quinta-feira, 31 de julho de 2014

Jesus causa admiração por sua sabedoria. - 01.08.2014

Das margens do Mar da Galileia (13,1.36), onde ensinou as multidões e os discípulos em parábolas, Jesus vai para sua cidade, Nazaré. A admiração que Jesus causa ao ensinar é uma das constantes observações que os evangelistas apresentam. As pessoas presentes na sinagoga se perguntam por duas vezes sobre a origem da sabedoria de Jesus e dos seus atos de poder. Nesse sentido, o leitor do evangelho está mais bem informado e preparado para responder do que os concidadãos de Jesus. Todo o bem que ele faz, a vida que transmite, a sua autoridade, a sua coerência vêm de Deus, da comunhão entre o Pai e o Filho. Há uma sabedoria, entenda-se aqui um modo de viver, que ultrapassa o conhecimento racional; é dom, fruto de uma profunda união entre o homem e Deus. Mas as pessoas presentes naquela sinagoga, em razão de sua incredulidade (v. 58), se equivocam imaginando saber a origem de Jesus (vv. 55-56a). A falta de fé lhes impediu de se abrirem para acolher o dom de Deus. A falta de fé fecha o coração para o que é de Deus e impede ver além das aparências. Se os que estavam na sinagoga se admiravam da sabedoria do ensinamento de Jesus e do bem que ele fazia, a incredulidade lhes impediu de acolher no mais profundo do coração a Palavra da Vida.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Jesus é quem revela o mistério de Deus. - 31.07.2014

A parábola da rede é a última das parábolas do Reino dos céus do capítulo treze. Há um tempo para tudo sobre a face da terra. A paciência instruída pelo discernimento é a atitude exigida dos discípulos. Há um tempo para a pesca e um tempo para a triagem da pesca realizada. Isso significa que, enquanto se é peregrino neste mundo, se impõe uma dupla atitude: suportar que, no Reino, mal e bem estão mesclados e confiar em Deus, que, no tempo oportuno, fará a triagem, separando os bons dos maus. Essa mesma ideia está presente na parábola do joio e do trigo e no discurso escatológico de 25,31-46. A parábola não deixa nenhuma margem ao equívoco: a triagem acontecerá no fim do mundo (vv. 49-50). Os versículos 51 e 52 são a conclusão de todo o discurso de Jesus em parábolas. À pergunta de Jesus, os discípulos respondem afirmativamente. Isso significa que eles compreenderam a natureza do Reino dos Céus e a sua situação neste mundo, o seu desenvolvimento e as exigências que ele impõe. A resposta positiva dos discípulos à pergunta de Jesus mostra que eles reconhecem que Jesus é quem revela o mistério de Deus.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 29 de julho de 2014

A alegria de descobrir o Reino de Deus. - 30.07.2014


Essas duas parábolas, que muito provavelmente já existiam juntas e são complementares, fazem parte das parábolas do Reino pronunciadas em casa aos discípulos (v. 36). As duas parábolas acentuam dois aspectos: o grande valor do tesouro e da pérola encontrados, símbolos do Reino dos Céus, e a atitude de quem os encontra. É no ensinamento de Jesus que o tesouro do Reino de Deus se encontra escondido e protegido. Quem o descobre, experimenta grande alegria e engaja toda a sua vida para não perdê-lo. A pérola de grande valor encontrada é resultado de uma busca intencional. A aquisição do bem encontrado requer, como na primeira parábola, o engajamento de toda a vida. O Reino dos Céus é comparável a bens que ultrapassam infinitamente o valor que se poderia atribuir-lhe. Segundo essas duas parábolas complementares, quem descobre o Reino dos Céus nas palavras e nos gestos de Jesus fará a experiência de uma tal alegria que será capaz de sacrificar suas antigas convicções e seguranças. É essa exigência que Jesus faz ao jovem rico que queria ter a vida eterna (Mt 19,21); é o que São Paulo exprime de maneira tão lapidar: “o que era para mim lucro, tive-o como perda, por amor de Cristo” (Fl 3,7).
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Catequese sobre a ressurreição. - 29.07.2014

O capítulo onze do evangelho de João é uma catequese sobre a ressurreição. Marta aparece, aqui, como a mulher de fé. Sua profissão de fé equivale à profissão de fé de Pedro nos evangelhos sinóticos (Mc 8,27-30; Mt 16,13-20; Lc 9,18-21) e no evangelho de João (6,69). Marta dissocia-se do círculo da morte para colocar-se ao lado do Senhor da vida. Ante ele, ela é uma mulher de fé que confia plenamente em Jesus. Sua confiança em Jesus se exprime numa dupla afirmação: a presença de Jesus, em primeiro lugar, teria livrado seu irmão da morte e, em segundo lugar, no contexto fúnebre, permitiu reavivar toda a esperança. A esperança de Marta, que era a de todo o povo judeu, é superada pela sua adesão à nova afirmação de Jesus e se realiza pelo sopro vivificante da Palavra de Cristo. Nessa sua adesão – “Eu creio”–, ela é plenamente cristã. O fundamento da fé cristã é a fé na ressurreição de Jesus Cristo (1Cor 15,13).
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 27 de julho de 2014

Duas parábolas que apela à confiança. - 28.09.2014

Podemos dividir o trecho do evangelho em três partes: a parábola do grão de mostarda, a parábola do fermento e a conclusão da parte pública do discurso em parábolas. As duas parábolas são parábolas do Reino. Ambas estabelecem o contraste entre pequeno e grande. O traço característico dessas parábolas é que elas tratam da natureza do Reino e do modo de acolhê-lo. Podemos imaginar que as parábolas queiram responder a uma dificuldade dos contemporâneos de Jesus e também dos discípulos: Por que os sinais do Reino de Deus não aparecem com força e gloriosos? Efetivamente, na vida mesma de Jesus, em que o Reino se faz presente na história da humanidade, não há nada do esplendor e da glória dos reinos e dos reis deste mundo. As duas parábolas são um apelo à confiança, pois a pequenez do início ou o aparentemente pouco em relação ao volume da massa não pode antecipar o que será o futuro. Em relação à modéstia do início, o futuro é uma grande surpresa. Deus age na pequenina semente escondida na terra para fazê-la crescer a ponto de abrigar os ninhos dos pássaros do céu (Dn 4,7-19). Deus age no coração dos homens como o punhado de fermento que faz crescer a massa de farinha. A conclusão do nosso texto é citação do Sl 78,2 que, nesse contexto, diz respeito à identidade de Jesus: é ele quem revela Deus e o seu projeto.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sábado, 26 de julho de 2014

A necessidade do discernimento. - 27.07.2014

O discernimento é a arte de distinguir entre o bem e o mal. O discernimento é necessário, pois bem e mal coexistem não somente fora do ser humano, mas no coração dele mesmo (cf. Mc 7,20-23). O que Salomão pede a Deus é a capacidade de escutar e a arte de discernir entre o bem e o mal. Escuta e discernimento são dois momentos de uma mesma atitude do homem que busca conhecer e realizar a vontade de Deus.
O evangelho deste domingo é composto de três parábolas, pronunciadas em casa, aos discípulos, e da conclusão de todo o discurso em parábolas (vv. 51-52). As duas primeiras parábolas (vv. 44-46), complementares entre elas, acentuam dois aspectos: o grande valor do tesouro e da pérola encontrados, símbolos do Reino dos Céus, e a atitude de quem os encontra. É no ensinamento de Jesus que o tesouro do Reino de Deus está escondido e protegido. Quem o descobre experimenta grande alegria e engaja toda a sua vida para não perdê-lo. A pérola de grande valor (ver: ap 21,21; Pr 3,15; 8,11; 31,10; Jó 28,18) encontrada é resultado de uma busca intencional. A aquisição do bem encontrado requer, como na primeira parábola, o engajamento de toda a vida. O Reino dos céus é comparável a bens que ultrapassam infinitamente o valor que se poderia atribuir-lhe. Segundo essas duas parábolas complementares, quem descobre o Reino dos Céus nas palavras e nos gestos de Jesus fará a experiência de uma tal alegria que será capaz de sacrificar suas antigas convicções e seguranças. É essa exigência que Jesus faz ao jovem rico (Mt 19,21); é o que São Paulo exprime de maneira tão lapidar: “o que era para mim lucro, tive-o como perda, por amor de Cristo” (Fl 3,7). A parábola da rede focaliza que há um tempo para tudo sobre a face da terra (Qo 3,1-8). A paciência instruída pelo discernimento é a atitude exigida dos discípulos. Há um tempo para a pesca e um tempo para a triagem da pesca realizada. A parábola não deixa nenhuma margem ao equívoco: a triagem acontecerá no fim do mundo (vv. 49-50; Mt 25,31-46). Os versículos 51 e 52 são a conclusão de todo o discurso de Jesus em parábolas. A resposta positiva dos discípulos à pergunta de Jesus significa que eles compreenderam a natureza do Reino dos céus e a sua situação neste mundo, o seu desenvolvimento e as exigências que ele impõe. A resposta positiva dos discípulos à pergunta de Jesus mostra, igualmente, que eles reconhecem que Jesus é quem revela o mistério de Deus.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 25 de julho de 2014

A realização da promessa de Deus. - 26.07.2014


O evangelho de hoje é a sequência da resposta de Jesus à pergunta dos discípulos pela razão do ensinamento em parábolas às multidões (v. 10). Vale ressaltar que o verbo compreender utilizado nos versículos 13, 14 e 15 não tem, em primeiro lugar, um sentido intelectual estrito, mas designa disponibilidade e abertura; implica partilhar os mesmos valores e o estilo de vida de Jesus. A bem-aventurança expressa em nosso texto diz respeito à pessoa de Jesus. Ver os dias do Messias, ver o próprio Messias, foi o desejo de muitos profetas e de todos os que esperavam a realização da promessa de Deus. Para quem ouve Jesus e se deixa envolver por seu ensinamento, o tempo da espera acabou, pois o que eles veem e ouvem é a realização da promessa de Deus e do anseio de todo o povo de Israel que esperava a salvação. O velho Simeão, porta-voz de toda a esperança de Israel, pôde, cheio do Espírito Santo, exprimir muito bem a graça do tempo presente: “Agora, Soberano Senhor, podeis deixar o Vosso servo ir em paz […] porque os meus olhos viram a tua salvação” (Lc 2,29-30).

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Serviço gratuito - 25.07.2014

O nosso evangelho de hoje é a sequência do anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Esse anúncio, de certo modo, desconcerta os discípulos e faz com que eles manifestem desejos contrários aos valores do evangelho de Jesus. Esse desconcerto associado à incompreensão dos discípulos é a causa do pedido da mãe de João e Tiago. A opção livre de seguir Jesus deve ser acompanhada da decisão de renunciar a privilégios e interesses pessoais, assim como a qualquer desejo de recompensa. A mãe dos filhos de Zebedeu postula um lugar de privilégio para os seus filhos no reino de Cristo e a participação deles no “juízo final” de toda a humanidade. A resposta de Jesus, ao contrário, visa à história como lugar do engajamento e do testemunho dos discípulos, e recorda a eles que o ideal do discípulo é ser como o Mestre (Mt 10,24-25). Aos discípulos compete construir uma comunidade caracterizada pelo serviço gratuito e generoso, a exemplo de Jesus que se fez servo de todos. O futuro escatológico está subordinado à decisão de Deus.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Deus respeita profundamente a liberdade do ser humano. - 24.07.2014

À diferença de Marcos e Lucas, em que os discípulos se perguntam sobre o sentido das parábolas (Mc 4,10; Lc 8,9), em Mateus os discípulos perguntam o porquê do ensinamento em parábolas às multidões (v. 10). Por sua própria natureza, a parábola pode ter sentido para os que estão perto de Jesus e para os que estão longe pode ser uma palavra enigmática, incompreensível. Na sua resposta aos discípulos, Jesus faz uma distinção entre eles e as multidões. Aos discípulos é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, isto é, aos iniciados o ensinamento em parábolas os enriquecerá ainda mais, pois os fará entrar plenamente no mistério de Deus. Os discípulos são aqueles que fazem a vontade de Deus (7,21; 12,50), engajando-se no seguimento de Jesus. Eles fazem parte da família de Jesus (12,46-50) e, de dentro, compreendem a palavra de Jesus, que para os outros é incompreensível. Notemos que não se trata de uma distinção pretendida, mas de uma constatação feita. No entanto, essa distinção só existe porque Deus permite. Isso quer dizer que Deus respeita profundamente a liberdade do ser humano.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 22 de julho de 2014

Deus confia na terra, isto é, na humanidade. - 23.07.2014


Jesus é o Mestre que, assentado, tem autoridade para ensinar o povo que se reúne ao redor dele. A “parábola”, um dos recursos do ensinamento de Jesus, não é um retrato fiel da realidade. Ela tem por finalidade esclarecer, ilustrar um conteúdo ou, ainda, exortar a proceder de uma determinada maneira e corrigir certas atitudes. No caso de Mateus, a parábola do semeador figura como a primeira numa sucessão de parábolas caracterizadas como “parábolas do Reino”. Do muito que se poderia dizer dessa parábola, gostaríamos de ressaltar que revela algo de Deus: Deus confia na terra, isto é, na humanidade. Não obstante tantas dificuldades, Deus sabe que a terra um dia produzirá o fruto que Ele espera. Há, no entanto, a possibilidade de a terra não produzir fruto. Essa confiança de Deus em nossa humanidade deve estimular nosso empenho em remover do terreno de nossa vida tudo o que possa impedir a boa semente de produzir o seu fruto. Mas o fruto não aparece de um dia para outro; é preciso um processo.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 21 de julho de 2014

“Eu vi o Senhor”. - 22.07.2014

Maria Madalena, discípula de Jesus, a qual Jesus havia libertado de muitos males (Lc 8,1-3), é agora testemunha de sua ressurreição. O primeiro dia da semana é a unidade de tempo que perpassa os relatos da “aparição do ressuscitado”. A ressurreição não pode ser provada ao modo da ciência. Ela é objeto da fé. A presença do ressuscitado não é evidente nem experimentada imediatamente. Num primeiro momento, Maria Madalena não pôde “ver” o Senhor através dos seus sinais. Isso porque o reconhecimento do Ressuscitado necessita do testemunho e da fé. A tristeza impede de ver com clareza e para além do imediatamente perceptível. O Senhor trata a cada um pessoalmente, por isso sua palavra a Maria Madalena suscita nela a exclamação própria da fé: Rabûni! Maria Madalena entra no mistério de Jesus Cristo ressuscitado; experimenta que o que ela imaginava e a fazia sofrer difere do que ela agora experimenta no encontro com o Senhor: o corpo transfigurado de Jesus pela ressurreição permite encontrá-lo nas mais diferentes situações da existência humana. O encontro de Maria Madalena com o Senhor foi de tal modo profundo que ela pôde dizer: “Eu vi o Senhor”.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 20 de julho de 2014

Os sinais oferecidos por Jesus exigem fé. - 21.07.2014

Para os escribas e fariseus, tudo o que Jesus ensina e os seus atos de poder não são provas da sua identidade messiânica. O que eles pretendem é um sinal visível, entenda-se, fenômenos celestes extraordinários (16,1-4; cf. 4,5-7) que os dispensem da dinâmica própria da fé. Jesus se recusa a ceder à tentação e propõe, na versão mateana, dois outros sinais, baseados no sinal de Jonas. Em primeiro lugar, o sinal de Jonas foi a sua palavra profética ante a qual os ninivitas se converteram. Em segundo lugar, a menção do episódio de Jonas, que passou três dias e três noites no ventre do grande peixe (Jn 2,1), evoca a morte e ressurreição de Jesus. O mistério pascal do Cristo é o sinal, por excelência, da divindade de Jesus. Um e outro sinal oferecidos por Jesus exigem o engajamento da fé. A rainha de Sabá, uma pagã, tendo ouvido falar da fama do rei, de muito longe foi até Salomão para escutá-lo e se admirou de sua sabedoria (1Rs 10,1-13). Ora, como diz nosso texto, Jesus é maior que Salomão. Mas, por detrás dos escribas e fariseus, está toda uma geração “perversa e adúltera”, isto é, infiel e idólatra.
Carlos Alberto Contieri, sj

sábado, 19 de julho de 2014

Por que da criação boa de Deus surgiu o mal? - 20.07.2014

O texto do evangelho é uma sequência de três parábolas, mais a explicação da parábola do joio e do trigo. Todo o texto está situado no capítulo treze de Mateus, que, muitos comentaristas, dizem ser o capítulo central do primeiro evangelho. Esse longo ensinamento em parábolas, às multidões e aos discípulos, visa fazer compreender a natureza do Reino dos Céus, a sua situação neste mundo, o seu desenvolvimento e as exigências que ele impõe aos que aderem a ele. O ensinamento de Jesus em parábolas divide o auditório. Na resposta à pergunta dos discípulos sobre o motivo do ensinamento em parábolas às multidões, Jesus faz uma distinção entre eles e as multidões (Mt 13,10-11). Não se trata de discriminação ou exclusão, mas de uma constatação: há os que aderem ao Reino (os discípulos) e os que o rejeitam. Para os discípulos o ensinamento de Jesus dá acesso ao mistério de Deus; para os outros, ele é um enigma. No entanto, essa distinção só existe porque Deus permite, isto é, Deus respeita profundamente a liberdade do ser humano. O Reino dos Céus cuja realidade Jesus revela só pode ser acolhido na liberdade. As três parábolas supramencionadas têm em comum que exigem um engajamento pessoal. A parábola do joio e do trigo é uma releitura dos três primeiros capítulos do livro do Gênesis. No campo de Deus, ele semeou a boa semente. O campo é o jardim de Deus onde ele colocou o ser humano, para que na comunhão com o seu Criador ele pudesse ser feliz (Gn 2,8-15). A boa semente que se desenvolve e dá fruto é o ser humano que Deus criou à sua imagem e semelhança e colocou em seu jardim. A pergunta do homem de ontem continua sendo a mesma da do homem de hoje: Por que da criação boa de Deus surgiu o mal? Se Deus semeou somente a boa semente do trigo em seu campo, de onde veio o joio? A resposta: o inimigo de Deus e do ser humano foi quem o fez. O trigo que germina no meio do joio parece vulnerável, como a existência humana ameaçada pelo mal. No entanto, aos olhos de Deus, nossa existência é portadora do projeto de Deus e dará fruto no tempo certo. O Reino de Deus sofre violência, neste mundo, e bem e mal estão mesclados no mesmo campo. No entanto, o dono do campo não renuncia à colheita, ele espera pacientemente.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Jesus desperta a vida nas pessoas e o gosto de viver. - 19.07.2014

A interpretação dos fariseus de que Jesus viola o sábado (12,1-8.14-21) está na origem da decisão deles de matá-lo. A condenação injusta de Jesus e a sua morte violenta são consequências de sua vida. Jesus é condenado e morto por fazer o bem, por revelar a face misericordiosa de Deus. A morte de Jesus foi premeditada. No entanto, esse fato não o intimida em prosseguir o seu caminho, nem é capaz de dissuadi-lo da sua determinação de fazer a vontade de Deus. Saindo da sinagoga deles, Jesus continua a despertar a vida nas pessoas e o gosto de viver. Pela citação de um trecho de um dos cânticos do servo sofredor (Is 42,1-4), que diz da vocação e do destino do servo de Deus, convida a comunidade cristã a reler, à luz do mistério de Cristo, essa passagem de Isaías e a compreender que ela diz respeito a Jesus, eleito de Deus, em quem repousa o Espírito de Deus (Mt 3,16-17). A salvação da qual o Senhor é portador não é privilégio de uns poucos nem algo que precise ser conquistado. Ela é dom de Deus e é destinada a toda a humanidade.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - 19.07.2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O sábado é dom de Deus. - 18.07.2014

O relato da controvérsia de Jesus com os fariseus acerca das espigas arrancadas num dia de sábado pertence à tríplice tradição (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5). Há no Pentateuco duas tradições acerca do descanso sabático (Ex 20,8-11; Dt 5,12-15). Seja como for, o sábado é dom de Deus (Ex 16,29). À objeção dos fariseus Jesus responde recorrendo ao exemplo de Davi (1Sm 21,1-10). A necessidade de preservar em boas condições a vida justificou a atitude de Davi. O exemplo de Davi serve de argumento da defesa que Jesus faz de seus discípulos. Jesus é o verdadeiro intérprete da Torá, pois a Lei foi dada para preservar o dom da vida e o dom da liberdade. O sábado não pode representar uma escravidão nem deixar a vida se deteriorar. Fazendo a memória, no sábado, do dom da vida e do dom da liberdade, impõe-se ao fiel fazer o bem e salvar a vida no dia de sábado. Nesse contexto, a citação de Os 6,6 tem por finalidade declarar que os fariseus se equivocam na interpretação do mandamento sobre o sábado e afirmar que a misericórdia tem precedência sobre qualquer outro preceito, pois ela é uma exigência do amor.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Jesus é o sábio que atrai todos a si pois sua Lei é o amor. - 17.07.2014

Este breve trecho do evangelho está inspirado em Eclo 24,19-21. O sábio é aquele que atrai todos a si para instruí-los na Lei do Senhor. Na tradição bíblica, o “jugo”, entre vários significados, sobretudo nos profetas, se refere à Lei (Jr 2,20; 5,5). No capítulo 23 de Mateus, que, em grande parte, é uma crítica aos escribas e fariseus, Jesus diz que pela visão distorcida da Lei eles amarram fardos pesados sobre os ombros dos outros, fardo que, para si, eles não assumem (23,4). Nisso consiste também a hipocrisia deles. A Lei foi dada por Deus ao seu povo para preservar a vida e a liberdade (Dt 30,16). Ela é um caminho para não se cair na escravidão e para se libertar da mentalidade de escravo. Ora, há um modo de interpretar a lei e de exigir que seja posta em prática, representado pelos escribas e fariseus, que tira o ânimo de viver e que, portanto, contraria a finalidade do dom de Deus ao seu povo. Jesus é o sábio que atrai todos a si e cuja Lei é leve e alivia, porque é a Lei do amor; a Lei em que o amor e a misericórdia precedem tudo. O amor, dizemos, é a força da vida; está na origem da vida humana e faz viver. No amor não há “peso”, rancor ou temor.
Carlos Alberto Contieri, sj

terça-feira, 15 de julho de 2014

O lado de fora da casa. - 16.07.2014

O texto do evangelho de hoje não é desprezo de Jesus por sua família. Compreendê-lo assim seria um erro. A visita da família a Jesus é uma ocasião de ensinamento para ele: a sua família, isto é, os membros do povo que ele reúne, é mais ampla do que os membros de sua parentela, pois constituída por aqueles que fazem a vontade do Pai, que está nos céus (v. 50; cf. 7,21). Por duas vezes o texto repete que a mãe de Jesus com alguns irmãos estão do lado de fora da casa (vv. 46-47). Essa observação, que poderia passar despercebida é, a nosso ver, importante: sem participar do círculo dos discípulos, seu ensinamento, seu trabalho incansável e seus gestos parecem loucura e sem sentido. Num texto próprio a Marcos, o evangelista dá a razão pela qual sua família vai procurá-lo para retê-lo: pensavam que ele estava fora de si (Mc 3,20-21). Para poder compreender a missão de Jesus é preciso entrar no círculo de Jesus e situá-la no horizonte do desígnio salvífico de Deus. São Paulo, num texto em que ele procura resolver um problema de divisão interna da comunidade de Corinto, afirma que o modo de agir de Deus confunde o mundo e os que se julgam sábios (1Cor 1,27).

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 14 de julho de 2014

É através da conversão que se tem acesso ao Reino de Deus. - 15.07.2014

Jesus reveste-se do espírito dos profetas nessa invectiva contra as cidades que margeiam o Mar da Galileia. Em certo sentido, essa censura de Jesus às três cidades próximas do mar da Galileia, Corazim, Betsaida e Cafarnaum, revela o seu desalento em relação a elas, pois sua mensagem e suas obras não têm chegado ao coração das pessoas. Essa censura revela um traço importante dos “atos de poder de Jesus”: eles devem conduzir à conversão. Dito de outra maneira, a resposta adequada ao benefício recebido do Filho unigênito de Deus é a conversão. É através da conversão que se tem acesso ao Reino de Deus (Mt 4,17). A menção de Tiro, Sidônia e Sodoma, citadas em contexto de destruição (Is 23,1-12; Jr 25,22; Ez 28,11-23 etc.) serve para enfatizar a gravidade da dureza de coração das três cidades supramencionadas e, através delas, a de todo o Israel. Para o leitor do evangelho é uma exortação: o evangelho deve conduzir a uma verdadeira conversão. A conversão deve ser entendida, aqui, no sentido de Mc 1,15: trata-se apoiar a vida na pessoa e nas palavras de Jesus.
Carlos Alberto Contieri, sj

domingo, 13 de julho de 2014

É a opção livre que divide os que aceitam e os que rejeitam a mensagem do evangelho de Jesus Cristo. - 14.07.2014


Último trecho das instruções que Jesus dá aos Doze para a missão. A primeira frase do nosso texto causa surpresa e, à primeira vista, pode parecer que Jesus estimule a guerra e a divisão. Mas o sentido é totalmente outro. Diz respeito à decisão que cada pessoa deve tomar ante a mensagem de Jesus: pró ou contra. É essa opção livre que divide os que aceitam e os que rejeitam a mensagem do evangelho de Jesus Cristo. É a paz que os discípulos devem comunicar através do anúncio do evangelho e das obras que autenticam a mensagem. Para seguir Jesus é preciso liberdade. Nenhum laço afetivo a pessoas ou coisas pode impedir uma resposta generosa que o chamado de Jesus Cristo impõe. Ao que se dispõe seguir o Senhor é preciso ter presente que a vida do discípulo deve ser marcada pelo despojamento e pela renúncia de qualquer interesse particular, pois deve ser sinal do amor de Deus por todas as pessoas. A identificação do discípulo com o Mestre deve ser tal (cf. Mt 10,24-25) que, acolhendo o discípulo e a mensagem da qual ele é portador, se acolhe o próprio Senhor.

Fonte: Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sábado, 12 de julho de 2014

Por que a Palavra de Deus produz frutos em uns e em outros não? - 13.07.2014

O capítulo cinquenta e cinco do livro do profeta Isaías é o último capítulo do Dêutero-Isaías (40–55), cujos fatos podem ser situados em meados do século VI a.C. O tema central do texto de hoje é a Palavra de Deus, através da qual Ele revela seu plano de salvação. A Palavra de Deus é comparada à chuva que numa terra árida é uma bênção do céu que fecunda e faz germinar a boa semente. A Palavra de Deus realiza o que diz.
O capítulo treze do evangelho segundo Mateus é um discurso em parábolas. Trata-se de uma sucessão de sete ou oito parábolas, dependendo de como se as considere. Costuma-se caracterizá-las como “parábolas do Reino”. O tema que perpassa todas as parábolas é o mistério da acolhida ou rejeição da palavra de Jesus sobre o Reino de Deus. A parábola não é nem tem a pretensão de ser uma descrição fiel da realidade; o mais importante é a mensagem que ela transmite. A parábola do semeador descreve uma atividade bastante comum em Israel, a saber, a semeadura ou plantio. Essa atividade, dada as condições climáticas, impõe superar muitas dificuldades. Cremos poder imaginar que a parábola visava responder à seguinte questão: por que a Palavra de Deus produz frutos em uns e em outros não? Deus faz distinção de pessoas? Se o semeador semeia é para poder fazer uma boa colheita capaz de sustentar a vida de toda a sua família. A prática do semeador narrada na parábola de lançar a semente sem se importar em que terreno é desconcertante e parece contrariar qualquer prática racional de plantio. No entanto, o mais importante é a intenção: Deus oferece a sua Palavra a todos, indistintamente. A partir daí se pode compreender que, em primeiro lugar, a parábola revela algo de Deus: Deus confia na terra, isto é, na humanidade. Não obstante tantas dificuldades, Deus sabe que a terra produzirá fruto. E se de tudo a terra não produzir fruto, não será pela falta de fé de Deus em nossa humanidade. Essa confiança de Deus em nossa humanidade deve estimular nosso empenho em remover do terreno de nossa vida tudo o que possa impedir a boa semente de produzir o seu fruto. Tenhamos presente, no entanto, que o crescimento da semente necessita de tempo, de cuidados, ele depende de um processo para produzir frutos.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O medo é contrário à fé. – 12.07.2014


Como parte do discurso sobre a missão cristã (c. 10), o início da nossa perícope apresenta o ideal do discípulo de Jesus Cristo: a configuração da vida ao Senhor. Trata-se da dependência radical do servo ao seu Senhor; dependência que não é subserviência, mas aceitação livre de ser como o Mestre, que se fez servo de todos. A vocação cristã é vocação para o serviço gratuito e generoso a Deus e aos irmãos. A comunhão e a identificação que caracterizam a relação do Pai e do Filho, devem caracterizar também a relação do discípulo com Jesus (Jo 14,10-11; 15,9-10). Essa comunhão liberta do medo que inibe a proclamação tipicamente cristã, cujo conteúdo é a vitória de Cristo sobre o mal e a morte. O medo, nós o sabemos, é contrário à fé. Somente enfrentando e vencendo o medo é que discípulo será livre para, inclusive, entregar a própria vida por amor de Deus. Sem desapegar-se da própria vida, não é possível viver a existência em Cristo nem, por isso, se deixar conduzir pelo Espírito de Cristo. A missão dos discípulos, não o esqueçamos, é tornar pública e prolongar na história a mensagem de Jesus (vv. 26-27).

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O discípulo não é maior que o Mestre. - 11.07.2014

Trata-se da continuação das orientações para a missão. Jesus previne os seus discípulos acerca da hostilidade que a missão pode sofrer. O próprio Jesus viveu a resistência por parte de seus contemporâneos, foi vítima de calúnias e mentiras, padeceu a rejeição e o abandono até ser condenado e morto injustamente. O discípulo não é maior que o Mestre. É indispensável estar atentos e preparados porque a resistência e a hostilidade não vêm somente de fora, mas também de dentro da comunidade, inclusive da própria família. É por causa de Jesus, em razão de seu seguimento, que os discípulos são perseguidos e tratados, muitas vezes, com hostilidade. Mas é o preço do testemunho autêntico. Na realização da missão é preciso prudência e simplicidade; é fundamental a confiança na presença permanente do Senhor (Mt 28,20). É necessário deixar Deus ser Deus, pois o Espírito que habita o coração dos fiéis é que inspirará, em cada momento, a atitude e as palavras que convêm. Nenhuma perplexidade deve dominar ou paralisar os que são enviados pelo Senhor em missão. A confiança é o sustento da vocação do discípulo de todos os tempos.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O dom recebido de Deus deve ser oferecido gratuitamente. – 10.07.2014

As orientações dadas aos discípulos pode-se vê-las realizadas na própria pessoa de Jesus. Essas instruções visam à continuidade entre a missão de Jesus e a dos discípulos. O anúncio da proximidade do Reino de Deus é autenticado por uma prática que liberta as pessoas do mal. A expressão “pecadores de homens” presente no relato da vocação dos primeiros discípulos define nessa perspectiva a missão deles (Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11). O dom recebido de Deus deve ser oferecido gratuitamente. Esse dom é o Espírito Santo, através de quem nos é dado todos os bens celestes para que a nossa existência terrestre seja repleta do que é do céu. Não se trata de alienação, mas para nós cristãos a vida em Deus é a condição de construirmos juntos um mundo fraterno e justo, sem rancor, ódio ou vingança. A missão deve ser vivida na confiança em Deus, pois a vida do discípulo está nas mãos de Deus. A segurança dos discípulos não está em nenhum bem deste mundo, mas em Deus somente. É preciso, sem deixar o empenho pessoal exigido, confiar na providência divina e viver cada dia sem se preocupar com o amanhã.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

terça-feira, 8 de julho de 2014

Pouco a pouco o evangelho vai se abrindo para os pagãos. – 09.07.2014

Ante a necessidade ingente da missão (9,37), Jesus dá aos doze discípulos que ele envia o seu próprio poder. Em primeiro lugar, é preciso compreender que a missão é de Jesus e que os discípulos são seus colaboradores. Nossa missão como cristãos é colaboração na missão de Cristo. Daí a necessidade de bem compreender, através dos evangelhos, aquelas passagens em que Jesus mesmo explicita sua missão. Em segundo lugar, é fundamental ter presente que o poder conferido pelo Senhor aos seus discípulos não está relacionado a um cargo, mas à condição mesma de discípulo. Trata-se, aqui, do Espírito Santo; ele é o poder de Deus dado para a missão (cf. At 1,8). Esse poder de Deus que faz falar (At 2,1-11) e agir à imitação de Cristo é dom de Deus. A lista com o nome dos doze Apóstolos não tem por finalidade limitar a missão a eles, mas dizer à Igreja do futuro que a missão tem de estar enraizada no testemunho daqueles que foram testemunhas oculares de tudo o que Jesus fez e ensinou. Por razões apologéticas, Mateus retém a observação de que o anúncio da proximidade do Reino de Deus deve ser feito em primeiro lugar, mas não exclusivamente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pouco a pouco o evangelho vai se abrindo para os pagãos.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Por onde passa, o Senhor suscita a vida e o gosto de viver. – 08.07.2014

A impressão que o evangelho nos deixa é que os dias de Jesus eram marcados por oração, encontros, atividades, deslocamentos de um lugar para o outro (Mc 3,20-21). Depois da cura de dois cegos (vv. 27-31), vem a cura do mudo seguida de um sumário. O termo grego kofós pode significar incapacidade de falar, incapacidade de ouvir ou ambas as coisas, o que parece ser o caso do nosso texto, pois se diz que, curado, o homem começou a falar (v. 33). Para a mentalidade da época, a mudez é atribuída a um demônio; por isso, a cura é precedida de um exorcismo. A cura do mudo é sinal dos tempos messiânicos (Is 35,5-6). O mal, de fato, impede de falar e de falar bem, assim como impede de escutar o Verbo de Deus. Chama a atenção o contraste entre a reação da multidão e a dos fariseus. Enquanto a multidão reconhece a novidade e o surpreendente do acontecido na cura do mudo, os fariseus, ícones da resistência a Jesus, afirmam que em Jesus não há nada de novo, ao contrário, ele é, na visão deles, instrumento de satanás. Jesus é um Messias itinerante. Por onde passa, o Senhor suscita a vida e o gosto de viver.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

domingo, 6 de julho de 2014

É pela fé que se recebe a vida como dom. – 07.07.2014

Com variações próprias de cada evangelista, o nosso evangelho de hoje pertence à tríplice tradição. Entre a súplica do chefe da sinagoga, que é uma verdadeira profissão de fé, e a chegada à casa dele, há o relato da cura da mulher que, há doze anos, sofria com uma hemorragia. Para o imaginário religioso do mundo bíblico, perder sangue equivale a perder a vida, que é dom de Deus. Ao contrário de Marcos e Lucas, Mateus não menciona que a mulher tocou nas vestes de Jesus. O desejo dela será suficiente para que Jesus a declare curada. A fé dela não foi a causa da cura, mas a condição para receber a vida do Senhor e reconhecer a recuperação da vida como dom. Não podemos nos dar a vida; nós a recebemos gratuitamente de Deus. É pela fé que se recebe a vida como dom. Ao chegar à casa do chefe da sinagoga, Jesus já encontra o ambiente fúnebre. Para os cristãos que nasceram pela fé no Cristo ressuscitado, os ritos fúnebres perderam completamente o sentido (1Ts 4,13-14), pois a morte era comparada ao sono. Jesus é quem toma a iniciativa de pegar a menina pela mão, para despertá-la do sono. É o Senhor da vida que, ressuscitado, faz a nossa humanidade participante da sua vitória. É ele que nos desperta do “sono” para o dia da feliz ressurreição.

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sábado, 5 de julho de 2014

É Jesus quem revela o Pai. – 06.07.2014

O profeta Zacarias viveu no século VI a.C., depois do retorno a Judá dos exilados na Babilônia. O livro que leva o nome do profeta Zacarias tem, ao todo, quatorze capítulos. No entanto, o livro não pertence a um mesmo autor. Duas ou mais mãos o escreveram. É geralmente aceito que os oito primeiros capítulos pertencem ao profeta e o restante a outro ou vários outros autores. Os dois versículos de nosso texto falam da volta vitoriosa e triunfante do rei à sua cidade, Jerusalém. Não se trata de um monarca da descendência davídica. O rei de que se fala nesses versículos é o próprio Deus que combate em favor do seu povo, destruindo todos os instrumentos de guerra e violência para selar a paz entre todas as nações.
Teria sido, em certo sentido, surpreendente para Jesus experimentar que aqueles que se diziam sábios, conhecedores e intérpretes da Palavra de Deus fossem os que lhe fizessem oposição, engajando-se em fazê-lo perecer. O contexto da perícope de hoje é a crítica de Jesus às cidades vizinhas ao Mar da Galileia que, beneficiadas pelo ensinamento e pelos atos de poder de Jesus, não se converteram, não se abriram ao sopro de sua palavra nem aderiram à sua pessoa. O hino de louvor de Jesus dirigido ao Pai é uma clara oposição a essas cidades que não se converteram. O que é escondido aos que se pretendem sábios e entendidos e o que é revelado aos “pobres de espírito”? O que está dito no v. 27 pode ser compreendido nesses termos: é Jesus quem revela o Pai. Somente quem se abre para reconhecer e aceitar Jesus como enviado do Pai é que pode conhecer a relação filial que une profundamente Jesus e Deus (cf. Jo 14,10-11; Cl 1,15). Jesus é não somente o Sábio, mas a “Sabedoria de Deus” que atrai todos a si e os instrui na Lei que o Senhor deu ao povo para preservar o dom da vida e da liberdade. O evangelho de hoje termina com um convite de Jesus àqueles que ainda estão fora do grupo dos seus discípulos. O “jugo” (ou fardo) era uma peça de madeira colocada sobre o pescoço do animal para equilibrar o peso que ele carregava. Na tradição bíblica, entre outros significados, ele se refere à Lei (Jr 2,20; 5,5). Jesus critica os escribas e fariseus por amarrarem pesados fardos sobre os ombros dos outros (Mt 23,4). Há um modo de interpretar a Lei e de pô-la em prática que tira a alegria e a vida, como se fosse um enorme peso a carregar. Ora, a Lei de Deus é para a vida e a liberdade, ela é um caminho para a vida e a felicidade (cf. Dt 30,16). Jesus, manso e humilde, se oferece para aliviar tal peso. A lei do Senhor é a lei do amor (Jo 15,12). No amor não há temor nem amargura.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

sexta-feira, 4 de julho de 2014

O jejum recebe, no novo tempo, um sentido cristológico. – 05.07.2014

Qual jejum é objeto da controvérsia? É difícil imaginar que se trate do jejum prescrito pela Lei por ocasião da festa do perdão dos pecados (Lv 16,29-31; 23,27-32). É bastante provável se tratar das práticas devocionais do partido dos fariseus que eles visavam impor como obrigatórias para todo o povo. Dos fariseus nós sabemos que eles jejuavam duas vezes por semana (Lc 18,12), mas da prática dos discípulos de João não temos nenhuma informação. Seja como for, a resposta de Jesus situa a questão noutra perspectiva. Na plenitude dos tempos (Gl 4,4) a questão do jejum encontra seu sentido em referência à presença ou ausência do Messias. A imagem da festa de casamento para simbolizar os tempos messiânicos é atestada no Antigo Testamento (Is 61,10; 62,5). Ainda que a metáfora do Messias como esposo não se encontre nos textos veterotestamentários, a ideia que essas imagens transmitem é o que importa: as práticas penitenciais devocionais para apressar a vinda do Messias são obsoletas, pois ele já se encontra presente. O jejum recebe, no novo tempo, um sentido cristológico: quando o Messias for tirado, referência à morte de Jesus, aí será o tempo de jejuar. Para essa novidade é que as duas parábolas (vv. 16-17) são convites a se abrir.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Jesus vai onde estão os pecadores para encontrá-los . – 04.07.2014

“Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores para que se convertam” (Lc 5,32). Ninguém está excluído da salvação, desde que a aceite como dom e livremente. A missão de Jesus é para aqueles que precisam de médico (v. 12; Lc 5,31; Ex 15,26; Jr 8,22). Mateus, chamado por Jesus, é publicano e, como tal, considerado impuro pelo simples fato de sua profissão. O texto da língua original, ao contrário da tradução em vernáculo acima, não deixa claro se a refeição foi na casa de Mateus, ao contrário de Marcos e Lucas, que o dizem explicitamente (Mc 2,15; Lc 5,29). Aqui, no texto de Mateus, tem-se a impressão de que Jesus acolhe na sua própria casa os coletores de impostos e pecadores (v. 10). Talvez seja uma ambiguidade intencional: Jesus vai onde estão os pecadores para encontrá-los (Lc 15) e os pecadores são recebidos no Reino de Deus por Jesus. A citação de Oseias 6,6, ao mesmo tempo que descortina o mal dos que criticam a atitude de Jesus de acolher os pecadores, apresenta a misericórdia como objeto do desígnio de Deus para todo o povo. O sacrifício de nada serve se ele não ajudar a pessoa a ser “misericordiosa como Deus é misericordioso” (Lc 6,36).

Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Tomé não crê no testemunho dos discípulos. – 03.07.2014

Costumou-se, entre nós, rotular Tomé de o homem da dúvida, teimoso ou incrédulo. Mas a compreensão do relato de Tomé não pode ser prisioneira da tradição popular que, ainda que legítima, não faz jus à riqueza da perícope. Cremos que a seguinte pergunta pode nos ajudar a entrar na mensagem pretendida pelo autor do relato: Como se chega à fé em Jesus Cristo ressuscitado dentre os mortos? Tomé não crê no testemunho dos discípulos que fizeram a experiência de que Jesus ressuscitado estava presente no meio deles. Tomé tinha a pretensão de chegar à fé por si mesmo. Aí reside, de fato, o problema, pois a fé é, essencialmente, testemunho. Por isso, o Senhor repreende Tomé e, por ele, o seu Gêmeo, isto é, a comunidade cristã (vv. 27-29). É através do testemunho que se chega à fé e que se pode experimentar os frutos da ressurreição do Senhor. A fé é tradição e, como tal, supõe o dinamismo de recepção e transmissão. Dito em outras palavras, é preciso dar crédito ao testemunho para poder experimentar o que ele transmite.

Fonte Paulinas

terça-feira, 1 de julho de 2014

Jesus é proclamado vitorioso sobre o mal. – 02.07.2014

Toda a cena se desenvolve num ambiente de impureza: a região pagã dos gadarenos, os dois homens violentos dominados por espíritos impuros, a menção dos túmulos, mortos e porcos. O mal, ou os muitos males, que, por vezes, habita o ser humano, desfigura-o. Expulsando e dominando os espíritos impuros, Jesus é proclamado vitorioso sobre o mal e todas as suas manifestações. Até mesmo a pagãos a salvação de Jesus é realizada.


Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas