No tempo do sofrimento, da perseguição, da angústia de estar
longe da terra que Deus prometeu e deu aos ancestrais de Israel, o povo
sente-se abandonado por seu Deus. O texto de Isaías deste domingo é resposta a
esse sentimento de abandono. O sentimento do povo não corresponde à realidade
de Deus e o engajamento da parte de Deus com relação à Aliança. O amor de Deus
para com seu povo ultrapassa qualquer amor humano, até aquele que une a mãe ao
seu filho. Deus, mesmo quando não experimentamos sensivelmente, sempre está
presente e vela sobre todos nós com uma ternura inefável.
O texto do evangelho deste domingo faz parte do “sermão da
montanha”. A fé em Deus implica, necessariamente, uma ética correspondente, isto
é, um modo de agir e viver a existência humana que corresponda ao desígnio
salvífico de Deus revelado em Jesus Cristo. O ser humano é colocado sempre, em
todo tempo, diante da necessidade de decidir. No caso do cristão, em razão de
seu enraizamento em Cristo, ele não pode viver a sua fé na ambiguidade,
servindo a dois “senhores”, nem viver como se não cresse. A fé tem uma
implicação ética e exige decisão, portanto, renúncia a tudo o que possa levar o
discípulo a não assumir um comportamento condizente com as exigências da
vocação cristã. Todos os bens da natureza e os que dela procedem são meios para
que o ser humano possa viver em paz. A preocupação excessiva com os bens
materiais se opõe à confiança devida a Deus e reivindica o lugar de Deus. O
discípulo deve rejeitar tal ambiguidade e ilusão e viver a sua confiança em
Deus sem deixar de usar os meios que o permita viver, assim como os seus
semelhantes (cf. v. 33). É preciso fazer tudo como se tudo dependesse de nós e
esperar tudo como se tudo dependesse de Deus. O apelo à confiança em Deus não é
bênção ao comodismo, tampouco à passividade, mas exigência de olhar todos os
aspectos da existência humana à luz dos valores do Reino de Deus. A confiança
em Deus requerida do discípulo é reconhecimento de que Deus cuida de todos e de
cada um particularmente. Deus conhece e vem sempre em socorro de nossa
fraqueza. Confiemos no Senhor!
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas
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