A festa da Apresentação do Senhor é celebrada quarenta dias
depois do Natal. Remete-se ao século V. Comemora-se, nesse dia, o acontecimento
bíblico relatado por Lucas em 2,22-40, relato próprio ao terceiro Evangelho.
O profeta Malaquias atuou em meados do século V a.C. A
comunidade cristã que relê o texto do profeta Malaquias à luz da Ressurreição
de Cristo encontra no trecho proposto para hoje uma clara referência a Jesus. A
profecia serve de pano de fundo para o relato da apresentação do Senhor no
Templo de Jerusalém e o reconhecimento do Messias por parte de Simeão e Ana. O
texto distingue dois personagens, presentes nos relatos da infância: o
“mensageiro” cuja missão é preparar o caminho, entenda-se, o caminho do Senhor
(cf. Ml 3,1a); e depois, o próprio Senhor, a pessoa esperada e desejada que
entra no seu Templo (cf. Ml 3,1b). Na releitura cristã da profecia de
Malaquias, trata-se de João Batista e Jesus.
Lucas parece não ter nenhuma preocupação com a exatidão
histórica e cultural. Originalmente, os costumes da apresentação e purificação
da mãe são distintos; Lucas parece confundi-los. A prescrição para a
purificação da mulher que deu à luz encontra-se em Lv 12,1ss. Lucas modifica Lv
12,6 – não é só a mulher que deve ser purificada, mas “eles” (cf. Lc 2,22). A
prescrição quanto à consagração ou apresentação do primogênito ao Senhor
encontra-se em Ex 13,1.11-12. O nosso relato baseia-se em 1Sm 1,22-28. O filho
primogênito tinha que ser resgatado ao completar um mês do seu nascimento,
mediante o pagamento de um ciclo de prata a um membro de uma família sacerdotal
(Nm 3,47-48; 18,5-16). Lucas omite toda a menção do resgate do primogênito e
transforma a cerimônia numa simples apresentação do menino no Templo de
Jerusalém. Seja como for, e sem nos atermos a todas as possibilidades de
interpretação, parece-nos que a intenção do evangelista é fazer com que o
Antigo Testamento, representado por Simeão e Ana, tome, pelo Espírito Santo, a
palavra para poder proclamar que a promessa de Deus foi realizada em Jesus (cf.
Lc 2,29-32). Se a cada noite a Igreja canta o nunc dimitis, é para proclamar a
cada dia a realidade da salvação oferecida indistintamente a toda a humanidade.
É essa luz que ilumina todos os povos.
Carlos Alberto Contieri, sj
Nenhum comentário:
Postar um comentário