domingo, 7 de setembro de 2014

XXIII Semana - Terça-feira - Tempo Comum - Anos Pares - 09.09.2014


Tempo Comum - Anos Pares
XXIII Semana - Terça-feira

Lectio

Primeira leitura: 1 Coríntios 6, 1-11

Irmãos: 1Quando algum de vós entra em litígio com outro, como é que se atreve a submetê-lo ao juízo dos injustos e não ao dos santos? 2Ou não sabeis que os santos é que hão-de julgar o mundo? E, se é por vós que o mundo há-de ser julgado, sereis indignos de julgar questões menores? 3Não sabeis que havemos de julgar os anjos? Quanto mais, as pequenas coisas da vida! 4Quando, pois, tendes questões menores, porque escolheis como juízes aqueles que a Igreja menospreza? 5Digo isto para vossa vergonha. Não haverá, entre vós, ninguém suficientemente sábio para poder julgar entre irmãos? 6No entanto, um irmão processa o seu irmão, e isto diante dos não crentes! 7Ora, a existência de questões entre vós é já um sinal de inferioridade. Porque não preferis, antes, sofrer uma injustiça? Porque não preferis ser prejudicados? 8Mas, pelo contrário, sois vós que cometeis injustiças e causais danos, e isto contra os próprios irmãos! 9Ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pedófilos, 10nem os ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os salteadores herdarão o Reino de Deus. 11E alguns de vós eram assim. Mas vós cuidastes de vos purificar; fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus.

Nesta página emerge outra situação da comunidade de Corinto: alguns cristãos, na tentativa de dirimirem algumas questões surgidas entre eles, apelaram para tribunais pagãos. Paulo intervém com autoridade e clareza. Começa por usar um tom provocador (vv. 1.1-3) para levar os seus interlocutores a darem-se conta da gravidade e da delicadeza da situação de certas atitudes. Quer, sobretudo, recordar-lhes que o juízo entre irmãos na fé deveria obedecer a critérios que a própria fé sugere e é capaz de formular. Caso contrário, seria preciso concluir que a fé daquela comunidade era incapaz de orientar a vida dos crentes e de iluminar as suas opções. Depois, o Apóstolo recorre a um tom irónico: com isso, quer que os cristãos de Corinto se sintam envergonhados por não encontrarem entre eles uma pessoa sábia para arbitrar as suas questões. É uma ironia cheia de tristeza e mesmo, talvez, de uma certa raiva, semelhantes às que Paulo manifesta noutras cartas. Finalmente, passa a um discurso teológico (v. 11). O Apóstolo retoma o núcleo da sua doutrina e, referindo-se ao baptismo, lembra a novidade do dom recebido: «Vós cuidastes de vos purificar; fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus». Da novidade do dom, depende obviamente a novidade de vida.


Evangelho: Lucas 6, 12-19

12Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. 13Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: 14Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. 17Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava.

Como outras vezes, Lucas refere que Jesus se retira para a montanha a fim de rezar, passando lá toda a noite (v. 12). Ainda que não haja uma referência explícita à relação entre a oração de Jesus e a escolha dos Doze, é possível, à luz da fé, estabelecer essa relação. O gesto que Jesus está para realizar tem uma enorme importância. Daí a necessidade de dialogar com o Pai. A escolha dos Doze inclui um chamamento: «convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles». Vocação e missão são inseparáveis. Sem a vocação, a missão não é mais que profissão. Por outro lado, a vocação, sem a missão, seria um gesto incompleto.
«Aos quais deu o nome de Apóstolos» (v. 13b): parece um anacronismo, pois “apóstolo” é um nome tipicamente pós-pascal. Mas é a luz da Páscoa já projectada sobre o tempo do ministério público de Jesus, como que a dizer-nos que essa luz também se projecta sobre a nossa vida e a nossa história.
Finalmente, a relação de Jesus com a multidão é, mais uma vez caracterizada de duas maneiras: as multidões vêm para escutar Jesus e para ser curadas das suas doenças (v. 18). Em ambos os casos, trata-se, na perspectiva de Lucas, de uma “força” que dá autoridade à sua doutrina e eficácia aos seus gestos taumatúrgicos.


Meditatio

A escolha dos Apóstolos é um tema central no texto evangélico que a liturgia hoje nos propõe. Por isso, parece oportuno deter-nos um pouco a meditar na apostolicidade da Igreja. Como se sabe, trata-se de uma das características da Igreja de Cristo, juntamente com a unidade, a santidade e a catolicidade.
Em primeiro lugar, notemos que não se trata de notas simplesmente jurídicas. Pelo contrário, são notas espirituais, dadas à Igreja pelo Espírito de Deus e do Senhor ressuscitado. A Igreja de Cristo não se torna apostólica a certo ponto do seu caminho, mas nasce apostólica. A razão fundamental de tudo isto é que o próprio Jesus é o apóstolo por excelência, o missionário do Pai. Antes de ser o fundador da Igreja, Jesus é o seu salvador: a Igreja nasce do Lado aberto do Crucificado, no poder do “espírito” que Ele dá na cruz (cfr. Jo 19, 30). À missão que Jesus confiou aos Doze durante o seu ministério público (cfr. Mt 10, 1ss.) corresponde a missão bem mais importante que lhes confiou depois da Ressurreição (cfr. Mt 28, 16-20).
É preciso não confundir a apostolicidade da Igreja com a sua missionaridade, ainda que haja entre eles uma ligação íntima e profunda. A primeira nasceu da Igreja e está ligada ao colégio dos Doze, enquanto esta é tarefa da Igreja e está ligada à pessoa de todos os seus membros. A primeira é um artigo da nossa fé: «Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica»; a segunda é objecto do nosso testemunho.
A nossa congregação é um instituto religioso apostólico, isto é, um instituto chamado a participar na acção missionária da Igreja, concretamente na missão “ad gentes”. De início o Pe. Dehon excluiu a actividade apostólica nas missões longínquas porque lhe parecia difícil harmonizá-la com a espiritualidade do instituto. Mas, já em 1882, numa carta a Leão XIII, manifesta o desejo de trabalhar nas missões. A 8 de Novembro de 1888 partem os primeiros missionários dehonianos para o Equador. De facto, depois da audiência com Leão XIII, a 6 de Setembro de 1888, o Pe. Dehon considera o apostolado nas missões longínquas, com a pregação das encíclicas do Papa, a oração e a ajuda aos sacerdotes e a adoração eucarística, como parte essencial da “missão que nos foi confiada pelo Papa”.
Os motivos são: fazer conhecer o amor do Coração de Jesus nas terras infiéis; o espírito de sacrifício e, portanto, de imolação, a alegria de Nosso Senhor e da Igreja.


Oratio

Senhor Jesus, é próprio do sábio assumir comportamentos cada vez mais honestos, ligados à progressiva transparência da vida: dá-me a graça de envelhecer desse modo! É próprio do sábio ser ponderado nos seus juízos, o que o torna imparcial para com todos e livre da corrupção: dá-me a graça de me relacionar assim com os outros. É próprio do sábio ter um profundo respeito pelos outros: dá-me a graça de assim me alegrar! É próprio do sábio valorizar a vida com todas as suas luzes e sombras: dá-me a graça de crescer desse modo! É próprio do sábio favorecer o crescimento da pessoa sem pressões, sem castigos, sem preconceitos: dá-me a graça de agir assim!
Senhor, dá-me a sabedoria, a ciência prática da vida e da fé que me torna livre emocionalmente, capaz de um discernimento correcto e justo no juízo, para indicar a todos o caminho do bem. Amen.


Contemplatio

A devoção ao Papa e a docilidade a todas as suas orientações deve ser o carácter próprio da devoção ao Sagrado Coração. Não há analogias tocantes entre o Papa e a Eucaristia? Não é Nosso Senhor quem nos dirige e nos instrui pelo seu Vigário? Ele vive nele por uma assistência especial. Ensina, fala pelo seu Vigário. Disse aos apóstolos: «Quem vos escuta a mim escuta e quem vos despreza a mim despreza». Isto deve entender-se também do Papa, ao qual S. Pedro transmitiu a plenitude da autoridade apostólica.
A Eucaristia, é Jesus que se imola, Jesus que permanece connosco, que se dá a nós, que nos escuta e nos consola. O Papa, é Jesus que nos dirige e nos ensina. Na Eucaristia, é a presença real de Jesus; no Papa, é a sua autoridade e o seu ensinamento, com uma assistência especial.
Admiro, ó meu bom Mestre, mais do que compreendo, a imensidade do amor pelo qual vos entregastes a vós mesmo aos cismáticos. Oh! Como gostaria de vos consolar com um amor sem limites (Leão Dehon, OSP 2, p. 478).


Actio

Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Vós fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus» (1 Cor 6, 11).


Fonte | Fernando Fonseca, scj |

Nenhum comentário:

Postar um comentário