Depois do diálogo com os discípulos marcado, como dissemos,
por certa aspereza e indignação, o evangelista pôs este relato da cura do cego
de Betsaida. No episódio precedente (8,14-21) é observada com clareza a
incredulidade dos discípulos; uma forma de afirmar a cegueira espiritual deles
(cf. 8,18). Nesse sentido, o texto de hoje tem um forte valor simbólico, a
saber, ele exprime o desejo de Jesus de abrir os olhos dos seus discípulos. A
intenção de ir a Betsaida já havia sido anunciada em 6,45, depois do relato da
primeira multiplicação dos pães. O cego é levado por outros, o que se
compreende em relação à sua deficiência. Jesus também o toma pela mão para
conduzi-lo para fora do vilarejo. Esse gesto de Jesus pode ser entendido também
em relação à limitação daquele anônimo, conhecido somente por sua cegueira. No
entanto, há, aqui, um plus: a condução do cego por Jesus já é o início da cura.
O gesto repetido da imposição das mãos, até o cego ver claramente, é símbolo da
dificuldade e do processo necessário até que os discípulos vejam com clareza. A
clareza da visão e a compreensão do mistério de Cristo não se darão de uma só
vez; será preciso um longo itinerário. O termo desse caminho é a ressurreição
do Senhor.
Carlos Alberto Contieri, sj
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