Jesus atravessa as aldeias do mesmo modo como passa pela
vida de cada um de nós: fazendo o bem, revelando o rosto misericordioso de Deus
e suscitando a fé na vida. O território é pagão, modo de o texto afirmar o
chamado dos gentios à salvação. O texto não nos diz quem são os que conduzem a
Jesus o surdo que tinha muita dificuldade em falar. No entanto, há de supor que
se trata de pessoas que creem no poder de Jesus, pois o que eles pedem é que o
Senhor lhe imponha as mãos. Os dedos transmitem o poder (cf. Ex 8,15) que abre
os ouvidos (cf. Sl 40,7). A propriedade terapêutica da saliva, sobretudo
cicatrizante, já era conhecida na antiguidade. É do céu que vem a ajuda, por
isso o “gemido” é expressão da súplica a Deus (cf. Rm 8,26). Os gestos são
acompanhados da palavra que liberta: “Abre-te!”. A palavra dá o significado dos
gestos. A cura remete o leitor ao advento messiânico em que a realidade é
transformada (cf. Is 35,5-6). O enorme espanto que se apossa da multidão a faz
dizer algo que evoca o relato da criação (Gn 1,10.12.18.21.31). Em Jesus Cristo
se dá, efetivamente, uma nova criação; ele devolve à criatura a possibilidade
de reconhecer que Deus fez tudo bem.
Carlos Alberto Contieri, sj
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