quinta-feira, 1 de setembro de 2016

XXII Semana - Sexta-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 02.09.2016

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
Tempo Comum - Anos Pares
XXII Semana - Sexta-feira
Lectio

Primeira leitura: 1 Coríntios 4, 1-5

Irmãos: 1Considerem-nos, pois, servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. 2Ora, o que se requer dos administradores é que sejam fiéis. 3Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. 4De nada me acusa a consciência, mas nem por isso me dou por justificado; quem me julga é o Senhor. 5Por conseguinte, não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor. Ele é quem há-de iluminar o que se esconde nas trevas e desvendar os desígnios dos corações. E então cada um receberá de Deus o louvor que merece.

Na comunidade de Corinto, havia alguns que contestavam a autoridade de Paulo. O Apóstolo começa por afirmar: somos “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”; nada mais. Estas palavras lembram-nos o que Jesus disse: «Quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’» (Lc 17, 10). Fica assim realçada a identidade do Apóstolo, em relação a Cristo que o chamou.
Também somos «administradores dos mistérios de Deus», isto é, ecónomos, porque responsáveis por aquela economia que vê actuar a Deus que dispensa os seus ministérios, mas também os apóstolos que são chamados a dar o que receberam. Este segundo aspecto caracteriza o ministério apostólico em relação com os fiéis, que têm direito a receber aquilo que Deus, por meio dos seus ministros, dispensa generosamente. Aos servos-administradores requerer-se que sejam fiéis ao Senhor e ao serviço que lhes é confiado. Paulo sente-se submetido ao juízo de todos; mas sente-se livre. Mas também se sente objecto do juízo de Deus a Quem se rendeu de uma vez para sempre. E, sendo assim, não se sente livre, mas obrigado a cumprir a sua missão.


Evangelho: Lucas 5, 33-39

Naquele tempo, os fariseus e os escribas 33disseram a Jesus: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações; o mesmo fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!» 34Jesus respondeu-lhes: «Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? 35Virão dias em que o Esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar.» 36Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha; aliás, irá estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo que vem da nova. 37E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho novo rompe os odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. 38Mas deve deitar-se vinho novo em odres novos. 39E ninguém, depois de ter bebido o velho, quer do novo, pois diz: ‘o velho é que é bom!’».

A partir de hoje, a liturgia apresenta-nos três polémicas de Jesus com os discípulos de João Baptista: uma sobre a prática do jejum e duas sobre a observância do sábado.
A esmola, a oração e o jejum são três compromissos indeclináveis para os discípulos de Cristo (cf. Mt 6, 1-18). Mas o que preocupa a Jesus é o modo como os seus discípulos praticam a esmola, a oração e o jejum. Esta página realça o espírito com que deve ser praticado o jejum. A alegoria esponsal leva-nos a considerar Jesus como “o esposo”, cuja presença é motivo de alegria e cuja ausência será motivo de tristeza. A espiritualidade cristã não pode deixar de dar atenção a estas expressões muito pessoais que podem configurar uma relação, não só de filhos com o pai, mas também da esposa com o esposo. O Antigo Testamento desenvolve muito esta alegoria esponsal para iluminar as relações de Israel com o seu Senhor e a relação de cada crente com Deus.
Este texto distingue também os tempos de Jesus dos tempos da Igreja. A Igreja é representada pelos convidados que participam da alegria do esposo; mas algumas vezes é apresentada na imagem da esposa, ou do amigo do esposo que lhe está próximo e a escuta (cf. Jo 25, 30).


Meditatio

A filosofia grega procurava, sobretudo, explicar o Universo. A Bíblia, pelo contrário, ensina-nos a estar atentos às pessoas e às relações interpessoais. A filosofia grega distinguia os quatro elementos: o ar, a água, o fogo e a terra. A Bíblia, pelo contrário, ensina-nos a entrar em contacto com o Ser pessoal que criou a matéria: Deus. As leituras de hoje mostram que Jesus e, depois d´Ele, os apóstolos confirmaram e aprofundaram essa orientação.
É sempre útil reflectir sobre a novidade trazida por Cristo e testemunhada pelo Evangelho. A parábola de Lucas sobre a roupa nova e o vinho novo evidencia essa novidade. Tomemos nota, em primeiro lugar, do estilo paradoxal com que Lucas narra a primeira parábola. Não fala simplesmente de um pedaço de pano a coser em roupa velha. Fala, sim, do gesto de alguém que «recor¬ta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha». É evidente que Lucas quer estigmatizar a atitude daqueles que, recusando a novidade do Evangelho, acabam por arruinar o que é novo sem realizar o que é velho.
“Novo” pode entender-se em referência ao Antigo Testamento: neste caso, o verdadeiro discípulo de Jesus, desde o princípio entende da sua experiência de fé intui que apalavra de Jesus chega como cumprimento das profecias e que a adesão de fé a Jesus o põe na linha de todos quantos, antes de Jesus Cristo, se abriram à escuta da Palavra de Deus e se deixaram guiar pelos profetas.
“Novo” pode entender-se em referência aos mestres alternativos que faziam prosélitos por todos os meios, no tempo de Jesus; neste caso, os apóstolos e os discípulos encontraram-se na situação de ter que fazer opções drásticas (cfr. Jo 6, 60-69) para não se deixarem hipnotizar pelos falsos mestres e por guias cegas e hipócritas (cfr. Mt 23, 15-17).
“Novo”, finalmente, pode entender-se em referência a algumas atitudes que caracterizam a vida dos discípulos de Jesus antes do seu encontro com o Mestre: neste caso, o discípulo de Jesus adverte a necessidade de deixar-se agarrar, de se abandonar para receber, de perder para encontrar.
Para aqueles que são chamados à vida religiosa, a profissão dos conselhos evangélicos é um sinal «que manifesta a todos os crentes os benefícios celestiais...; testemunha a vida nova e eterna...; preanuncia a futura ressurreição e a glória do Reino celeste... O estado religioso representa na Igreja a forma de vida que o Filho de Deus abraçou...; manifesta a elevação do Reino de Deus acima de todas as coisas terrestres...; demonstra... o infinito poder do Espírito Santo, admiravelmente operante na Igreja» (Cf. Lumen Gentium, 44).
As nossas Constituições dizem que somos “discípulos do Padre Dehon...” (n. 17). Mas há que esclarecer: “Discípulos”, por meio do P. Dehon, de Cristo, porque o único Mestre é sempre e somente Ele: “Um só é o vosso mestre e todos vós sois irmãos” (Mt 23, 8). Todavia, o P. Dehon é sempre nosso modelo. A sua experiência de fé, o modo como abandonou tudo, aderiu e se abandonou a Cristo, tem para nós um valor constitutivo (Cf. Cst nn. 2-5). É ao seu jeito que queremos seguir a Cristo, o único Mestre.


Oratio

Senhor, arranca-nos do sulco dos nossos costumes! A tarefa principal da pessoa que quer amadurecer é paradoxalmente alcançar a inocência de uma criança. Senhor, dá-me uma mente fresca, inocente, aberta e capaz de conhecimento infinito.
«Ninguém recor¬ta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha»! Senhor, dá-me o sentido do bom gosto, que não me fecha no “velho” mas, ainda que valorizando-o, sabe colher a novidade da graça, sempre dotada de originalidade e elegância espiritual. Os discípulos de João jejuam. Os teus, comem e bebem. Ó Senhor, dá-me aquele sentido de equilíbrio que não me amarra a normas e práticas decaídas e ultrapassadas, mas, por intuições felizes, leva-me a fazer opções espontâneas e adequadas a todos os tipos de situação. Amen.


Contemplatio

A Bem Aventurada Margarida Maria mantinha-se diante de Nosso Senhor como uma tela vazia, tela muito branca, muito bela, bem purificada neste purgatório de amor. Sobre esta tela, Nosso Senhor como um hábil pintor, desenhava a imagem do seu Coração. Não era uma pintura morta, mas uma imagem viva que produzia os traços do divino Mestre; esta alma, iluminada e purificada pelo Coração de Jesus, era tão semelhante ao seu adorável modelo, que realizava esta unidade mística que é o último limite de união com o Coração de Jesus. Nós também, estejamos diante de Nosso Senhor como uma tela bem branca onde ele há-de imprimir o selo do seu Coração; ele nos há-de purificar, iluminar, nos há-de elevar enfim a este união perfeita na qual não fazemos mais do que um só com ele. Então havemos de poder dizer com S. Paulo: «Vivo, non ego, vivit vero in me Christus. – Já não sou eu, mas Jesus Cristo, o seu Coração quem vive em mim» (Gal 2, 20). Permaneçamos, portanto, aos pés de Nosso Senhor com um olhar de ternura, com um esforço de amor, na amargura das nossas faltas e na alegria do perdão, sob um raio de luz e de bênção (Leão Dehon, OSP 2, p. 187).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus.» (1 Cor 4, 1).

| Fernando Fonseca, scj |
Fonte http://www.dehonianos.org/

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