coração consolará os seus servidores nas suas penas, se não libertando-os destas penas, pelo menos adoçando os seus sofrimentos, porque não há nada de rude nem de desagradável que não seja adoçado por Ele.
Ele tornar-se-á a sua força nas suas fraquezas. Encontrarão n’Ele um soberano remédio para todos os seus males e o seu refúgio em todas as suas necessidades e em todas as suas misérias».
Divino Coração de Jesus, … agradeço-vos terdes tomado sobre vós uma grande parte das minhas. A vossa bondade é sem medida. Abandono-me a vós, conduzi-me pelas sendas que escolherdes. Sei que, se a cruz aí se encontra, sabeis sempre adoçá-la. Se tiver um grande amor por vós, as provações mesmas ser-me-ão doces, porque considerarei que sois vós que me pedis de as suportar para vos ajudar em algum desígnio de misericórdia. (Leão Dehon, OSP 2, p. 312s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja" (cf. Cl 1,24)

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.pt/