Talvez o descanso sabático seja uma das controvérsias mais
recorrentes no confronto de Jesus com os seus opositores. Há, no Antigo
Testamento, duas tradições no que concerne ao sábado (Ex 20,8-12; Dt 5,12-16).
Essas duas tradições oferecem o espaço para a discussão entre Jesus, os
fariseus e os doutores da Lei. Curiosamente, Dt 23,26, mesmo sem mencionar o
sábado, permite ao viajante, entrando na plantação de um outro, arrancar as
espigas e comer dos seus grãos para saciar a fome. Para os fariseus, essa
atitude, no dia de sábado, era considerada trabalho, o que a Lei interditava.
No entanto, mesmo sendo sábado, é a preservação da vida que está em jogo. A
resposta de Jesus, evocando a atitude de Davi (1Sm 21,1-10), um exemplo de peso
para os judeus, revela que a atitude dos seus discípulos contava com o
consentimento do Mestre. O que justifica a atitude de Davi e a sua
“transgressão” da lei é a fome e a necessidade de preservar a vida em boas
condições. Ora, o sábado é dom de Deus (cf. Ex 16,29), oferecido para que o
povo pudesse fazer a memória de sua escravidão e de sua libertação do Egito
(cf. Dt 5,15), a fim de que não fosse, nunca mais, prisioneiro, inclusive da
mentalidade de escravo. Exatamente por isso, o sábado é para o Filho do Homem
ocasião privilegiada de manifestar a fé na vida e o dom da salvação.
Carlos Alberto Contieri, sj
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