O objeto da controvérsia é o jejum, seguido de dois ditados
sapienciais sobre o velho e o novo. Jesus é interpelado sobre o comportamento
dos seus discípulos, comparando-os com os discípulos de João e o dos fariseus.
Em todo o Novo Testamento não temos nenhuma informação acerca do jejum
praticado pelos discípulos de João; dos fariseus, é Lucas quem nos informa que
eles jejuavam duas vezes por semana (cf. Lc 18,12). A Lei de Moisés prescrevia
o jejum uma vez por ano, no dia do perdão dos pecados (Lv 16,19-30). Que jejum
é objeto da controvérsia? Certamente, não se trata do jejum prescrito pela Lei,
mas de uma prática ascética individual ou de grupos (cf. 2Sm 12,21; 1Rs 21,27)
e que os fariseus impunham se estendesse como prática para todas as pessoas. A
controvérsia é a ocasião de afirmar a centralidade de Cristo, o “noivo”. Agora,
nessa nova etapa da história da salvação, é a ele que a prática do jejum se
refere. Somente quando o noivo for tirado, alusão à morte de Jesus, é que será
o tempo de jejuar. Os dois ditados sapienciais revelam a incompatibilidade
entre o velho e o novo; mais precisamente, a rigidez farisaica na prática da
Lei e a surpresa de Deus inaugurada na história da humanidade pela presença de
Jesus; novidade essa que recoloca a Lei no centro da prática da misericórdia.
Carlos Alberto Contieri, sj
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