Para bem
compreender o texto do evangelho nessa oitava da Páscoa, pode nos ajudar responder
a uma dupla questão: Como se chega à fé na ressurreição do Cristo nosso Senhor?
Como se chega à fé de que Cristo ressuscitou dos mortos e está vivo no meio de
sua Comunidade? Nosso texto apresenta duas etapas com um intervalo de oito
dias. Na primeira etapa, Tomé não estava, na segunda ele estava reunido com os
outros discípulos. É no primeiro dia da semana que os discípulos se encontram
reunidos. É como se fosse o primeiro dia da criação em que a luz foi feita (Gn
1,3). Efetivamente, a ressurreição do Senhor é luz que anuncia uma nova criação
em Cristo. No lugar em que os discípulos estavam reunidos, as portas estavam
aferrolhadas por medo dos judeus. Essa observação seguida da notícia de que
Jesus se colocou no meio deles é importante para compreender que a presença do
Senhor não exige mais ser reconhecida como um corpo carnal. O seu corpo é
glorioso e sua presença prescinde da visibilidade. O que ele comunica é a paz,
sinal e dom de sua presença. É nesse primeiro dia da semana que o Espírito é dado
como sopro do Senhor para a missão e a reconciliação. A ausência de Tomé (v.
24) é importante para o propósito do texto. Ele se recusa a crer no que os
outros discípulos anunciavam: “Vimos o Senhor”. Passados oito dias, estando
Tomé com os demais discípulos, no mesmo lugar da reunião, Jesus se faz presente
e é sentido e reconhecido com o sinal de sua presença: a paz. O diálogo de
Jesus com Tomé permite ao leitor compreender que se chega à fé no Cristo
Ressuscitado e na sua gloriosa ressurreição através do testemunho da
Comunidade. Não há acesso imediato à ressurreição de Jesus Cristo, mas somente
mediato, isto é, através do testemunho. É a recepção desse testemunho que
permite experimentar na própria vida os efeitos da Ressurreição do Senhor. Mas
Tomé não é no relato o homem da dúvida somente e que busca crer por si mesmo,
ou que julga que só é digno de fé o que pode ser tocado ou demonstrado. Ele é o
homem de fé, transformado pelo Senhor, capaz de reconhecer o dinamismo próprio
pelo qual se chega à fé.
Fonte Carlos Alberto Contieri, sj - Paulinas
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