terça-feira, 31 de maio de 2016

IX Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 01.06.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
IX Semana - Quarta-feira

Lectio

Primeira leitura: 2 Timóteo 1, 1-3.6-12

1Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por desígnio de Deus, segundo a promessa de vida que há em Cristo Jesus, 2a Timóteo, meu filho querido: graça, misericórdia e paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. 3Dou graças a Deus, a quem sirvo em consciência pura, como já o fizeram os meus antepassados, ao recordar-te constantemente nas minhas orações, noite e dia. 6Por isso recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, 7pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso. 8Portanto, não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. 9Ele salvou-nos e chamou-nos, por santo chamamento, não em atenção às nossas obras, mas segundo o seu próprio desígnio e a graça a nós concedida em Cristo Jesus, antes dos séculos eternos, 10e agora revelada na manifestação do nosso Salvador, Cristo Jesus, que destruiu a morte e irradiou vida e imortalidade, por meio do Evangelho, 11do qual eu próprio fui constituído arauto, apóstolo e mestre. 12Por este motivo é que suporto também esta situação. Mas não me envergonho, pois sei em quem acreditei e estou persuadido de que Ele tem poder para guardar, até àquele dia, o bem que me foi confiado.

Quando escreve esta carta, Paulo encontra-se preso em Roma, e já antevê a sua morte próxima. Ela tem, pois, o sabor de um testamento espiritual.
Depois de endereçar a carta ao seu discípulo predilecto, o Apóstolo exorta-o a lutar e a sofrer pelo Evangelho, que é «promessa de vida em Cristo Jesus» (v. 1), «que destruiu a morte e irradiou vida e imortalidade» (v. 10). Paulo é um homem escolhido por Deus para levar ao mundo este Evangelho da vida, não com um Espírito «de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso» (v. 7). O mundo não lhe perdoará, e irá privá-lo da liberdade. Mas Paulo não se envergonha das suas cadeias, e incita Timóteo à mesma atitude. É o preço do testemunho da fé, da vocação santa, da graça oferecida em Cristo Jesus e agora revelada no mistério da sua incarnação. As cadeias são sinal da liberdade nova que nasce da fé em Cristo e da confiança na sua fidelidade até ao último dia, quando a vida vencer a morte. Provavelmente, a comunidade de Timóteo estava ameaçada por perseguições. Mas os cristãos, e em particular aquele que foi ordenado, hão-de ser lutadores e dirigentes corajosos, evitando a prudência segundo a carne.


Segunda leitura: Marcos 12, 18-27

Naquele tempo, 18vieram ter com Ele os saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: 19«Mestre, Moisés prescreveu-nos que se morrer o irmão de alguém, deixando a mulher e não deixando filhos, seu irmão terá de casar com a viúva para dar descendência ao irmão. 20Ora havia sete irmãos, e o primeiro casou e morreu sem deixar filhos. 21O segundo casou com a viúva e morreu também sem deixar descendência, e o mesmo aconteceu ao terceiro; 22e todos os sete morreram sem deixar descendência. Finalmente, morreu a mulher. 23Na ressurreição, de qual deles será ela mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.» 24Disse Jesus: «Não andareis enganados por desconhecer as Escrituras e o poder de Deus? 25Quando ressuscitarem de entre os mortos, nem eles se casarão, nem elas serão dadas em casamento, mas serão como anjos no Céu. 26E acerca de os mortos ressuscitarem, não lestes no livro de Moisés, no episódio da sarça, como Deus lhe falou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? 27Não é um Deus de mortos, mas de vivos. Andais muito enganados.»


Os saduceus, frios e calculistas, querem desfazer-se de Jesus, que consideram um homem perigoso, mas não perdem a calma. Limitam-se a procurar meter Jesus a ridículo diante do povo, levando até ao absurdo as suas ideias sobre a ressurreição. Jesus aproveita para apresentar correctamente o sentido da vida para além da morte.
No tempo de Jesus, eram várias as posições diante do tema da ressurreição: os saduceus negavam-na; os rabinos fariseus afirmavam-na, mas com uma certa liberdade interpretativa: ressuscitariam só os justos, ou só os Judeus, ou todos os homens, os ressuscitados voltariam à sua corporalidade original, incluindo as enfermidades; os helenistas pagãos, influentes quando Marcos escreve o seu evangelho, preferiam falar da imortalidade do espírito, capaz de sobreviver por si mesmo ao corpo, e de se libertar da prisão. Jesus responde a todos, pondo no centro a verdade do amor de Deus: se Deus ama o homem, não pode abandoná-lo ao poder da morte, mas há-de uni-lo a Si, fonte de vida, tornando-o imortal.
Como será a vida além-túmulo? Para Jesus, será uma vida que escapa aos esquemas do mundo presente: será divina, eterna, comparável à dos anjos, de tal modo que o matrimónio e a reprodução serão supérfluos. Não será um prolongamento desta vida, mas uma existência nova, resultante de uma misteriosa transformação, fruto da fidelidade do Eterno, que envolverá o homem todo, e não só o espírito.


Meditatio

Hoje, começamos por escutar a exortação de Paulo a Timóteo: «Recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso» (vv. 6-7). Esta exortação é também para nós. Há que ter ideias grandes sobre Deus, que é magnânimo, que fará grandes coisas por nós, tal como as fez por Paulo, prisioneiro em Roma, e por Timóteo. Se o «dom», que Paulo recomenda reavivar a Timóteo, é um carisma sacerdotal, todos nós recebemos a graça da vocação cristã, os dons de Cristo, que não devemos pensar de modo humano, como os fariseus pensavam na ressurreição. São dons no Espírito que havemos de não deformar, mas renovar com o auxílio do Espírito. Por isso, é que convém varrer da nossa mente todas as ideias mesquinhas sobre a vida em Cristo, e conformar os nossos pensamentos à magnanimidade, ao amor, ao poder glorioso de Deus, com humildade e com esperança.
O cristianismo é o evangelho da vida. A vida é a boa nova que o cristão anuncia a um mundo cada vez mais mergulhado numa cultura de morte. Só quem acredita em Cristo pode falar de uma vida que venceu a morte, e acreditar na imortalidade. E tem de fazê-lo, sem medo nem timidez, graças ao Espírito de força e de amor que lhe foi dado, como Paulo o fez em Roma, pouco antes da sua morte violenta. O cristão não é dispensado do drama do sofrimento nem da derrota da morte. Mas, é mesmo nessa experiência, das profundezas do abismo, que anuncia a esperança da vida que não morre. Lembremos as palavras de Bento XVI na encíclica Spe salvi sobre o modo como Santa Josefina Bakhita, raptada aos nove anos pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão, e finalmente comprada, em 1882, por um comerciante italiano para o cônsul Callisto Legnani, chegou à esperança cristã. Em casa do cônsul, Bakhita acabou por conhecer um «patrão» totalmente diferente dos anteriores, isto é o Deus vivo, o Deus de Jesus Cristo. Soube que esse Senhor também a conhecia, a tinha criado e a amava. Mais ainda, soube que esse Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela «à direita de Deus Pai». E assim nasceu nela a «esperança», a grande esperança, que vinha de ser definitivamente amada e esperada por esse Amor. E, então, deixou de se sentir escrava, passando a sentir-se livre filha de Deus (cf. Spe salvi 3).
Nesta santa como que se tocam dois abismos: o da fragilidade humana e o do poder divino, como aconteceu em Jesus crucificado. Por isso, tal como Deus Pai ressuscitou o Filho, também há libertar das cadeias da morte todo aquele que não se envergonhar do Evangelho da Vida. De facto, não é um «Deus de mortos, mas de vivos» (v. 27).
«Na Igreja, fomos iniciados na Boa Nova de Jesus Cristo: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem" (1 Jo 4,16). Recebemos o dom da fé que dá fundamento à nossa esperança» (Cst 9).


Oratio

Senhor, Tu és o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob. Tu é o Deus que ama a vida. Tudo existe e subsiste em Ti. Sem Ti, eu seria nada. Mas como és, e estás comigo, vibra em mim um frémito de eternidade. Eu Te bendigo, porque venho de Ti, vivo por Ti, e vou para Ti. Que eu saiba proclamar sempre a tua glória, e jamais me envergonhe do Evangelho ou tenha medo das incompreensões e recusas que a sua proclamação me pode acarretar. Dá-me a coragem de Paulo, que, mesmo agrilhoado, proclama o Evangelho da vida. Reaviva em mim o teu dom para que, também eu, seja um livre prisioneiro de Cristo, deixando-me amarrar eternamente pelas cadeias daquele amor divino que venceu a morte. Amen.


Contemplatio

Nosso Senhor dá-nos o exemplo. Aceita as perseguições, as zombarias, as calúnias, para nos consolar nas nossas provações, para nos encorajar e para nos ensinar também que a paciência tem diante de Deus um grande valor. «A paciência, diz S. Paulo, é a provação, mas a provação prepara a esperança» (Rom 5,4).
Nosso Senhor quis ser julgado e condenado e sucumbir vítima da justiça humana, para nos ensinar o desprezo das acusações falsas, das zombarias, dos juízos falsos e temerários. São tantas provas que se tornam também esperanças e fontes de graças, se as suportarmos em espírito de fé.
O «seja crucificado» de Jesus, é a minha salvação, obtida pela sua paciência, pelos seus sofrimentos, pelas suas expiações, pelo amor do seu Coração. O «seja crucificado» da minha má natureza, é ainda a salvação obtida pelo sacrifício, pela mortificação, pela paciência. Agradeço a Nosso Senhor, pela sua adorável paciência, que é para mim a salvação e o exemplo a seguir (Pe. Dehon, OSP 3, p. 347s.).


Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos» (Mc 12, 27).


| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Visitação da Nossa Senhora - 31.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
A Festa de Visitação começou a ser celebrada no século XIII, pelos Franciscanos. Bonifácio IX (1389-1384) introduziu-a no calendário universal da Igreja. Tradicionalmente celebrada a 2 de Julho, a festa foi antecipada pelo novo calendário para o dia 31 de Maio, ficando assim entre a Solenidade da Anunciação (25 de Março) e o Nascimento de João Batista (24 de Junho). Depois da Anunciação, Maria foi visitar a prima Isabel, partilhando com ela a alegria que experimentava perante as “maravilhas” n´Ela operadas pelo Senhor. Impele-a também a essa visita a sua caridade feita disponibilidade e discrição. Para Lucas, Maria é a verdadeira Arca da Aliança, a morada de Deus entre os homens. Isabel reconhece esse fato e reverencia-o. Toda a visitação de Maria é um acontecimento de Jesus.



Lectio
Primeira leitura: Sofonias 3, 14-18
Rejubila, filha de Sião,solta gritos de alegria, povo de Israel! Alegra-te e exulta com todo o coração, filha de Jerusalém!15O Senhor revogou as sentenças contra ti, e afastou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti. Não temerás mais a desgraça. 16Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião! Não se enfraqueçam as tuas mãos! 17O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa, 18como nos dias de festa.»
O reinado de Josias (séc. VI a. C.) foi marcado por permanentes infidelidades de Israel a Deus. O povo, esquecendo a Aliança com Deus, fazia alianças humanas e deixava-se levar pelas modas, cedendo ao culto de deuses estrangeiros. Perante esta situação, Sofonias ergue a voz para proclamar “o dia terrível de Javé” em que o pecado dos povos, também de Judá, seria manifestado e julgado. Mas o profeta sabe que o juízo de Deus é sempre um convite à conversão. Assim, abre uma perspetiva de luz e de esperança. A “filha de Sião” deve alegrar-se com a perspetiva desse dia (cf. 16b), o dia messiânico, dia de misericórdia e de um amor novo entre Deus e o seu povo. A presença de Deus entre o seu povo será motivo de renovada esperança, porque Deus é “poderoso salvador” (v. 17).


Evangelho: Lucas 1, 39-56
Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome.50A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.51Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.52Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.54Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,55como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.
Maria e Isabel acolhem em si a ação de Deus. Maria acolhe-a de modo ativo, dando o seu consenso. Isabel acolhe-a de modo passivo. Ambas experimentam a ação poderosa do Espírito Santo. Isabel tem no ventre o Precursor. Graças a essa presença, pode já indicar, na Mãe, o Filho e proclamar bendita Aquela que “acreditou” (v. 45). Maria responde ao cântico de Isabel com o Magnificat, que revela a ação poderosa de Deus nela, aquela ação que realiza as promessas feitas a Abraão e à sua descendência. O Magnificat é a primeira manifestação pública de Jesus, ainda escondido, mas atuante naqueles que, como Maria, o acolhem na fé e com amor.


Meditatio

Maria ensina-nos a acolher o Senhor. Acolhe-o com louvor: “A minha alma glorifica o Senhor!” Assim fizera David que acolheu a Arca de Deus com exultação e a colocou na sua cidade, Jerusalém, no meio do júbilo do seu povo.
Como David e, sobretudo, como Maria, precisamos de acolher a Deus e dar-lhe o lugar a que tem direito na nossa vida. Somos pequenos e fracos, é certo. Mas Deus chama-nos a acolhê-lo, a recebê-lo em nossa casa com alegria e disponibilidade. Não podemos deixá-lo à porta. Não podemos recebê-lo continuando fechados nas nossas preocupações, nos nossos interesses mais ou menos egoístas. Não podemos receber a Deus como se recebe alguém que vem negociar connosco, ou como se recebe um fornecedor, um cobrador, ou um qualquer serviçal. Há que recebê-lo com a honra a que tem direito, com alegria, com cânticos de júbilo, com exultação. Maria acolheu o Senhor, não para ser servida, mas para servir. Acolheu-o cantando: “A minha alma glorifica o Senhor!”. Maria e Isabel ensinam-nos também a acolher os outros. Para acolher alguém, precisamos de sair de nós mesmos. Maria saiu fisicamente de sua casa e deslocou-se à montanha da Judeia para visitar Isabel. Isabel, para acolher a Maria, saiu de si mesma e reconheceu, na jovem mulher que a visitava, a Mãe do seu Senhor. Maria acolhera a palavra do Anjo acerca da prima e foi visitá-la como a alguém abençoado pelo Senhor. Acolher uma pessoa é sempre acolher aquilo que Deus realiza nessa pessoa, acolher a sua vocação profunda.
Peçamos a Maria que, como o Pe. Dehon, e no seu “seguimento”, saibamos contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo (cf. Souvenirs XI). Um sinal dos tempos muito apreciado, pelos crentes e pelos não crentes, é a solidariedade com os carenciados, sejam eles da nossa família ou vivam mais perto ou mais longe de nós. O mesmo se diga da ajuda aos povos em vias de desenvolvimento, muitas vezes atormentados pela fome, causada por guerras crónicas ou por catástrofes e calamidades naturais (Cf. A.A., n. 14).


Oratio

Senhor, hoje, quero rezar-te com o P. Dehon: “A minha alma glorifica o Senhor por todos os seus benefícios: pela sua vinda na Incarnação, pelos seus ensinamentos luminosos, pela efusão do seu sangue, pela instituição da Eucaristia, pelo dom do seu Coração, sobretudo, e pelas graças pessoais com que me cumula todos os dias.” (OSP 3, p. 22s.)
Contemplatio

Maria entoa o cântico de ação de graças que ficará como expressão de ação de graças de todos os filhos de Deus. Como dizer o enlevo do seu Coração? Ela atribui tudo à glória de Deus, esquecendo-se de si mesma. É o sentido de todo o cântico. Foi Deus quem fez nela grandes coisas. É a obra da sua misericórdia. Veio no poder do seu braço para humilhar os soberbos e para levantar os pequenos. Veio despojar os que se agarravam aos bens da terra e enriquecer com os seus dons os que estavam em necessidade. – Veio cumprir as promessas feitas aos patriarcas. Em todo este mistério da Visitação transbordam a caridade do Coração de Jesus que derrama as suas graças sobre aqueles que visita, e o humilde reconhecimento do coração de Maria, que nos ensina a dizer a Deus toda a nossa gratidão atribuindo-lhe fielmente todo o bem que opera em nós, seus pobres servidores bem humildes e bem pequenos. O Magnificat servir-nos-á de cântico de ação de graças para agradecermos ao Sagrado Coração de Jesus as suas visitas e a sua permanência em nós pela Eucaristia e pela graça. (Leão Dehon, OSP 3, p. 22).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
“A minha alma glorifica o Senhor” (Lc 1, 46).


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Visitação da Virgem Santa Maria (31 Maio)
Fonte http://www.dehonianos.org/

domingo, 29 de maio de 2016

IX Semana - Segunda-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 30.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
IX Semana - Segunda-feira
Lectio

Primeira leitura: 2 Pedro 1, 2-7

Caríssimos, 2a graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso. 3O divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas que contribuem para a vida e a piedade. 4Com elas, teve a bondade de nos dar também os mais preciosos e sublimes bens prometidos, a fim de que - por meio deles - vos torneis participantes da natureza divina, depois de vos livrardes da corrupção que a concupiscência gerou no mundo. 5Por este motivo é que, da vossa parte, deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude; à virtude o conhecimento; 6ao conhecimento a temperança; à temperança a paciência; à paciência a piedade; 7à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade.

Em princípios do século II, a Igreja debatia-se com os gnósticos, que pensavam que o homem pode conseguir tudo por si mesmo, inclusivamente a salvação. A Segunda Carta de Pedro começa com uma afirmação peremptória: Jesus é a única causa de salvação do homem. É a comunidade petrina que fala a todos os crentes em Cristo, «àqueles a quem coube em sorte, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé tão preciosa como a nossa» (v. 1). Esses crentes, com a fé preciosa, também receberam aquela graça e paz, que agora, em Cristo ressuscitado, os tornam «participantes da natureza divina» (v. 4). O cristão é aquele que toma consciência do dom recebido, com inteligência e afecto, ou com um «conhecimento» pleno e grato, como insinua o nosso texto, pelo menos três vezes. Com efeito, o verdadeiro cristão, sentindo-se um predilecto de Deus, decide ser coerente com a graça que actua nele, uma graça mais forte do que a «corrupção que a concupiscência gerou no mundo» (v. 4). E o autor da nossa Carta aponta sete virtudes, a juntar à fé, e que hão-de distinguir o cristão: a virtude, o conhecimento, a temperança, a paciência, a piedade, o amor aos irmãos, a caridade cf. vv. 5-7). O princípio de toda a virtude é a «fé». A «virtude» é a atitude constante, que dá coragem nas dificuldades; o «conhecimento» é a abertura da mente ao esplendor da verdade; a «temperança» é o autodomínio, fruto da participação na vitalidade do Ressuscitado; a «paciência» não é simples resignação, mas força nas provações e resistência às oposições externas; a «piedade» é a relação com Deus, verdadeiro centro e coração da vida dos crentes; o «amor fraterno» é fruto da intimidade afectuosa com Deus Pai; deste amor, chega-se à «caridade», ao amor total e iluminado, meta do caminho do crente.


Segunda leitura: Marcos 12, 1-12

Naquele tempo, 1Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e construiu uma torre. Depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. 2A seu tempo enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles parte do fruto da vinha. 3Eles, porém, prenderam-no, bateram-lhe e mandaram-no embora de mãos vazias. 4Enviou-lhes, novamente, outro servo. Também a este partiram a cabeça e cobriram de vexames. 5Enviou outro, e a este mataram-no; mandou ainda muitos outros, e bateram nuns e mataram outros. 6Já só lhe restava um filho muito amado. Enviou-o por último, pensando: ‘Hão-de respeitar o meu filho’. 7Mas aqueles vinhateiros disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa’. 8Apoderaram-se dele, mataram-no e lançaram-no fora da vinha. 9Que fará o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros. 10Não lestes esta passagem da Escritura:A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. 1Tudo isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?» 12Eles procuravam prendê-lo, mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o, retiraram-se.

A alegoria usada por Jesus só se percebe se tivermos em conta o «cântico da vinha», que lemos em Is. 5, e o seu contexto histórico, isto é, a recusa da salvação pelos chefes de Israel, os «agricultores», que matam os profetas. Deus é o dono da vinha e o construtor do edifício, que é Israel. Surpreendentemente, aparece como «estrangeiro» no meio do povo de Israel. Deus não está vinculado às vicissitudes de um povo. Confiou uma tarefa aos responsáveis pela vinha israelita e foi-se embora, porque está noutro lado… Os servos são os numerosos profetas e homens de Deus enviados ao longo da história do povo escolhido. O filho recusado e morto, mas depois tornado pedra angular, é Jesus. A alegoria faz tocar os extremos: o amor de Deus Pai, que envia o seu Filho, e a recusa do chefes de Israel, que O matam.
À volta de Jesus, e do mistério da sua morte e ressurreição, hoje, como no passado, decide-se, para cada um de nós, o acolhimento ou a recusa da salvação. Não há direitos de progenitura, ou de eleição preferencial, que nos valham. O pretenso monopólio dos israelitas sobre a salvação está votado ao fracasso: «O dono regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros» (v. 9). O importante é que, no confronto com Jesus e com o seu mistério pascal, nos abramos a Ele, livre e responsavelmente, para sermos salvos. E Deus premiará a nossa coragem.


Meditatio

Na Segunda Carta de Pedro, o cristão é aquele que toma consciência do dom recebido, e o faz com inteligência e afecto, ou com um «conhecimento» pleno e grato, como insinua o nosso texto, pelo menos três vezes: «a graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso»(v. 2);«o divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas…»(v. 3); «deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento ao conhecimento a temperança»(v. 5). A consciência é graça a que devemos estar abertos, e que exige renúncia às paixões, pureza de coração, disponibilidade para Deus, que nos tornou participantes da sua natureza, «participantes da natureza divina», como escreve Pedro.
Ser participante da natureza divina significa ter-se livrado «da corrupção que a concupiscência gerou no mundo» (v. 4), isto é, participar do amor divino, e não do egoísmo e da ânsia de poder, que corrompem o mundo. A natureza divina é incorruptível, porque é puro amor.
O evangelho mostra-nos em acção esse amor divino, mas também a concupiscência e a falta de conhecimento. Os vinhateiros querem apoderar-se da vinha e batem e insultam repetidamente os servos. Quando vêem chegar o «filho muito amado» (v. 6), não hesitam em matá-lo. E assim se auto-excluem do Reino do amor.
Marcos anota que os sumos-sacerdotes, os escribas e fariseus «procuravam prendê-lo, mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o, retiraram-se» (v. 12). O seu conhecimento é incoerente: escutaram, compreenderam, podiam pensar que estava a preparar um destino semelhante aos dos vinhateiros, que Jesus tenta evitar, mas a inveja cega-os. Jesus põe em perigo o poder deles. E decidem matá-l´O.
O conhecimento de Deus, o conhecimento de Jesus, Filho de Deus é um dom do Espírito Santo. Como dehonianos, somos chamados a esse conhecimento, iluminado pelo carisma e pela missão que recebemos de Deus: «somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração e a anunciar o seu amor que excede todo o conhecimento: «Cristo habite pela fé, nos vossos corações de sorte que, enraizados e fundados no amor, possais compreender, com todos os Santos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer, enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para serdes repletos da plenitude de Deus» (Ef 3,17-19)». Esse conhecimento obtém-se na escuta da Palavra e na celebração da Eucaristia: «Fiéis à escuta da Palavra, e à fracção do Pão, somos chamados a descobrir, cada vez mais, a Pessoa de Cristo e o mistério do seu Coração...», escrevem as nossas Constituições (n. 17).


Oratio

Senhor Jesus, concede-nos, a mim, aos meus irmãos, ao mundo inteiro, a graça de vencermos os movimentos da concupiscência, do amor possessivo e da inveja, bem como o dom de nos deixarmos iluminar pela luz que sempre nos ofereces. Que toda a humanidade Te conheça, Te ame e possa tomar parte na herança que nos conquistaste ao derramar o teu precioso sangue na cruz.
Abre os nossos olhos, Senhor. Abre a nossa mente. Tu, que és manso e humilde de coração, abate a nossa presunção e força-nos a não nos «retirarmos», como fizeram os teus adversários, quando perceberam que falavas para eles. Decidiram matar-te, mas temeram a multidão. Que jamais Te deixemos passar em vão pela nossa vida, mas saibamos reconhecer-Te como o «Deus connosco», como a Videira fecunda que o Pai plantou na nossa vinha. Amen.


Contemplatio

Só vós, Senhor, fizestes tudo. Tudo dispusestes para que me eleve degrau a degrau até à vida de união e de amor convosco.
Conduzistes-me ao vosso Coração. Quereis que eu nele penetre e nele faça a minha morada. Quereis que me inspire nos seus sentimentos, que viva da sua vida, que me inflame do seu zelo, para levar por toda a parte o seu conhecimento e o seu amor. Como estabelecestes os vossos apóstolos para espalharem a fé, confiastes-me uma parte da missão de propagar o amor do Sagrado Coração. Eis-me aqui. Senhor, não permitais que eu me subtraia a esta admirável missão. Indicai-me pelas vossas inspirações o que devo fazer desde hoje para amar cada vez mais e fazer amar o vosso divino Coração (Pe. Dehon, OSP 3, p. 461s.).


Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«A graça e paz vos sejam concedidas por meio do conhecimento de Deus e de Jesus» (2 Pe 1, 2).


| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/

sábado, 28 de maio de 2016

9.º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 29.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
ANO C
9.º DOMINGO DO TEMPO COMUM


TEMA

A liturgia deste domingo dá-nos conta da expansão da fé, não mais confinada ao território histórico de Israel. Este tema está bem presente no convite do refrão do Salmo, a anunciar o Evangelho em todo o mundo.
Na primeira leitura, Salomão invoca o Senhor, pedindo que escute as orações que os estrangeiros lhe dirigirem no Templo de Jerusalém, de modo que o Senhor seja conhecido para lá das fronteiras de Israel e todos os povos possam prestar culto ao Deus de Israel.
Na segunda leitura, Paulo apresenta-se como guardião do verdadeiro Evangelho de Cristo que é anunciado também aos pagãos, reclamando a falsidade de qualquer outra mensagem que negue que a salvação de Deus vem pela fé em Jesus Cristo, de quem ele recebeu o Evangelho que agora transmite.
O Evangelho mostra-nos a grande fé de um estrangeiro, um oficial romano, que coloca toda a sua confiança na misericórdia de Jesus e na sua Palavra, enquanto pede a cura de um seu servo. Jesus acede à sua súplica e mostra admiração pela grande fé deste homem estrangeiro.


LEITURA I - 1 Reis 8, 41-43

Leitura do Primeiro Livro dos Reis

Naqueles dias,
Salomão fez no templo a seguinte oração:
«Quando um estrangeiro,
embora não pertença ao vosso povo, Israel,
vier aqui dum país distante por causa do vosso nome
- pois ouvirão falar do vosso grande nome,
da vossa mão poderosa e do vosso braço estendido -,
quando vier orar neste templo,
escutai-o do alto do Céu, onde habitais,
e atendei os seus pedidos,
a fim de que todos os povos da terra
conheçam o vosso nome
e Vos temam como o vosso povo, Israel,
e saibam que o vosso nome é invocado
neste templo que eu edifiquei».

AMBIENTE

Os livros dos Reis (1-2Rs) continuam a narrativa da história da monarquia em Israel, que tinha começado já em 1Sam 11,12-15, com o reconhecimento do reinado de Saul sobre Israel. Com David, segundo rei de Israel, viria a conquistar-se Jerusalém e aí estabelecer a capital do reino que passa a englobar os territórios das várias tribos do Norte e do Sul num só reino. 1Rs 3-11 são capítulos que descrevem a sabedoria e a excelência de Salomão, bem como esplendor das suas construções, sobretudo do templo, sonhado por David, mas concretizado apenas no reino do filho Salomão (cf. 1Rs 6; 1Sm 7,1-16).
O texto da primeira leitura de hoje é um excerto da grande oração de Salomão (1Rs 8,23-53), que por sua vez se insere no contexto da festa da dedicação do templo de Jerusalém, acabado de construir, em que Salomão, além de rei, exerce funções sacerdotais, proferindo orações de louvor diante do Senhor, abençoando o povo e oferecendo sacrifícios diante do altar do Senhor.
A grande oração que Salomão profere no templo (1Rs 8,23-53), voltado para o povo e de mãos levantas ao céu tem uma estrutura típica de um salmo, começando por invocar a fidelidade de Deus ao rei David e à nação (vv. 23-24), suplicando a continuidade dessa fidelidade (vv. 25-27) e o favor de Deus (vv. 28-30). A oração prossegue estabelecendo uma relação entre o céu, morada de Deus, e o templo, de construção humana, dando sete exemplos de oração de súplica e da resolução que o povo espera do seu Deus a essas orações de súplica (vv. 31-53). O texto da primeira leitura é o quinto desses exemplos e é uma digressão sobre a oração do estrangeiro que não pertence ao povo.

MENSAGEM

Este pedaço da oração de Salomão é basicamente um pedido a Deus para que escute a oração que um estrangeiro Lhe dirigir no Templo que se está a dedicar (v. 43a). Antes de mais, este trecho da oração ajuda a esclarecer o significado do Templo para Salomão e para a teologia de Israel: o Templo é o lugar onde se invoca a Deus (v. 41), mas não a morada de Deus que é nos céus (v. 43a).
A este respeito será interessante notar alguns elementos que estão subjacentes a esta formulação. Antes de mais, a oração fornece-nos os motivos que terão levado o estrangeiro a ir rezar ao Templo de Jerusalém: depois de ter ouvido falar dos grandes feitos maravilhosos de Deus em favor do povo de Israel, o estrangeiro sentirá desejo de invocar o Deus de Israel (v. 42).
Poderá estranhar-se que os israelitas em guerra com os povos estrangeiros, com uma configuração patriótica exclusivista, peçam ao Senhor que escute a oração dos estrangeiros. Todavia, pode facilmente identificar-se uma motivação de expansão missionária da religião javista: na medida em que as orações dos estrangeiros forem atendidas no Templo de Jerusalém, o templo e, sobretudo, o Senhor, Deus de Israel, que nele se invoca serão famosos e hão de ser temidos também na terra do estrangeiro (v. 43b).
Note-se, portanto, uma abertura da religião de Israel ao estrangeiro, na medida em que reconhece, por um lado, que este último poderá vir ao Templo de Jerusalém por causa do nome do Senhor, ou seja, por reconhecer a presença do Senhor no Templo (v. 41) e, por outro lado, que o nome do Senhor, Deus de Israel, poderá ser temido, adorado na terra do estrangeiro (v. 43).


SALMO RESPONSORIAL - Salmo 116 (117), 1.2

Refrão:  Ide por todo o mundo,
              anunciai a boa nova.
Ou:         Aleluia.

Louvai o Senhor, todas as nações,
aclamai-O, todos os povos.

 firme a sua misericórdia para connosco,
a fidelidade do Senhor permanece para sempre.


LEITURA II - Gal 1, 1-2.6-10

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas

Irmãos:
Paulo, apóstolo,
não da parte dos homens, nem por intermédio de um homem,
mas por mandato de Jesus Cristo
e de Deus Pai, que O ressuscitou dos mortos,
e todos os irmãos que estão comigo,
às Igrejas da Galácia:
Surpreende-me que tão depressa tenhais abandonado
Aquele que vos chamou pela graça de Cristo,
para passar a outro evangelho.
Não que haja outro evangelho;
mas há pessoas que vos perturbam
e pretendem mudar o Evangelho de Cristo.
Mas se alguém
- ainda que fosse eu próprio ou um Anjo do Céu -
vos anunciar um evangelho diferente
daquele que nós vos anunciamos,
seja anátema.
Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo:
Se alguém vos anunciar um evangelho diferente
daquele que recebestes,
seja anátema.
Estarei eu agora a captar o favor dos homens
ou o de Deus?
Acaso procuro agradar aos homens?
Se eu ainda pretendesse agradar aos homens,
não seria servo de Cristo.

AMBIENTE

As comunidades cristãs da Galácia (centro da Ásia Menor) conheceram, pelos anos 56/57, um ambiente de alguma instabilidade. A culpa era de certos pregadores cristãos de origem judaica que, chegados à zona, procuravam impor aos gálatas a prática da Lei de Moisés (cf. Gal 3,2; 4,21; 5,4) e, em particular, a circuncisão (cf. Gal 2,3-4; 5,2; 6,12). São, ainda, esses “judaizantes” que, nas primeiras décadas do cristianismo, tanta confusão trouxeram às comunidades cristãs de origem pagã.
Paulo não está disposto a pactuar com estas exigências. Para ele, esta questão não é secundária, mas algo que toca no essencial da fé: se as obras da Lei são fundamentais, é porque Cristo, por si só, não pode salvar. Isto será verdadeiro? Quanto a esta questão, Paulo tem ideias claras: Cristo basta; a Lei de Moisés não é importante para a salvação.
É neste ambiente que Paulo escreve aos Gálatas. Diz-lhes que os ritos judaizantes apenas os prenderão numa escravatura da qual Cristo já os tinha libertado. O tom geral da carta é firme e veemente: era o essencial da fé que estava em causa.
Começa-se hoje a leitura da Carta aos Gálatas. Depois de uma breve saudação epistolar, em que Paulo se apresenta (cf. Gal 1,1-2), Paulo continuará a expor aquele a situação e o problema fundamental (cf. Gal 1,6-10) que o levará a discorrer sobre a relação entre a fé e as obras da Lei e que serão motivo da nossa reflexão nos próximos domingos.

MENSAGEM

Na saudação epistolar (vv. 1-2), além de dar conta dos destinatários da sua carta – “às Igrejas da Galácia” -, Paulo apresenta-se como “apóstolo por mandato de Jesus Cristo e de Deus Pai, que O ressuscitou dos mortos”, rejeitando a possibilidade de uma apostolado meramente humano. Desta forma, Paulo está a antecipar a sua tese exposta em Gal 1,11-12: tal como o seu mandato de apóstolo, também o “seu” Evangelho não é de origem humana, mas divina, de Jesus Cristo, por revelação divina. É, por isso, importante esta caracterização da sua missão de apóstolo que lhe garantirá o caráter inviolável da mensagem do “seu” evangelho. Ainda nesta breve saudação, Paulo demonstra que não está sozinho, mesmo se tem opositores, como se notará no corpo desta carta: de forma inteligente, Paulo apresenta a saudação de todos os irmãos que estão com ele, ou seja, de todos os que aceitam e defendem o carácter inviolável do “seu” Evangelho.
A leitura continua com uma expressão de surpresa de Paulo (v. 6), dirigindo-se aos Gálatas, mas tendo em vista sobretudo aqueles que perturbaram a fé desta comunidade, aqueles “que pretendem mudar o Evangelho de Cristo” (v. 7). Ao falar de um “outro evangelho”, como se fosse possível haver mais que um, o apóstolo deixa claro que há um único Evangelho, o de Cristo, e que corresponde ao conteúdo do seu anúncio e do “seu” Evangelho (v. 7). Vai mais longe e declara anátema – ou seja, fora da comunhão da fé – quem anunciar um evangelho diferente do “seu” (v. 8-9): a Carta deixa de ter assim carácter apologético, de defesa de Paulo, para tomar um carácter de direito divino, tal como o Evangelho de Paulo provém de revelação divina.
O texto termina com perguntas retóricas e uma afirmação de Paulo: demonstra que procura agradar a Deus e não aos homens, o que decorre de ser servo de Cristo (v. 10). O apóstolo demonstra assim o seu carácter irreprovável e a ortodoxia da sua fé e do seu anúncio. Mostrando que é a Deus que procura agradar, Paulo tenta indiretamente agradar aos seus próprios opositores que reprovariam imediatamente alguém que tentasse agradar mais aos homens que a Deus.


ALELUIA - Jo 3, 16

Aleluia. Aleluia.

Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho unigénito;
quem acredita n’Ele tem a vida eterna.


EVANGELHO - Lc 7, 1-10

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
quando Jesus acabou de falar ao povo,
entrou em Cafarnaum.
Um centurião tinha um servo a quem estimava muito
e que estava doente, quase a morrer.
Tendo ouvido falar de Jesus,
enviou-Lhe alguns anciãos dos judeus
para Lhe pedir que fosse salvar aquele servo.
Quando chegaram à presença de Jesus,
os anciãos suplicaram-Lhe insistentemente:
«Ele é digno de que lho concedas,
pois estima a nossa gente
e foi ele que nos construiu a sinagoga».
Jesus acompanhou-os.
Já não estava longe da casa,
quando o centurião Lhe mandou dizer por uns amigos:
«Não Te incomodes, Senhor,
pois não mereço que entres em minha casa,
nem me julguei digno de ir ter contigo.
Mas diz uma palavra e o meu servo será curado.
Porque também eu, que sou um subalterno,
tenho soldados sob as minhas ordens.
Digo a um: ‘Vai’ e ele vai,
e a outro: ‘Vem’ e ele vem,
e ao meu servo: ‘Faz isto’ e ele faz».
Ao ouvir estas palavras,
Jesus sentiu admiração por ele
e, voltando-se para a multidão que O seguia, exclamou:
«Digo-vos que nem mesmo em Israel
encontrei tão grande fé».
Ao regressarem a casa,
os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

AMBIENTE

O texto situa-nos na primeira parte do Evangelho segundo Lucas. Convém recordar que esta primeira parte se desenrola na Galileia, sobretudo à volta do Lago de Tiberíades. Durante essa fase, Jesus aparece a concretizar o seu programa: trazer aos homens – sobretudo aos pobres e marginalizados – a liberdade e a salvação de Deus. Toda esta primeira parte é, aliás, dominada pelo anúncio programático da sinagoga de Nazaré, onde Jesus define a sua missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e mandar em liberdade os oprimidos” (cf. Lc 4,16-30). Citando os exemplos de Elias com a viúva de Sarepta e de Eliseu com o sírio Naamã, Jesus já tinha aí deixado claro que Deus tinha tido atenção aos estrangeiros na história de Israel. O nosso texto de hoje coloca-nos diante de uma situação em que Jesus exaltará a fé de um estrangeiro, um centurião romano, mostrando a sua misericórdia para com este homem com um alto cargo, mas com a capacidade de se abaixar, entrando na lógica do Evangelho de Jesus: os últimos serão os primeiros. Lucas entra assim na discussão teológica sobre o acesso dos pagãos à salvação anunciada a Israel, que será fundamental para a segunda parte da sua obra, nos Atos dos Apóstolos, onde um outro oficial romano, Cornélio, fará despoletar a discussão entre a comunidade cristã nascente sobre qual o estatuto dos pagãos que abraçam o Evangelho no contexto da Igreja.

MENSAGEM

O episódio da cura do servo do centurião romano centra-se no valor da fé deste homem que é um pagão, apesar de se ter mostrado favorável aos judeus e de lhes ter construído a sinagoga, conforme as palavras dos mensageiros judeus em Lc 7,4. É verdade que esta é uma história de uma cura, conforme é dado pela situação inicial em Lc 7,2 – “um servo que estava doente, quase a morrer” – e no resultado final, em Lc 7,10 – “os enviados encontraram o servo de perfeita saúde”. No entanto, o grande objetivo do texto é a exaltação da grande fé de um pagão, a ponto de Jesus reconhecer: “Nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé” (Lc 7,9). De facto, grande parte do texto centra-se a contar os procedimentos não da cura, mas da súplica do centurião romano: (1) manda mensageiros judeus e pede que Jesus venha a casa (cf. Lc 7,3); (2) mostra-se a insistência dos mensageiros judeus, exaltando as características deste oficial pagão (cf. Lc 7,4-5); (3) apesar de Jesus ter acedido ao pedido dos primeiros mensageiros, este homem manda novos emissários, a declarar a sua indignidade e falta de mérito para que Jesus venha a sua casa (cf. Lc 7,6-8). Tudo isto resulta na declaração de Jesus sobre a fé deste homem em Lc 7,9.
Esta declaração de Jesus abre a fé aos estrangeiros que, por estatuto, não teriam outro modo para se aproximar do credo de Israel, senão convertendo-se e, consequentemente, abraçando todas as tradições israelitas. Apesar dos merecimentos deste homem, bem evidenciados pelos mensageiros dos anciãos judeus, é bem claro que ele não fazia parte da comunidade judaica oficial.
Mas este episódio de Lucas, sendo uma sucessão de súplicas, conforme já se mostrou, vem de encontro a uma caracterização da oração cristã. Notamos antes de mais que o servo que está doente não vai ao encontro de Jesus, mas é o seu patrão, o centurião, a interessar-se por ele. Por sua vez, o centurião faz-se valer de mensageiros que por ele falam a Jesus. Por outro lado, notamos que os primeiros a abeirar-se de Jesus, os anciãos dos judeus, além da insistência com que suplicam, fazem-se valer dos méritos deste homem no modo de suplicar (cf. Lc 7,5-6: “ele merece”). O texto deixa claro que Jesus não se opõe a este raciocínio, acompanhando-os (cf. Lc 7,7). Mas a admiração de Jesus pela fé do oficial romano (cf. Lc 7,9) vem da mensagem enviada pelos amigos, onde o homem se faz despir de todos os méritos: “Eu não mereço que entres em minha casa, nem me julguei digno de ir ter contigo” (Lc 7,6-7). Mais forte ainda é a súplica cheia de fé e confiança que causa admiração: “Diz uma palavra e o meu servo será curado” (Lc 7,7). Há, por assim dizer, uma progressividade da fé manifestada na oração: este oficial romano dá conta que, para realizar o seu desejo, não fazem falta méritos, nem posses ou subalternos, porque o que conta é a misericórdia de Deus, manifestada em Jesus, que é totalmente gratuita.
Este milagre de Jesus dispensa o toque e mesmo a proximidade física de Jesus. Pelas palavras do centurião, entendemos o valor da palavra de Jesus (cf. Lc 7,7), que se aliará à fé daquele que suplica, independentemente de haver méritos ou não. É bem que se note que já no relato da cura de um paralítico tinha sido a fé a impressionar Jesus e instiga-lo ao milagre (cf. Lc 5,20: “Vendo a fé daquela gente”), se bem que aí Jesus estava próximo do doente a curar. Neste caso, apesar da distância, é a palavra de Jesus, que expressa a sua grande misericórdia em favor dos que estão oprimidos por qualquer tipo de mal; e a misericórdia precisa apenas da fé do orante. A sucessão narrativa, que coloca a notícia da cura miraculosa (cf. Lc 7,10) depois de ter dado conta da admiração de Jesus pela fé do centurião (cf. Lc 7,9), é uma forma implícita de reconhecer o que será reconhecido explicitamente noutras curas, que é a fé a salvar (cf. Lc 17,19).


A LITURGIA DA PALAVRA INTERPELA-NOS HOJE
Acreditar na Palavra

Neste 9.º domingo do tempo comum, o Evangelho apresenta-nos a figura de um centurião romano que se dirige a Jesus para que salve o seu servo, que estava muito doente. É impressionante este relato em que o centurião, amigo dos judeus pois até lhes construiu a sinagoga, pede a alguns anciãos dos judeus para interceder junto de Jesus pela cura do servo a quem muito estimava. E quando Jesus se dirige para a sua casa, manda alguns amigos dizer para não entrar, pois basta-lhe a sua palavra para que aconteça a cura.
Temos aqui uma relação muito estreita e concreta entre a fé e a palavra de Jesus, que se enche de admiração pela fé deste homem a ponto de dizer que nem em Israel encontrou tão grande fé. E tudo na infinita misericórdia e compaixão de Jesus para com o servo e o seu senhor. Este centurião, homem de grande fé, para mais estrangeiro à raça de Israel e aos seus cultos, aponta-nos o sentido da nossa fé, sempre em profunda intimidade com a Palavra e na atenção dedicada a quem precisa do nosso amor.
«Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo»: são as palavras do centurião que dizemos antes de comungarmos em cada Eucaristia que celebramos. É profundamente eucarístico este encontro entre o centurião que acredita sem mais em Jesus, sem o ver, e a palavra de Jesus, proclamada também sem ver o centurião. A Eucaristia, celebrada, adora e quotidianamente vivida, não é mais do que um encontro como este.
Às vezes pergunto-me se nós, cristãos de hoje, que andamos enfarinhados nas coisas de Deus, nas liturgias bem aprumadas e em longas orações, assumimos a causa de Deus na liturgia quotidiana da nossa vida. Pergunto-me se basta a Palavra para a fé, ou ainda procuramos outros sinais que podem parecer importantes mas não essenciais. Pergunto-me se andamos no único Evangelho que conta, o de Jesus Cristo, ou navegamos noutros evangelhos; assim nos provoca Paulo na segunda leitura. Pergunto-me se habitamos e conhecemos o nome de Deus e lhe oramos com plena escuta do nosso ser ou entretemo-nos com outros nomes e repetidas orações que apenas passam pelo ouvido; assim nos interpela a primeira leitura.
Toda a liturgia deste domingo nos coloca nesta centralidade em Jesus que a todos se dá, sem exceção e sem olhar a quem, exigindo a adesão plena à sua Pessoa a quem o quiser seguir como discípulo missionário. Uma adesão de fé centrada no amor misericordioso de Deus em Jesus Cristo, que há três dias celebrámos na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e que na próxima semana vamos intensamente viver na Solenidade do Sagrado Coração.

A PALAVRA meditada ao longo da semanA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 9.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.




UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
Proposta para
Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas Comunidades Dehonianas
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

sexta-feira, 27 de maio de 2016

VIII Semana - Sábado - Tempo Comum - Anos Pares - 28.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
VIII Semana - Sábado
Lectio

Primeira leitura: Judas 17.20-25

Caríssimos, 17quanto a vós, caríssimos, lembrai-vos das coisas preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, 20Edificando-vos uns aos outros sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orando ao Espírito Santo, 21mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna. 22Tratai com misericórdia aqueles que vacilam; 23a uns, procurai salvá-los, arrancando-os do fogo; a outros, tratai-os com misericórdia, mas com cautela, detestando até a túnica contaminada pelo seu corpo. 24Àquele que é poderoso para vos livrar das quedas e vos apresentar diante da sua glória, imaculados e cheios de alegria, 25ao Deus único, nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo, Senhor nosso, seja dada a glória, a majestade, a soberania e o poder, antes de todos os tempos, agora e por todos os séculos. Ámen.

O autor deste escrito, de que hoje meditamos a conclusão, apresenta-se como Judas «servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago» (v. 1). Deseja paz aos eleitos que vivem no amor de Deus Pai e foram preservados por Jesus Cristo (vv. 1s.). Judas está preocupado em salvaguardar a integridade e a beleza da fé (v. 3) e recorda àqueles a quem se dirige, provavelmente cristãos provenientes do paganismo, «as coisas preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo» (v. 17), incita-os a edificar-se uns aos sobre sobre o fundamento da fé (cf. v. 20) e a manter-se no amor de Deus (cf. v.21). Judas tem presente os perigos do gnosticismo. Havia que apoiar os vacilantes e ser misericordiosos e firmes com os que corriam o risco de se deixar envolver pelos seus erros.
O autor termina com uma solene doxologia, certamente de matriz litúrgica, para louvar a Deus, único salvador, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. E conclui afirmando que só Deus tem poder para preservar das quedas e fazer comparecer na sua presença sem defeitos e cheios de alegria.


Evangelho: Marcos 11, 27-33

Naquele tempo, 27Jesus e os discípulos regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos aproximaram-se dele 28e perguntaram-lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» 29Jesus respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: 30O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.» 31Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos ‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ 32Se, porém, dissermos ‘dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um verdadeiro profeta. 33Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.»E Jesus disse-lhes: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.»

A atitude «subversiva» de Jesus no templo inquietou os chefes, que resolveram interrogá-lo. Dir-se-ia que se trata de um inquérito à margem do processo oficial. A resposta positiva de Jesus, à pergunta que lhe faziam, equivalia a declarar-se Messias, pois só Messias tem autoridade para tomar tais atitudes. E nada mais seria preciso para um processo oficial contra Ele. Com grande habilidade, Jesus responde com outra pergunta, que lança a confusão entre os seus adversários. Como não tiveram coragem para responder, e se escudaram num lacónico «não sabemos», Jesus despediu-os com uma expressão seca: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas» (v. 33).
Talvez nos espante esta atitude de Jesus, tão atencioso e compassivo com Bartimeu. Mas o Senhor detesta a arrogância e a má vontade. É puro, mas não ingénuo. Além disso, a sua dureza podia levar os adversários a rever posições ou, pelo menos, a reconhecer que não procuravam a verdade, mas só desembaraçar-se dele.
Jesus dá-nos exemplo de «ética profética». A sua autoridade está na linha da de João Baptista. Se os adversários de Jesus reconhecessem a autoridade de João, a sua resistência a Jesus seria menos grave. Mas não o fizeram. Acabaram por recusar Jesus, mas também por atraiçoar o Baptista, ignorando a confiança que o povo tinha nele, pois o considerava um verdadeiro profeta.


Meditatio

A Carta de Judas apresenta-nos uma preciosa exortação sobre dois pólos da vida recta: a santidade de vida e a solicitude pelas pessoas cuja fé corre perigo. A santidade cresce na relação com as Pessoas divinas cultivada na oração, na docilidade ao Espírito Santo, no amor a Deus Pai e na esperança na misericórdia de Jesus: «Edificando-vos uns aos outros sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orando ao Espírito Santo, mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna» (vv. 20-21). Quanto à solicitude com os que correm perigo de vacilar na fé, há que ser misericordioso, mas também firme, sem descer a compromissos: «Tratai com misericórdia aqueles que vacilam; a uns, procurai salvá-los, arrancando-os do fogo; a outros, tratai-os com misericórdia, mas com cautela» (vv. 22-23).
Judas apresenta, pois, um verdadeiro programa de vida, assente na rocha viva que é Jesus Cristo. Há que construir tudo sobre a fé, com simplicidade, correspondendo à graça de Deus, sem nos fiarmos no que é simplesmente humano, nem sequer em nós mesmos. O importante é praticar «a verdade na caridade» (Ef 4, 15).
Os sumos-sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos de que nos fala o evangelho não agiam nem falavam com rectidão. É por isso que Jesus não responde à pergunta que Lhe fazem, mas, por sua vez, também os interroga acerca de João Baptista. A pergunta de Jesus visa fazê-los pensar e… converter-se. Mas, em vez de se deixarem tocar pela graça, entram em cálculos humanos: «Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos ‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ Se, porém, dissermos ‘dos homens’, tememos a multidão» (vv. 31-32). Não lhes convinha dizer que o baptismo de João vinha «do céu»; mas também temeram dizer que vinha «dos homens». Escudaram-se no: «Não sabemos.». E assim se fecharam à fé.
Também nós corremos o risco de dar respostas semelhantes quando resistimos às inspirações do Espírito Santo, ou deslizamos para soluções mais cómodas, menos empenhativas. Nos nossos exames de consciência havemos de nos interrogar: «Estes pensamentos, estes projectos, estas opções são motivadas pela minha fé, ou por outras razões mais ou menos conscientes?» Quais motivações me fazem falar, agir, caminhar? Certamente reconheceremos, com humildade e confiança, diante de Deus, que, nem sempre é por Ele que falamos, agimos, optamos. Mas, reconhecê-lo, pedir perdão, e procurar emenda, é salvaguardar a nossa fé.


Oratio

Senhor, Jesus Cristo, não olhes para os nossos pecados, mas para a fé da tua Igreja. Dá-nos a graça de construirmos o nosso edifício espiritual sobre os fundamentos da fé e dos apóstolos. Perdoa as nossas hesitações e medos. Põe nos nossos caminhos pessoas compassivas, mas exigentes, que nos ajudem e superar as nossas misérias, mas não sejam coniventes com os nossos erros. Por vezes refilamos com as intervenções daqueles que, na tua Igreja, tem o serviço de vigiar pela integridade da fé e pela sã moral. A recordação de erros, ou de situações menos lineares e claras do passado, dão-nos ânimo para presumir respostas e rejeitar as intervenções e orientações dos nossos pastores.
Dá-nos o teu Espírito Santo, Espírito de Conselho, para sabermos discernir as situações e ver quando é oportuno fazer-nos voz daqueles que não têm voz e quando, pelo contrário, as nossas recriminações são apenas fruto da nossa impiedade, e da dureza do nosso coração.
Que sempre e em toda a parte, sejamos missionários misericordiosos da tua Verdade. Amen.


Contemplatio

S. Judas Tadeu era familiar de Nosso Senhor, um daqueles que chamavam seus irmãos, que o seguiam e o procuravam sempre. Era irmão de S. Tiago Menor, de S. Simão, bispo de Jerusalém, e de S. José, o justo, que foi proposto com S. Matias para substituir Judas, eram os filhos de Cléofas e de Maria, irmã da santa Virgem. Recebeu de sua mãe o amor de Jesus e de Maria e o espírito de reparação. Era do número dos discípulos mais amados de Jesus. Quando Jesus disse aos seus apóstolos: «Quem me ama e guarda os meus mandamentos será amado de meu Pai; eu o amarei também e me revelarei a ele», é S. Judas que toma a palavra e faz repetir a Nosso Senhor esta doce promessa! «Senhor, diz, de onde vem que vos revelareis a nós e não ao mundo?» Jesus respondeu-lhe: «É porque vós me amais e guardais a minha palavra, o meu Pai vos amará, e nós viremos a vós e faremos em vós a nossa morada» (Jo 14, 21). Ó bem-aventurado apóstolo, como invejo a vossa sorte! Mas não posso eu, se quiser, fazer-me amar também de Deus e de Nosso Senhor observando os mandamentos?
S. Judas, na sua epístola, ensina o amor de Deus e do próximo: «Meus bem-amados, diz, tinha pressa em escrever-vos. Desejo-vos a misericórdia, a paz e a caridade divina… Mantende-vos fortemente agarrados a Jesus Cristo, e erguendo-vos a vós mesmos como um edifício espiritual sobre o fundamento da vossa santa fé, rezai por meio do Espírito Santo e conservai-vos no amor de Deus, aguardando a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo para obterdes a vida eterna» (Leão Dehon, OSP4, p. 401s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Mantende-vos no amor de Deus;
tratai com misericórdia os que vacilam» (Jd vv. 21.22).

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/

quinta-feira, 26 de maio de 2016

VIII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 27.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
VIII Semana - Sexta-feira
Lectio

Primeira leitura: 1 Pe 4, 7-13

Caríssimos, 7o fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, sensatos e sóbrios para vos poderdes dedicar à oração. 8Acima de tudo, mantende entre vós uma intensa caridade, porque o amor cobre a multidão dos pecados. 9Exercei a hospitalidade uns com os outros, sem queixas. 10Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu. 11Se alguém tomar a palavra, que seja para transmitir palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o com a força que Deus lhe concede, para que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo. A Ele a glória e o poder por todos os séculos dos séculos. Ámen.

Dando um salto notável, chegamos à secção conclusiva da Primeira Carta de Pedro. Depois de nos assegurar da graça com que fomos salvos (cf. 5, 12), o Apóstolo pede-nos que permaneçamos em Cristo. A ressurreição de Jesus introduziu-nos na última e definitiva fase da história, e exige de nós uma nova forma de existir cujas características se pode resumir em três palavras: amor, hospitalidade, serviço. O facto de encontrarmos estas mesmas palavras nas Cartas de Paulo, significa que eram temas importantes na pregação, nos primeiros tempos da Igreja. O amor, a hospitalidade e o serviço, por sua vez, devem ser alimentados pela oração. Quanto ao serviço, Pedro menciona concretamente o da transmissão da Palavra de Deus e a defesa do Evangelho, bem como as diversas formas de participação nas responsabilidades comunitárias, tais como o serviço litúrgico e a ajuda aos pobres. A multiforme graça de Deus, o dom peculiar de cada um, não deve redundar em glória própria, mas na glória de Deus que, por Cristo, enriqueceu extraordinariamente a comunidade de Cristo: «A Ele a glória e o poder por todos os séculos dos séculos. Ámen.» (v. 11). Esta doxologia dirigida ao Pai por Cristo, e ao próprio Cristo, é caso único no Novo Testamento.


Evangelho: Marcos 10, 1-12

Naquele tempo, 11Jesus, depois de ser aclamado pela multidão, chegou a Jerusalém e entrou no templo. Depois de ter examinado tudo em seu redor, como a hora já ia adiantada, saiu para Betânia com os Doze. 12Na manhã seguinte, ao deixarem Betânia, Jesus sentiu fome. 13Vendo ao longe uma figueira com folhas, foi ver se nela encontraria alguma coisa; mas, ao chegar junto dela, não encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos. 14Disse então: «Nunca mais ninguém coma fruto de ti.» E os discípulos ouviram isto. Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas, 16e não permitia que se transportasse qualquer objecto através do templo. 17E ensinava-os, dizendo: «Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» 18Os sacerdotes e os doutores da Lei ouviram isto e procuravam maneira de o matar, mas temiam-no, pois toda a multidão estava maravilhada com o seu ensinamento. 19Quando se fez tarde, saíram para fora da cidade. 20Ao passarem na manhã seguinte, viram a figueira seca até às raízes. 21Pedro, recordando-se, disse a Jesus: «Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!» 22Jesus disse-lhes: «Tende fé em Deus. 23Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá. 24Por isso, vos digo: tudo quanto pedirdes na oração crede que já o recebestes e haveis de obtê-lo.Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, 25para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. 26Porque, se não perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.»

Depois de uma longa viagem, durante a qual anunciou o Reino e realizou prodígios, que manifestavam a sua presença, Jesus chega a Jerusalém. Entra no templo, examina a situação, e retira-se para Betânia, onde pernoita.
No dia seguinte dá-se o episódio da maldição da figueira, um evento que tem dado aso a muitas discussões e hipóteses entre os exegetas. Não vamos entrar nelas. Mas, encorajados pela liturgia que nos faz ler hoje três episódios do ministério de Jesus em Jerusalém, - a madição da figueira (vv. 12-14), a expulsão dos profanadores do tempo (vv. 15-19), a exortação à fé (vv. 22-25), - vamos procurar descobrir a ligação que há entre eles. Jesus tem fome, procura figos na figueira e não os encontra. Marcos informa que «não era tempo de figos» (v. 14). Este evento inquadra-se no contexto da revelação que Jesus está a completar. O tempo da fé é salvífico, e não cronológico. Jesus revela que o Pai, n´Ele, tem fome e tem sede, não de alimento ou de bebida, mas de amor, de justiça, de rectidão; tem fome e sede de respeito pela sua morada, e não da profanação do templo santo, que somos cada um de nós. Para saciar esta fome e esta sede, todo o tempo e todo o lugar são bons. Israel perdera a sua fecundidade religiosa porque, explorando o povo simples no próprio templo de Deus, não amava a humanidade e não podia, por conseguinte, correr o risco da maravilhosa aventura da oração e da fé.


Meditatio

Pedro exorta-nos a viver segundo o dom que recebemos, actuando como bons administradores da graça de Deus (cf. v. 10).
A fé revela-nos a imensa riqueza de graças que recebemos. A vida, as qualidades físicas, morais e espirituais, são enormes dons divinos. Somos dom de Deus, um dom generoso, um dom gratuito. E é fazendo-nos dom, a Deus e aos outros, que crescemos e nos realizamos. Os dons de Deus são para o serviço da comunidade, de cada um dos irmãos que a compõem. Quanto mais formos dom para os outros, mais receberemos do amor divino.
Pedro dá dois exemplos: a Palavra e o serviço. «Se alguém tomar a palavra, que seja para transmitir palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o com a força que Deus lhe concede» (v. 11). Não se fale por falar, mas para transmitir as palavras de Deus. O serviço aos irmãos faz-se com a força que vem de Deus. A verdadeira caridade, aquela que cobre a multidão dos pecados (v. 8), não tem origem em nós, mas em Deus. Amamos com o amor que recebemos de Deus, com o amor com que fomos amados. Por isso, a Palavra e o serviço hão-de ser para glória de Deus: «para que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo» (v. 11). Mas só os humildes, os agradecidos, os generosos podem viver tão belo ideal.
O evangelho apresenta-nos importantes lições de Jesus, na sua última ida a Jerusalém: a figueira estéril, símbolo da incredulidade judaica, oferece-lhe o ensejo de insistir numa fé intensa; a Casa de Deus serve para a oração e não para comércio; Deus só perdoa a quem perdoar ao seu próximo. Fechar-nos no nosso orgulho e ambições é, como aconteceu a Israel, lançar-nos a um caminho que leva à esterilidade e à seca. Fazer dos nossos templos, dos nossos santuários, lugares de oração, mas também de comércio e exploração, não é amar e servir como Deus quer, acima de qualquer holocausto e sacrifício. Para que a nossa oração alcance os resultados surpreendentes da fé, é necessário que, antes, se perdoe aos inimigos.
Como todos os cristãos, nós, os dehonianos, queremos viver para a glória de Deus, acolhendo o Espírito, e agindo sob o influxo dos Seus dons, pondo o carisma recebido ao serviço dos irmãos. Assim, permitimos ao mesmo Espírito produzir em nós os seus frutos, principalmente o da caridade, o do amor oblativo (cf. Gl 5, 22). Paulo define os sinais da caridade, do amor oblativo: a alegria, a paz: ser criaturas de alegria e de paz; as manifestações: a paciência, a bondade, a benevolência. Mas também lhe indica as condições: ser fiéis a Cristo, imitar a mansidão e a humildade do Seu Coração e deixar-se guiar, não pelo nosso egoísmo, mas pelo Espírito de Deus.
Somos louvor da glória de Deus quando vivemos as bem-aventuranças, quando a liturgia do rito (eucaristia) se torna, para nós, liturgia da vida, da história e a nossa existência, como afirma o Pe. Dehon, é “uma missa permanente” (C. A., III, 199) (Cst 5).


Oratio

Senhor, parece-me que não tenho alternativa: ou sou templo de oração, ou me torno espelunca de ladrões. Se não uso os talentos que me deste, se não os ponho ao serviço dos irmãos, sendo acolhedor, compreensivo, misericordioso, corro o risco de os desperdiçar, ainda que seja a satisfazer as necessidades cultuais dos teus fiéis. Se não trabalho para que em tudo seja o Pai glorificado, corro o risco de buscar a minha própria glorificação. Vivendo Contigo, não posso escolher entre Ti e a humanidade, mas viver com ambos. Só alcançarei o meu próprio bem na medida em que me ocupar das coisas do Pai Contigo, na medida em que caminhar pelos teus caminhos.
Ensina-me a falar comigo mesmo e com os outros da Palavra que nos deste e a realizar o serviço que me confias. E que, em tudo, sejas glorificado. Amen.


Contemplatio

Se a união não for assim tão estreita, é a indolência; se a separação for consumada, é a morte; assim o ramo separado do cepo seca e já não serve senão para o fogo (Jo 15, 4).
Que exemplos assustadores nos ensinamentos de Jesus: a árvore que não dá frutos, cortada e lançada ao fogo; a figueira estéril; a figueira seca; a nação infiel; os servos que não fazem frutificar a mina ou o talento!
Mas também que promessas encorajadoras para os que são generosos!
Com a graça de Jesus somos todo-poderosos: Omnia possum in eo qui me confortat (Fil 4,13).
Deus opera em nós o poder e o querer, se o deixarmos fazer; solicita e sustém cada um dos nossos actos, sobrenaturais, interiores ou exteriores (Fil 2, 13).
A graça não cessa de bater à nossa porta (Jo 5, 40). Se a aceitarmos, torna-se em nós uma fonte que brota para a vida eterna. As ondas de graça do Coração de Jesus vêm aos nossos corações, se os soubermos abrir.
A graça une-nos sempre mais a Deus na luz, isto é, na verdade, no amor e na santidade (Jo 1, 6). Transforma gradualmente as nossas almas até à semelhança divina (2Cor 3, 18).
«É pela graça de Deus que sou o que sou, diz S. Paulo, e a sua graça não foi estéril em mim» (1Cor 15, 10) (Leão Dehon, OSP4, p. 183s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo» (1 Pe 4, 11).


| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano C - 26.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
ANO C
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo


Tema da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

No centro da Solenidade deste domingo está quer a celebração de Deus que alimenta o seu povo e que, no seu Filho, dá-lhe o alimento supremo e eterno, quer a grande Eucaristia dos crentes.
Para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento, que dirigimos ao Senhor acolhendo o dom do seu amor, a Escritura emprega duas palavras: a bênção (primeira leitura) e a ação de graças (segunda leitura).
Estas duas dimensões de oração estão intimamente ligadas e devem habitar a nossa vida para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo ama os homens (Evangelho).
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é a festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!»


LEITURA I – Gen 14, 18-20

Leitura do Livro do Génesis

Naqueles dias,
Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho.
Era sacerdote do Deus Altíssimo
e abençoou Abraão, dizendo:
«Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo,
criador do céu e da terra.
Bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou nas tuas mãos os teus inimigos».
E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.

Breve comentário à primeira leitura.
Na história do povo de Deus, o rei Melquisedec só intervém uma vez, no seu encontro com Abraão. Mas este episódio teve uma importância decisiva para a ação de Jesus.
O Antigo testamento está cheio de sacrifícios sangrentos. Mas eis aqui um sacrifício sem qualquer efusão de sangue. Melquisedec, um rei sacerdote, oferece diante de Abraão pão e vinho. Os cristãos reconheceram nesse gesto um anúncio da Eucaristia e muitas vezes representaram este sacrifício nas pinturas e vitrais das igrejas, na proximidade do altar. Reconhecemos também neste episódio antigo um traço da pedagogia divina, que provocou continuamente o seu Povo a purificar as suas práticas sacrificiais, para prepará-lo para acolher a ação definitiva do seu Filho.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 109 (110)

Refrão 1:   O Senhor é sacerdote para sempre.

Refrão 2:   Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

Disse o Senhor ao meu Senhor:
«Senta-te à minha direita,
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés».

O Senhor estenderá de Sião
o cetro do teu poder
e tu dominarás no meio dos teus inimigos.

A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste
nos esplendores da santidade,
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».

O Senhor jurou e não Se arrependerá:
«Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec».


LEITURA II – 1 Cor 11, 23-26

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti:
o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue,
tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse:
«Isto é o meu Corpo, entregue por vós.
Fazei isto em memória de Mim».
Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse:
«Este cálice á a nova aliança no meu Sangue.
Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim».
Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão
e beberdes deste cálice,
anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha».

Breve comentário à segunda leitura.
As dificuldades surgidas na primeira comunidade de Corinto tinham incitado o apóstolo Paulo a recordar por escrito o que comporta a celebração do grande mistério da fé, a Eucaristia.
Nesta narração da instituição da Eucaristia, Paulo põe na boca de Jesus uma dupla «ordem de reiteração». Depois da fração do pão, e mesmo antes de lhes dar o cálice, Jesus diz aos Apóstolos: «Fazei isto em memória de Mim». Palavra explícita, fundadora da nossa prática eucarística. E Jesus explica todo o alcance deste memorial, tal como o canta a anamnese: proclamar o que Jesus fez por nós (dom da sua vida), celebrar a sua Ressurreição que nos salva, esperar a sua vinda na glória.
O que os Apóstolos nos dizem da Eucaristia está nestas breves linhas de uma carta de São Paulo. Que diferenças entre as primeiras celebrações e as nossas, atualmente. Paulo dá-nos indicações importantes: refere-se, em primeiro lugar, à tradição que ele mesmo recebeu, e esta tradição vem do próprio Senhor, que deu a ordem de «refazer isso em memória dele»; indica, em seguida, que esta celebração recebida da tradição está integrada numa refeição, como a fração do pão na última Ceia e as refeições do Ressuscitado com os seus discípulos, em Emaús e em Jerusalém. Esta refeição coloca-nos em situação de esperança, sempre na espera do regresso do nosso Mestre Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor.


SEQUÊNCIA

Terra, exulta de alegria,
Louva o teu pastor e guia,
Com teus hinos, tua voz.

Quanto possas tanto ouses,
Em louvá-l’O não repouses:
Sempre excede o teu louvor.

Hoje a Igreja te convida:
O pão vivo que dá vida
Vem com ela celebrar.

Este pão – que o mundo creia –
Por Jesus na santa Ceia
Foi entregue aos que escolheu.

Eis o pão que os Anjos comem
Transformado em pão do homem;
Só os filhos o consomem:
Não será lançado aos cães.

Em sinais prefigurado,
Por Abraão imolado,
No cordeiro aos pais foi dado,
No deserto foi maná.

Bom pastor, pão da verdade,
Tende de nós piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade
E conduzi-nos ao Pai.

Aos mortais dando comida,
Dais também o pão da vida:
Que a família assim nutrida
Seja um dia reunida
Aos convivas lá do Céu.


ALELUIA – Jo 6,51

Aleluia. Aleluia.

Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão viverá eternamente.


EVANGELHO – Lc 9, 11b-17

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus
e a curar aqueles que necessitavam.
O dia começava a declinar.
Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
«Manda embora a multidão
para ir procurar pousada e alimento
às aldeias e casais mais próximos,
pois aqui estamos num local deserto».
Disse-lhes Jesus:
«Dai-lhes vós de comer».
Mas eles responderam:
«Não temos senão cinco pães e dois peixes…
Só se formos nós mesmos
comprar comida para todo este povo».
Eram de facto uns cinco mil homens.
Disse Jesus aos discípulos:
«Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Assim fizeram e todos se sentaram.
Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
ergueu os olhos ao Céu
e pronunciou sobre eles a bênção.
Depois partiu-os e deu-os aos discípulos,
para eles os distribuírem pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados;
e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.


Breve comentário ao Evangelho.
A refeição da fração do pão, que Jesus celebrou com os seus discípulos, é destinada ao conjunto do seu povo. O próprio Jesus significou isso alimentando a multidão que O seguia, como Deus o havia feito outrora no deserto.
Para viver, é preciso comer. E como Deus nos quer vivos, Ele próprio intervém. Como um Pai que cuida dos seus filhos, quando estes não encontram o alimento necessário. A tradição de Israel tinha guardado a memória de uma intervenção providencial, em que Deus tinha alimentado o seu povo no deserto, depois da saída do Egipto, com o maná e as codornizes (Ex 16); era um pão vindo do céu, portanto, de Deus.
Por seu lado, Jesus alimenta o povo que está quase a fracassar. Vários detalhes anunciam a Eucaristia: Jesus parte os pães e fá-los distribuir pelos seus discípulos, como na comunhão: o povo está organizado, os Apóstolos fazem o serviço, é a Igreja; no deserto, o maná era apenas suficiente, mas aqui, no banquete do Senhor, restam cestos cheios, porque o pão de Jesus é-nos oferecido generosamente, para que tenhamos a vida em abundância (Jo 10,10).
É impossível isolar a «ordem de reiteração» da Eucaristia propriamente dita de outras ordens que Jesus nos deu: muito próximo da Eucaristia, há o «exemplo» do lava-pés; há ainda o «mandamento do amor» e a necessidade primordial de amar o nosso próximo; e hoje, o apelo a darmos nós mesmos de comer àqueles que nada têm que comer. Significando já o Reino onde todos os bens superabundam, Jesus recorda que Ele quer associar desde já todos os batizados à sua construção, ao seu anúncio. E para isso, Ele santifica-nos com a sua própria vida.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO

1. A PALAVRA meditada ao longo da semanA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. VALORIZAR ESPAÇOS E GESTOS EUCARÍSTICOS.
Valorizar os espaços e gestos eucarísticos, assim como os que se relacionam com a Palavra, é atitude de sempre. Mas isso pode ser relevado em particular neste domingo: cuidar com mais atenção da preparação do altar e seus elementos, podendo prever-se uma procissão das oferendas; valorizar o momento penitencial em ligação com o Batismo que nos conduz à Eucaristia; proclamar a oração eucarística n.º 4, que evoca as alianças sucessivas até à Nova Aliança; dar realce aos grandes gestos da oração eucarística, como a elevação do Corpo de Cristo e do cálice, a doxologia final, assim como a fração do pão; preparar hoje a distribuição da comunhão sob as duas espécies; prever, no momento de ação de graças, uma oração em que alguém possa testemunhar de que modo concreto a Eucaristia o faz viver no quotidiano; proclamar a bênção solene e o envio final, recordando a nossa missão de «dar de comer» a todos os que têm necessidade.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
A fé da Igreja na presença do seu Senhor ressuscitado no mistério da Eucaristia remonta à origem da comunidade cristã. São Paulo transmite o que recebeu da tradição, cerca de 25 anos depois da morte de Jesus. É a narração mais antiga da Eucaristia. A Igreja nunca abandonou esta centralidade.
A Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo foi instituída em meados do século XIII, numa época em que se comungava muito pouco e onde se levantavam dúvidas sobre a «presença real» de Jesus na hóstia consagrada depois da celebração da Eucaristia. A Igreja respondeu, não com longos discursos, mas com um ato: Sim, Jesus está verdadeiramente presente mesmo depois do fim da missa. E para provar esta fé, criou-se o hábito de organizar procissões com a hóstia consagrada pelas ruas, fora das igrejas.
Hoje, não é raro encontrar católicos que põem em dúvida esta permanência da presença Jesus no pão eucarístico. As palavras de Jesus esclarecem-nos: «Este é o meu Corpo… Este cálice é a nova Aliança no meu sangue». Estas afirmações de Jesus, na noite de quinta-feira santa, não dependiam nem da fé nem da compreensão dos apóstolos. É Jesus que se compromete, que dá o pão como sendo o seu corpo, o cálice de vinho como sendo o cálice da nova Aliança no seu sangue. Só Ele pode ter influência neste pão e neste vinho.
Hoje, é o sacerdote ordenado que pronuncia as palavras de Jesus, mas não é ele que lhes dá sentido e realidade. É sempre Jesus ressuscitado que se compromete, exatamente como na noite de quinta-feira santa. O sacerdote e toda a comunidade com ele são convidados a aderir na fé a esta ação de Jesus. Mas não têm o poder de retirar a eficácia das palavras que não lhes pertencem. A Igreja tem razão em celebrar esta permanência da presença de Jesus. Que esta seja para nós fonte de maravilhamento e de ação de graças!

4. PALAVRA PARA O CAMINHO: COMER PARA VIVER.
É a lei biológica da nossa condição humana: é preciso comer para viver. A nossa vida espiritual exige também ser alimentada e cuidada, para crescer e ser fecunda. Ao multiplicar os pães e os peixes para a multidão que tinha vindo escutar o seu ensinamento, Jesus respondia, certamente, a uma necessidade física imediata. Mas revelava já todo o seu amor pelos homens e o seu desejo de os saciar com o verdadeiro alimento: a sua própria vida, o seu corpo entregue como Pão da Vida, o seu sangue derramado como sangue da Aliança.
Assim, comungar é ser alimentado pela vida de Jesus, enriquecido pelas suas próprias forças, ser capaz do seu amor. Do mesmo modo que comemos para viver, comungamos na Eucaristia para viver como discípulos de Jesus… Que fazemos das nossas comunhões? Que vidas fazem elas crescer em nós?
Para meditar estas interrogações, perguntemo-nos verdadeiramente sobre o que nos faltaria se não tivéssemos Eucaristia…
A Eucaristia é verdadeiramente «vital» para nós? Se assim não for, um período de «jejum eucarístico», um tempo de retiro espiritual para lhe descobrir o sentido, podem ajudar a reencontrar a grandeza deste sacramento. Se assim for, procuremos rezar por aqueles que são privados da Eucaristia e sofrem, e peçamos ao Senhor para lhes dar de novo a graça do seu amor.
E como andamos de adoração? Com a Festa do Corpo de Deus vem também a questão das procissões e da adoração eucarísticas. Se a ocasião se proporcionar, vivamos este tempo de adoração em ligação com a própria celebração, como prolongamento desta e para melhor nos prepararmos ao serviço dos nossos irmãos.
Na próxima sexta-feira celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Mais uma relevante coincidência que nos impele a recentrar o nosso coração no Coração de Jesus, de modo essencial na Eucaristia celebrada e adorada!


Anexo 1.
MEDITAÇÃO: O PÃO DA VIDA

O dia começava a declinar.
Os Doze aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe:
Manda embora esta multidão…
Aqui estamos num local deserto…

Manda embora esta multidão…
Durante todo o dia, a multidão escutou-Te longamente.
Alimentou-se da tua Palavra
a ponto de esquecer o alimento corporal…
Felizmente que estamos aí, pensam talvez os teus Apóstolos.
Porque a noite chega: é preciso encontrar uma solução!
Eles têm uma:Manda embora esta multidão…
É a solução humana bem indicada:
nas aldeias dos arredores, as pessoas poderão alojar-se e alimentar-se.

É a solução de facilidade. Mas não é o teu ponto de vista.
Dai-lhes vós mesmos de comer!
É demasiado fácil dar conselhos aos outros
sem se comprometer a si mesmo|
O teu discípulo Tiago retomará o teu pensamento, Senhor, escrevendo:
«Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano,
e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”,
mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?» (Tg 2,15-16)
Tu pedes-nos para fazer qualquer coisa
para ir em ajuda aos outros.
Por vezes a nossa ação não será muito grande,
mas tu queres ter necessidade dela.
A ação dos apóstolos, nesse dia, foi simplesmente
de Te trazer os cinco pães
e de convidar as pessoas a instalarem-se na erva.

Todos comeram…
e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Os apóstolos terão cada um cesto cheio do «dom de Deus»
para levar aos famintos o alimento essencial, o Pão de vida…
E isso até aos fim dos tempos, até ao teu regresso!

Pelo alimento eucarístico, obrigado, Senhor!
Os homens têm fome, sabe-lo bem,
e Tu queres que ninguém caia no caminho…
Mas muitos já não sentem mais esta fome…
Tem piedade deles, Senhor!
Tu queres também ter necessidade de ajuda para partilha o teu Pão
a todas as multidões de todos os lugares…
Dá à tua Igreja, Senhor,
os sacerdotes que continuarão a missão
e o trabalho dos Apóstolos em favor dos famintos de hoje.



UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
Proposta para
Escutar, Partilhar, Viver e Anunciar a Palavra nas Comunidades Dehonianas
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
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terça-feira, 24 de maio de 2016

VIII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 25.05.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
VIII Semana - Quarta-feira
Lectio

Primeira leitura: 1 Pedro 1, 18-25

Caríssimos: 18sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, 19mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha, 20predestinado já antes da criação do mundo e manifestado nos últimos tempos por causa de vós; 21vós, que por meio dele tendes a fé em Deus, que o ressuscitou dos mortos e o glorificou, a fim de que a vossa fé e a vossa esperança estejam postas em Deus.
22Já que purificastes as vossas almas pela obediência à verdade que leva a um sincero amor fraterno, amai-vos intensamente uns aos outros do fundo do coração, 23como quem nasceu de novo, não de uma semente corruptível, mas de um germe incorruptível, a saber, por meio da palavra de Deus, viva e perene. 24De facto, todo o mortal é como a erva e toda a sua glória como a flor da erva. Seca-se a erva e cai a flor, 25mas a palavra do Senhor permanece para sempre. Esta é a palavra que vos foi anunciada como boa-nova.

Pedro, falando do presente, do passado e do futuro, apresenta-nos algumas verdades sobre a relação de Jesus Cristo connosco e sobre a nossa relação com Ele. O Pai escolheu-O, ainda antes da criação do mundo, para libertar a humanidade da «vã maneira de viver herdada dos vossos pais» (v. 18). O presente cheio de esperança dos cristãos, radica no passado da acção de Deus em Cristo para nosso benefício. Deus escolheu a Cristo, «qual cordeiro sem defeito nem mancha» (v. 19) para, «pelo seu sangue precioso» (v. 19), nos resgatar. Pertencemos a Deus porque Ele nos resgatou, nos comprou, «não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro» (v. 18), mas «pelo sangue precioso de Cristo» (v. 19)». Acreditamos em Deus, acreditamos que Ele ressuscitou Jesus de entre os mortos, e temos a possibilidade de ancorar a nossa fé e a nossa esperança no Pai, por efeito da missão, da ressurreição e da glorificação de Jesus Cristo. O mistério pascal de Cristo garante-nos que Deus está do nosso lado, que é a nossa favor. O nosso presente encaminha-se para um futuro esperançoso. É possível viver a moral cristã e realizar a missão porque, a nossa relação com Jesus, e, por Ele, com o Pai, no Espírito, estrutura a nossa vida pessoal e comunitária, e dinamiza a missão.


Evangelho: Marcos 10, 32-45

Naquele tempo, 32Jesus e os discípulos iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam espantados, e os que seguiam estavam cheios de medo.Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: 33«Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. 34E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará.» 35Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» 36Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» 37Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» 38Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» 39Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; 40mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» 41Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. 42Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. 43Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo 44e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. 45Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.»

O texto evangélico que escutámos refere diversos episódios ocorridos durante a caminhada de Jesus para Jerusalém. Jesus avança rodeado de discípulos apavorados e de pessoas cheias de medo. Pela terceira vez, fala da paixão, que se aproxima. Fá-lo com muitos pormenores (vv. 33ss.). Mas os discípulos parecem nada compreender. Os filhos de Zebedeu continuam interessados em alcançar uma boa posição no Reino: um quer ficar à direita de Jesus e outro à esquerda (v. 37). Em Mateus, é a mãe que pede esses lugares para os filhos (cf. Mt 20, 20). Os outros discípulos estão preocupados com assuntos que nada têm a ver com os do Senhor. Mas Jesus revela aspectos centrais relativos ao discipulado: o essencial é a docilidade a Deus e ao seu projecto. Ele próprio decidirá a posição de cada um no Reino. Em Mateus será o Pai a tomar tal decisão (cf. Mt 20, 23).
Ser discípulo de Jesus é ser, como Ele, dócil ao Pai, partilhar a missão que o Pai Lhe confiou: beber o mesmo cálice, mergulhar no mesmo baptismo. É seguir o caminho do servo sofredor (Is 52, 13-53, 12), servir a todos até ao dom da própria vida em resgate de muitos… O resgate (lýtron) é o preço a pagar por um prisioneiro de guerra, por um escravo. Este resgate é pago, não a Deus, mas ao príncipe deste mundo (Jo 12,31; 1 Jo 5, 19), ao deus deste mundo (2 Cor 4, 4), que mantém escrava a humanidade. E Jesus resgata a humanidade, não para se tornar Ele mesmo um «rei» opressor, mas paradoxalmente um «rei» servo. Também os cristãos não podem contrapor ao «poder demoníaco» um «poder cristão», mas colocar-se de modo amoroso e humilde ao serviço da humanidade.


Meditatio

A Palavra que hoje escutamos incita-nos à conversão, isto é, a seguir o exemplo de Jesus Cristo, que padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os seus passos (cf. 1 Pe 2, 21). Jesus foi enviado pelo Pai para nos revelar a sua misericórdia. A Palavra de Jesus remete-nos para o mistério escondido do Pai. O Pai procura a humanidade, e põe-na à procura dele, por meio do exemplo de Cristo e daqueles que vivem nele. Jesus não actua pela força, mas pelo amor; não influe pelo poder, mas pelo serviço. Não se trata de um caminho fraco, mas cheio daquela força do amor que vence a morte. O reino do Pai é composto por pessoas cuja criatividade é inspirada na misericórdia que não se deixa vencer pelo mal, mas o vence na humildade e na docilidade, e que desmascara a ignorância dos estultos. A Igreja só ajuda a libertar a humanidade se tiver esta atitude de serva, e não se deixar apanhar pelo cancro do poder, nem eclesiástico nem civil. Apenas como comunidade de servos, sem ambições políticas, poderá ajudar eficazmente a humanidade a libertar-se das forças que a oprimem.
Para o dehoniano, a ajuda e o serviço aos irmãos, tal como o apostolado são actos de culto, são liturgia, na qual Cristo oferece os homens como vítimas ao Pai. Assim era para Paulo (cf. Rom 15, 16; Fil 2, 17). O exemplo de Paulo é muito significativo. Ele não punha em primeiro plano a organização da sua obra de evangelização, em Corinto, as suas fadigas, o ter-se «feito tudo para todos» (1 Cor 9, 23). A eficácia do seu apostolado vinha do seu assemelhar-se a Cristo, do reviver o Seu sacrifício, a sua fraqueza. Assim compreendemos como o Apóstolo, e, por conseguinte, todo o cristão, toda a Igreja, todo o dehoniano, só alcance eficácia para o seu trabalho apostólico na graça de Cristo, por meio do Espírito (cf. 2 Cor 12, 9-10; cf. Fil 2, 17). Quem salva o mundo não é o homem, pelas suas forças, mas é Deus, em Cristo Jesus, pobre e servo. É o escândalo da Cruz que salva o mundo (cf. 1 Cor 1, 22-23); o Reino de Deus constrói-se com meios humanos pobres: com a fraqueza do amor, com a fé, com a esperança, com a oblação, com a imolação, com a reparação. Os «pequenos» e os «pobres» têm a primazia, não só como destinatários da salvação, mas como protagonistas e colaboradores dela, da construção do Reino, unidos a Jesus Cristo.


Oratio

Senhor, às vezes, sinto-me indignado com Tiago e João. Tu revelavas-lhes o teu destino futuro, cheio de humilhações, e eles pediam-te privilégios. Mas reparo que, também eu, muitas vezes, caio no mesmo erro, que, também eu, me porto de modo inconsciente. Quando me explicas o teu mistério, digo logo que percebi. Mas, pouco depois, lá estou a pedir-te coisas completamente contrárias aos desígnios do Pai. Mais ainda: como os outros discípulos, fico indignado quando veja alguém cair no erro dos filhos de Zebedeu. E não é por virtude, mas porque, também eu, sou ambicioso e procuro lugares de honra, e temo que os dês a outros. Perdoa-me, Senhor. Ensina-me a humildade do serviço. Ensina-me a verdadeira grandeza que é sentir-me e actuar como último e como servo de todos. Amen.


Contemplatio

Nosso Senhor nada teve tanto a peito do que nos ensinar a humildade, que é a fonte de todas as graças, como o orgulho é a fonte de todos os pecados e da condenação. Fez-nos observar como a humildade era o cunho de toda a sua vida: «Aprendei de mim que sou doce e humilde de coração».
S. Paulo resumiu assim toda a vida de Nosso Senhor na humildade: «Cristo humilhou-se fazendo-se obediente até à morte» (Fil 2, 8).
Nosso Senhor recomendou a humildade nas suas parábolas: na dos fariseus e do publicano, na dos convidados para as bodas. Ensinou-a em toda a ocasião. Quando os apóstolos discutiam acerca do primado entre eles, disse-lhes: «Que o maior se faça o servo de todos. – Qui major est vestrum erit minister vester» (Mt 23, 11). Quando queriam afastar as crianças, disse-lhes: «Se não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no reino dos céus».
Também os livros sapienciais tinham recomendado tanto a humildade! Os provérbios dizem que ela é preferível à glória e à fortuna: Gloriam praecedit humilitas (Prov. 15, 33). Vale mais ser humilde com os que são doces do que partilhar o espólio com os orgulhosos (Prov. 16, 19).
O Eclesiástico aconselha-a muito particularmente aos grandes e aos poderosos deste mundo: «Quanto maiores fordes, mais vos deveis humilhar e encontrareis graça diante de Deus. Só Deus é grande e a nossa humildade honra-o» (Eccli 3, 20) (Leão Dehon, OSP4, p. 556).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo» (Mc 10, 43).



| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/