O nosso texto é conhecido como “discurso programático de
Jesus”. Aqui começa, propriamente, o evangelho segundo Lucas (cf. At 10,37ss).
Trata-se da primeira parte do relato evangélico (4,14–9,50), dominada pelo tema
da identidade de Jesus e, mais propriamente, da afirmação de que ele é um
verdadeiro profeta (cf. Lc 7,16.39). Esse discurso, atribuindo a Jesus a
realização da profecia de Isaías (cf. Lc 4,21), oferece os critérios para, ao
longo de todo o relato, reconhecer Jesus como verdadeiro profeta. Jesus é
apresentado como um judeu piedoso que frequenta e ensina na sinagoga. O que
importa, aqui, não é a leitura do trecho do livro do profeta Isaías, mas a
interpretação que Jesus faz dela. Sua missão é apresentada em continuidade com
a tradição profética. A unção messiânica de Jesus é conhecida do leitor pelo
relato do Batismo (cf. Lc 3,21-22). Em Jesus, o Espírito é uma realidade
tangível na medida em que, vencendo todo mal e suas manifestações, ele
transforma a vida das pessoas e as faz sentir próximas do Deus da vida. Nesse
tempo do relato, a expectativa dos que estavam na sinagoga pela explicação do
trecho é seguida da observação de que as pessoas se maravilhavam pelo que
ouviam, pois suas palavras transmitiam a sabedoria de Deus, um sopro que enchia
a todos de graça.
Carlos Alberto Contieri, sj
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