Este texto do evangelho de João pode ser caracterizado como
uma catequese sobre a fé, num contexto batismal. Temática, aliás, muito
apropriada para o tempo da Quaresma, pois, além de ser um itinerário penitencial,
esse tempo de preparação para a Páscoa do Senhor é um convite a aprofundarmos a
nossa vocação cristã a partir do Batismo. O texto, grosso modo, é a afirmação
de que a fé que recebemos é iluminação. É pela fé que chegamos a contemplar e
professar a verdadeira identidade de Jesus de Nazaré.
É preciso, antes de tudo, ter presente essa afirmação que
está no centro do trecho do livro de Samuel: o Senhor não vê a aparência, mas o
que está no coração (cf. 1Sm 16,7). O Senhor não julga à maneira dos homens. Deus
não se deixa levar pela aparência. No contexto da Quaresma, e para além dela,
somos convidados a desejar ver para além das aparências, e considerar o
coração, o que a pessoa efetivamente é. Aí não há engano. O que transforma o
nosso olhar e faz com que seja semelhante ao olhar de Deus sobre cada pessoa é
a fé, que é iluminação.
No centro do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus:
“Enquanto eu estou no mundo eu sou a Luz do mundo” (v. 5). O que interessa
nesse relato do cego de nascença não é propriamente a sua cura, palavra, aliás,
que não figura no texto, mas o seu itinerário de fé, itinerário ao fim do qual
ele chega a professar que Jesus é o Senhor (v. 38). Quando foi expulso da
sinagoga, imagem dos cristãos expulsos da sinagoga, era a fé em Jesus que o
sustentava. O seu itinerário é um caminho de amadurecimento da fé, que o
permitiu professar a fé ao modo de Tomé no final desse mesmo quarto evangelho
(Jo 20,28). Tomé passa da dúvida e da tentação de querer chegar à fé por si
mesmo a uma adesão incondicional à pessoa de Jesus Cristo. O Senhor professado
pelo que antes era cego não é alguém distante, mas uma pessoa que fala com ele,
que entra em diálogo com ele (cf. Jo 9,35-38), aquele que lhe abriu os olhos. A
mesma luz que faz o cego ver, cega os que pensam ver. É Deus, e somente Ele,
que faz com que a luz brilhe nas trevas. Que o Senhor nos conceda sempre a luz
da fé e, por ela, mantenha acesa em nós a chama da esperança. Que Deus nos dê a
todos a graça da coragem, da audácia, do testemunho que brota e é exigido da fé
em Jesus Cristo.
Fonte Carlos Alberto Contieri,
sj - Paulinas
Nenhum comentário:
Postar um comentário