segunda-feira, 10 de novembro de 2014

XXXII Semana - Quarta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 12.11.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXXII Semana - Quarta-feira

Lectio

Primeira leitura: Tito 3, 1-7

Caríssimo: 1Recorda-lhes que sejam submissos e obedientes aos governantes e autoridades, que estejam prontos para qualquer boa obra, 2que não digam mal de ninguém, nem sejam conflituosos, mas sejam afáveis, mostrando sempre amabilidade para com todos os homens. 3Pois também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. 4Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, 5Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia, mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, 6que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, 7a fim de que, justificados pela sua graça, nos tornemos, segundo a nossa esperança, herdeiros da vida eterna.

Paulo faz chegar a sua mensagem a toda a comunidade, por meio de Tito. Assim, colabora, com o responsável da comunidade, na construção de uma Igreja que pretende digna de tal nome e capaz de testemunhar o Evangelho.
Começa por sublinhar a dimensão pública do ser cristão. A fé em Cristo não pode ser reduzida a uma experiência privada; deve manifestar-se publicamente e penetrar na trama das relações sociais. Depois, descreve a passagem decisiva da maldade e do ódio a um presente iluminado pela graça de Deus: «Também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador» (vv. 3-4). Esta passagem marca a grande novidade de Jesus, incarnação pessoal do amor misericordioso do Pai.
Esta «Boa Nova» é destinada a cada um de nós, tal como foi destinada aos crentes confiados aos cuidados pastorais de Tito. Hoje, como ontem, estamos perante um dom gratuito e inesperado de Deus. Sempre que contactamos com a palavra escrita, temos oportunidade de fazer memória do grande evento anunciado por Paulo, evento que nos regenera e renova pelo poder do Espírito Santo.


Evangelho: Lucas 17, 11-19

Naquele tempo, 11Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia. 12Ao entrar numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, 13gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» 14Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. 15Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; 16caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era um samaritano. 17Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» 19E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.»

Jesus retoma a viagem para Jerusalém, onde como os profetas, será chamado a dar a vida. Entra numa aldeia de samaritanos e deixa-se interpelar por um grupo de leprosos. Eram samaritanos, estrangeiros para os judeus; eram leprosos e tornavam impuro quem se aproximasse deles (vv. 12s.). Mas Jesus é o salvador de todos, o irmão universal. Veio para todos: não faz acepção de pessoas, não despreza ninguém por pertencer a um determinado povo ou a uma certa raça; muito menos despreza alguém por estar doente. Jesus realiza este milagre com a sua habitual discrição e abertura aos mais pobres entre os pobres, àqueles que mais precisam da sua intervenção salvadora.
São curados os 10 leprosos; mas só um deles sente a obrigação de agradecer (v. 15). O gesto de se lançar aos pés de Jesus significa, não só a sua gratidão pelo milagre, mas também a decisão de se tornar discípulo (v. 16). E só ele é plenamente curado, no corpo e na alma. Não basta encontrar Jesus. É preciso escutar a sua palavra, deixar-se atrair pela graça e segui-lo para onde quer que vá. O caminho da salvação vai da graça recebida, à gratidão, ao louvor.


Meditatio

O evangelho de hoje permite-nos compreender melhor aquilo que dizemos no prefácio da celebração eucarística: «é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação, dar-vos graças». Os leprosos curados foram dez. Mas apenas um sentiu o dever de agradecer. Estamos tão habituados às graças de Deus que já não nos admiramos com elas. Damo-las por pressupostas e, muitas vezes, não as agradecemos. E, todavia, é nosso dever reconhecer os dons de Deus e dar-Lhe graças por eles. Essa gratidão é fonte de salvação para nós. Foi o que aconteceu com o leproso curado, que foi agradecer a Jesus. Impressionam-nos as perguntas que Jesus lhe faz. Impressiona-nos especialmente a exclamação final: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou» (v. 19). Jesus mostra-se admirado por um só dos leprosos curados ter voltado para agradecer. E declara que foi a fé que o curou plenamente.
Vejamos o itinerário que este homem percorreu: era um leproso como os outros; como os outros invocou a compaixão de Jesus; como os outros foi mostrar-se aos sacerdotes. Mas só ele voltou atrás para agradecer a Jesus. Jesus reconheceu nesse agradecimento uma manifestação de fé pura. Assim, verificamos que o encontro pessoal com Jesus não só lhe renovou o corpo, mas também lhe transformou profundamente a alma. O leproso curado não ficou satisfeito unicamente por ter resolvido um problema pessoal. Parecia-lhe pouco e, sobretudo, pouco digno de um homem que tinha intuído ter encontrado uma pessoa extraordinária. O seu verdadeiro desejo foi voltar atrás para conhecer… conhecer para reconhecer aquele que o curou… reconhecê-lo para lhe agradecer e segui-lo… Estamos perante um caminho de iniciação cristã, que todo o fiel deveria percorrer e reviver nos momentos decisivos da sua existência. Uma graça material é pouca coisa em comparação com aquilo que Deus tem para nos dar quando reconhecemos o seu amor e damos graças.
Na Eucaristia, «unidos à acção de graças… de Cristo, somos chamados a colocar toda a nossa vida ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo» (cf. Cst 84). Vivendo esta disposição, de modo habitual, não só damos graças na celebração eucarística, na adoração e noutros momentos de oração, mas a nossa vida se torna acção de graças, comunhão de amor e de fé com Jesus Cristo.


Oratio

Senhor, a tua palavra alerta-me hoje para o dever e para a necessidade de Te dar graças por todos os teus dons. Agradecer-Te é, de verdade, nosso dever e nossa salvação. De quantas doenças me tens curado, desde a grande cura que foi o meu baptismo. Obrigado, Senhor. Quantas vezes me envolveste na tua misericórdia, e renovaste em mim a beleza da criação. Obrigado, Senhor! Que a Eucaristia diária seja de verdade «acção de graças» e que o encontro contigo, que me dás tanto amor, seja um encontro pessoal de amor e de fé, que faça da minha vida uma eucaristia permanente. Amen.


Contemplatio

A vossa mais doce ocupação deveria ser evocar sem cessar a recordação dos benefícios do vosso Pai celeste, meditá-los, aprofundá-los.
É uma matéria inesgotável, nela não há nada que não seja cheio de consolação e de enternecedor para o coração, está ao vosso alcance e não exige uma grande contenção do espírito. A intenção do vosso Pai celeste é que penseis nisso mais frequentemente do que em nenhuma outra coisa e que os não percais jamais de vista. Assinalou-a em centenas de lugares da Sagrada Escritura. Muitas vezes censurou Israel de esquecer o seu Criador e o seu Deus (Dt 32; Is 51, etc.). Convida-vos a guardar esta recordação; ordena-vos que o recordeis para a sua glória e para o vosso benefício; ligou-lhe graças infinitas.
E vós, ingratos e insensatos, gozais dos benefícios de um Deus criador, de um Deus salvador, e com dificuldade vos acontece reflectir nisso e assinalar o vosso reconhecimento. Rezais bastante para lhe pedir, não rezais quase nunca para lhe agradecer e o glorificar.
Seria demasiado dar cada dia uma meia hora, um quarto de hora pelo menos para meditar nos inefáveis benefícios do vosso Deus, prestar-lhe acções de graças, excitar em vós os sentimentos que a sua bondade merece? Não seria este o melhor emprego do tempo do que dais cada dia a exercícios de piedade muitas vezes bem vazios? Ó como vos encontraríeis bem com esta prática e como o amor de Deus tomaria o melhor crescimento na vossa alma!
Deus pedir-vos-á contas do emprego do vosso tempo e das vossas faculdades. Porque é que, dir-vos-á, quase nada tendes pensado nos meus benefícios? Porque é que os mistérios da religião não estiveram sempre presentes no vosso espírito? Porque é que não tendes reflectido em tantas graças pessoais de que a vossa vida não era mais do que um tecido?
Mesmo as pessoas do mundo têm este dever. As riquezas têm os seus inconvenientes e os seus perigos, mas têm também as suas vantagens em relação à salvação e à santidade, na medida em que proporcionam mais liberdade para se ocuparem das coisas da religião e, ordinariamente, uma educação que dispõe a melhor as conceber e a delas tirar mais fruto. Permitem que se procurem bons livros de piedade. Os que têm estas vantagens serão porventura desculpados, se negligenciam alimentar em si a recordação dos benefícios de Deus através das leituras e meditações diárias; se despendem todos os seus tempos livres em visitas, no jogo, nos espectáculos, nos divertimentos frívolos; se as suas leituras se limitam aos livros de ciência profana ou mesmo a matérias pueris e perigosas? (Leão Dehon, OSP 2, p. 31s.).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Ele salvou-nos pela sua misericórdia» (Tt 3, 5).


Fonte | Fernando Fonseca, scj | http://www.dehonianos.org/

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