Estamos ainda em território pagão (cf. Mc 7,31), pois não há
nenhuma indicação do contrário. Trata-se do relato da segunda multiplicação dos
pães (cf. Mc 6,30-44). Os elementos presentes na narração apontam para uma
dupla perspectiva: o povo que o Cristo reúne é constituído de judeus e pagãos e
a admissão dos pagãos à mesa eucarística. A razão pela qual a multidão não
tinha o que comer (v. 1) é porque estavam com Jesus há três dias. A situação da
multidão causa em Jesus “compaixão” (cf. tb. Mc 6,34). É esse sentimento que
leva Jesus a entregar-se por todos, judeus e pagãos. No povo que o Senhor reúne
alguns “vêm de longe”, uma forma de indicar os pagãos. O nosso texto tem uma
forte conotação eucarística. A indicação de que todos ficaram saciados e a
menção da sobra são modos de transmitir não somente a abundância do alimento
dado, mas também que o verdadeiro alimento do povo de Deus a caminho ultrapassa
os limites da materialidade; trata-se de um alimento espiritual simbolizado no
pão e no peixe, dois modos primitivos de referir-se ao Cristo e à Eucaristia.
Carlos Alberto Contieri, sj
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